18/01/2014

ENTREVISTA: Caressato fala sobre a importância da adoção e castração de cães e gatos

Desde 2011, Artur Nogueira possui uma rede de pessoas que se preocupam com os animais abandonados no município. Neste período, a Rede de Proteção Animal e Ambiental (RPAA) já encontrou centenas de lares para cães e gatos que moravam na rua

Caressato“Estimamos que Artur Nogueira tenha mais de 2 mil cães e gatos abandonados” (Carlos Caressato)

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Alex Bússulo

O grupo, unido e forte, já mostrou para que veio. Composto por pessoas voluntárias e amantes dos bichos, trabalham todos os dias por condições melhores aos animais.

O responsável pela rede é o nogueirense Carlos Caressato, que divide o tempo como presidente da instituição. Ele é formado em Sociologia, Filosofia e Pedagogia, além de ser mestre em Educação Ambiental.

Na tarde da última quarta-feira (15) nossa equipe visitou uma chácara que Caressato possui em Artur Nogueira. Um lugar cheio de árvores e bichos. Nesta chácara ele possui quatro cachorros que foram adotados. Quando chegamos para a entrevista nos deparamos com uma cobra jiboia em cima de uma casinha. Foi o início da entrevista.

Esta cobra fica solta aqui? Ela é uma visitante! A cada três ou quatro dias ela vem aqui para se alimentar, come um passarinho e vai embora. É uma jiboia que mora na mata. Nunca fez mal para ninguém. Muitos, quando encontram uma cobra igual a essa, ficam com medo e querem logo matar. Isso é errado.

Caressato

Vamos falar sobre a RPAA, que completou três anos de existência em Artur Nogueira. Como podemos resumir o trabalho desta ONG? Para nós, um sucesso. Fizemos tudo que podíamos dentro dos nossos limites (recursos financeiros, pessoas, infraestrutura, etc.). Todos nós estamos cientes de que ainda é muito pouco diante das grandes necessidades impostas pelas situações e condições atuais. O importante para nós é saber que temos limitações, mas vamos continuar na luta. A grande vitória para a ONG foi poder salvar vidas e, acima de tudo, superar nossos orgulhos pessoais e poder trabalhar com um grupo de pessoas de tão diferentes segmentos, crenças e até culturas.

Todos os membros da RPAA são voluntários? Sim, todos são voluntários! Não recebemos absolutamente nada, nem salários ou gratificações financeiras.

Como a RPAA paga os gastos? Todos os gastos são bancados pelos próprios voluntários e a Prefeitura Municipal destina uma verba de R$ 3 mil, através de uma lei de subvenção.

Quantos cachorros e gatos vivem em estado de abandono hoje em Artur Nogueira? A estimativa é que temos mais de 2 mil cachorros e gatos abandonados em nosso município.

Como poderíamos mudar essa realidade? Nossa… Esse “poderíamos” é alentador. Primeiro, uma campanha séria de castração em massa tanto de fêmeas como de machos. Instituir Lei Municipal pesadíssima para quem abandonar animais. Instituir no município a obrigatoriedade de “chipagem” dos animais. Criar o Conselho de Proteção Animal delegando atribuições para podermos fiscalizar maus-tratos. Se conseguíssemos realizar ao menos duas destas necessidades, acredito que atingiríamos 70% dos problemas que afligem os animais que estão sob algum tipo de risco.

Quantos animais a RPAA ajudou a encontrar um novo lar? Temos contabilizado com Ficha de Adoção para o ano de 2013 de 174 caninos e 48 felinos. Informalmente, sem ficha de adoção, foram 18 cachorros e 11 gatos. Tudo documentado.

Caressato

Uma das ideias que deu certo foi a feirinha de doação de animais, que vocês promovem todos os domingos na Feira Livre de Artur Nogueira. Como é levantar todos os domingos, pegar os animais, montar um cercado e convencer as pessoas a adotarem? É um verdadeiro sacerdócio. Não é obrigação, mas um compromisso de amor e carinho para com os abandonados. Partes de nossos compromissos sociais são sacrificadas. Parte de nossa vida pessoal tem de ficar de lado, pois todos da RPAA, a maioria são empregados que trabalham normalmente como qualquer outro empregado, também têm vida comum como todos. A satisfação é maior que os sacrifícios.

Depois da doação, vocês fazem algum tipo de acompanhamento? Sim. Dentro da cidade visitamos pelo menos duas vezes. Passamos e observamos. Muitas das vezes sem o novo dono do peludinho perceber. Este é um trabalho feito pelas voluntárias Liana e Regina. Animais doados para chácaras, sítios e outras cidades não temos como acompanhar.

Vocês também buscam e defendem a castração dos animais. Qual é a importância da castração? O abandono, sofrimento e maus-tratos são decorrentes do descontrole populacional. Este descontrole foi causado pela domesticação que os humanos causaram há muito tempo. Há quem, de forma especista, argumenta contra a intervenção em processos “naturais” ou “divinos”, como se combater o sofrimento e reparar os males causados pela domesticação não fosse uma obrigação moral humana. Então, primeiro castramos os animais de rua, depois os que são adotados na Feirinha.

Por ser uma ONG, sem fins lucrativos, a RPAA tem isenção de impostos, assim como as igrejas? Tá brincando? Quando exigimos notas fiscais para prestar contas das despesas, pagamos muito imposto. Não somos isentos não! Isso dói. Pagar para fazer serviço social na comunidade. Pensamos até em mudar o nome da RPAA para “Igreja Comunitária do Cão Feliz”.

O que são os lares temporários? Aqui o “bicho” pega. Muita gente nos procura para ser voluntário (a). Porque acha bonito, fantástico, interessante e por querer “ajudar”. Mas, ninguém pode abrir um pequeno espaço em sua casa para abrigar um animalzinho, mesmo por pouco tempo, porque trabalha fora, fica pouco tempo em casa, não tem tempo para limpar os cocôs, e as desculpas vão por aí a fora. O engraçado é que nós, voluntários, sempre damos um jeitinho. O Lar Temporário é de suma importância, pois facilita o tratamento e as possíveis adoções dos que estão jogados na rua. São casas onde os proprietários adotam por tempo indeterminado cães e gatos, até que estes animais encontrem um lar permanente.

Caressato

No ano passado, durante a exposição dos cães na feira, você quase foi agredido fisicamente por um rapaz. Até a polícia foi acionada e elaborou um Boletim de Ocorrência. O que aconteceu? Verdade. E não é a primeira vez que isso acontece. Tive muita sorte. Um homem que estava lá doando gatos colocou a perna na frente da pessoa que iria me agredir e ela caiu. Quase levei uma paulada pelas costas. Muitas pessoas que chegam para olhar os pequenos tratam os peludinhos fisicamente como objetos inanimados, e aí não dá para ficar indiferente.

Entre todos os animais que vocês cuidam tem um que é deficiente físico. O que aconteceu com ele? Temos o Fredinho, um York Shaire, que está em Santos fazendo fisioterapia. Ele é paraplégico. A RPAA mantem financeiramente o custo dele lá. Um sujeito estava drogado e passou com o carro por cima dele. O Fredinho está para adoção. Todos nós queremos ficar com ele, porém sabemos que ele deve ir para alguém que possa cuidar dele como se fosse um bebê. Se alguém adotar, ganhamos mais tempo para ajudar outros animais que também precisam de ajuda.

Fiquei sabendo que o senhor foi acionado em pleno o Natal para atender um animal diferente. Que bicho era esse? [risos] Uma garça! Mas não era uma pequena não. O bicho era grande, mais de um metro de altura. Ela estava com a asa machucada. Atendemos também chamados para recolher gambás, coelhos e tartarugas. Falando nisso, temos coelhos para doar.

Caressato

Como o senhor avalia os maus tratos dos animais em Artur Nogueira? Em média, recebemos duas denúncias por semana. Apelamos aqui para que as pessoas liguem de orelhão para a Polícia e peçam para que pelo menos eles deem uma olhada. Nós não temos poder de polícia, não temos advogados para nos defender diante de ofensas, quando vamos conversar com o dono do animal maltratado. Já resolvemos várias denúncias, mas corremos muitos riscos por falta de apoio das próprias pessoas que denunciam. A desculpa de sempre: tenho dó, mas não quero me envolver.

As pessoas devem adotar por pena? Jamais. Nunca! Pena nunca ajudou em nada.

O que atrapalha ou incomoda a RPAA? As pessoas fazerem cobranças como se fosse obrigação nossa ir em determinado momento recolher animal atropelado, atender denúncia de maus-tratos em chácaras distantes da cidade, recolher filhotes de animais, como se não fizéssemos mais nada em nossas vidas. Muitos têm dó e pena, mas não possuem nenhuma atitude. Lembrando que a RPAA não tem canil e nem gatil. Por tornar nossos telefones públicos, a carga de solicitação de ajuda é muito grande e realmente nós não conseguimos atender a todos.

Tenho certeza que após lerem esta entrevista muitos ficarão interessados em adotar um cão ou um gato. O que eles devem fazer? Podem procurar pela Liana, Irene, Penha, Regina ou por mim mesmo. Temos vários peludinhos em nossa página do face (www.facebook.com/arturrpaa). Aqueles que quiserem contribuir ou participar da RPAA o que devem também podem nos procurar. Serão muito bem-vindos.

http://youtu.be/xEwIWjD4ylE


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