11/08/2012

ENTREVISTA: Débora Sacilotto fala sobre Prêmio Victor Civita Educador Nota 10

Gestora premiada fala sobre projeto e educação

“Tudo o que a gente faz com amor e dedicação um dia é reconhecido” (Débora Sacilotto)

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Alex Bússulo

Foi uma ligação por volta das 18 horas de segunda-feira (6) que trouxe um resultado inédito para Artur Nogueira. Uma gestora escolar foi a vencedora da 15ª edição do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.

Débora Del Bianco Barbosa Sacilotto, de 39 anos de idade, teve seu projeto selecionado entre os melhores do Brasil. Com o objetivo de desenvolver as habilidades sociais dos alunos da Escola Municipal de Educação Fundamental (Emef) Francisco Cardona, o projeto ‘Minha escola, Minha vida’ colocará a nogueirense em visibilidade em todo o Brasil, através das revistas Nova Escola e Gestão Escolar, da Editora Abril.

A educadora foi premiada com R$ 15 mil e com troféu que será entregue no mês de outubro em uma cerimônia em São Paulo. Com a premiação, a Emef Francisco Cardona também receberá R$ 10 mil, depositados na conta corrente da Associação de Pais e Mestres (APM).

Débora nasceu em Campinas, mas sempre morou em Artur Nogueira. Fez Magistério pela Escola Nossa Senhora das Dores (Montessori), cursou Pedagogia pela Faculdade Integrada Maria Imaculada, além de pós-graduação em Educação Especial e Gestão Escolar pela Faculdade da Aldeia de Carapicuíba (Falc).

Enquanto cursava o segundo ano de Pedagogia, a nogueirense começou a trabalhar como coordenadora pedagógica. Foi diretora das escolas Prefeito Ederaldo Rossetti (Caic) e Prof.ª Alcídia Teixeira W. Matteis (Itamaraty). Em 2011, foi transferida para o Cardona, onde trabalha até os dias de hoje.

É casada com o professor de Educação Física, Sandro Cesar Sacilotto, e tem dois filhos: Augusto e Tiago.

A entrevista da semana aconteceu na Redação do Portal Nogueirense, em aproximadamente uma hora. Débora falou sobre o projeto vencedor, dificuldades encontradas na Educação e como melhorar o ambiente escolar. Confira.

Como surgiu o projeto ‘Minha escola, Minha vida’? Esse projeto nasceu da preocupação de fazer alguma coisa para ajudar o aluno a desenvolver as habilidades sociais. Na parte didática nós já tínhamos materiais e metodologia, mas carecíamos de projetos que trabalhassem as habilidades sociais de nossas crianças. Queríamos desenvolver o senso crítico dos alunos, fazer e trabalhar com eles a argumentação para que aprendessem a conviver com as adversidades. Uma de nossas professoras, a Ariane Tagliaferro Molina, nos apresentou a proposta das assembleias escolares, um livro e vídeo do professor Ulisses Araújo, que assim como outros autores relatam a necessidade de se trabalhar a democracia na escola. Após discussão e reuniões, em maio do ano passado, concretizamos a ideia.

Como funciona o projeto? Em cada sala de aula existe um cartaz como este. [Débora abre um cartaz contendo dois envelopes e continua a explicação] Uma das partes é para as críticas e outra para as felicitações. Durante as aulas, os alunos podem, de maneira voluntária, escrever os comentários e colocá-los dentro dos envelopes. Eles são instruídos a não criticar as pessoas, mas sim as ações. Por exemplo, ao invés de criticar o João que fica empurrando na fila da merenda, o aluno escreve que é contra aquelas pessoas que brigam e desrespeitam a ordem das filas. Damos esta instrução justamente para não colocarmos nenhum aluno em situação vexatória. É um projeto tão maravilhoso, porque além de trabalhar o senso crítico também desenvolve a produção textual dos alunos. Uma vez por semana cada professor promove uma assembleia.

Como funcionam essas assembleias? São dois tipos de assembleias: as dos alunos e a do corpo docente. Elas duram cerca de uma hora. Nas assembleias dos alunos, o professor tira um dia da semana para coletar críticas e felicitações, reúne os alunos em roda e começa a discutir as opiniões. Primeiro são abordadas as críticas, onde o professor faz uma reflexão sobre o que foi colocado no papel, e juntos decidem regras para que a ação criticada não aconteça novamente. As felicitações sempre são colocadas no final, justamente para manter um clima agradável e alegre entre os participantes. As assembleias docentes funcionam da mesma forma, só que mensalmente.

Hoje, a Emef Francisco Cardona trabalha com alunos do Ensino Fundamental, que são crianças de 6 a 11 anos de idade. Todos participam? Sim. Envolvemos todos os alunos da escola, graças a uma equipe maravilhosa e consciente de seu papel como educador. Eu planejei e direcionei o trabalho, porém a execução é mérito dos professores. Vale muito ressaltar a importância da participação dos funcionários da escola referente às mudanças e inovações. Melhoraram o cardápio da escola, criaram um quadro para evitar o desperdício, entre outras ações.

Mas e aqueles que ainda não foram alfabetizados? Como fazem para escrever as opiniões? O primeiro ano começará com as assembleias neste semestre, nós já temos alguns alunos que sabem ler e escrever. Esses alunos acabam se tornando escribas para os coleguinhas que ainda não foram alfabetizados. Também temos o apoio dos pais dos alunos que são instruídos, em reunião, a ajudar e escrever junto com os filhos as críticas e felicitações. Além, é claro, da ajuda do professor, que também pode auxiliar as crianças a escrever.

Eu percebo que a essência deste projeto é dar voz ao aluno, que pode debater soluções não apenas para o ambiente escolar, como para toda a comunidade no qual ele está inserido. Qual a importância de ouvir a criança? Eu acredito que o maior ganho é a credibilidade e confiança que o estudante passa a ter na escola. A criança começa a participar e influenciar nas decisões do local onde ela convive. Um dos comentários da própria Fundação Victor Civita foi que eles nunca tinham visto um projeto como o nosso, que aproximasse tanto os alunos da gestão escolar.

Como surgiu o interesse para fazer a inscrição para o prêmio? Desde quando iniciamos o projeto, eu sempre guardei o material das assembleias. Sou assinante da revista Gestão Escolar e sempre acesso o site da Editora Abril. No final de junho deste ano estava navegando na página quando li que as inscrições do prêmio estavam abertas. Estudei todo o regulamento e fiz a inscrição, mandando apenas o projeto escrito. Lembro que mandei o material em uma terça-feira e que logo na quinta eles já me ligaram, falando que precisavam de mais informações e que o projeto era muito interessante. Em outra etapa, eles me ligaram e fizeram uma chamada oral, ficaram cerca de uma hora comigo ao telefone fazendo perguntas.

Quando você recebeu a notícia de que havia sido a grande vencedora do prêmio? Foi por volta das 18 horas da última segunda-feira (6). Eu estava dirigindo, voltando do sítio de uma amiga que havia ganhado bebê. Recebi a ligação e pedi para que eles me retornassem um pouco mais tarde. Assim que cheguei em casa meu telefone tocou novamente e eles me disseram que eu havia ganhado o prêmio. Na hora fiquei muito feliz, chorei de emoção. Eu sabia que toda a promoção era dividida em etapas. A fundação selecionou 50 professores para premiar dez profissionais na categoria ‘Educador Nota 10’ e cinco gestores para premiar apenas um na categoria ‘Gestor Nota 10’. Saber que eu era essa pessoa foi muito emocionante. Tudo o que a gente faz com amor e dedicação um dia é reconhecido. Os professores que acreditaram nas assembleias, minha equipe gestora, são responsáveis por toda essa premiação.

O que é uma boa escola? Em minha opinião, uma boa escola é aquela que se preocupa com o aluno. Que se dedica a acompanhar e incentivar todas as habilidades do indivíduo. Eu acredito muito que a missão do educador é guiada por Deus. É impossível ser um educador sem ter amor à profissão. Sem amor não há bons frutos. Uma boa escola é construída por bons profissionais que amam o que escolheram fazer. É ter em mente que o nosso trabalho moldará e ajudará na formação daquele aluno que está ali. Uma escola deve ser observada como um todo. São vários profissionais que trabalham para a construção de um bom ambiente de trabalho, de professores a merendeiras, de diretores a faxineiras, todos devem estar sintonizados em trabalho de equipe. Isso é fundamental.

Qual é o maior desafio encontrado pelos professores dentro da sala de aula? É conseguir a atenção do aluno. Temos o desafio diário de criar aulas mais atrativas do que tudo que está fora da escola. Na época em que eu era estudante a escola era muito interessante, pois praticamente só existia a escola, os colegas, enfim. Hoje, temos que disputar com a televisão, internet, videogame, entre outros.

Então, como deixar esse ambiente mais atrativo? O município de Artur Nogueira deu um grande passo quando adquiriu os projetores digitais para todas as salas de aulas. Todas as professoras possuem notebooks, que são utilizados para preparar uma aula mais dinâmica, com utilização de vídeos, músicas e acesso a internet. A própria criança pode pegar a caneta digital e escrever na lousa ou abrir um link em algum site. É uma experiência muito interessante que contribui, e muito, para prender a atenção dos alunos. A união entre Educação e Tecnologia deu muito certo. Porém, também temos que contar, e muito, com a criatividade dos professores, que são verdadeiros heróis.

O que é mais difícil educar ou ensinar? Ensinar nada mais é do que passar as tarefas, alfabetizar, ensinar a fazer contas, entre outras atividades. Agora, educar é ir além dos exercícios e lições diárias, é tentar moldar o ser humano para algo melhor do que ele é hoje. Por isso, acredito que educar seja mais difícil. Não que transmitir o conhecimento através de lições seja fácil, mas quando o tema é Educação é mais complexo, pois envolve não apenas o ambiente escolar, como o social e o familiar.

Por que você escolheu ser educadora? Na verdade eu não queira ser professora [risos]. Meus pais, Neusa e Amaury, me influenciaram muito. Eles fizeram de tudo para que eu e minhas irmãs fossemos professoras. E foi o que acabou acontecendo. Eu e minhas outras três irmãs nos formamos professoras. Lembro que costumava falar que eu não queria ser professora, mas acabei seguindo para o magistério. Hoje, eu devo muito a minha mãe e ao meu pai. Eles me ajudaram a encontrar aquilo que Deus já havia reservado para mim. Comecei a dar aula com apenas 16 anos de idade e logo de início me apaixonei pelas crianças e pela arte de educar.

Seu projeto ganhará destaque em todo o Brasil nos próximos meses. Existe alguma proposta para levá-lo a outras escolas de Artur Nogueira? A Secretaria Municipal de Educação sempre nos apoiou e sempre foi presente em nossas solicitações. Já existem sim reuniões para que eu possa mostrar o trabalho para minhas amigas diretoras. A verdade é que outras escolas de Artur Nogueira também possuem projetos interessantes. Quero que o prêmio, que fui contemplada, sirva de exemplo e motivação a outros professores, que façam as inscrições de seus projetos e, quem sabe, também possam ser premiados. Agora, também estamos trabalhando com as Assembleias dos Pais, para que assim como as outras duas, também possa criar uma aproximação maior da comunidade com a unidade escolar. Sinto que teremos bons frutos.

Fotos: Renan Bússulo


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