31/03/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Adilson Brito Moreira

Lutador nogueirense se prepara para representar o Brasil no Japão

“Hoje me preparo para a realização de um grande sonho: ser campeão do mundo” (Adilson Brito Moreira)

__________________

Alex Bússulo

Ele tem 32 anos de idade e desde os 12 leva jeito para a luta. Nascido em uma cidade chamada Jequié, na Bahia, veio para Artur Nogueira ainda criança e nunca mais deixou a cidade ‘Berço da Amizade’.

Embora com as dificuldades enfrentadas no passado, Adilson Brito Moreira hoje é considerado por muitos, um dos melhores karatecas no estilo Kyokushin.

No último domingo, o lutador foi classificado em uma seletiva em Sorocaba e ganhou a oportunidade de representar o país no Japão no próximo mês de junho.

Em uma conversa de aproximadamente uma hora, Moreira fala sobre Karatê, sonhos e desafios. Confira.

Como o Karatê entrou em sua vida? Sempre gostei de lutas, quando era pequeno ficava fascinado com os filmes do Bruce Lee. Tudo era muito inspirador para mim. Na infância me identifiquei com a Capoeira. Vivia treinando com os amigos lá na Bahia. Embora a Capoeira seja outro estilo, esse foi o meu primeiro contato com o mundo das lutas.

Aos 12 anos de idade, você deixou a Bahia e se mudou para Artur Nogueira. Como foi essa mudança? Eu deixei toda minha família e vim atrás de um futuro melhor. Queria trabalhar e as coisas na Bahia não estavam fáceis. Vim morar na casa de um tio e comecei a trabalhar em uma empresa de flores em Holambra. Parte do dinheiro que recebia era dedicado ao meu treinamento de Karatê. O começo não foi fácil, mas nunca desisti. Acreditei em meu sonho e corri atrás. Hoje, percebo que todo o meu esforço valeu a pena.

Tem uma história envolvendo seu irmão, até que engraçada, que acabou te motivando a entrar para o Karatê. Que história é essa? Sabe aquelas briguinhas entre irmãos? [risos] Foi numa dessas que eu levei um tapa e fiquei com tanta raiva que coloquei na cabeça que iria aprender a me defender. Para falar a verdade hoje agradeço ao meu irmão, porque se não fosse ele talvez não eu não estivesse onde estou hoje.

Qual é a diferença entre o Karatê Kyokushin com o Karatê tradicional? O Kyokushin é um estilo mais livre, de mais contato, que busca a verdadeira essência do Karatê. É uma modalidade mais difícil, que exige mais força e técnica do que o tradicional.

Como foi a seletiva que o classificou para o campeonato no Japão? Recebi um convite da Federação Brasileira de Karatê Kyokushin para competir no domingo (25) em Sorocaba-SP. Ao todo, nove lutadores de diversas partes do Brasil participaram da seletiva e eu fui o vencedor.

E ganhou o melhor prêmio de todos… Sim! A oportunidade de ir ao Japão. Isso significa muito para mim. Foi tudo o que eu sempre busquei e acreditei. Se tivesse que pagar para ir ao Japão teria que gastar mais de sete mil reais, dinheiro que não tenho atualmente. Então aproveitarei muito essa oportunidade e sei que dará certo.

Está confiante? [pensativo] Ainda tenho o que melhorar, mas se fosse para eu ir hoje iria confiante. Sei que não será fácil, mas darei o melhor de mim, afinal, esse é o meu sonho, ser campeão mundial.

Como vai funcionar o campeonato? Em vários países está acontecendo a seletiva, igual a que eu participei. O campeonato vai reunir os melhores de cada lugar em uma semana de luta. Corro o risco de chegar lá e perder em minha primeira luta. Lógico que a gente não pensa assim, tem que manter o pensamento positivo que tudo dará certo. A mente e o corpo tem que estar em uma única sintonia. Meu sonho é vencer esse campeonato. Ser o campeão do mundo!

Você ficou em segundo lugar em um campeonato realizado na Argentina em 2005. Como foi essa experiência? Foi uma disputa bem acirrada. Foi por pouco que não fui campeão. Não perdi na luta, no final tivemos que ir para a disputa de quebra de tábuas e meu adversário conseguiu quebrar uma tábua a mais do que eu e acabou sendo o vencedor.

O Karatê é mais força ou estratégia? É uma união dos dois. Para você ter um bom desempenho no tatame tem que conseguir conciliar força com estratégia, um precisa do outro.

Você também dá aulas? Sim. Hoje tenho uma turma de Muay thai na academia RN Sport, além de ser voluntário na Casa do Caminho. Todos são alunos dedicados e disciplinados que estão aprendendo a arte da luta.

Você percebe alguma diferença entre esses alunos, por ser de uma academia particular e outros de uma entidade beneficente? Como disse, todos são iguais. Existem até aqueles que não podem pagar e acabam dando mais valor a oportunidade que receberam. Eu os trato da mesma maneira, independentemente se for particular ou não. Todos tem potencial para vencer na vida e se tornarem grandes lutadores.

Qual é a diferença entre o Muay thai e o Karatê? Vou simplificar, dizendo que o Muay thai é uma luta de boxe em que o lutador pode usar as pernas. Existem alguns campeonatos que valem até cotoveladas. A diferença do Karatê é que não vale soco no rosto, tirando isso é igual. Gosto e me identifico mais com o Karatê.

Quantas faixas existem no Karatê? Ao todo são sete. Quando você recebe a última, que é a preta, percebe que tudo o que você aprendeu sobre o Karatê foi o básico. A partir da preta é que a gente percebe e entende o que realmente é a modalidade. Você passa a se dedicar mais ao aperfeiçoamento da técnica.

Quanto tempo leva para uma pessoa conquistar uma faixa preta? Se for uma pessoa bem disciplinada e dedicada, cerca de sete anos. Mas tem que haver esforço e vontade de aprender.

Você tem uma filha de apenas nove anos. Ela também já está praticando Karatê? Opa! [risos] E já está mostrando sinais de que será uma boa lutadora. Ela tem o chute forte. Hoje, uma criança de cinco anos já pode começar a treinar, o que ajuda muito em seu desenvolvimento.

Algumas pessoas associam o Karatê, assim como outras lutas, com a violência. Como você vê essa situação? Posso dar minha história como próprio exemplo. Entrei para o Karatê querendo aprender a brigar, para me defender de meu irmão. Depois que eu aprendi a técnica e a arte, me disciplinei muito. Faz mais de 15 anos que pratico Karatê e tenho orgulho de dizer que nunca me envolvi em uma briga de rua. Nunca machuquei ninguém, pelo contrário, sempre procuro resolver qualquer situação pelo diálogo, pela conversa. Confundir Karatê com violência é um pensamento errado. Quem realmente conhece sabe muito bem que a disciplina e o respeito são características fundamentais da modalidade. O Karatê desenvolve a mente e o corpo, trabalha em sintonia com os dois. Além de ser uma grande ferramenta social.

Como assim? Ele tira, assim como outros esportes, as pessoas das ruas, das drogas. Já vivenciei vários casos de alunos que estavam perdidos e se reencontraram após descobrirem o Karatê. Isso é muito forte para mim. É um conceito que todos deveriam ter e incentivar.

Você tem patrocinadores? Ainda não. Essa é uma grande dificuldade que enfrento. Tenho e agradeço ao apoio que a Prefeitura Municipal de Artur Nogueira tem me dado, mas preciso encontrar alguém que patrocine e acredite em meu potencial. Qualquer ajuda será muito bem vinda.

Fotos: Renan Bússulo 

Clique AQUI e sugira as próximas entrevistas


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.