03/04/2016

Coordenador de estágios do Unasp fala sobre importância de ter um projeto de vida pessoal

ENTREVISTA: Wanderley Gazeta fala sobre cenário de estágios e de sua trajetória profissional. Ele também é responsável pela extensão universitária da instituição.

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Com o carisma que lhe é peculiar, o professor Wanderley Gazeta conta sobre sua trajetória, que se confunde com parte importante da história do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Quando chegou à instituição, no início da década de 1990, a unidade de ensino ainda era conhecida como IAE, Instituto Adventista de Ensino, e pertencia ao município “Berço da Amizade”, já que Engenheiro Coelho não era emancipado à época.

De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, o professor comanda três atividades muito importantes dentro do Unasp-EC: é coordenador da Extensão Universitária, coordenador da Central de Estágios e responsável pelos convênios e parcerias da instituição.

Nessa entrevista, Gazeta conta sobre como o Unasp-EC e a cidade de Artur Nogueira eram há 24 anos, quando a cidade tinha metade do tamanho atual. Além disso, ele explica a importância da Extensão Universitária, dá dicas para quem deseja ingressar no mercado de trabalho e aponta os programas que o Centro Universitário desenvolve para beneficiar a população nogueirense.

Fale-nos sobre o início dos seus trabalhos no Unasp.

Cheguei aqui em 1992, quando o Unasp ainda era chamado de IAE. Nessa época, eu lecionava. A minha esposa era diretora do Centro de Pesquisas Ellen G. White, que é vinculado ao curso de Teologia do Unasp. Nós morávamos em São Paulo, no campus São Paulo, e quando o curso de Teologia foi transferido para cá, ela foi chamada para cuidar do Centro de Pesquisas daqui. Já havia um curso técnico de contabilidade neste campus, e, como era a minha área de formação, vim para ensinar no curso, tanto contabilidade quanto informática. Depois eu fiz o meu mestrado em Ciências da Computação e passei a dar aulas na faculdade, em 1994. Eu morei dois anos aqui por Artur Nogueira porque não tinha casa lá perto do Unasp. Eram poucas casas, na verdade. Tudo era muito pequeno, há 24 anos. Era barro direto, pois não havia asfalto em lugar nenhum. Nem na vicinal, que foi asfaltada em 1999. Tinha tanto barro ali que quando chovia não tinha como passar pelos poucos metros que separam o Residencial Lagoa Bonita e a portaria do Unasp. Era impossível passar pela ponte que tem ali. Nós tínhamos que dar a volta por Engenheiro Coelho (cerca de 11 Km) para conseguir entrar no colégio. Isso aconteceu várias vezes. Muitos carros encalhavam ali.

E o que mudou no Unasp desde então?

A escola cresceu muito. Com o crescimento, vieram as melhorias. No início você tem que ser ‘pau pra toda obra’. Então tem que se virar, multiplicar as funções e, na época, trabalhávamos bastante. Continuamos trabalhando bastante, mas com funções mais definidas. Para você ver, ainda hoje, com tudo o que melhorou, eu ainda exerço três funções. Cuido de três departamentos. Então, o que mudou foi essa evolução da própria escola. Tinha poucos prédios construídos, por isso havia um problema de espaço. De lá pra cá, muitos cursos foram abertos. Naquele tempo havia apenas dois cursos de graduação, que era Teologia e Pedagogia. Depois veio Letras e, com o tempo, mais cursos. Hoje, estamos com 18 cursos. Inclusive nós temos um plano para abrir o curso de Medicina no Unasp, aqui em Engenheiro Coelho. Estamos em articulação com o governo, pois a abertura de novos cursos de medicina foi fechada pelo governo. Estamos tentando entrar com esse projeto.

Pra quando?

Olha, o projeto preliminar está pronto. Existe um longo caminho para trilhar ainda. Mas estamos fazendo as tentativas para dar entrada junto ao governo federal. A gente não tem divulgado porque ainda está nos bastidores do projeto, não existe nada de concreto.

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E como era Artur Nogueira na época em que você chegou por aqui?

Eu vim de São Paulo, de um bairro chamado Capão Redondo, que é conhecido pela violência. Na minha rua, todas as casas foram assaltadas, menos a minha, graças a Deus. Quando eu cheguei aqui, eu pensei: “que cidade maravilhosa; que tranquilidade, que sossego isso aqui”. Só que naquela semana, o Banco do Brasil foi assaltado e mataram o vigia. (risos) Mas era uma cidade pequena. Eu me lembro que não tinha 25 mil habitantes aqui. Hoje, mais do que dobrou. Engenheiro Coelho ainda não era cidade, mas se emancipou exatamente no ano em que eu cheguei. Aqui tinha muitas características de cidade de interior. A Avenida Fernando Arens era super antiga. Nenhum imóvel tinha segundo piso. Era tudo pequeno. Tinha só duas ou três lojas grandes, as outras eram todas pequenas. E eram grandes só de tamanho. Não era moderna. E muita coisa mudou nesses 20 anos. Se você pegar fotos da Fernando Arens naquela época e comparar com as de hoje, vai notar que têm muita diferença. Eu me lembro que eu precisei comprar um carro e não tinha lugar para comprar carro aqui.

Você é o coordenador da Extensão Universitária no Unasp. Qual a importância da Extensão Universitária?

A universidade é baseada em três pilares. Um pilar é o ensino, constituído pelos cursos, com suas grades e projetos pedagógicos; as disciplinas que precisam ser cumpridas, o estágio, o que tem a ver com requisitos para recebimento de diploma. Outro é a pesquisa. O Unasp trabalha como universidade, pois quer, em breve, se tornar uma oficialmente. A pesquisa é a parte que se dedica ao estudo, levantamento, criação do conhecimento, por meio de grupos de pesquisa de áreas especificas. Os produtos dessas áreas de pesquisa são os artigos, a produção cientifica. O terceiro tripé é a extensão universitária. Porque a universidade não existe só pra formar alunos e colocá-los na sociedade. O conhecimento produzido na universidade deve alcançar a sociedade. O braço que alcança a sociedade é a extensão universitária. A extensão universitária faz a interface entre a universidade, e o que ela produz, e a sociedade e suas necessidades. A universidade tem um dever social. Ela deve articular os conhecimentos produzidos com um fim prático. Isso tem que ir para a sociedade e melhorá-la.

Que projetos de extensão universitária do Unasp alcançam a população de Artur Nogueira?

Temos projetos como o Mutirão de Natal, que engaja muita pessoas em busca de proporcionar benefícios para a sociedade. Promovemos ainda o Dia Da Responsabilidade Social e a Feira de Saúde, em que profissionais da área da saúde realizam um serviço completo de orientação para a população. Há também cursos, inclusive oferecidos para uma faixa da sociedade. A gente oferece cursos de extensão, que são módulos pequenos e mais acessíveis. Aqui em Artur Nogueira temos um projeto muito interessante que, aliás, foi considerado um dos 60 melhores projetos sociais do Brasil. Os responsáveis pelo projeto o submeteram a um Congresso em Genebra, na Suiça, onde ganharam um prêmio pela classificação como um dos 30 melhores projetos de inovação social do mundo. É o Jornal do Jardim Carolina. Ele oferece para as pessoas a oportunidade de aprender o jornalismo básico: como fotografar, produzir entrevistas e reportagens. Então a própria comunidade do Carolina cria esse jornal, faz esse jornal, orientados por um grupo de alunos e pelo professor de jornalismo Dr. Luis Fernando Assunção, do Unasp. Há também a Casa Unasp aqui em Artur Nogueira, com o objetivo de proporcionar à população todos os benefícios que a escola pode oferecer como instituição universitária. Ela oferece cursos de produção de texto e informática, por exemplo. Mais recentemente, a Casa Unasp se tornou uma extensão do fórum. Por muito tempo, o curso de Direito ofereceu orientação jurídica a pessoas de baixa renda por meio da Casa Unasp, e muitos casos foram atendido ali. Hoje é uma Câmara de Mediação. Enquanto a média de sucesso das Câmaras de Mediação no Brasil é de 50% de sucesso nas tentativas de mediação, a Casa Unasp atinge 80%. As mediações feitas ali são homologadas pelo Juiz, o que torna essas mediações uma ação da justiça oficial brasileira.

Você também é coordenador de estágios no Unasp. Qual a importância do estágio na formação de um profissional?

O estágio, uma prática obrigatória para todos os cursos, é regulamentada por legislação do governo federal e têm o objetivo de permitir ao aluno entrar em contato com o seu futuro ambiente de trabalho, experimentando colocar em prática os conceitos aprendidos em sala de aula dentro do ambiente que representa o seu futuro. O que é aprendido dentro da sala de aula corresponde a uma etapa da formação do aluno. A outra parte, a prática, ele tem oportunidade de adquirir dentro do ambiente empresarial ou corporativo, o que complementa o projeto que a instituição de ensino preparou para a formação nas áreas propostas.

Mas o estágio pode servir também como uma etapa de transição em que o aluno estagiário tem a oportunidade de apresentar o seu potencial profissional e os seus atributos pessoais para aqueles que poderão ser os seus futuros empregadores.

Quais as dicas para ser um bom estagiário e aumentar as chances de efetivação?

As empresas, cada vez mais, estão à procura de pessoas que se comuniquem bem, que tenham iniciativa, que demonstrem capacidade para trabalhar em equipe e aprender novas técnicas e procedimentos, e que tenham outros requisitos pessoais como responsabilidade e honestidade. Todas estas qualidades são pessoais e independem do conhecimento técnico que possuem.

Atualmente, as grandes empresas que oferecem as melhores condições de trabalho e de remuneração, utilizam em seu processo seletivo formas de avaliar estas qualidades citadas. Os conhecimentos técnicos específicos também são importantes, mas não determinantes, na maioria dos casos. O estagiário deve estar constantemente atento ao conjunto de todos os fatores, mas mesmo ainda como estudante, ele não deve se esquecer de que estas qualidades não se aprendem em sala de aula, apenas. Elas são consequência do modelo de vida que se adota. Um aluno que costuma entregar trabalhos com atraso, que opta por faltar às aulas quando pode fazê-lo, que têm comportamento comum àqueles para quem falta um objetivo ou que não tem um projeto de vida, não será um profissional competente e que as empresas desejarão contratar. Essas atitudes serão reproduzidas nos outros ambientes, inclusive no estágio e, futuramente, no trabalho.

Portanto, a melhor dica para alguém que queira fazer parte do quadro de colaboradores das empresas para as quais vale a pena trabalhar por pagarem os melhores salários com as melhores condições de trabalho e de carreira é que se mantenham dentro daquele padrão que interessa para a empresa já enquanto aluno e estagiário. Se você procurar na internet sobre dicas de como um estagiário pode conquistar uma vaga efetiva na empresa onde atua, você vai encontrar muitas dicas interessantes como saber gerenciar o tempo, ter flexibilidade, saber como a empresa está avaliando você, fazer perguntas, vestir-se adequadamente, ser observador, etc. Mas nada disso pode contribuir para a sua concorrência mais do que ter e gerenciar um projeto de vida pessoal que contribua para a sua constante evolução e refinamento. Em suma, é preciso SER o melhor possível em tudo, e não apenas cumprir alguns requisitos procedimentais.

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Quais as melhores áreas para se conseguir um estágio atualmente?

Naturalmente, quando se refere ao melhor estágio, intuitivamente parece que é aquele que oferece melhor remuneração (ou bolsa). Mas nem sempre isso é verdade. São vários fatores que devem ser analisados. Um deles, o principal, na minha forma de ver, é o seu projeto de vida. Nós poderíamos falar das melhores áreas profissionais que oferecem os estágios mais bem remunerados como a área de Tecnologia (Sistemas de Informação, Engenharias), Agronomia, Direito, e outras como Química, mas depois que você já passou da metade do curso, a melhor área será mesmo a área do seu curso. A menos que você tenha descoberto que escolheu o curso errado e resolva mudar de curso. Isso não é muito comum, mas até acontece. E isso é louvável, porque a melhor área, realmente, é a área da sua vocação.

É de extrema importância para um aluno descobrir qual é a área da sua vocação. Até não importa que você tenha descoberto isso aparentemente tarde demais, digo aparentemente porque nem aos 50 anos podemos considerar tarde demais. Ainda assim é tempo de abraçar a profissão que vai proporcionar a você alegria e senso de utilidade. Explico. Um amigo, o senhor Ubaldo Leme, tomou a decisão de realizar o seu sonho profissional apenas depois de formar os seus filhos, quando já tinha completado 50 anos. Seu sonho? Medicina. Apanhou em três vestibulares anuais e conseguiu passar apenas no quarto, já com 54 anos, quando iniciou o curso de Medicina – de seis anos – fez a residência médica, e ainda especializou-se nos Estados Unidos na área de Medicina Natural. Para resumir a sua história, ele clinicou 17 anos, o que não foi mais porque teve a vida interrompida por um acidente de trânsito. Realizou-se profissionalmente e como pessoa e deixou muitos pacientes felizes graças à sua competência como médico.

Alguém que faz o que gosta coloca mais alegria no seu trabalho e beneficia, além de si mesmo, àqueles que recebem os seus préstimos.

Qual o melhor momento para alguém começar a procurar um estágio?

Existem dois tipos de estágio, segundo a Lei 11.788/2008. O estágio obrigatório e o não obrigatório. Qualquer um deles pode ser remunerado. Porém, é possível registrar as horas para efeito de cumprimento de requisito apenas no estágio obrigatório, aquele que geralmente tem início depois de integralizados mais de 50% dos créditos. Para os cursos de quatro anos, isso corresponde ao 5º semestre, ou o 3º ano. Para os cursos de 5 anos, no 6º ou 7º semestre, normalmente.

É possível, porém, iniciar estágio não obrigatório já no 1º ou segundo semestre. Geralmente os estágios não obrigatórios são remunerados, mas estas horas não podem ser contadas para preencher o requisito do estágio obrigatório do curso.

Uma boa dica ainda é a opção de trainee para os concluintes de curso ou os que terminaram recentemente. Sempre, as melhores chances são para aqueles que têm inglês fluente ou que passaram algum tempo fora do país.

Quais as oportunidades de estágio que o Unasp-EC oferece aos moradores de Artur Nogueira e região?

O UNASP, como qualquer outra empresa ou Escola, oferece oportunidades de estágio para todas as áreas em que atua. Por exemplo, em nosso escritório de Contabilidade, existem vagas de estágios para alunos do curso de Ciências Contábeis; na área de educação, no Colégio UNASP de Engenheiro Coelho e de Artur Nogueira, há vagas para alunos de todos os cursos de licenciatura como Letras, História, Pedagogia e Música. Além disso, existem as Empresas Juniores que oferecem consultoria e trabalho para a comunidade em geral, como a Agência Zoom, do curso de Publicidade e Propaganda; a Vértice, do curso de Engenharia Civil e do curso de Arquitetura e Urbanismo; a Metta, do curso de Administração e do curso de Ciências Contábeis; a ABJ, do Curso de Jornalismo; o Núcleo de Rádio e TV, do curso de Rádio e TV; e o Núcleo de Prática Jurídica e a CASA UNASP, ambos do curso de Direito, além da Rádio UNASP. É uma grande estrutura que foi construída com o objetivo de envolver os alunos das diversas áreas em atividades profissionais da forma como elas ocorrem nos ambientes empresariais.

Você tem um projeto pessoal chamado Escola no Ar. Fale um pouco sobre o que é esse projeto.

Então, isso aí foi um projeto que eu idealizei na mesma época em que fazia o mestrado em Ciências da Computação na USP. E, depois do mestrado, como eu tinha muito interesse em tecnologia educacional, fiz as disciplinas para o meu doutorado na área de educação à distância. Eu pesquisava muito sobre tecnologias educacionais. Logo depois do mestrado, eu quis usar as ferramentas que tinha para aplicar na Igreja Adventista. E educação na Igreja Adventista é a Escola Sabatina. Então eu criei um blog. Na época, não se falava em blog ainda. Era o ano 2001. E nele eu oferecia um ambiente de Escola Sabatina. E agora estamos em evolução para uma plataforma diferente, com mais recursos. Há 15 anos está no ar um comentário diário e inédito para adolescentes e adultos. O principal âncora dos adultos é o pastor Albino Marks.


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