21/06/2024

DIA MUNDIAL DO SKATE: A simbologia do esporte para skatistas de Artur Nogueira

Nesta reportagem especial, Gabriel ‘Jhonson’, Juninho e Bruno Brasileiro relatam suas trajetórias no mundo do skate, além do significado e a importância de sua prática

Raquel Santana

Desde 2004, o dia 21 de junho é oficialmente conhecido como o Dia Mundial do Skate. A data foi criada pela International Association of Skateboard Companies (IASC) e, em inglês, é conhecida como “Go Skate Day”. Essa data celebra um esporte que hoje conta com milhões de adeptos e se consolidou como uma forma de expressão, criatividade e movimento.

O surgimento do skate remonta à década de 1920, quando jovens nos Estados Unidos começaram a prender eixos e rodinhas em pedaços de madeira para se divertir. No final dos anos 50, quando não havia ondas no litoral da Califórnia, surfistas tentavam imitar as manobras que faziam na água usando rodas e eixos fixados em pranchas de madeira.

Já no Brasil, o esporte chegou nos anos 60, primeiro no Rio de Janeiro, provavelmente trazido por filhos de norte-americanos e brasileiros que viajavam para os Estados Unidos na época, especialmente por aqueles que estavam começando a surfar no Brasil.

Hoje, décadas após sua criação, o skate se consolidou também como um esporte olímpico, tendo estreado nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.

Skatistas em Artur Nogueira

“Esqueço do mundo quando ando de skate” foi um dos lemas de Chorão, skatista e vocalista da banda Charlie Brown Jr., em uma de suas músicas lançadas em 2004. Esse ideal se espalhou entre muitos jovens no início dos anos 2000, incluindo Bruno Magioli Ramiel, conhecido como ‘Bruno Brasileiro’. Sua jornada no mundo do skate começou em 2003, influenciado por seus amigos.

Skatista reside no bairro Jardim Blumenau (FOTO: Redes Sociais)

“Naquela época, ainda não tínhamos uma pista de skate e a única loja da cidade, chamada ‘Container’, estava prestes a fechar. Eles improvisavam obstáculos com ferros e madeiras e construíam seus próprios equipamentos para praticar o esporte. Foi assim que tudo começou”, relata Bruno, de 34 anos.

O amor pelo esporte rapidamente se consolidou na vida de Bruno. Inspirado pelas manobras e estilo de Fabrizio Santos, conhecido como “Cara de Sapo”, e pelo próprio Chorão, que até hoje é um de seus maiores ídolos no skate, Bruno se tornou uma figura constante na cena do skate em Artur Nogueira, participando regularmente das pistas e eventos do esporte.

Atualmente, Bruno faz locuções e promove eventos de skate (FOTO: Rodrigo Burunga)

Treze anos após o início de sua jornada como skatista, no ano de 2013, um acidente grave quase pôs um fim à possibilidade de Bruno continuar nas pistas e rampas. Ele e seu amigo João Paulo Macedo foram vítimas de uma queda acidental em um sobrado no Jardim Sacilotto, em Artur Nogueira. Os dois estavam em um elevador externo usado para mercadorias quando a estrutura cedeu. O acidente resultou na morte de João Paulo e deixou Bruno gravemente ferido.

“Diferente do que dizem, eu não caí em cima do João. Caí de pé e tentei fazer um rolamento (técnica usada no parkour), mas a queda de 9 metros foi muito forte e resultou em um impacto na minha cabeça, causando um traumatismo craniano. Passei por uma cirurgia para despressurização do cérebro, o que me salvou. Hoje, tenho uma prótese no crânio”, explica.

Após o acidente, Bruno ficou um ano sem praticar o esporte que ama. “Foi horrível. Depois de colocar a prótese, tive alguns traumas e receios de voltar ao esporte devido à gravidade do acidente. No entanto, aos poucos e com respeito, fui retornando. Hoje, o skate me mostra que aquele foi um grande obstáculo que superei, mas que ainda podem vir mais desafios e que devemos estar prontos para as adversidades da vida. Assim como no skate, enfrentamos e superamos os obstáculos com dificuldade, mas aterrissamos com estilo, sempre prontos para o próximo desafio”, comenta Brasileiro.

Bruno foi vítima de um acidente em 2016 que o deixou longe das pistas por um ano (FOTO: Arquivo pessoal)

Ele ainda enfatiza como o skate simboliza superação; um esporte que ensina a nunca desistir. “No nosso dia a dia, o skate ensina que não podemos desistir. Assim como nas manobras, quanto mais difícil o obstáculo, mais valiosa é nossa vitória. E se falharmos ou cairmos, nunca devemos desistir; recomeçamos quantas vezes for necessário até superarmos a fase”.

A trajetória de Bruno nas pistas serviu de inspiração para muitos jovens ingressarem no universo do skate nos anos subsequentes, como foi o caso de Edvaldo Luiz Floriano Junior, de 23 anos, também conhecido como ‘Juninho’. “Eu era um moleque que ia andar de skate e via ele. Ele era quem dominava aqui em Artur Nogueira. Muitas pessoas que andam de skate aqui hoje em dia não sabem da história do ‘mano’. Ele fez história e foi minha inspiração”.

Juninho começou a andar de skate aos 10 anos de idade. Seu interesse pelo esporte foi puramente visual, observando outros jovens praticando manobras. “Eu me interessava pelo estilo deles, tanto nas roupas quanto na forma de falar e na sincronia das amizades. Comecei ganhando peças usadas deles e logo quis aprender a andar de skate”, conta.

Juninho já soma 15 anos como skatista e compete em torneios da região (FOTO: João Bervinde)

Após uma breve pausa na adolescência, ele retornou às pistas e já acumula nove anos de experiência. Hoje, compete em campeonatos amadores pela região e conquistou três campeonatos consecutivos em Artur Nogueira.

Para Juninho, o skate vai muito além do esporte. Ele afirma: “O skate simboliza alegria, felicidade e influenciou minha vida fora do esporte através da superação, persistência e amizade. A atmosfera dos campeonatos, mesmo quando não estou competindo, é incrível. A energia e união entre as pessoas nesses momentos são realmente especiais”, declara. “Skate não é apenas manobra. Skate vai além, muito além. É como outro mundo, só quem anda entende”, continua.

Jovem reside no bairro Parque das Flores, mas começou jornada no skate quando residia no Itamaraty (FOTO: João Bervinde)

Gabriel Henrique Pereira, de 21 anos, conhecido como Jhonson entre os colegas skatistas, também compartilha o amor pelo esporte. Ele relata que as experiências e amizades construídas no skate são bagagens que levará para a vida toda. “Não tive muitas conquistas em campeonatos, mas as vivências, amizades e a cultura que o skate me proporcionou eu sempre vou carregar comigo”, comenta o skatista de Artur Nogueira. “Só quem é skatista sabe a liberdade que esse carrinho traz”, continua.

Gabriel começou sua história no skate quando tinha somente 6 anos (FOTO: Arquivo pessoal)

Jhonson despertou seu interesse pelo skate ainda criança, assim como Bruno e Juninho. Ele conta que começou a frequentar a pista depois de ganhar um skate de seu pai. “Eu andava sentado e acabava atrapalhando os outros skatistas que estavam ali (risos)”. A motivação para aprender de fato veio após uma discussão com um conhecido skatista local, Hugo Carlstron, quando suas brincadeiras com o skate prejudicaram o rapaz. “Nós discutimos, mas dali em diante eu aprendi a andar. O skate sempre foi minha válvula de escape, cresci nesse meio”, relata Jhonson.

Artur Nogueira é marcada por muitos outros skatistas de destaque, como Paulo Felipe, mais conhecido como ‘Babalu’, que conquistou o campeonato brasileiro, e Jessica Florencio Ferreira, skatista profissional desde 2012 e medalhista do X Games. “Artur Nogueira, no skate, é muito rica”, afirma Bruno Brasileiro.

Incentivo ao esporte

A falta de incentivo, patrocínio e estruturas adequadas para treino são desafios constantes enfrentados por inúmeros skatistas ao longo de suas trajetórias nas pistas. Em Artur Nogueira, a situação não é diferente, com a solicitação por melhorias na pista de skate local e a busca por patrocinadores sendo uma luta contínua. “Lutamos pela ampliação e roeda nossa pista municipal, para que possamos ter obstáculos maiores e melhorar nosso desempenho”, comenta Brasileiro.

Juninho observa que a cena do skate em Artur Nogueira apresenta pequenas melhorias, mas ainda não se destaca na região. “Ela não está tão forte como antigamente, mas está fluindo. Todo ano tem campeonato, mas não é a melhor da região. Não é tão forte como em outras cidades. Falta a reforma na pista. É um pouco de investimento para um esporte tão bonito”, afirma. “Tem muito skatista bom aqui, mas muitos pararam de andar de skate por falta de apoio. Por condições próprias, não dá para continuar”, continua.

Gabriel ‘Jhonson’ também critica a falta de incentivo para os skatistas no município, relatando que, muitas vezes, os skatistas de Artur Nogueira precisam organizar arrecadações para custear idas a campeonatos e até pequenos reparos nos locais de treino. “A cena aqui é muito forte, mas o que falta é sermos reconhecidos, termos apoio”, afirma.

Apesar das incertezas e dos desafios enfrentados, os atletas continuam a buscar apoio e formas de aumentar a visibilidade do esporte. Bruno Brasileiro explica os planos de implementar um projeto social para incentivar a prática de skate entre crianças e adolescentes de Artur Nogueira. “Apresentei um projeto à prefeitura para que eu ou a Jessica [Florencio Ferreira] atuemos como instrutores de skate para as crianças do município, incentivando o bom desempenho na escola, boas relações familiares e um comportamento positivo na sociedade. O skate serve como ferramenta de esporte e transformação”, afirma.

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