Casa de Artur Nogueira esbanja detalhes em estilo colonial mineiro
Construção foi projetada com minuciosas buscas por peças antigas de refugo em cidades mineiras. Tudo escolhido a dedo pelo patriarca da família.
Diego Faria
Quem passa pela Rua José Amaro Rodrigues Filho, no Jardim do Trevo em Artur Nogueira, pode observar uma enorme casa de estilo ‘colonial mineiro’. É a casa da dentista Maria Martha Boico Rocha (Dra. Martha), de 63 anos. Ela é natural de São Paulo e vive em Artur Nogueira há 39 anos. Chegou ao município depois de se casar com o mineiro José Fernandes de Souza Filho (Dr. José), hoje falecido. Maria Martha tem dois filhos, Ana Paula e Guilherme que também seguiram a área odontológica.
Maria Martha conta que a família adquiriu o terreno no endereço de cinco lotes, ainda quando não havia residências ao redor, sendo o loteamento um dos primeiros adquiridos no bairro. A escolha por uma cidade pequena, pacata e tranquila é o que trouxe a família para Artur Nogueira. A construção da casa da família teve início em 1981, onde foi erguido primeiramente o muro da residência colonialista. O projeto da casa foi todo desenvolvido por Fernandes, que desde pequeno se interessava pela história e arquitetura mineira, Estado de origem dele e cenário onde foi criado, cidade de Pouso Alegre.
“Ele já gostava desse cenário por ter sido criado em um ambiente parecido. Quando voltava para a cidade dele, pedia para a mãe levá-lo à casa de amigas dela para ver as construções e peças que havia lá. Ele já gostava dessa característica encontrada nas casas,” declara Maria Martha.
A planta do projeto da construção foi esboçada pelo patriarca da família que fez questão de acompanhar a finalização do documento assinado pela esposa de um amigo, também dentista, que é engenheira. Os diferenciais da casa já começam pelo muro, sendo erguido com tijolos de forma vertical, oferecendo maior sustentabilidade e largura. Logo de início já foram instaladas pinhas, que ficam de forma estratégica nas pontas do muro e em cima do portão, aliás, um portão pesado e resistente de ferro, que ruge ao se abrir.
Foram gastos quatro anos para a construção da casa, que ao todo tem 16 cômodos, entre eles, suítes, salas, copa, cozinha e banheiros. A mudança da família para a nova casa aconteceu em 1985, onde na ocasião foi realizada uma festa de 15 anos para a filha do casal, que aproveitou a ocasião para comemorar a finalização das obras.
Durante a construção da casa, Fernandes viajava periodicamente até Minas Gerais e visitava cidades históricas, como Passos, Ouro Preto e Campanha, para encontrar peças como portas, janelas, batentes, lustres, todas peças de refugo, vindas de casas, igrejas e construções a serem demolidas, sem deixar de citar os antiquários percorridos por ele. “Nós vivíamos viajando em busca dessas peças, foi uma época muito boa. De vez em quando levávamos as crianças junto, elas se divertiam muito”, afirma.
Os detalhes são vistos logo do portão. O muro tem argolas que antigamente eram usadas para amarrar cavalos. O piso exterior da residência é de paralelepípedos. O telhado é composto por telhas de barro escurecidas pelo tempo, fortalecendo o cenário parecido com os do século XIX. Como detalhe, tem ponteiras de ferro que datam pelo menos 100 anos.
Chegando à varanda é possível notar grandes luminárias com características barrocas, duas divisórias em formato trançado dão um charme especial para a atrativa área que tem uma grande cobertura sustentada por grossos mourões de madeira maciça. Janelas grandes com vitrais coloridos e uma porta de madeira com duas folhas, acompanhada de um sino usado como mensageiro, trazem um ar poético à entrada de recepção da morada.
A característica da casa que Maria Martha mais gosta é o arejamento, “ela é bem agradável, arejada e fresquinha. Mesmo no pico de verão é bem agradável morar aqui. Além disso eu gosto desse estilo antigo”, declara. Já o cômodo que ela mais gosta é a sala de estar que aporta peças como quadros, esculturas e, claro, móveis coloniais, como uma mesa com cadeiras de madeira maciça e encostos trançados em palha, antigamente pertencentes ao Teatro Municipal de São Paulo, onde eram acomodadas as pessoas que compunham a plateia dos espetáculos apresentados. Na sala ao lado fica evidente na parede alguns pratos em azul ‘pernalta’ e ‘pombinho’, como são chamados por colecionadores. Em especial um deles brasonado, com brasão de famílias tradicionais portuguesas, como a de Don Pedro I, por exemplo.
Maria Martha acrescenta que durante a construção era natural o sentimento de ansiedade em ver a casa, que mais parece uma obra de arte, ficar pronta. “Meu marido vinha aqui quase diariamente para acompanhar a construção, existia uma ansiedade em ver o resultado. É uma casa grande, com muitos detalhes, e no final, nós percebemos que vista de todos os ângulos ela ficou muito bonita. Ficou até melhor do que esperávamos”, completa.
Fernandes era dono de um gosto particularmente apurado ao belo e ao raro. Era uma pessoa culta, costumava ler bastante. Também se dedicava às artes, como a pintura e a construção de esculturas entalhadas em barro e madeira. Já produziu quadros, inclusive um deles, intitulado ‘Lagoa com Aguapés’, chegou a ganhar o prêmio ‘A Grande Medalha de Ouro’ no concurso SindCon-Arte, realizado pela revista Contabilista, em dezembro de 2001. Ele veio a falecer há três anos, com 63 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca.
Ao ver de Maria Martha, uma peça que dá um ar todo especial para a casa é um chafariz, trazido de Salvador (BA), que fica em um espaço ao fundo da casa. Composto por azulejos portugueses azuis, completam uma característica da época da colonização no Brasil. Na casa também é possível notar vitrais vermelhos, verdes e azuis vindos da Bélgica, mas encontrados no Brasil em uma das “expedições” de Fernandes, em procurar as raríssimas peças. “Esses vitrais são muito difíceis de se achar. Ele que encontrou e já sabia onde colocar. Era tudo muito bem planejado por ele”, afirma.
A dentista mostra fotos de quando a casa estava sendo erguida, ainda com apenas o muro ao redor, também imagens da casa ainda nos tijolos crus. Ao fundo existia um jardim com dois tanques de peixes e plantas nativas. O paisagista que projetou o ambiente foi o paisagista holandês Jan Willem van der Boom, conhecido na região pelos projetos expostos na Expoflora. No espaço cedido, hoje está construída a casa de Guilherme, filho de Maria Martha. Também é possível ver no arquivo de Martha a planta da casa em seus detalhes minuciosos. A construção foi executada pela equipe do construtor Cesar Druzian, antigo morador nogueirense. “Saiu tudo como planejado, nos mínimos detalhes. Os executores do trabalho foram bem fiéis ao projeto,” relata.
Maria Martha diz que nunca parou para avaliar a casa. Ela afirma que não pensa em vender, somente se for uma proposta muito boa e valorosa, mas não sabe quanto. O valor sentimental é grande e prevalece ao pensar nisso, conta ela.
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