16/06/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Advigues Santana

Presidente de Associação de Bairros fala sobre projetos e Jd. Carolina


“Uma associação de bairros representa a voz e as angústias de um povo” (Advigues Santana)

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Alex Bússulo

Advigues Santana nasceu na pequena cidade de Pompéia – SP e logo se mudou com os pais para Assis – SP, onde passou a infância. Santana nunca teve uma vida fácil. Aos 14 anos de idade, após ter presenciado a separação dos pais, decidiu morar sozinho.

Com o dinheiro ganho como engraxate, alugou uma pequena casa. Chegou a trabalhar como copeiro, balconista e entregador de pizza. Desde pequeno demonstrava interesse para a jardinagem, profissão que atua até hoje.

Em 1989, formou-se em Técnico Agrícola, na escola Professor Luís Pires Barbosa, na cidade vizinha de Candido Mota.  Em 1990, recebeu um convite de um tio e foi morar em Praia Grande – SP, onde passou a ganhar a vida como vendedor de amendoim na praia.

Nessa época, casou-se com Juliana Fernandes, com quem teve, posteriormente, três filhos: Henrique, Angel e Jefferson.

Santana foi trabalhar como faxineiro em um prédio e após alguns meses já atuava como zelador. Quatro anos depois, morando em Praia Grande, recebeu de um amigo o convite para conhecer e morar em Artur Nogueira. “Quando cheguei aqui foi amor à primeira vista”, diz o jardineiro, que se encantou com o verde da cidade ‘Berço da Amizade’.

Em 1998, mudou-se para o Jardim Carolina em uma época em que quase não existiam casas no local. Desde 2006, atua como presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Carolina.

Já participou dos Conselhos Municipais de Esporte e Meio Ambiente. Hoje, participa como conselheiro de Saúde e da Merenda Escolar.

Também cuida dos times de futebol de salão e futebol de campo, veterano e máster, ‘Amigos do Santana’.

Na liderança da associação, desenvolveu vários projetos, tais como treinamento de esportes na Escola Laranjeiras (em parceria com a própria escola e com o projeto ‘Bom de Bola, 10 na Escola’), ‘Projeto Retreta’ (em parceria com a Corporação 24 de Junho), ‘Projeto Capoeira’ e ‘Cine Cultura’ (em parceria com a Divisão Municipal de Cultura) e o projeto ‘Judô’ (em parceria com a Secretaria de Esportes). Além de montar e treinar a equipe do Futsal Feminino e promover o programa Ação Cidadania (em parceira com a Igreja Evangélica Quadrangular).

Neste mês, a associação lançou o primeiro exemplar do jornal comunitário do bairro, trazendo reportagens sobre as reclamações dos moradores.

Na entrevista desta semana, conversamos com Santana. Em um bate papo de aproximadamente uma hora, o presidente do Jd. Carolina fala sobre o problema do asfalto, projetos sociais e sobre a importância da união dos moradores em prol a uma causa. Confira.

Você é um homem envolvido com vários projetos sociais. O que te move a fazer tudo isso? Qual é o seu maior sonho? Minha infância foi difícil. Eu sei como é complicado viver em uma sociedade onde existem tantos atrativos perigosos. Nunca bebi ou usei drogas, mas oportunidades não faltaram. Tive que fazer escolhas e esta me transformou no homem que sou hoje, marido, pai de família, que poderia ter se perdido no mundo da criminalidade. Respondendo a sua pergunta, meu maior sonho [pensativo], é tirar as crianças das ruas.

Achei que você responderia que era asfaltar o Jardim Carolina. [risos] Não. O asfalto é um desejo, mas deve ser consequência de uma boa administração pública. Esse é o sonho de toda comunidade do Carolina.

Já que estamos falando sobre asfalto, no dia 22 de agosto de 2008, Capelini assinou um termo de compromisso, assim como os outros candidatos a prefeitura, no qual se comprometeu a asfaltar o bairro por completo no ano de 2009, caso fosse reeleito. O prefeito foi reeleito, mas não cumpriu o acordo. Em entrevista, Capelini disse que o dinheiro que seria usado no Carolina foi dado como contrapartida no PAC, para assim poder beneficiar mais bairros com asfaltos, além de outros setores do município. Como você analisou essa estratégia? Assim como você mesmo disse, todos os candidatos da época assinaram e prometeram que iriam asfaltar o bairro em 2009, inclusive o Marcelo. Nós esperávamos que ele cumprisse o combinado logo no primeiro ano, mas isso não aconteceu. É lógico que eu gostaria que o bairro já estivesse asfaltado, mas compreendo e aceito a decisão do prefeito. Acompanhei esse processo em várias conferências e reuniões que participei. Ainda tenho esperança que o Carolina será asfaltado ainda neste ano.

Os moradores cobram de você o asfalto no bairro? Muito. A verdade é que o povo está desacreditado. Perdeu um pouco a confiança na política. O Marcelo fez um bom trabalho, mas em termos de manutenção de alguns bairros deixou a desejar. Como já disse, o asfalto deve ser uma consequência de uma boa administração pública, uma vez que esse é um dos maiores problemas reclamados pela população nogueirense.

Por que você não entra para a política? Não seria mais fácil resolver esses problemas? Não acho que essa seja a melhor ideia. Não sou filiado a nenhum partido político e não tenho pretensão de ser candidato a nada. Pelo menos é isso que eu penso hoje. Talvez amanhã eu mude de ideia e decida me candidatar, mas para as próximas eleições eu quero apenas ser um morador que exige seus direitos. Hoje, acho que posso melhorar ainda mais o bairro em que vivo atuando como membro da Associação dos Moradores.

Você acha que a sociedade, em geral, fecha os olhos para os problemas sociais? Eu não diria que fecha, mas que ela finge que não vê. Finge que nada está acontecendo a sua volta. Que vivemos em um lugar sem crime, droga ou prostituição. Só fazem alguma coisa quando o problema bate na porta da casa. Quando chega e atinge um filho ou uma filha. As pessoas só se preocupam com os problemas individuais, os sociais ficam por conta dos políticos, o que julgo ser um grande erro, uma vez que todos nós somos responsáveis pela comunidade em que vivemos.

Qual a importância da Associação de Moradores de bairro? Uma associação tem grande importância, pois representa a voz e as angustias de um povo, de uma comunidade. Se não nos unirmos ficamos fracos e nossos problemas ficam difíceis de serem resolvidos. Quando há a união, ganhamos força perante as autoridades responsáveis.

Você começou a trabalhar muito cedo. Isso afetou de alguma forma a sua adolescência? É bom deixarmos claro que sou totalmente contra o trabalho e exploração infantil. Mas acho que as leis deveriam ser modificadas em nosso país. Eu acho um absurdo um jovem só poder começar a trabalhar com 16 anos de idade. Para as drogas e criminalidade não existe idade. Todo jovem quer, hoje, ter seu dinheiro para poder comprar roupas, sapatos, brinquedos. Se a sociedade e o Estado não criam condições favoráveis para o mercado de trabalho para os jovens eles vão buscar esse dinheiro de alguma outra forma, muitas vezes errada. É necessário criarmos ações que possibilitem às crianças atividades em horários opostos ao escolar. Comecei a trabalhar cedo, e isso nunca me prejudicou em nada, pelo contrário, me fez ganhar responsabilidade e valorizar cada centavo que ganhei.

Você foi um dos responsáveis pela entrada de duas nogueirenses no time feminino de futebol do Guarani. Como foi esse processo? Há aproximadamente três anos, fizemos uma parceira com jogadoras de Artur Nogueira e Engenheiro Coelho para uma disputa regional. Junto com o ‘Pezão’ e o ‘Zumira’ consegui colocar as jogadoras Antônia e Fernanda em um amistoso, onde o técnico do Guarani viu e gostou das nogueirenses e as colocou no time profissional, onde estão até hoje com outras esportistas.

Você tem um projeto para fazer com que o Carolina seja o primeiro bairro de Artur Nogueira a implantar o programa ‘Calçadas Verdes’. Como funciona esse projeto? Queremos, assim que nossas ruas forem asfaltadas, criar junto com os moradores e com a Engenharia Municipal, uma padronização em todas as calçadas do bairro. Hoje, uma calçada possui dois metros de largura. Com o projeto, utilizaríamos 50 centímetros para plantarmos grama e árvores floríferas. É uma ideia simples que, além de deixar as ruas mais bonitas, também auxiliarão na absorção das águas das chuvas, que evitarão a erosão do asfalto e da própria calçada.

De onde você teve a ideia de fazer o jornal comunitário ‘Jardim Carolina’? A ideia surgiu durante um curso de Gestão Política que fiz. Procurei o professor do Unasp, Wanderley Gazeta que se prontificou a ajudar a associação. Antes, tentamos fazer um mural, mas não deu muito certo. Os alunos do Unasp são os responsáveis pela escrita do jornal. Eles vão ao bairro, fazem entrevistas com os moradores. Também montamos um conselho para a realização do jornal e no início deste mês lançamos a primeira edição. Nosso objetivo é dar voz ao morador, fazer com que ele seja ouvido e que possa reivindicar seus direitos e necessidades. A união faz a força, principalmente quando se tem uma ferramenta como esta.

Boa parte das notícias publicadas no jornal comunitário mostra apenas a reclamação da população. Existe uma preocupação da associação em criar um meio de comunicação imparcial ou é apenas um ponto de reclamações? Foi apenas a primeira edição. Pode ter faltado mais conteúdo, mas o que está ali é a realidade do bairro. Esse jornal tinha um prazo para sair. Ele não passou pelo conselho do bairro. Nas próximas edições vamos buscar equilibrar mais o conteúdo, afinal, temos muitas coisas boas para mostrar do Carolina.

Você também tem um projeto denominado ‘Vaca Mecânica’. O que é isso? É a implantação de uma máquina que produz leite de soja para as crianças que praticam atividades culturais e esportivas no município. Conheci esse projeto na minha infância. Muitas vezes não tinha o que comer em casa e, graças a esse leite, que era distribuído gratuitamente, podia me alimentar. Procurei alguns políticos da cidade e apresentei a ideia. Na ocasião apenas o vereador Cristiano Conde (PSDB) se interessou pelo projeto e fez um estudo detalhado sobre isso. Aguardamos a força de algum deputado para que possamos viabilizar o projeto.

Fotos: Renan Bússulo

 


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