02/12/2012

ENTREVISTA: Presidente em exercício do Conseg fala sobre a segurança

Adonai Brum

“Somente com respeito pode-se construir uma sociedade mais segura” (Adonai Brum)

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Alex Bússulo

Nascido em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, Adonai Henrique Brum da Silva, hoje com 53 anos de idade, responde por um dos mais atuantes movimentos municipais de Artur Nogueira – o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg).

Formado em Economia, Adonai é casado com Jucimara Brum e tem um casal de filhos. Em 2008, através de influência de um amigo, conheceu a cidade de Artur Nogueira. Um ano depois se mudou com a família para o município ‘Berço da Amizade’.

A casa escolhida foi vendida pela filha do então presidente do Conseg de Artur Nogueira, Renato Mancinelli. “Depois disso nos tornamos amigos, não só pelo negócio muito bem conduzido por ele, como também por sermos vizinhos. Daí, para o senhor Renato falar do Conseg foi um pulo”, relembra Adonai.

Participou da eleição do Conseg e, desde 2010, participa da diretoria. Com a recente mudança de domicílio de Mancinelli, Adonai assumiu a presidência do conselho. Na entrevista desta semana, o presidente em exercício do Conseg aborda problemas e soluções para a segurança de Artur Nogueira. Confira:

Como o senhor analisa a segurança no município de Artur Nogueira? Em termos comparativos com as cidades do entorno, mesmo a de menor porte como Engenheiro Coelho, por exemplo, nós estamos em uma situação bem melhor. Contudo, a questão de segurança é um problema que se avolumou tanto em nosso país, que se apresenta quase como uma “epidemia” e que vem se alastrando em todos os municípios e em todos os estados. Não existe nenhum lugar que se possa dizer estar livre dessa “praga”. Em nossas reuniões são analisadas as estatísticas de crimes e delitos acontecidos no mês anterior. Felizmente são raros os registros de casos de assassinatos, sequestros, roubos e outros considerados crimes violentos. Mas não estamos imunes aos mesmos. Fator preponderante para essa “tranquilidade”, creio estar na união das forças policiais do município, que atuam sempre em sintonia e em apoio uma das outras. Vale registrar também o apoio logístico que a administração municipal tem emprestado aos órgãos de defesa e segurança de nosso município.

Os nogueirenses devem se preocupar com os constantes ataques violentos, incluindo queima de ônibus e morte de policiais? Esse assunto foi abordado em nossa última reunião, realizada na segunda-feira passada (26). Importante registrar que em nossas reuniões estamos falando diretamente com os responsáveis pela segurança do município, uma vez que estão ali representados os membros natos, o comandante da Polícia Militar e o Delegado de Polícia Civil, além da presença constante do comandante da Guarda Civil Municipal. Ou seja, podemos “beber da fonte” e assim como nós, todo e qualquer cidadão nogueirense que participa da reunião do Conseg. Mas voltando a sua pergunta, fizemos uma profunda análise dessas ocorrências e concluiu-se que o “modus operandi” – o modo adotado, não condiz com os ataques que têm sido deflagrados pelo crime organizado na capital e em outras cidades. Assim, essas ocorrências estão sendo investigadas por um outro prisma, sem se descartar, porém, a possibilidade de ser de autoria do crime organizado, mesmo não se encaixando no modo como esses crimes têm sido praticado. Outro fato é que nossos policiais não estão mais desprevenidos, como de resto, os demais policiais pelo estado. Hoje, quando um marginal se dirige a um policial sabe que vai encontrar um adversário temível porque ele está pronto para reagir.

Como podemos construir uma sociedade mais segura? Em face de preferências religiosas, sociais ou políticas não se tem uma “receita” ou um consenso. Mas ouso dizer que a base de toda a violência em todo o mundo está fundada na perda de valores que tínhamos até a bem pouco tempo. Valores como Deus, a família e o civismo tem sido negligenciados por nossa sociedade “digital”. Nossos filhos, via de regra, não são mais educados no respeito a Deus, na valorização da família, no patriotismo, na valorização e no respeito à escola e aos professores. Percebe-se uma ignorância dos pais com a gravidade disso ao deixarem seus filhos serem “educados,” por exemplo, por programas de televisão, onde o que se apresenta é o desrespeito com o ser humano, violência, abuso sexual, pornografia, desvalorização da família, entre outros. Veja-se que não existe mais nem o respeito pelo horário. As novelas da tarde já ensinam as meninas e meninos “a transar”. Os meios de comunicação alegam que as famílias são responsáveis por evitar que seus filhos sofram essa influência, mudando de canal ou simplesmente desligando a TV. Mas sabemos que não é assim. Essa geração que hoje educa seus filhos foi educada pela televisão e já não traz mais os valores que seus avós traziam – e o pior que muitos nem sabem disso. A solução estaria então em repensarmos nossa sociedade e resgatarmos esses valores. Somente com respeito pode-se construir uma sociedade mais segura.

Hoje, a quantidade de policiais militares, civis e guardas municipais presentes em Artur Nogueira é suficiente? Temos um bom efetivo na PM e na GCM. No entanto, nessas duas corporações ainda estamos defasados em relação ao padrão definido com base no número de habitantes versus quantidade de policiais. A situação caótica mesmo está na Polícia Civil. É sabido que se a administração municipal retirar os mais de 15 funcionários cedidos para suprir o mínimo necessário para a mesma continuar funcionando, a nossa Delegacia simplesmente fechará. Isso, sem falar na condição precária de infraestrutura que se encontra, sendo a mais gritante a situação do prédio onde ainda hoje está instalada. Essa tem sido a grande luta de nosso Conseg ao longo desse ano. Em conjunto com Conseg’s da região, especialmente de Nova Odessa e Engenheiro Coelho, iniciamos um ciclo de debates em toda a Deinter que está escancarando para a sociedade a condição de penúria em que está mergulhada a Polícia Civil em nossa região. Quando o cidadão entende isso, se solidariza com os policiais e passa a ter um profundo respeito pelos mesmos que, a despeito de tudo, ainda honram seu cargo e seu dever. A propósito dos ciclos de debate, no dia 4 de dezembro próximo, às 19 horas na Câmara Municipal de Cosmópolis estará acontecendo a 5ª edição. A primeira foi em Nova Odessa, a segunda aqui em Artur, a terceira em Eng.Coelho e a quarta aconteceu em Santa Bárbara d’Oeste. Estaremos presentes contribuindo nos debates e representando nossa cidade. Convido a todos os que se preocupam com a segurança pública a marcar presença e exercer sua cidadania.

Como funciona uma reunião do Conseg? As reuniões são abertas à comunidade e acontecem uma vez por mês. Nela são discutidos itens previamente definidos em pauta e também propostas colocadas na reunião e de interesse da comunidade, dos visitantes ou de qualquer membro presente. Têm duração de duas horas e devem ser realizadas em locais de fácil acesso e de amplo conhecimento da comunidade. São realizadas na 4ª segunda-feira de cada mês, às 19 horas, na Associação Comercial e Empresarial de Artur Nogueira (Acean). O local atual é excelente, mas estamos com a promessa de que no ano que vem vamos realizar na sala dos conselhos da nova Câmara Municipal.

Por que a população pouco se interessa em participar de conselhos municipais, tais como o Conseg? Acho que é coisa da tal sociedade digital ou televisiva [risos]. Temos uma cultura de “estar cansados” depois do expediente. Mas isso precisa mudar. Temos que nos envolver com os processos. Temos que ser agentes e não espectadores – muito menos telespectadores. Afinal, é uma vez por mês apenas. É fato, porém, que é muito mais confortável criticar a situação do que procurar mudá-la.

O que poderia ser feito para aumentar esse interesse? Temos procurado marcar presença na comunidade através dos seminários e cursos de interesse da segurança pública, e assim atrair a atenção das pessoas de uma forma geral. Outro canal para isso tem sido os fóruns de notícias, como o do Portal Nogueirense, onde o interesse tem aumentado cada vez mais. Através das nossas participações temos gerado algumas polêmicas, mas temos dado o recado. Ainda não se traduziu em participação, mas entendemos que estamos no caminho certo.

O conselho está promovendo uma campanha a favor do incentivo às denuncias anônimas. Qual a importância da participação da população? A população é corresponsável pela segurança do município. Isso é lógico. Se eu deixar um determinado bem abandonado por algum tempo isso vai acabar atraindo a atenção do bandido. Assim é com a segurança. Se o marginal vem aqui e faz o que quer e ninguém denuncia, ele acaba “gostando” e instala seu “domicílio”. O canal ideal para efetuar qualquer denúncia e assegurar o anonimato, que é o grande medo do cidadão, o de se expor, é o telefone 181 – Disque denúncia. Estamos com uma campanha em andamento e vamos intensificá-la a partir de janeiro do ano que vem. Queremos unir-nos também ao Canal Novo Tempo (aberto 34 e 14 da sky) para ampliar a campanha que ele vem desenvolvendo intitulada “quebrando o silêncio”. A chamada é para denunciar a violência contra a criança ou a mulher.

Qual é a maior dificuldade enfrentada atualmente pelo Conseg? A falta de envolvimento da comunidade em geral. Ao não participar, a comunidade não prestigia. Queremos mudar isso para o ano que vem! A nova Câmara de Vereadores também será chamada a participar mais. Como disse a pouco, temos uma promessa de fazer nossas reuniões nas dependências do prédio da nova Câmara, em uma sala destinada aos conselhos. Esperamos que isso venha realmente a acontecer para que estejamos mais perto daquela casa de leis. O que se busca é a integração de todos na resolução de nossos problemas de segurança e a Câmara Municipal tem papel preponderante nisso.

No final de outubro, o Conseg promoveu um ciclo de palestras voltado para o público jovem feminino. Qual a importância deste tipo de evento? Como disse anteriormente, entendo que a principal causa da violência está na perda de valores morais, religiosos e cívicos que tínhamos até bem pouco tempo. A educação baseada na televisão e seus valores (falta de); a pouca ou nenhuma comunhão da maioria de nossos jovens com o Criador, porque quase ninguém tem lhes falado sobre isso; a desvalorização da vida e a banalização do sexo estão na raiz da insegurança. Esses seminários têm buscado o resgate de todos esses valores e, pelo entusiasmo das meninas, temos a certeza que elas estavam esperando por isso. Pelas diversas manifestações que vimos e a repercussão no Nogueirense, que nos prestou um grande apoio na realização e divulgação, entendo que estamos conseguindo chamar a atenção de outros setores da sociedade para esse problema e apontando soluções. Pode ser nada, uma gota no oceano, mas como dizemos sempre, se o seminário fizer a diferença na vida de apenas uma dessas meninas já terá valido a pena. A sensação de havermos contribuído para a melhoria da sociedade é muito gostosa. Vale a pena mesmo.

O Conseg solicitou a administração que mudasse de endereço a base da Polícia Militar e também da Delegacia, além de aumentar o atual prédio da Guarda Municipal. Como anda esse processo? Está caminhando. Infelizmente a atual administração, por conta da transição política, colocou o pé no freio dos gastos e cortou também o pouco da verba que vinha aplicando nessas mudanças. De concreto ficou a mudança da PM para o novo endereço na Fernando Arens e que a Delegacia irá para o novo endereço no trevo do Itamaraty. No entanto, no caso da Delegacia faltou verba para concluir as adaptações necessárias e acho muito difícil a mudança ocorrer durante a gestão de Marcelo Capelini. Sabemos por fonte segura, no entanto, que a PM não ficará no novo endereço na Fernando Arens. A proposta é de alocação em um prédio muito melhor, na Duque de Caxias, mas vamos aguardar a oficialização disso. Sabe-se também que o próximo prefeito, Celso Capato, pretende manter e melhorar as instalações da GM, o que também era uma proposta do Conseg. Ainda não tivemos um encontro oficial com o novo prefeito, pois achamos que não é chegado o momento. Ele está cuidando do processo de transição com a administração como um todo e não pretende mexer, pelo menos no curtíssimo prazo, no que está aí colocado com relação à segurança pública. Sabemos também que promete apoiar e valorizar o Conseg. Isso nos tranquiliza. Para finalizar quero, em meu nome e pelo que vi nos últimos três anos que participo do Conseg, reconhecer o apoio que a atual administração municipal deu e ainda dá a segurança pública de nosso município, especialmente com relação à Polícia Civil. Quero aproveitar esse canal também para agradecer o apoio da Secretaria Municipal de Educação e da Secretaria de Ação Social no evento das meninas esse ano. Por fim, quero dizer que estou confiante que a nova administração municipal, por tudo quanto falou e fez até aqui, irá dedicar especial atenção à segurança pública de nossa cidade e para isso acontecer deve também ampliar sua participação no Conseg, o que, infelizmente, não foi um objetivo permanente da administração que ora se despede da Prefeitura Municipal.

Fotos: Renan Bússulo 

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