ENTREVISTA DA SEMANA: Evandro Queiroz e Celso Lauro
Humoristas de Artur Nogueira se preparam para stand up
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Alex Bússulo
Eles são nogueirenses e vivem fazendo arte pelos quatro cantos da cidade. Integrantes do Movimento Cultural Brincantti, Celso Lauro e Evandro Queiroz investem em uma nova arte em Artur Nogueira: a comédia.
Engraçados por natureza, esses dois estréiam no próximo sábado, 19 de novembro, o ‘Rasurado’, um show de stand up que promete entrar para o calendário cultural do município.
Na entrevista desta semana conversamos com os dois comediantes. Em uma conversa de mais de uma hora falamos sobre humor, censura e sobre as ironias da vida.
Evandro, quem é o Celso? Posso deixar meu cachorro falar por mim? [risos] Ele é o resumo do talento. Muito talento mesmo. Ele é lento pra escrever, lento pra trabalhar, lento pra tudo… [risos] Mas tirando isso ele é um grande ator. Quando eu o conheci, de cara já saquei que ele seria um baita de um imitador. E eu não errei. Até hoje ele vive imitando as piadas dos outros.
E para você Celso, quem é o Evandro? É um cara com muito potencial, é um dos poucos artistas de Artur Nogueira que encontrou seu lugar na comédia, o que é muito difícil nos dias de hoje. Ele tem uma veia artística para o stand up, que te faz rir só de olhar para ele.
O que é um show de stand up? [Evandro] O stand up é o humor de cara limpa. É a apresentação do ator com apenas o microfone. No Brasil, Ary Toledo e Chico Anísio já faziam stand up muito antes de eu nascer. O cara tem que subir no palco limpo, sem cenário, e faz o público rir somente com o seu texto. Essa é a missão.
Vocês já atuaram em várias peças teatrais. O que é mais difícil, fazer teatro ou stand up? [Celso] Não dá para comparar porque são coisas bem diferentes. Ambos têm suas dificuldades. O teatro, por exemplo, tem toda uma estrutura de ambientalização, cenário, figurino, tem toda uma criação do personagem. Já o comediante de stand up tem que se preocupar com a criação de seu texto. Não adianta o cara copiar um texto pronto de alguém lá fora e trazer para cá que não vai dar certo. O cara tem que ser criativo, autêntico e, claro, engraçado.
[Evandro] Cada show é um novo desafio. Não dá para eu fazer uma piada hoje da Geisy Arruda [universitária que gerou polêmica com seu vestido na Uniban em 2009] que ninguém vai rir. Eu tenho que falar de coisas que estão acontecendo hoje, essa semana. No teatro, o ator sobe com tudo decorado e ainda tem os outros atores que contracenam e o ajudam em cima do palco. No stand você tem apenas o texto a seguir, só isso.
Hoje, o stand já está popular em todo o Brasil. Quem são os grandes nomes que merecem ser citados?[Celso] Fábio Porchat. Esse é o cara. Ele estreou recentemente em um quadro novo no Fantástico chamado ‘Na pior das hipóteses’. Ele é bom em tudo que faz, no palco, na maneira de falar, de se expressar, no corpo…
Corpo? [Celso ri] Não do corpo dele, mas da expressão, lógico. Tem piada que o cara tem que usar o corpo, e o Porchat sabe fazer isso muito bem. Mas tem outros que também arrasam, como o Danilo Gentili e o Rabin. Esses três são os caras da comédia.
E para você Evandro? Paulinho Serra. Ele é um cara estranho, barbudo e careca, que domina o público. Ele consegue convencer as pessoas com as suas piadas. É fera!
Antigamente se associava muito o engraçado com o feio… [Celso] Mas continua a mesma coisa. Aliás, as humoristas de stand up são muito feias. As poucas que se salvam não são engraçadas. É muito mais fácil você ser engraçado sendo feio do que um cara que é todo bonitão fazendo piada. A pessoa que é feia tem onde ‘se’ explorar.
[Ironicamente] Vocês se beneficiam disso? [Evandro] Com certeza… [Celso interrompe] O Evandro explora mais a minha feiúra do que a dele! [Evandro completa] Eu falo da minha teta, o Celso fala do nariz dele. Aliás, ele sempre chega na frente primeiro do que eu por causa do nariz, ele tem essa vantagem [risos].
O que é mais fácil: fazer o público rir ou chorar? [Celso] Hoje em dia, acho que é mais fácil fazer chorar do que rir, porque o humor das pessoas está condicionado, contido. Para a tristeza não, a tragédia retrata muitas vezes a realidade.[Evandro completa] As novelas são a prova viva de que fazer chorar é mais fácil. Os caras só precisam colocar cenas cotidianas e pronto, é tudo muito apelativo.
Eu já assisti a um show de vocês e percebi que o público ri muito quando sai uma piada local, com lugares e personagens da cidade. [Celso] É verdade. Toda cidade tem características próprias que todo humorista pode aproveitar. Você já notou a quantidade de pombos que vivem em Artur Nogueira? Lembra quando tinha aquela tiazinha que vendia lanche perto do teatro? Cara, a gente estava comendo lá e os pombos faltavam pular em cima. Essa situação eu transformei em piada e o público gostou. São coisas simples, cotidianas, que podem virar piada.
Qual a opinião de vocês sobre o caso do Rafinha Bastos, do CQC, que fez uma piada em rede nacional sobre a cantora Wanessa Camargo? [Evandro] Eu acho que o humor não pode ter limites. A pessoa tem que entender que aquilo é uma piada.
[Celso] Eu entendo que o Rafinha quis fazer um comentário enaltecendo a beleza da Wanessa, o problema é que ele é meio ogro para essas coisas, não só com a cantora, mas com todo mundo, é o perfil dele. O problema é que ele falou isso em uma emissora e todo mundo viu. Acho que a situação que se formou em cima do assunto acabou sendo um pouco exagerada. Acho que a Band poderia ter pedido que ele se desculpasse no ar, o que eu acho que ele faria numa boa, e tentar contornar a situação.
[Evandro] Cara, se todo português processasse um brasileiro por causa das piadas nós estaríamos perdidos! Seriamos exilados do planeta.
[Celso] Quantas piadas do Ary Toledo não são tão fortes ou piores do que a do Rafinha? Mas acho que o humorista deve saber se controlar sim, principalmente na televisão, não sou contra a piada dele, mas o humorista deve sentir o público. O complicado é que muitas vezes o público acaba confundindo a piada com a realidade.
Vocês já se arrependeram de contar alguma piada? [Evandro] Teve uma vez que eu contei uma piada sobre o terremoto do Japão. Cheguei ao público e disse que fui montar um quebra cabeça do país, chacoalhei a caixa e disse que a tarefa havia terminado. O público fez uma cara de rejeição, mas riu da piada. Ou seja, se eu for para o inferno, o povo que riu também vai.
[Celso] Já me arrependi de contar piadas sobre a minha ex-namorada, isso é ruim, nunca acaba bem [risos].
As pessoas cobram do jornalista Alex Bússulo imparcialidade, apartidarismo, isenção. Cobram que eu faça um trabalho ético e profissional, mas quando elas se tornam as fontes, quando se tornam as envolvidas em certos assuntos, são as primeiras a criticar e a confundir a missão do Jornalismo. Com humor também acontece isso? [Celso] Com certeza. Todo mundo se diverte com as piadas dos outros, mas dói quando se vê envolvido.
Como surgiu a ideia de realizar o ‘Rasurado’ em Artur Nogueira? [Evandro] A ideia surgiu após assistirmos a um show no Comedians Club, em São Paulo. Após a apresentação fizemos alguns contatos. Depois começamos a conversar pelo Facebook e acabou surgindo a ideia de fazer uma seleção de humor em Artur Nogueira. Daí a ideia virou projeto e acabou dando certo.
Por que ‘Rasurado’? [Celso] Já sabíamos que faríamos o evento, só faltava o nome, que veio mais tarde com sugestões pela Internet. Pensamos em por ‘Gargalha’, ‘Comédia na Carroça’, ‘Pé na Terra’, mas não vingou. Quando surgiu‘Rasurado’ um olhou para a cara do outro e gostou da ideia, afinal das contas todo o show teve que ser rasurado para ficar pronto.
Além de vocês dois outros três grandes comediantes já confirmaram presença no evento. Quem são eles?O grande Maurício Meireles, que já foi redator do programa ‘Legendários’ e agora vai trabalhar no CQC. Fernando Strombeck, que foi finalista do programa da Ana Hickmann, e o Caique Torresmo, que já teve um programa na Jovem Pan e já foi semifinalista do Risadaria. Os ingressos estão à venda no Escritório do Aureni, na Banca da Izildinha, na Casa Brincantti e em Cosmópolis, na Giga Cursos. E não podemos deixar de falar, é claro, dos grandes, imitáveis, Celso Lauro e Evandro Queiroz. É ir ou não rir!
Arte: Renan Bússulo
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