02/06/2012

ENTREVISTA DA SEMANA: Marcelo Capelini fala sobre saída do PT

Prefeito fala sobre desfiliação do Partido dos Trabalhadores

Marcelo Capelini

“Saí do PT. Foi difícil, mas necessário” (Marcelo Capelini)

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Alex Bússulo

Após 17 anos de filiação ao Partido dos Trabalhadores (PT), o prefeito de Artur Nogueira, Marcelo Capelini, solicitou no final da tarde da última sexta-feira (1), a desfiliação para a executiva municipal do partido, uma decisão que promete mexer no cenário político da cidade.

Em uma entrevista exclusiva, Capelini recebeu nossa equipe em seu gabinete. Na conversa de quase três horas de duração, falou sobre os motivos que o levaram a sair do partido e que caminho pretende tomar a partir de agora.

Aparentemente emocionado, mas seguro nas palavras, o homem de 42 anos de idade, não consegue esconder que a decisão foi difícil de ser tomada. Durante a entrevista, Capelini chorou, deu risada e afirmou que não se arrepende da postura que escolheu como prefeito e político.

Por que você saiu do PT? Simplesmente porque foi necessário.

Como assim? O partido optou por uma candidatura que desmontava um trabalho de articulação política que aumentaria as chances da nossa vitória nas próximas eleições, colocando em risco a continuidade do trabalho que estamos desenvolvendo.

Mas essa articulação política não deveria se sustentar em partidos e não em pessoas? Sim. Mas isso ainda está no campo da utopia. Quanto menor a cidade, o colégio eleitoral envolvido, menor é a cultura partidária. E pra isso acontecer é preciso também que os partidos desenvolvam trabalhos com interesses mais republicanos e menos partidários.

Esse racha não torna tudo mais difícil ainda? Sim e não. É uma avaliação complexa. Se fiz isso é porque avaliamos que é preciso isso para tentar continuar avançando. E não fiz isso com alegria no coração. Lógico que o PT possui um capital eleitoral importante, mas na política não podemos achar que apenas isso e um bom governo permitem desprezar apoios importantes que ajudaram e estão ajudando a fazer o trabalho. Essa onipotência me assusta! Como também me assusta o discurso duplo.

Qual discurso duplo? Nas prévias internas houve discurso duplo na candidatura de oposição. Pra quem interessava dizer que o governo era bom, o discurso era de que o governo continuaria e pra quem não interessava o discurso era de que haveria uma renovação completa, como se nada ou ninguém prestasse.

O senhor disse sobre onipotência. Algumas pessoas, principalmente, alguns filiados do PT, o consideram um “tirano”, pois esperavam outra postura do prefeito Capelini. Como enxerga essa crítica? Com naturalidade, se bem que tenho escutado mais o termo “coronel” e não “tirano” (risos). Tirania é um termo muito pesado, mesmo pra mim. Essa carapuça não me serve. Aliás, as pessoas que me vestem estão tentando tirá-la de si mesmas. Basta observar que foi o candidato do governo quem teve negada sua inscrição para as prévias em Artur Nogueira, determinada depois por recurso junto à executiva estadual.  Agora, não nego que muitas vezes tive que agir com pulso firme. E daí algumas pessoas se sentem injustiçadas, perseguidas. Faz parte!

Algumas pessoas afirmam que o senhor se sente traído. Por quê? Também não acho que esse seja o termo correto. Os fatos acontecidos também fazem parte do “jogo” político, principalmente do jogo político partidário. Até me culpo do resultado, pois nos preocupamos muito em governar e achamos que o partido usaria, no meu entender, mais do bom senso. Aliás, tudo serve para provar justamente que não sou “coronel” de nada. Se fosse, o meu candidato teria vencido as prévias sem muito esforço e perdeu justamente porque quem tinha o mando do partido eram outros.

Mas então como se sente?  Por que esse silêncio todo? Bem, esse é o Marcelo. Talvez possa dizer que me sinto injustiçado e quando me sinto assim, prefiro silenciar. Não me incomoda oferecer a outra face. E digo injustiçado, porque as prévias não serviram para escolher a melhor candidatura e sim para derrotar o Marcelo, o governo, como se fôssemos um bando de imprestáveis. Nas prévias, a executiva local, além de dificultar para que o Claudinei fizesse campanha interna como pré-candidato em 25 dos 35 dias, não realizou debates entre os pré-candidatos, não quis saber quais as propostas de governo de cada pré-candidato, não deu nenhuma importância para qual deles apresentava mais apoios representativos internos e externos, públicos, políticos ou privados, nem se preocupou com qual deles apresentava mais experiência para governar. Preferiram direcionar a campanha interna para transformar-me, então, em tirano, em coronel, e derrotar o candidato do governo com a dita “democracia dos votos dos filiados”.

Mas você como prefeito não poderia ter evitado essa situação? A competência de cuidar do processo para a escolha da melhor candidatura era da executiva. A minha era governar a cidade. E justamente por não sermos coronéis, é que não “pilotamos” o partido. Mas a situação é mais complexa. Tem gente que acha que tudo o que aconteceu é fruto de uma maravilhosa democracia interna do PT, outros acham que tudo foi uma grande burrice interna, outros que a burrice foi nossa, do governo, por não controlar o partido, mas poucos sabem do que acontece por trás dos bastidores. Como diriam muitos, o buraco é mais embaixo e o que estava em disputa interna eram interesses pessoais. Isso não me serve.

Hoje, existem vários cargos de confiança que são ocupados por pessoas não ligadas ao PT, tais como Helton Filipini (PV), Vagner Brito (PDT), etc. Por que você não abriu mais espaços para os petistas em seu governo? Isso não é bem assim. Tem muitos cargos ocupados por petistas, mas não todos! Aliás, dissemos em 2004 que governaríamos com todas as “cores”, que buscaríamos a paz, em alusão ao belo pensamento que diz que “o progresso acontece em tempos de paz e não de guerra”. Fomos eleitos para que governássemos em paz! E daí acontece essa guerra interna? Eu cumpri o que prometi. Quem queria que eu governasse somente com aqueles que “levantaram as bandeiras do PT”, como “vomitam” a todo instante, provavelmente se esqueceu do que prometemos. E veja que quando vencemos as nossas primeiras eleições, nós conquistamos o governo e não o poder! São coisas distintas, governo e poder.

Qual a diferença? O governo é parte do poder. E governar sugere articulações políticas, engolir sapos, chorar sozinho debaixo do chuveiro, liderar, manter o grupo unido em torno de uma proposta central em meio a um turbilhão de problemas, enfim… Exercer o poder é fazer o que dá na teia, achar que não precisa dos outros, ser onipotente, essas coisas… Depois eu quem sou o coronel!

Você chorou? Em qual momento? [Pensativo] Chorei em vários momentos. Muitos me consideram como um “prefeito chorão”. Chorei porque em alguns casos ocorreram situações que me causaram uma pressão fora do comum, em que se eu tivesse utilizado o poder para resolver, talvez tivesse sido mais fácil. Mas não o fiz. Nunca usei e nunca vou usar o poder para coagir qualquer situação. Logo no início de meu mandato, pensei que não seria capaz de solucionar muitos problemas que havia dentro da Prefeitura. Minha ausência familiar, como pai, esposo e amigo, ficou meio que de lado [emocionado]… enquanto administro a cidade. Tem momentos em que dá vontade de jogar tudo para cima. Aí eu choro, não tenho vergonha disso. Foi a forma que encontrei para “esvaziar” minha pressão.

Hoje, com o atual cenário, você se arrepende de ter sido mais um administrador do que um político? Nenhum pouco. Dediquei-me ao máximo. Nem sempre o que a gente quer e sabe fazer é possível acontecer, pois faltam ferramentas, estruturas, recursos financeiros ou humanos. Também não me considero ser apenas um administrador. Fiz e faço política, mas quero continuar fazendo a política que acredito e não a que querem que eu acredite.

Assim que acabar seu mandato, como quer ser lembrado? Já disse isso em algum momento anterior… Apenas como aquele que deu o máximo de si, trabalhando com afinco com as ferramentas que tinha em prol da cidade. Mas a verdade é que penso muito pouco nisso, porque tenho muito pra fazer por esse Brasil afora… Vou deixar pra pensar nisso mais pra quando estiver no “bico do corvo” (risos). Aí vou olhar pra trás e ver se dá pra ser lembrado pelo que fiz em minha vida, não apenas nesse mandato.

“Tem muito a fazer Brasil afora”, como assim? O que eu vivi em Artur Nogueira não ficou apenas em Artur Nogueira. Tenho compartilhado nossas experiências em organismos regionais, até nacionais, e me sinto responsável e preparado para contribuir não só com Artur Nogueira, mas também além das nossas fronteiras. Não quero retroceder, quero ir além. A forma, o jeito, Deus vai me guiar e mostrar o melhor caminho.

Você é um homem que toma cerveja, tem amigos e família, é um advogado, fala e conversa bem, por que você não conseguiu ser tornar popular? Não deu tempo. Sendo muito sincero. A dedicação na Prefeitura é tão grande que, às vezes, até a minha própria família e vida particular ficam em segundo plano. Foi o que eu escolhi viver e fazer. Muitos me consideram como o “durão”, acham que sou um robô. Não reclamo disso, mas foi uma escolha e toda a escolha traz consequências. A minha foi essa. Eu fiz política, tanto que trouxe vários resultados políticos positivos para Artur Nogueira. Não sou político populista, que confundem com popular. Reconheço que fiquei devendo isso, mas… A partir de 2013, quero continuar lutando e avançando, pelas coisas que acredito.

Para você, o que representa a ideologia do Partido dos Trabalhadores? Gosto da ideologia petista. Às vezes, a gente precisa repensar algumas coisas, por conta de que a ideologia busca um futuro melhor e o governo é uma das ferramentas pra que esse objetivo seja atingido. Certamente, não é isso que alguns petistas de Artur Nogueira estão buscando.

Como vai ser votar pela primeira vez em um número que não vai ser o 13? [Capelini dá uma pequena pausa, respira fundo e responde] Certamente será um novo aprendizado para a minha vida. Difícil, porém necessário.

Você não acredita que o partido tenha, então, agido de maneira democrática ao escolher a Alcione Coser, em vez do Claudinei? A democracia do voto sim. Não a do processo. Até porque, como já disse, a executiva local, presidida pelo marido da pré-candidata, dificultou justamente a candidatura do governo e não fizeram nada dentro de um procedimento mais amplo para que fosse observado qual seria a melhor candidatura, como já disse anteriormente. O tom era atacar o próprio governo, furar o próprio barco… Aliás, deixou o barco correr com a correnteza do rio e foi direto para o voto. Primário.

Por que você não apoia a Alcione? Por vários fatores. Mas também porque ela desprezou meu apoio. Disse-me que não precisava de mim e tem falado por aí que não precisa do meu governo. Ela acha que o curso de Gestão Pública que ela tem é suficiente. Aliás, vamos aguardar pra ver se o discurso será de que o governo é ruim.

Mas ela não te apoiou nas eleições de 2004 e 2008? Não seria uma forma de retribuir? Sim, de fato me apoiou. A responsabilidade de escolher a melhor candidatura é de todos. E se for pensar neste sentido, o Claudinei também me apoiou, mesmo abrindo a mão do cargo de vice, permitindo que o Dr. Rodolfo Coelho (PMDB) assumisse o lugar. Se o Claudinei tivesse continuado como vice, naturalmente seria o próximo candidato. Não apontei para uma candidatura infundada. O problema é que a executiva local decidiu deixar a coisa fluir da forma e para o lado que fluiu.

Por que escolheu o Claudinei de Sá para ser seu sucessor? Porque ele era do governo, experiente, tranquilo, o que é muito importante. Enfim, uma pessoa de bem. Seria um ótimo prefeito para Artur Nogueira, muito melhor do que eu!

E o Dr. Flávio? Pelos mesmos motivos.

Vai se filiar a outro partido? Pretende voltar ao PT? Sou petista, com o coração sangrando. E me considero responsável. Amo Artur Nogueira. E é ela quem sempre esteve em primeiro lugar. Agora, pretendo liderar um movimento chamado “Eu amo Artur Nogueira”.

Como assim? Pretendo fundar um movimento nos próximos dias que reúna lideranças importantes, independentemente de partidos, que busquem o bem do município.

Por que você escolheu o Marquinhos da Cultura para chefiar a Secretaria de Educação? Existem descontentamentos, não? Tudo tem um por quê. O momento é político e não técnico. Temos bons professores na rede que cuidam do ensino das nossas crianças. E por conta do momento, preciso na Secretaria muito mais de um político conciliador do que um técnico. Até porque um técnico não aceitaria cuidar de um time a partir dos 40 minutos do segundo tempo. O Marquinhos é tranquilo, de confiança, competente. Posso dizer, sem constrangimento, que ele conseguirá me fazer mais presente na Educação. O melhor de tudo é que ele sabe dos limites dele, e eu sei do seu potencial! Quanto aos descontentamentos, sempre existem. Mas vou conversar com todos os professores em breve, sobre isso. Depois que explicar os porquês para a rede municipal, falo melhor no assunto. Não dá pra ser por aqui antes de falar pessoalmente com a rede.

E esse cabelo comprido? É temporário… Vou cortar (risos). Na hora certa! Não vou dizer que minha força está em meus cabelos, que nem o Sansão, senão nem cochilar vou poder mais, aliás, é bom tomar cuidado com o que digo, porque tenho até uma Dalila em casa (risos)!

Fotos: Renan Bússulo

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