05/12/2015

Conheça o artista plástico responsável pelo Natal Mágico de Artur Nogueira

Ricardo Luís Pereira de Souza já trabalhou com os grupos de rap Sabotagem e Racionais e hoje se dedica à esculturas.

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Ricardo Luis Pereira de Souza me recebe com as mãos e roupas manchadas por tinta. Desde setembro trabalhando nas peças que decoram o Natal Mágico de Artur Nogueira, dava os últimos retoques nas esculturas durante a manhã de quarta-feira (3) quando fui até sua oficina no bairro Itamaraty. “Este ano tem a banda, que demos uma mexida, e temos as florzinhas que dançam”, compartilha as novidades.

Desde 2013 o artista prepara as esculturas que decoram a cidade no Natal e adianta que mais de 300 peças foram utilizadas nesta edição. Todas elas feitas a partir de material reaproveitado de outras decorações, já que ele também é o responsável pelos enfeites da Páscoa e Carnaval.

A arte entrou muito cedo na vida de Souza e ele não sabe dizer se isso foi resultado do livro “Caminhos de Jesus” ou do filme Guerra nas Estrelas, mas foi um caminhada sem volta. Na trajetória deste hoje nogueirense está um estúdio de tatuagem, montado aos 17 anos, capas de CD para os grupos de rap Sabotage e Racionais – além de dois videoclipes animados para a banda –, alegorias para a escola de samba Mancha Verde e as camisetas da torcida palmeirense.

Nesta conversa realizada no seu galpão de trabalho, um espaço de 300 metros quadrados, ele fala sobre sua vida, trabalhos, como chegou à Artur Nogueira e ainda demonstra a satisfação em decorar a cidade. “Emociona. Você sabe que o trabalho foi feito e o pessoal gostou. Este é o retorno.”

Queremos saber mais sobre você. De onde é e como chegou em Artur Nogueira? Sou de São Paulo capital e nasci em julho de 73. Eu já havia trabalho com o Celso [Capato] em Holambra, em 2005. Aí fiquei oito anos com ele lá, fazendo este trabalho. Eu trabalhava em São Paulo em uma escola de samba e por acaso vim pra Holambra trabalhar na ExpoFlora. Ele [Celso] gostou no trabalho e me chamou para fazer pra ele. Daí pra frente sempre que tinha a oportunidade me chamava. Quando ele deixou a prefeitura eu comecei a trabalhar com outra coisa, mas quando assumiu em Artur me chamou de novo.

Como surgiu seu afã para a arte? Na verdade assim, eu sou desenhista. Nasci desenhando já. E comecei a trabalhar com isso. Fazia logotipo, logomarca. Fiz alguns cursos… e na verdade o que eu queria fazer era propaganda de televisão. Estudei pra isso daí. Não sei o que aconteceu nesse meio, mas de repente eu estava fazendo tatuagem. Virei tatuador.

Isso com quantos anos? Com 16 anos. Aí com 17 eu já tinha estúdio. E fui trabalhando com isso. Aí mais pra frente, não sei te dizer direito a data, 98, acho, uma agência de propaganda precisava de desenhista, então comecei a fazer freelancer pra eles. Ali eu fazia capa de CD de rap. Aí fiz pra todo mundo: Racionais, Sabotage… trabalhei com todos.

Sério? Você lembra o álbum? Rap é compromisso [considerado um dos maiores [álbuns do rap nacional]

Nossa! Esse álbum é um clássico. É. Aquela imagem do dedinho fui em que fiz. E trabalhei com todo mundo. Fiz cenário de palco pra eles. Também fiz o desenho da grade e depois os da Vida Loka. Tem o clip Sai da Frente, do Sabotage, e do Império RZO que são desenho animado e fui eu quem fiz. Foi um tempo muito louco. Acabei fazendo amizade com o Sabotage e saí da agencia. Já trabalhava direto com eles. A gente era muito amigo e andava muito junto. Depois que ele morreu eu larguei e fui trabalhar com escola de samba.

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Como foi isso? Isso foi em 2003. Eu desenhava as alegorias e os figurinos e quando as esculturas estavam prontas eu ia pintar. Aí um dos escultores, não sei o que aconteceu direito, mas foi mandado embora. E aí um cara falou assim: você sabe fazer, Ricardo? E eu falei: sei sim.

E você sabia? Nunca tinha feito! – e ri. Ele foi e me deu a faca e disse: “Tó, faz aí”. E eu fiz um boneco assim – e abaixa a mão na medida de um metro de altura.

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Era um boneco de quê? Era uma vaca – pausa e responde rindo – e ficou horrível! Eu só peguei mesmo pra fazer escultura foi aqui.

Nessa época você trabalhava para qual escola de samba? Mancha Verde. Eu trabalhei cinco anos com eles. Depois fui pra do Brás, Pérola Negra, Tom Maior e aí depois fui pra escolas de samba de grupos inferiores pra ganhar experiência. Mas virei carnavalesco. Fazia desde o figurino às alegorias.

Qual dessas mais lhe marcou? Quando a Mancha Verde foi campeã. Primeiro a gente ganhou um troféu de melhor alegoria de grupo de acesso. O tema era “Nuances da Verde Cor, Universo de Esplendor” que foi em 2003. Os desenhos eram todos meus. Na verdade o troféu era meu, mas ficou com eles – e ri. Meu, o carro era enorme. Tinha de 10 metros pra frente. A gente saiu com cinco alegorias e todas tinham essa faixa de tamanho. O que ninguém sabe é que só quatro, cinco pessoas que fazem, que trabalham ali. E no ano seguinte a gente foi campeão, subindo pro Especial.

E como você veio para a ExpoFlora em Holambra? Foi em 2005. O cara que começou a fazer escultura na Mancha ele vive trabalhando no Brasil inteiro. E ele precisava de um cara para pintar, me ligou e apareceu na frente da minha casa e disse: ó, faz tua mala e vamo embora pra Holambra. Eu não sabia onde era, mas vim com ele. Aí o Celso [Capato] viu o trabalho e me conheceu. Quando chegou no Natal ele me ligou pra fazer o presépio. E esse foi o meu trabalho sozinho. Tinha 15 peças. Depois segui trabalhando direto e quando saí de lá, em 2008, estava com 73 bonecos.

Além de isopor quais as outras matérias-primas que usa no seu trabalho? A maior parte é feita de isopor, aí tem EVA, tecido, fibra de vidro, resina, massa corrida… uso tudo na verdade. Mas a base principal é de isopor. E todas as peças são exclusivas. As empresas que trabalham com isso tem uma forma para criar as peças e pra todo mundo é igual. Eu só uso base de ferro em peças muito grandes, para que elas não caiam e também para não correr risco. Agora as peças pequenas não. Elas são travadas no chão e tem uma base de ferro só para não cair. Para faze-las eu pego um bloco [de isopor] desenho nele e uso uma linha quente para cortar. Depois eu uso a faca para modelar e faço o acabamento de estilete. Depois lixa e a escultura fica pronta. Aí tem que revestir, pode ser com fibra de vidro, pra ficar resistente. Se ela não for ficar exposta, eu passo papel machê ou aplico tecido e depois pinto. Para as peças grandes eu uso de dois até três blocos. Mas sempre uso retalhos pra reaproveitar.

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Então todo ano você faz peças novas? Todo ano faço peças novas. Eu reformo e faço novas. Vem todas de volta e eu reformo as que quebraram.

E o que teremos no Natal deste ano e Artur Nogueira? Eu comecei toda a produção em setembro e de novidade mesmo tem a banda, que demos uma mexida e temos as florzinhas que dançam. Ela dança com a música. Coloquei um mecanismo para que elas fiquem rebolando – Ricardo liga as flores e mostra a engenharia da peça. Dá para modelar o movimento dela, acho que o pessoal vai gostar. Ao todo passa de 300 peças.

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Quais os pontos que irão receber decoração? A Lagoa dos Pássaros, a rotatória da Delegacia, a avenida Fernando Arens e na Praça do Coreto.

Acredita que essas obras são importantes para despertar o espírito natalino da comunidade? Esse resgate precisa ter, né. Está tudo mudado. Tudo diferente. Então a criança tem que ir na rua, tem que ver. Tem que enfeitar a árvore. O mundo tá muito louco hoje e se não tiver vai passar batido. Algumas coisas de raízes precisam continuar.

Poucas pessoas te conhecem e sabem que esse trabalho é seu, qual é o sentimento quando você vê alguém admirando sua arte? Do Natal é legal ver as crianças mesmo. De brincar, de colocar a mão. A reação da criança é legal. Agora na páscoa é legal os idosos. Eles param na imagem e alguns até rezam. Emociona. Você sabe que o trabalho foi feito e o pessoal gostou. Este é o retorno. E Artur Nogueira precisava disso também.


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