10/04/2019

Casal recorda como os pais contribuíram para o desenvolvimento de Artur Nogueira

José Mansur e José Rodrigues: dois carreteiros que auxiliaram na construção da Avenida Dr. Fernando Arens e de prédios históricos do município Distrito de Paz

Da redação/ Fotos em preto e branco: arquivo Sérgio Fromberg

Um casal de idosos, moradores de Artur Nogueira, recorda com saudades as décadas passadas, quando o município Distrito de Paz ainda se desenvolvia a passos lentos, mas sempre com a dedicação daqueles que fizeram a cidade crescer. Os pais já falecidos de Salim Mansur e Vanilda Rodrigues Mansur contribuíram para o desenvolvimento nogueirense, seja carregando tijolos com carros de boi ou ajudando na infraestrutura da principal avenida da cidade, denominada Avenida Dr. Fernando Arens Junior.

Salim Mansur, atualmente com 85 anos, é filho de José Mansur e Alice Pereira Mansur. Ao todo, ele teve cinco irmãos. O pai imigrante, de descendência síria, chegou ao Brasil pelo Porto de Santos (SP) no período de transição das décadas de 10 e 20, ainda jovem, na companhia de um irmão. Ambos desembarcaram em terras brasileiras a procura de novas oportunidades. Longe do país de origem, traziam esperança, fé e boa vontade junto da pouca bagagem que carregavam.

No período em que viveu em Artur Nogueira, José Mansur trabalhou em diferentes atividades como, por exemplo, a agricultura, seja plantando ou colhendo. Mas uma atividade que Mansur desempenhou e, que traz orgulho para a família até os dias de hoje, foi o humilde ofício de carroceiro urbano, um trabalho simples, porém que colaborou diretamente para o desenvolvimento nogueirense.

A cavalo, José Mansur, imigrante sírio que contribuiu para o desenvolvimento do Distrito de Paz

Na década de 20 não era comum haver caminhões em Artur Nogueira, desta forma, os carros de boi eram o principal meio para o transporte de cargas, sejam elas alimentícias ou voltadas para a construção civil. Foi com esse tipo de locomoção que José Mansur, além de outros carroceiros da região, colaborou para o crescimento de Artur Nogueira. No carro de boi, ele carregou pedregulhos utilizados para o calçamento da Avenida Dr. Fernando Arens Junior, desde aquela época, considerada a principal via do município.

“Naquele tempo não existiam caminhões por aqui, era tudo transportado por carros de boi. Meu pai carregava cascalho e os tijolos de olarias, como a que havia onde hoje é a Lagoa dos Pássaros,” comenta Salim, filho do imigrante.

Com a abertura da Avenida Dr. Fernando Arens Junior, muitas construções começaram a ser erguidas. Residências e comércios, aos poucos, foram mudando a paisagem do Distrito de Paz, que ainda fazia parte de Mogi Mirim (SP). Os tijolos usados para erguer parte dessas construções foram carregados por José Mansur.

“Naquele tempo tinham muitos carroceiros, eles faziam até fila. Meu pai gostava muito dessa cidade e de ver o desenvolvimento dela. Ele ficava contente com as construções sendo feitas com tijolos que ele ajudou a carregar. Com ele também trabalhavam os antigos das famílias Rezek, Berni, Arrivabene, Peloia, Rossetti, entre outros”, se recorda Salim.

A esposa de Salim Mansur, a aposentada Vanilda Mansur, hoje com 78 anos, da mesma forma se recorda do pai, que com o mesmo ofício de carroceiro urbano, transportava o cascalho usado no chão da principal via, colaborando da mesma forma para o crescimento da cidade nogueirense. Filha de José Amâncio Rodrigues com Guilhermina Criveli Rodrigues, ela teve mais quatro irmãos de sangue e outros seis de criação, que os pais ajudaram na criação e na formação, até se casarem e deixarem o lar da família.

José Rodrigues, pai de Vanilda, era filho de português com uma brasileira e tinha um casal de irmãos.

Carteira de carroceiro urbano de José Rodrigues

Entre as construções que o casal destaca como obras resultantes do auxílio e labor dos antepassados, está o prédio do antigo Grupo Escolar Francisco Cardona, com sua fachada detalhista, atualmente unificado ao Teatro Municipal. O conjunto de comércios na esquina da Rua Marechal Floriano Peixoto com a Avenida Dr. Fernando Arens Junior, é outro exemplo do resultado do trabalho de Mansur, Rodrigues e de tantos outros trabalhadores da época.

“Se eles pudessem ver o desenvolvimento de hoje, está tudo tão diferente. Sempre quando eu passo pelo Centro, vejo as construções que eles trabalharam para ajudarem a erguer, a gente sente muita saudade. É preciso conservar esses prédios, manter as fachadas, faz parte da história da cidade”, relata Vanilda.

Um dos atrativos para as famílias do antigo Distrito de Paz eram as missas, ministradas na antiga Capela São Benedito, hoje ampliada e conhecida como a Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores. A chegada e a saída da Maria Fumaça, que vinha com o itinerário de Campinas (SP), era outra atração popular.

Fumegando pelos trilhos onde agora está o Cinturão Verde, ela parava para os embarques e desembarques na antiga estação, antes situada na Praça da Fonte, em frente ao Terminal Rodoviário Municipal. “A nossa diversão era ver a Maria Fumaça na estação. O pessoal se arrumava e ia para lá, as crianças adoravam”, lembra a filha do carroceiro Rodrigues.

Naquele tempo, entre as décadas de 20 e 30, já havia Carnaval no Distrito de Paz. A folia tomava conta das estradas e pequenas ruas, que ainda eram de terra. “Eu trabalhava na roça com meus pais. Tomávamos café e almoçávamos no meio das plantações de café. No final do dia, voltávamos todos juntos para casa. Em época de Carnaval então, tinha gente que ia trabalhar fantasiada, era uma festa, dávamos tanta risada. Éramos felizes e não sabíamos”, acrescenta Vanilda.

Salim e Vanilda exibem retrato e documento dos pais

Sem ter ainda um hospital instalado por aqui, os médicos que atendiam no Distrito de Paz costumavam consultar os pacientes em casa. Em maioria, os profissionais vinham de Campinas (SP) com suas maletas em mãos, dormiam em pequenas pensões ou nas casas de famílias conhecidas por eles.

Quando questionados se já sentiram vontade de morar fora de Artur Nogueira, o casal que nasceu em terras nogueirenses revela que nunca nem mesmo cogitaram esta ideia. Até mesmo em viagens, após permanecerem fora por algum período, a saudade sempre os traz logo de volta. “Quando saiu daqui, assim que volto e vejo alguma placa indicando Artur Nogueira pelo caminho, meu coração logo se abre. Não nos vemos morando fora daqui, de jeito nenhum”, pontua a aposentada.

Casados há 60 anos, Salim Mansur e Vanilda Mansur tem dois filhos: Maria Alice Mansur, também moradora de Artur Nogueira e, Monir Salim Mansur, residente em Cosmópolis (SP).

“Nossos pais nos ensinaram o que há de melhor: o respeito, a honestidade e o trabalho. São esses valores que sempre passamos para os nossos filhos. Infelizmente, o que restou foram algumas poucas fotos, as recordações e a saudade deles”, se emociona Salim.

O carroceiro José Rodrigues, pai Vanilda, faleceu aos 64 anos, em agosto de 1976, vítima de câncer de esôfago. Já José Mansur, pai de Salim, faleceu aos 86 anos, em agosto de 1971, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Assim, como muitos outros antigos moradores do Distrito de Paz, esses humildes trabalhadores ajudaram a dar início a um longo trabalho de desenvolvimento para Artur Nogueira, emancipada há 70 anos e com data comemorativa de aniversário nesta quarta-feira (10), é conhecida por todos como o Berço da Amizade.

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