10/04/2016

Dona Irene Stein relembra história política de Artur Nogueira

ENTREVISTA: Viúva de um dos emancipacionistas, ela acompanhou de perto o desenvolvimento do município ‘Berço da Amizade’

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Por Rui do Amaral

No dia do aniversário de Artur Nogueira, o Portal Nogueirense traz uma entrevista com Irene Malagó Stein, viúva do quarto prefeito da história do município. Casada por 49 anos com Jacob Stein, Irene acompanhou significativa parte da história de formação da cidade. Na verdade, seria mais justo afirmar que Irene presenciou toda a história do município, já que, segundo suas próprias palavras, vive aqui antes de Artur Nogueira ser Artur Nogueira. Jacob fez parte da Comissão Emancipacionista da cidade, também conhecida como ‘Grupo dos Onze’. Irene teve uma visão privilegiada do princípio da história nogueirense e, com uma lucidez invejável, relembra sua trajetória que caminha até hoje ao lado da história de Artur Nogueira.

O grande sofá localizado na sala de estar da casa de Irene Stein abraça e convida para uma longa soneca. No entanto, a conversa vívida e rica que flui de seus ágeis pensamentos impossibilitam qualquer desvio de atenção. Natural de Jacutinga-MG, Irene veio ao mundo em 1923. “Fiquei em Minas até meus cinco ou seis anos e, então, viemos para cá. Claro que aqui ainda não era Artur Nogueira, era uma vila. Mas o lugar é o mesmo”, explica, gesticulando para esclarecer que a grande casa em que vive atualmente, no centro de Artur Nogueira, era um aconchegante sítio de seu avô.  “Nós morávamos em Pinhal, aqui perto. Eu e meus sete irmãos trabalhávamos na fazenda do papai”. Irene, com um olhar concentrado e certeiro, garante que mesmo com a gostosa infância que passou na fazenda, trabalho nunca faltou. “Não tem como dizer qual tarefa eu mais realizava. Todos faziam de tudo. Se o que estava precisando era leite, todos os irmãos iam buscar leite. Éramos muito próximos”.

Em 1941, uma repentina leucemia levou seu pai, fazendo com que o irmão mais velho assumisse a direção do trabalho do campo. A vida, segundo Irene, era simples. “Aqui não tinha nada, nem luz elétrica. Nos divertíamos indo aos bailes para dançar”. Segundo ela, as idas eram uma delícia, mas não podiam passar da meia-noite. Seria muita pretensão pensar que sua vida mudaria completamente numa das idas ao baile. Porém, aconteceu. Jacob Stein, na época comerciante de café, chamou Irene para dançar. A dança rendeu conversas. As conversas, afeição. A afeição virou casamento, três meses depois. “Mamãe tinha receio já que eu era italiana e ele tinha origem alemã, mas meus filhos são a prova de que a união deu muito certo”, conta com um largo sorriso.

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Irene usou o vestido branco aos 19 anos. Ao sair do sítio, veio para o lugar onde hoje é Artur Nogueira. “Naquela época ainda chamávamos de vila, já que a cidade ainda não havia se emancipado”. Emancipação esta que viria em dezembro de 1948, depois do esforço de onze homens que trabalharam na Comissão de Emancipação do município. “O movimento de emancipação começou logo depois que casamos. Assim que Artur Nogueira virou município, Jacob se elegeu vereador. Naquele tempo você se elegia com um pingo de votos”, diz dando risada, mas sem esconder o orgulho pelo marido.

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Jacob e Irene na década de 60

A cidade se erguia a passos lentos devido à precariedade da energia elétrica e da estrada que ligava os municípios de Cosmópolis e Artur Nogueira. Foi neste cenário que Jacob se elegeu para prefeito pela primeira vez, assumindo o mandato em 1962, com 637 votos. “A época de eleição era uma loucura. Minha casa se enchia de gente, tinha de cozinhar para muitos políticos que vinham conversar com Jacob, mas sempre foi um prazer”. Irene relata que alguns visitantes ilustres já passaram por ali. “Ulysses Guimarães era muito amigo de Jacob. Eu sempre preparava um bom café para ele, era uma pessoa muito boa”. Adhemar de Barros, governador do Estado no período do primeiro mandato de Jacob, também já pisou na casa de Irene. “Adhemar era um homem muito bom, graças a ele tivemos nossa primeira ambulância. Eu amava esse tempo, quando todas estas e outras pessoas vinham a minha casa. Aqui nunca ficou vazio, detesto casa vazia”, enfatiza. “Não fechávamos a porta para ninguém. Todos sempre foram muito amáveis, nunca deixaram nem uma agulha fora do lugar”.

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Visita do governador Adhemar de Barros em 1961

O segundo mandato de Jacob Stein teve início em 1969 e, para Irene, foi o mais agitado. “No início dos anos 1970, Artur Nogueira começou a evoluir muito mais rápido. Jacob conseguiu, depois de muita dificuldade, o asfalto da estrada que liga Cosmópolis até onde hoje é Engenheiro Coelho, o que trouxe muitas indústrias para cá”. Segundo Irene, a melhora da energia elétrica contribuiu para um significativo aumento da iluminação no município. “A cidade, que antes não tinha nada, agora ficava cada vez mais bonita. Muitas pessoas, de diferentes regiões, apareciam em Artur Nogueira para trabalhar nas fábricas e indústrias que começavam a se instalar. Foi um tempo de grandes mudanças”.

Embora o marido tenha vivido grande parte de seus dias imerso em assuntos e tarefas que ajudariam a definir o futuro da cidade, Irene pouco opinava no trabalho de Jacob. “Nas decisões políticas eu nunca me meti. Ele era muito capacitado, além de que dificilmente trazia assuntos relacionados ao trabalho para dentro de casa. Aqui era eu que mandava”.

Irene muda de expressão quando pensa sobre a trajetória do companheiro. “Foi um período muito difícil quando ele nos deixou”. Após sofrer um Acidente Vascular Cerebral, Jacob veio a falecer em 1991, aos 76 anos. “Ele deixou muita saudade na família e fora dela. Até hoje somos muito respeitados por causa dele”.

Nogueirense de alma e coração, nunca passou pela cabeça de Irene deixar Artur Nogueira. “Até sinto uma saudade de Minas, mas nunca pensei em voltar. Aqui é, definitivamente, o melhor lugar em que eu poderia estar. É um presente de Deus poder ter construído minha vida aqui”, confessa emocionada. “Muita gente vem pra cá e não tem oportunidade de participar ativamente no município. Fazer parte da história de Artur Nogueira como eu tive e tenho o prazer de fazer é, para mim, uma verdadeira honra”.

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Irene e Jacob tiveram cinco filhos: Ademar, Adolfo, Maria, Nelson e Jacob Júnior. Cada um seguiu uma profissão diferente. Nelson Stein acompanhou os passos do pai e entrou para a política nogueirense, sendo eleito prefeito em outubro de 1996.

Dos cinco filhos, a maioria não vive mais no município, mas Irene garante que todos se reúnem frequentemente. “Até minha neta, que mora nos Estados Unidos, apareceu de surpresa recentemente, em minha festa de aniversário. Foi emocionante, ter a família unida é a coisa mais importante de todas”.

Irene olha com orgulho a vida que passou ao lado de Artur Nogueira. Enquanto cuida de suas plantas, companheiras diárias de Irene, garante que a única tristeza é a certeza de que um dia fechará os olhos para não mais abrir, mas que até isso é superável quando pensa em todas as alegrias que ainda compartilha diariamente em Artur Nogueira. “Não tenho absolutamente nada do que reclamar, vivi uma vida muito amável aqui. Tive e tenho muito amor nesta cidade. Eu amo Artur Nogueira”.


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