12/02/2011

Célia Leão, muito além da garra e coragem

Nossa entrevista começou na última quinta-feira, por telefone, do outro lado da linha uma voz doce nos convidava para um bate-papo exclusivo. O encontro seria marcado para o dia seguinte, às 11 horas, em um escritório em Campinas. Chegamos atrasados para a conversa, coisa de 15 minutos. O local, uma casa grande, no Chapadão, um bairro campineiro. Em uma sala a recepcionista nos atendeu e pediu que aguardássemos um instante. Em todas as paredes da casa, fotos, muitas fotos. Entre as tantas, se destacam as fotografias com o ex-governador, Mário Covas, com o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, com o criador da Turma da Mônica, Maurício de Souza e, óbvio, com a família.

Alex Bússulo

Casada com Daniel Eduardo Edelmuth, com quem tem três filhos, Célia Leão é uma das mulheres mais dedicada à política brasileira. Filiou-se ao PSDB assim que o partido foi criado e nunca mais se desligou dele. Paraplégica depois de um acidente de carro, quando tinha apenas 19 anos, aprendeu desde cedo que só crescemos com as adversidades da vida.

Em 1988, entrou para a política, sendo eleita uma das vereadoras mais votadas em Campinas. Depois disso nunca mais deixou o cargo público. Por mais de 20 anos consecutivos se mantêm como deputada estadual. Em 2006, foi a deputada estadual mais bem votada em Artur Nogueira, com 3.307 votos, em 2010 conseguiu mais de mil e quinhentos votos dos nogueirenses.

Depois de esperar por cerca de 20 minutos, a deputada nos chamou para entrar em sua sala. Com um sorriso indescritível, Célia estava atrás de sua mesa, mas fez questão de nos receber com um forte abraço. Em uma conversa de quase três horas, a deputada falou sobre sua vida pessoal, o partido, sobre Artur Nogueira e sobre a polêmica dos pedágios.

COMO COMEÇOU SUA VIDA POLÍTICA? Primeiramente gostaria de agradecer a presença de vocês e dizer que é uma grande alegria recebê-los. Bem, entrar para uma vida pública é uma questão de oportunidade. No meu caso, não tive influência por parte da minha família, nem meu pai, minha mãe, avó, tios, foram políticos. Não tenho nada contra com quem tem esses vínculos, mas comigo não foi assim. Tenho vinte e dois anos consecutivos de vida pública e me orgulho muito disso. Na minha primeira eleição, fui eleita vereadora e aprendi muito com esse primeiro passo, foi aí que eu me apaixonei pelo legislativo.

O PSDB TE ESCOLHEU OU VOCÊ ESCOLHEU O PSDB? Acho que foi por parte dos dois, foi amor à primeira vista. Uma vez me perguntaram como entrei para a política e eu brinque: eu não entrei, me entraram [risos]. Disse isso porque existiram pessoas que me convidaram para entrar, pessoas que eu admiro e guardo muito respeito.

QUEM SÃO ESSAS PESSOAS? O ex-prefeito de Campinas, já falecido, Magalhães Teixeira, o então na época senador, Fernando Henrique Cardoso. De maneira resumida, por volta de 1988, o Mário Covas [ex-governador de São Paulo], disse que não ficaria no PMDB porque discordava de algumas posições. E ele era um homem de liderança, era líder de bancada, líder de governo, líder da Câmara, presidente do próprio PMDB, eu sei que ele tinha uma série de funções importantes, e saiu abrindo mão de tudo isso, por causa de um ideal maior, porque acreditava nesse algo maior. E fundou o PSDB, um partido que não tinha nem sigla, nem símbolo, nem cor na época.

ENTÃO VOCÊ ESTÁ NO PARTIDO DESDE SUA FUNDAÇÃO? Em junho de 1988, eles vieram para Campinas para discutir a criação do partido, e eu, junto com o Magalhães Teixeira, fundei o partido em Campinas. Fui a terceira a se filiar pelo partido aqui. Acabei sendo cúmplice do PSDB em toda minha vida, no bom sentido, claro. Descobri que a política é boa, é ela quem transforma o mundo.

O QUE SIGNIFICA POLÍTICA PARA VOCÊ? Política é o entendimento dos homens através do diálogo, respeitando as diferenças. A oposição é de suma importância para a democracia. Ela é imprescindível. Sem oposição não há política, não tem democracia. Se todos pensarmos iguais, como robôs isso não é inteligente. Foi com esse sentimento que quando vi o trabalho de Mario Covas entrei para a vida pública.

E COMO VOCÊ VÊ A POLÍTICA BRASILEIRA? Eu vejo a política no Brasil como algo muito importante, bonito e salutar. Nosso país é democrático, aqui prevalece a liberdade. Veja só, o Serra disputou com a Dilma, perdeu a eleição e não houve nenhum tipo de manifesto. Pelo contrário, houve aplausos. Isso é o mais importante, é o respeito à opinião dos brasileiros.

MAS E A CORRUPÇÃO? Corrupção não é coisa de política, é coisa de polícia. Quando tem algum político envolvido com corrupção, você tem que chamar a polícia. Lamentavelmente ela está em todos os lugares, está na Igreja, nas empresas e na política. Posso garantir que em nosso país a maioria dos nossos políticos são sérios, mas os poucos corruptos que existem acabam contaminando outros, mas todos mais cedo ou mais tarde são denunciados. Sabe o que me deixa triste? Não é querendo falar de mim, apenas um exemplo, na Revista Veja, de sábado passado saiu como capa uma matéria sobre o Fernandinho Beira-Mar, o bandido mais perigoso do país. Eu, uma política que nunca me envolvi com nenhum caso de corrupção ou de outra coisa parecida, e sempre lutei em nome das pessoas, nunca fui capa da Veja. O que eu quero dizer é que a mídia dá muito mais destaque para as coisas ruins do que para as boas. Isso é triste porque dá a entender que os corruptos e os criminosos é a maioria, e isso não é verdade. Nosso país tem muita coisa boa, e como tem.

EM 1974, VOCÊ SOFREU UM ACIDENTE QUE TE DEIXOU PARAPLÉGICA. COMO FOI ISSO? Estou 36 anos sem andar. Tinha acabado de fazer 19 anos. Foi em um acidente automobilístico. No dia 14 de setembro de 1974, sai de Campinas e fui para Peruíbe, pois no dia seguinte seria o aniversário de meu pai e íamos comemorar. Chegando em Peruíbe, e eu inventei de querer visitar meus amigos em Mongaguá, cidade vizinha. Quando falei que ia, minha mãe foi totalmente contra, dizia que eu era muito pequena, sem experiência. Mas eu acabei indo, dirigindo um fusca branco, junto com a minha prima. Não estava usando cinto porque na época nem tinha, em uma estrada péssima, sem acostamento, esburacada, escura, horrível. E eu dirigi muito pela beirada da estrada e acabei saindo da pista, me desesperei e voltei para a pista e capotei o carro, minha prima saiu viva e não machucou muito. Eu quebrei a coluna e nunca mais andei.

DE TUDO ISSO, QUAL FOI A MAIOR LIÇÃO QUE VOCÊ TIROU? Que a vida é a coisa mais importante que existe. Sem dúvidas. A vida é o dom que Deus nos deu. Se é rico, pobre, branco, preto, se é gordo, magro, gay, prostituta, padre, pastor, não importa o que você é ou faça, desde que respeite a vida. A política é a defesa da vida. Por isso que eu me envolvi com ela.

SE NÃO TIVESSE SOFRIDO O ACIDENTE SERÁ QUE VOCÊ TERIA SEGUIDO ESSA TRAJETÓRIA? É uma pergunta que eu acho que nunca vou ter a resposta. Já fiz várias vezes essa pergunta pra mim mesma, mas acredito que não vou encontrar a resposta tão cedo. Uma coisa eu sei, que as adversidades da vida fazem a gente crescer. Isso é fato. Eu tive que aprender a andar sentada, a namorar sentada, a casar sentada, a ter filhos sentada. Eu aprendi que o que aconteceu comigo é igual a um brinco, se você tem um brinco e vai para uma festa tudo bem e se você não tem você vai do mesmo jeito. No acidente eu perdi o brinco, mas não a festa, que é a vida.

VAMOS FALAR DE ARTUR NOGUEIRA… Uma cidade do coração, linda. Que eu adoro e sempre me ajudou a ser eleita. Sempre me recebeu muito bem. Artur é uma cidade que está crescendo, que está se desenvolvendo. Uma cidade que tem o direito de me cobrar sempre.

VOCÊ TEM UMA VIDA RELIGIOSA MUITO FORTE E JÁ FOI VÁRIAS VEZES PARA A IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES, EM ARTUR NOGUEIRA. Estou viva porque nasci duas vezes. Deus entrou em minha vida de uma maneira muito forte. Tudo que tenho devo a Ele. A Matriz de Artur Nogueira é maravilhosa, assim como toda a cidade. Me sinto muito bem com as pessoas dali.

O QUE VOCÊ TEM FEITO PELA CIDADE? No ano passado eu apresentei várias emendas para o governo, solicitando benefícios para Artur Nogueira.

CITE ALGUMAS. Em infraestrutura solicitei R$150 mil. Para o Teatro Municipal René Marcos Posi, R$200 mil, para creche R$150 mil e para a Aidan R$50 mil, esta última, a verba já foi liberada, as demais estamos aguardando e espero que em breve esteja disponível à cidade.

UMA DAS GRANDES POLÊMICAS DO MUNICÍPIO E TAMBÉM DE TODO O ESTADO DE SÃO PAULO É A QUESTÃO DAS PRAÇAS DE PEDÁGIOS. EM ARTUR NOGUEIRA, A FACULDADE MAIS PRÓXIMA DA CIDADE (UNASP) TEM UM PEDÁGIO EM SUA PORTA. COMO VOCÊ VÊ ESTA QUESTÃO, SENDO DO PSDB, O PARTIDO RESPONSÁVEL PELA PRIVATIZAÇÃO DESSAS ESTRADAS? Para responder esta pergunta devo lembrar que eu sou vítima de um acidente devido às más condições das estradas. Como já disse, a vida não tem preço. Só para a gente pensar um pouco, quando cai um avião e mata centenas de pessoas, o país para. Vira manchete em tudo quanto é revista e jornal. Não tiro a razão, é uma tragédia que traz sofrimento às pessoas. Mas ninguém pensa que todo mês morrem 500 jovens no trânsito. É como se caíssem dois aviões a cada 30 dias. E ninguém fala nada. Devemos ter segurança em nossas estradas. Ponto. Devemos fazer o possível para manter essa segurança. Se for preciso asfaltar, colocar helicóptero, cachorro latindo, o que precisar deve ser feito. Mas infelizmente para ter essa segurança custa dinheiro, e deixar nas mãos do Estado não resolveria. Vemos isso em outros estados. Não estou defendendo o meu partido, defendo o programa de concessão. São Paulo precisa ter concessão. Ninguém faz omelete sem quebrar os ovos, e ninguém faz e mantêm estradas boas sem recurso. Não tem milagre. E estradas de qualidade não garantem apenas segurança, garante à vinda de empresas, negócios, o ex-presidente Juscelino Kubitschek certa vez disse que abrir estradas era trazer o progresso e o desenvolvimento, isso há 50 anos. O que eu sou contra é quanto ao abuso. Não tem como tolerar abusos. Se tem uma praça de pedágio em Engenheiro Coelho que está prejudicando a vida dos universitários, o contrato tem que ser revisto. E será.

ERRATA:
Durante a entrevista, Célia Leão nos informou que uma verba de R$50 mil foi destinada para a Aidan. O que de fato não aconteceu. A deputada citou uma emenda orçamentária para a associação. Este valor acabou saindo da solicitação por problemas burocráticos na Alesp. Trata-se de uma emenda e não de uma verba consolidada. No texto acima, foi apenas citadas as benfeitorias conseguidas através da deputada no ano de 2010. Vale lembrar que Célia conseguiu uma verba de R$80 mil para a aquisição de um microônibus para a Aidan, há três anos.


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