03/10/2015

Cineasta nogueirense trabalha este ano na produção do quarto filme

Ao Portal Nogueirense, Sanwisk conta sua história, fala sobre novas obras e descreve os bastidores: “Todo mundo ajuda. Tem bastante improviso e muita amizade”.

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Benedito Lucindo Sanwisk tem 63 anos. Cabelos brancos, olhar penetrante e um jeito tranquilo. Não abandona as caminhadas matinais e trabalha agora na produção do seu terceiro filme, um de bang-bang, no melhor estilo faroeste. “Temos que conseguir algumas pistolas, figurinos. Bastante coisa, mas vai ficar legal”, comemora no estúdio do Portal Nogueirense. “Gosto de filme assim que todo mundo pode ver. Hoje a televisão só mostra porcaria. Se tem que tirar as crianças da sala então o filme não serve.”

Recentemente ele produziu um curta-metragem chamado Papelão. Sanwisk, com a ajuda de amigos, que nada lhe cobraram, deu vida ao filme. Sanwisk também não cobrou nada. Fez festa pra divulgar a obra e distribuiu a quem quisesse em cópias de DVD. Mas na brincadeira de gravar gastou mais de mil, tirados do próprio bolso. Um trabalho de formiga, aqui e ali.

No enredo ele conta a história de dois amigos, moradores de rua que recolhem papelão para comprar um celular. O filme é uma comédia, mas termina em tom trágico. Uma crítica para se pensar à vida dos que estão à margem. Os personagens principais são ele e um amigo. “O que eu judio desse homem não tá escrito! Sento até na garupa dele”, brinca.

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Imagens do filme Papelão.

Tudo é feito de forma simples. Os efeitos especiais são poucos, as roupas tiradas do armário e o cenário é a própria Artur.

“Mas pra esse novo filme estou com vagas abertas. Se puder divulgar, precisamos de gente. Só me procurar e fazemos o teste. Mas não vai receber nada, tem que ser voluntário. Eu levo lanche e bebida no dia de gravação e depois tem a comemoração quando ficar pronto.”

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Vida

Sanwisk nasceu em Jandaia do Sul/PR e depois de uma tentativa frustrada de manter um sítio no Paraná, voltou para Artur Nogueira. Ele já fez um pouco de tudo na vida, mas foi só depois de se aposentar que se entregou àquilo que mais amava: o cinema.

Hoje é um personagem ícone da cidade, mas que se comparado com Mazzaropi, enrubesce. “Cada um tem um jeito, não sou igual a ele.” Aos domingos, nas praças e ruas por aí, é possível vê-lo com um grupo, uma câmera e um roteiro, dando vida às histórias ainda escritas numa velha máquina de escrever.

Quando criança amava ver televisão nos bares da cidade. Passava horas ali, encantando-se com a sétima arte.

Ao terminar o colegial, em 1974, foi logo pra selva de pedra, São Paulo, aprender a lidar com cenografia. Depois de um ano, voltou para Artur Nogueira e penhorou a própria casa para poder comprar sua primeira câmera. “Eu não tinha como pagar à vista e era caríssima. Como a escritura da casa estava no nome de toda a família, penhorei. Minha mãe nunca ficou sabendo. Mas paguei certinho.”

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Fez filmagens dos amigos. Da família. Das coisas que via e gostava. Mas não chegou a gravar nenhum filme nesse período. Teve que trabalhar com o que tinha em mãos e a isso empreendeu boa parte do tempo.

Foi só quando se aposentou que pode se dedicar. O primeiro trabalho veio de um sonho antigo que era falar sobre o caminho da fé, que leva nogueirenses até Aparecida (SP). Os quase 300 quilômetros foram registrados em vídeo e editados para se tornar um longa metragem. Trabalho que demorou quase dois anos para ser produzido e custou mais de milhares.

O filme recebeu uma nova edição para participar do festival de curtas, de Cosmópolis, mas acabou por não levar o prêmio.

Porém na maioria das vezes suas histórias, diz Sanwisk, nascem assim, sem muita perspicácia. Uma ideia logo vira um roteiro que, quando gravado, ainda recebe os pitacos dos atores. “Tem bastante improviso também. E as vezes um fala: ‘Ah, vamos fazer assim que fica melhor’. Aí eu digo: ‘Vamos fazer dos dois jeitos, depois a gente vê qual escolhe’. E só na hora da edição muda.”

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No segundo filme Dias de Pescaria, Cirurgia e Confusão, pronto em 2014, a própria mulher do cineasta entrou em cena. Coisa comum já que ele envolve o máximo de pessoas possíveis. Mas Sanwisk diz que ela não gosta muito de participar. Respeita, mas a coisa dela não é participar. “Todo mundo ajuda bastante. Só que só gravamos aos finais de semana. Porque nos outros dias a turma não pode. Então eu aproveito pra achar figurino e o que precisa pra gravar. E tudo é amizade.”

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Imagens do filme Dias de Pescaria, Cirurgia e Confusão.

Mesmo sem ter muito aparato, Sanwisk faz o que pode em nome da paixão que tem do cinema. Por isso é feroz em falar sobre o que vê na TV. “Hoje em dia não se faz filme bom. Ao menos os que aparecem na TV não são bons. A Globo manda. Se eu tivesse estrutura desses caras da TV, eu disputava com qualquer um. Tenho certeza! Mas a gente faz como pode. Quem gosta faz do jeito que pode.”

Entre seus três filmes tem mais de 60 pessoas, amigos e participantes envolvidos. Tudo filmado com uma câmera e muitos quilômetros rodados. Mas tudo representa algo mais pra ele. “Cinema? Cinema representa bastante coisa pra mim. Representa a infância, a juventude. Representa a vida toda! É gosto! Tem bastante coisa que eu nunca fiz mas que quero fazer. Um documentário, pra ver como que fica, é um deles. E no cinema quando a gente acaba um faz outro”, deixando claro que nada o vai parar tão cedo.


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