25/11/2012

ENTREVISTA: Presidente da Aidan fala sobre os 35 anos da entidade

Clovis Sievert

“É preciso dar mais amor e atenção aos nossos idosos” (Clovis Sievert)

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Alex Bússulo

Com a chegada do final do ano é comum ouvirmos as pessoas afirmarem que o tempo está passando mais rápido e que os dias já não são tão longos quanto antigamente. Homens e mulheres afirmam assustados que o Natal praticamente já chegou, de novo.

O relógio está mais acelerado. O novo de hoje será o velho de amanhã. O mais complicado é quando só damos valor àquilo que é novo hoje. Um relatório divulgado pela ONU mostrou que o Brasil é o mercado emergente que gera o maior volume de lixo eletrônico per capita a cada ano. O estudo também revelou que os brasileiros também são os campeões no abandono de geladeiras, celulares e televisores.

O objetivo da ONU foi criar um alerta de que nós, o povo ‘verde e amarelo’, somos os primeiros a descartar aquilo que é velho. O fato de que vivemos em uma sociedade consumista, onde o ‘ter’ é mais importante do que o ‘ser’ não é novidade para ninguém. O problema é quando esse comportamento se transfere para o tratamento humano, quando as pessoas começam a ‘descartar’ outras pessoas, como se fossem eletrodomésticos ‘velhos’.

Respeito. Talvez essa seja a palavra, ou comportamento, mais necessário nos dias de hoje. Valorizar os mais velhos é bíblico. ‘Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá’  (Êxodo 20.12).

O entrevistado desta semana pouco conheceu o próprio pai, mas aprendeu a honrar os mais velhos e lutar por aqueles mais necessitados. Aos 61 anos de idade, Clovis Adolfo Sievert doa o tempo que tem para ajudar os velhinhos nogueirenses. Presidente da Assistência aos Idosos Desamparados de Artur Nogueira (Aidan) há mais de quatro anos, o nogueirense, ao lado de casais amigos e voluntários, busca mensalmente diminuir o déficit da entidade, que chega a R$ 25 mil, todos os meses.

Na última terça-feira (20), a Aidan comemorou 35 anos de fundação. Localizada na Estrada Municipal que liga Artur Nogueira a Limeira, no bairro Sítio Novo, a instituição abriga atualmente 30 idosos, de 60 a 95 anos, e possui uma fila de cerca de 15 pessoas para ocupar a entidade.

O local é muito agradável e acolhedor. O amor dado aos idosos pela diretoria, casais e voluntários é notório e faz muita diferença na vida dos residentes. Segundo o próprio presidente da Aidan, o local possui idosos que constantemente recebem o carinho e a atenção dos próprios familiares – embora seja a minoria.

Clovis nasceu na cidade vizinha de Cosmópolis, mas mora em Artur Nogueira desde os 11 anos de idade. Casou com Neuza Sievert com que tem três filhos. Já trabalhou como agricultor, pedreiro e segurança de banco, hoje ganha o sustento tralhando como apicultor, tendo uma produção anual de 6 toneladas de mel.

O doce não está apenas no trabalho com as abelhas como também no coração deste nogueirense. Na conversa desta semana, Clovis fala sobre as necessidades que a Aidan convive diariamente e desabafa de que se não houver mais apoio das autoridades governamentais a entidade pode fechar as portas.

Como surgiu a ideia de criar uma associação para os idosos de Artur Nogueira? A iniciativa foi do nogueirense João Capacle. Ele morava próximo a Rodoviária de Artur Nogueira e sempre se comovia com a situação de andarilhos que dormiam naquele local. Sensibilizado, ele juntou amigos da época e deu início a criação da entidade. Naquele tempo, a Prefeitura ajudou com a doação do terreno e nós, que trabalhávamos como pedreiro, ajudamos a construir o prédio. A princípio, atendíamos todos os tipos de pessoas necessitadas. Não era apenas uma entidade para os idosos. Lembro-me que havia internos de 18, 20 anos de idade. Em novembro de 1977, quando a Aidan foi oficialmente fundada, a nomenclatura significava ‘Assistência aos Inválidos e Desabrigados de Artur Nogueira’. Mas com o passar do tempo e com a grande demanda de internos tivemos que mudar nosso regimento e acolher apenas os idosos.

Algumas pessoas criticam o termo ‘desamparados’, afirmando que essa não é uma realidade atual. A Aidan possui idosos desamparados? A maioria dos internos eu considero que são desamparados. Já acolhemos senhoras que estavam abandonadas em casa, sem tomar banho há dias, em estados de calamidade. Tivemos internos que antes de estarem aqui moravam nas ruas. É uma triste realidade que não podemos maquiar. É claro que não generalizamos, uma vez que existem aquelas famílias que sempre acompanham e se fazem presentes. Mas por outro lado há aquelas que nem no aniversário do idoso comparecem para dar os parabéns.

Hoje, existe uma fila de espera de idosos para ocuparem a entidade? Sempre existe. Calculamos que atualmente haja cerca de 15 idosos esperando vaga. Nossa instituição comporta um número máximo de 30 internos – e é o que temos hoje. Mesmo com toda ajuda sempre fechamos o mês no vermelho.

Existe um déficit mensal? Sim, todos os meses a entidade fica devendo aproximadamente R$ 15 mil. A ajuda que temos não é suficiente. A Aidan recebe R$ 1.048 do Governo Estadual, R$ 876 do Governo Federal e R$ 9.330 do Governo Municipal. São graças as doações voluntárias que conseguimos mais dinheiro. Nosso gasto mensal gira em torno de R$ R$ 60 mil, que envolve pagamento de funcionários, alimentação, remédios, entre outras despesas.

Analisando essa situação é possível falar que a Aidan corre o risco de fechar as portas? Olha, sendo bem sincero… [pensativo] Se não fosse o trabalho e a dedicação dos voluntários, a Aidan já teria deixado de existir a muito tempo. Além de toda a diretoria, temos 25 casais que doam amor e arregaçam as mangas para dar movimento a entidade. Como vimos, os Governos Estadual e Federal contribuem com muito pouco, juntos não somam R$ 2 mil reais mensais. Temos que melhorar esses convênios, arrecadar mais. É importante que todos entendam da necessidade e a importância da Aidan, caso contrário, não sei qual será o futuro dela.

Além dos convênios com os governos, o que a entidade faz para amenizar o déficit? Temos doações recebidas de terceiros, exploração dos serviços de bar em festas e eventos da cidade, além da promoção de bingos, bailes e jantares – sem isso nosso déficit seria muito maior.

O que os internos costumam fazer dentro da Aidan? É realizado algum tipo de atividade com os idosos? Dos trinta internos, três são acamados. Os demais ocupam o dia conversando, assistindo televisão, dormindo e se alimentando. De vez em quando promovemos passeios e levamos os idosos a pesqueiros e outros lugares. Já tentamos implantar atividades recreativas, mas não foram todos que se interessaram. Hoje, seria muito interessante se a instituição tivesse uma academia de exercícios físicos, igual a essas que encontramos em várias praças de Artur Nogueira.

Quantos e quais funcionários trabalham hoje na Aidan? Atualmente temos 25 profissionais, divididos na área de Saúde, tais como enfermeira, fisioterapeuta e nutricionista, além dos responsáveis pela parte técnica, limpeza, cozinha e serviços gerais.

Além da dificuldade financeira, tem mais alguma coisa que a entidade necessita? No ano passado nós fizemos a pintura da Aidan, mas sinto que o local precisa de uma boa reforma. Precisaríamos efetuar a troca de algumas camas e até as portas dos quartos. Temos uma promessa política de que em breve vamos receber uma emenda parlamentar. Espero que essa promessa se cumpra, para o bem e a sobrevivência da nossa querida Aidan.

Como o senhor avalia o tratamento com os idosos em nosso país? Percebo que eles são, muitas vezes, tratados como um verdadeiro fardo. Existe muito mau trato e ingratidão aos velhinhos do nosso Brasil. Às vezes nem é o filho ou a filha que abandona o pai, mas sim o genro ou a nora. É triste, mas é a realidade. Precisamos de leis que acolham e beneficiem mais os idosos. Esse descaso também vem de nossos governantes, são poucos que reconhecem e trabalham em prol dessa classe. É preciso dar mais amor e atenção aos nossos idosos.

O senhor tem 61 anos, a mesma idade de alguns residentes da Aidan. Como trata e convive com esses ‘companheiros’? Pouca gente sabe, mas eu perdi meu pai muito cedo. Tinha quatro anos de idade quando ele morreu. Por isso não sei o que é o amor de pai – nunca recebi isso em casa. Aqui, na entidade, tem senhores de mais de noventa anos. Eu os trato e busquei neste lar o amor que eu não recebi. Trato eles como se fossem a minha família, porque no fundo é o que eles significam para mim.

O senhor tem três filhos. Gostaria que eles o colocassem aqui? [pensativo] É difícil responder essa pergunta. Quem vive aqui tem uma vida boa porque é cuidado por pessoas boas. A gente faz o que pode. Se meus filhos me colocassem aqui eu entenderia. Seria triste, mas sei que seria muito bem tratado pelas pessoas que aqui trabalham.

O que os 35 anos da Aidan representam para o senhor? Representa uma vitória. Temos muito a comemorar, afinal de conta a entidade está funcionando e acolhendo vidas. Isso é muito gratificante. São mais de três décadas de história, de amor. Quem passa por este local se apaixona, fica emocionado com cada história encontrada aqui dentro. Agradeço a todos os presidentes que aqui já passaram, a começar pelo senhor João Capacle, depois pelo João Vieira de Mello, Jesus de Oliveira Bôer, Osvaldo Sia, Nelson Magossi, Nicolau Capacle, Edson Valmir Alves da Silva e ao Amarildo Antonio Vancetto, que doaram horas e mais horas de dedicação. Também agradeço de coração aos voluntários que nos ajudam, sem a ajuda deles seria difícil esse caminho.

Como a população pode contribuir com a Aidan? Além da ajuda financeira, qualquer um pode dar uma passada por aqui e fazer uma visita. Tenho certeza de que nossos velhinhos vão ficar bem felizes. Às vezes uma simples conversa, um bate papo, vale muito mais do que qualquer outra coisa para essas pessoas. O melhor horário para as visitas é das 9h às 10h30 e das 14h30 às 16h30. Todos serão bem recebidos.

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