18/07/2012

E se você tivesse uma “vida de cão”?

Cães abandonados sofrem com o descaso em Artur Nogueira

Quézia Amorim

Imagine se você morasse na rua e tivesse que enfrentar chuva, frio, fome e sede. E, se além de tudo isso, ainda tivesse que fugir das pessoas que veem que você está abandonado e por isso te expulsam de qualquer lugar com vassouradas ou com um balde de água fria, podendo piorar a situação se a água for quente.

Imagine também se você percebesse que essas pessoas podem fazer algo para ajudá-lo, mas, ao invés disso, simplesmente fecham os olhos e não se importam com a situação. O que você faria?

Essa é, literalmente, a vida que os animais abandonados e maltratados levam. Assim como nós, seres humanos, eles precisam de abrigo, alimento, condições saudáveis e o principal, a atenção. A exemplo disso, quem mora em Artur Nogueira se depara diariamente com a seguinte situação: cães abandonados e enxotados dos lugares. Eles passam todo o tipo de necessidade, porém não são notados, de fato, por parte da população.

Alternativas

O presidente da Rede de Proteção Animal e Ambiental (RPAA) de Artur Nogueira, Carlos Caressato, comenta que, para amenizar a situação, seria necessário realizar algumas medidas, tais como a melhora do recolhimento de lixo, trabalho de castração e projeto que se refira ao abrigo dos animais. Essas ações também evitariam sacolas de lixo rasgadas, atropelamentos e as doenças dos animais. “As pessoas ainda não estão conscientes de que os animais precisam de cuidados. As pessoas que ajudam não são necessariamente aquelas que são estudadas e sabem o que o cão sofre. As que ajudam são aquelas que sabem que se não ajudarem, as sacolas de lixo serão rasgadas, o cão ou gato passará fome e frio na rua. O poder público precisa ter mais ainda a sensibilidade para que essa situação mude”, afirma Caressato.

A Vigilância em Saúde de Artur Nogueira retira os corpos dos animais mortos nas ruas e encaminha para incineração em outro município, mas não possui equipe treinada para fazer outros serviços. “Não há uma responsabilidade efetiva da vigilância, nós colaboramos com o que podemos, pois não possuímos equipe treinada, mas tentamos ao menos amenizar a situação. Infelizmente a ajuda ainda é dada de acordo com a disposição e esforço de cada um. Muita gente ainda precisa saber que, além de bonito, o animal é, acima de tudo, um ser vivo, que merece respeito, atenção e carinho”, afirma o médico veterinário da Vigilância em Saúde de Artur Nogueira, Alexandre Scatena, que ainda diz que, para ele, um acordo ou algum tipo de consórcio entre os municípios vizinhos, com o objetivo de criar uma área que abrigue os animais, amenizaria a situação.

O veterinário Luiz Carlos Sia, que possui uma clínica no município, percebe a situação dos cães abandonados e comenta sobre o problema que isso pode causar aos moradores de Artur Nogueira. “Os animais quando estão em situação de abandono implica, por exemplo, na transmissão de doenças infectocontagiosas, sujeiras nas ruas e maus tratos por parte da população. A castração ajuda e é importante, mas só ela não resolve. Os animais precisam receber cuidados e serem abrigados. Se o poder público não interferir não adianta, os gastos são muito grandes, além de funcionários, é preciso da ajuda de voluntários”, explica Sia.

Descaso da população

Adeli Henrique da Silva mora no sítio Santo Antônio, no bairro Boa Vista, próximo ao antigo lixão de Artur Nogueira. Ela afirma que, em média, três cachorros são abandonados por semana em frente à casa dela. Atualmente existem onze cães abandonados na residência da nogueirense. “O pessoal vê que eu não judio daí ficam soltando os animais aqui na frente da minha casa. Eu acho essa atitude péssima, porque a partir do momento em que você pega um animal pra você, você mesmo deve cuidar dele. Eu não vou matar, bater também não, eu cuido, mas não tenho condições. A prefeitura deveria providenciar lugar específico para pôr esses animais, por mais que eu tente, eu não dou o suficiente que eles precisam, como cuidados médicos”, explica Adeli.

A moradora ainda desabafa dizendo: “É normal as pessoas passarem de carrão e soltar os animais na minha casa, essas pessoas têm dinheiro. Se o animal adoecer, ao invés de gastarem dinheiro para cuidar deles, elas os abandonam”, afirma Adeli, que complementa dizendo que recebe um pouco de ajuda de pessoas voluntárias e sensibilizadas.


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