18/05/2014

ENTREVISTA: Adilson Brito Moreira

Lutador de Artur Nogueira representará o Brasil no Campeonato Mundial de Karatê na África do Sul. Na entrevista desta semana, ele nos conta como está se preparando para o maior desafio de sua vida. Um verdadeiro exemplo de talento, dedicação e humildade

capa 3 
“Em muitas competições eu passei necessidade, passei fome, mas a vontade de vencer sempre foi maior” (Adilson Brito Moreira)

…………………………….

Alex Bússulo

Depois de ter vencido diversos campeonatos de Karatê, o nogueirense Adilson Brito Moreira, de 34 anos, se prepara para um dos mais importantes desafios já enfrentados: competir no mundial que acontecerá na África do Sul. Lutador em uma modalidade conhecida como ‘kyokushinkaikan’, ele conquistou o direito de representar o Brasil após ganhar o Campeonato Brasileiro realizado no final do ano passado em Congonhas/MG.

Na entrevista desta semana, Adilson revela como está se preparando para o Campeonato Mundial e a difícil busca de um patrocinador, além de relembrar a história da infância e a vinda para Artur Nogueira. Quem conhece o lutador sabe o quanto ele é um homem talentoso, dedicado e, principalmente, humilde. Nascido em uma pequena cidade da Bahia chamada Jequié, teve uma infância pobre e difícil.

“Sempre trabalhei. Lembro que quando tinha 6 anos já ajudava meus pais na entrega de leite. Acordava cedo e, sozinho, ordenhava as vacas e preparava os toneis que tinham que ser levados até a cidade. Era muito difícil. Cada tonel de leite pesava uns 40 quilos. Eu tinha que carregar em cima de burros e guiar os animais até uma rodovia, onde um caminhão passava pegando. Até a pista eu percorria mais de 10 quilômetros”, conta Adilson, destacando ainda a dificuldade enfrentada no outro estado. “Lá na Bahia não existe esse luxo em comer que existe aqui. Meu café da manhã era leite tirado direto da vaca misturado com farinha. Depois, quando ia para roça, comia algumas frutas que pegava nas árvores. Vivia comendo jaca”, diz.

Quando completou 12 anos, Adilson deixou a família na Bahia e se mudou para Artur Nogueira em busca de uma vida melhor. Com muita coragem e fé iniciou uma longa jornada. “Vim morar na casa de um tio e comecei a trabalhar em uma empresa de flores. Parte do dinheiro que recebia era dedicado ao meu treinamento de Karatê. O começo não foi fácil, mas nunca desisti. Acreditei em meu sonho e corri atrás”, conta.

Adilson sempre gostou de lutas. Quando ainda era pequeno ficava encantado ao assistir filmes do Bruce Lee. A primeira luta que aprendeu foi a capoeira, mas foi no Karatê que ele, mais tarde, ganharia o Brasil.

2

Apenas para se ter uma ideia do talento deste nogueirense olhe alguns dos títulos conquistados por ele: Campeão Sul-Americano 2013, Vice-campeão do Sul-Americano em 2009, 6 vezes Campeão Brasileiro, 7 vezes Campeão Paulista e Campeão do Grand Prix em 2009, considerado como uma competição que seleciona os melhores lutadores do Brasil. “Todas as minhas conquistas eu dedico a Deus, minha família e amigos. Nunca tive um patrocinador. Se não fosse minha vontade de lutar e vencer e o apoio de algumas pessoas importantes, que acreditaram no meu trabalho, eu não teria conquistado nada”, afirma.

Superação – talvez essa seja a melhor palavra para definir este nogueirense. Em 2012, ele também foi para um mundial, realizado na época no Japão. O desafio não foi nada fácil. O maior adversário dele, pode até parecer mentira, mas não foi um lutador. “Meu maior adversário no Japão foi o dinheiro. Eu via meus adversários tomando energético, suplemento, com toda uma equipe de apoio dando suporte médico, com massagista, com técnico. Alimentação de primeiro mundo. E quando eu saía da luta tinha que procurar água, muitas vezes até para matar a fome. Tudo no Japão é muito caro. No primeiro dia da competição, eu lutei o dia todo e comi apenas um pedaço de pão. Era o que o dinheiro que eu tinha dava para comprar. Eu fui com 98 quilos e voltei com 91. Passei fome porque meu dinheiro dava apenas para a hospedagem. Isso com certeza interferiu em meu desempenho. Sentia muita fraqueza. O dinheiro que eu tinha deu para me trazer de volta até São Paulo. Meus amigos tiveram que me buscar. Perdi nas oitavas daquele mundial”, relembra.

Adilson afirma que a grande maioria das pessoas não acredita no talento dele. “As pessoas não acreditam em meu potencial. Isso é muito difícil para mim. Já ouvi tanta coisa que se fosse dar ouvidos já teria desistido há muito tempo. Mas conheço meu talento. Sei que um dia vencerei e serei reconhecido. O maior alimento é a força de vontade de uma pessoa. Em muitas competições eu passei necessidade, passei fome, mas a vontade de vencer sempre foi maior”, desabafa.

4

 

Sem dinheiro, Adilson sabe que tem que correr atrás de seus objetivos – literalmente. O dia deste nogueirense começa bem cedo. “Acordo todos os dias às 5 horas da manhã. Saio do Jardim Leonor, onde moro, e corro 10 quilômetros. Depois desço até o Campo Municipal e faço mais 20 minutos de escada. Volto para casa às 7 horas e tomo café. Depois saio para cumprir minha agenda como professor de Karatê”, explica Adilson.

O nogueirense afirma que não consegue manter uma dieta de atleta como deveria. “Eu não tenho, financeiramente, condições de manter uma dieta de atleta. Minha alimentação é praticamente na base do arroz, feijão e farinha. Já busquei uma nutricionista, mas para comer o que ela passou eu precisaria ganhar o dobro do dinheiro que eu ganho hoje. Tomo pouco suplemento, justamente devido o dinheiro. Outros competidores que já lutaram comigo possuem uma alimentação completamente diferente e mais reforçada que a minha. Cada um vive a realidade que tem. Faz parte”, diz.

Atualmente, Adilson dá aulas de Karatê em vários lugares em Artur Nogueira. São 4 aulas na Casa do Caminho, 10 no Projeto da Prefeitura, 6 na Academia RN Sport, totalizando 20 aulas por semana. Ao todo, mais de 250 alunos, entre crianças e adultos, recebem o treinamento do lutador nogueirense.

3

Mesmo com um desafio tão importante como o mundial, Adilson surpreende quando é questionado sobre o sonho que possui. De maneira humilde e esperançosa, ele responde: “Meu maior sonho é ter um projeto que ajude milhares de crianças aqui de Artur Nogueira, principalmente aquelas que passam por uma realidade muito parecida com a minha no passado. Queria ter estrutura para ajudar mais as crianças, tirar essas crianças das ruas. Tem crianças que vem aqui conversar comigo, sozinhas, com histórias emocionantes, que vivem em um ambiente de drogas e violência. Acredito muito que o Karatê é uma saída para isso. Eu tenho vários exemplos de alunos que saíram das drogas porque começaram a treinar. Crianças precisam de exemplo. É lógico que eu quero, e muito, vencer o mundial na África do Sul, mas minha maior conquista será realizar uma transformação na vida de crianças carentes. Eu acredito nisso”, conta.

O Campeonato Mundial acontecerá nos dias 7 e 8 de setembro na cidade de Darka, na África do Sul. Adilson acredita que precisa de R$ 10 mil para ter condições de competir, um valor que inclui viagem, hospedagem e, inclusive, alimentação. “O mais difícil eu já consegui, que é o direito de competir e representar o Brasil. Agora, preciso juntar esse dinheiro. Na última vez que participei do campeonato consegui viajar graças a ajuda de alguns amigos. Mas tenho fé em Deus que conseguirei encontrar alguma empresa, algum empresário, que acredite em meu potencial. Não estou no esporte para ganhar dinheiro, luto porque acredito que um dia chegarei no auge e poderei desenvolver meus projetos sociais. É um sonho, mas sei que encontrarei as pessoas certas”, afirma.

5

No final da entrevista, Adilson pede para fazer um agradecimento especial. “Agradeço a todas as pessoas que, de alguma forma, me ajudaram. Agradeço a Deus pela Saúde, a esposa Elidania e a filha Nicole, os amigos Zé Roberto, o Rodrigo Nistal da RN Sport, o secretário de Esporte Sandro Sacilotto, o prefeito Celso Capato, os alunos, os pais, o nosso mestre e presidente da Confederação Brasileira de Karatê kyokushinkaikan José Koei Nagata, enfim, a todos que acreditam e compartilham do mesmo sonho”.

Em setembro, quando Adilson estiver na África do Sul, outro momento promete marcar a vida do nogueirense. Ele será pai pela segunda vez. O nome do filho já foi até escolhido: Nicolas. “Ele será um campeão”, brinca o pai.

Adilson nos concedeu esta entrevista na última terça-feira (13) no Espaço Múltiplo Uso, localizado ao lado do posto do INSS, no bairro Florindo Caetano, em Artur Nogueira. A conversa aconteceu no tatame após ele terminar mais uma de suas aulas.

1

Neste final de semana ele enfrenta mais um desafio: o Campeonato Mato-grossense de Karatê. A nós, nogueirenses, cabe acreditar e torcer para este grande esportista, que deixou a Bahia em busca de um sonho. Boa sorte Adilson, torcemos que você conquiste a vitória no Mundial de Karatê e consiga desenvolver e ampliar seus projetos sociais aqui em Artur Nogueira. Sucesso, você já é um campeão!


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.