12/12/2015

Aos 60 anos, nogueirense conclui sua 60ª maratona de 62 quilômetros no Paraná

Luiz Carlos Mauro começou a praticar o esporte aos 45 anos. No início deste mês ele concluiu sua 60ª maratona e diz que não pretende parar tão cedo.

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Luiz Carlos Mauro chega ao Portal Nogueirense com um envelope cheio de fotografias, um troféu e cinco medalhas. Diz que tem uma notícia para dar e entrega quatro folhas. Três com uma lista contínua e uma com a matéria de três parágrafos feita por ele: “Nogueirense completa 60 maratonas aos 60 anos”. E emenda com um sorriso: “Sou eu!”. No último dia 6 o aposentado correu em Tramandaré (PR), sua 60ª ultramaratona, conquistando o segundo lugar na categoria de 60 a 64 anos. Foram 12 horas de competição que lhe renderam aos 60 anos, a marca de 60 maratonas.

Professor de xadrez, nadador e corredor, Luiz mostra que o tempo só lhe fez bem e que a idade nunca foi um empecilho para realizar seus sonhos. “A vida é uma maratona. Então você tem que realizar a vida passo a passo. Não existe uma data específica para você começar a se movimentar, a se exercitar”, comenta.

Muito calmo, pontua cada frase. Diz que prefere falar assim para não ter que repetir o assunto e eu poder anotar suas ponderações.

Nesta entrevista realizada na terça-feira (8) no estúdio do Portal Nogueirense, Luiz relembra sua trajetória, fala sobre as dificuldades do esporte, sua cirurgia no joelho, a marca de 60 maratonas anos e frisa: “Agradeço minha esposa, minha família e também a equipe de Artur Nogueira, sempre levo o nome da cidade comigo”.

Como começou sua vida de maratonista? Em 2001 eu tinha feito uma corrida de 10 quilômetros e aí alguém do meu serviço, do banco Nossa Caixa [atual Banco do Brasil], trouxe um jornal e disse: Ah, você correu 10 quilômetros? Quero ver você correr aqui ó – e apontou para o jornal – 40 quilômetros. Foi uma espécie de desafio e eu coloquei na minha cabeça: “Quero ver se eu consigo correr mais que 10 quilômetros”. Eu vi que eu consegui sendo um dos últimos, porque minha proposta é concluir a maratona. Não sou um atleta vencedor de ganhar prêmios, de conquistar, chegar nos primeiros lugares. Nesta última, por exemplo, eu cheguei em segundo. Porque são menos atletas que se arriscam nessa categoria. Porque imagina, 12 horas, 24 horas correndo até 133 quilômetros, que é meu máximo.

Mas como foi esse período anterior a 2001? Seus treinos, seu interesse pelo esporte… Eu corria assim, três vezes por semana, cinco quilômetros e eu ia aumentando gradativamente. E quando chegava o final de semana, no domingo, por exemplo, eu corria daqui [Artur Nogueira] até Engenheiro Coelho. E eu ia aumentando o percurso. Já fiz Mogi Mirim a Engenheiro Coelho, Artur Nogueira a Limeira, Artur Nogueira até o pedágio de Paulínia e voltei – deu 30 e poucos quilômetros… Então é esse o tipo de treino que eu fazia. Aí você começa a sentir que a musculatura não está tão boa e aí fui fazer academia com acompanhamento do professor. O que ajudou bastante. A natação ajudou bastante também.

Mas como é que a corrida entrou na sua vida? Olha, antes eu só fazia caminhada. Eu não tinha incentivo de ninguém. Uma época quando eu era mais novo, vamos falar assim, eu corria ali no campo de futebol do Clube Floresta, e coloquei na minha cabeça: “Vou participar da São Silvestre”. Porque todo atleta tem vontade de participar da São Silvestre. Talvez tenha sido isso que me motivou. Mas aí dei três voltas no campo e parei, pensei: “Isso aqui não é pra mim”. Isso quando era mais novo. E depois acima dos 45 eu falei: Não, eu preciso fazer algo. Porque tinha me dado umas pontadas no peito no banco e pensei: Ah, já que vou morrer mesmo vou fazer uma corridas. Ou eu morro ou eu corro. E graças a Deus por enquanto estou correndo! – e ri. Com essa idade de agora pouca gente se dedica ao esporte. E eu venho desde 2001 correndo em maratonas pra aumentar a atividade física, superar limites e nessa relação de todas as maratonas que eu fiz tem diversos tipos de quilometragem. De 42, 48, 50, 60, 133 quilômetros… então são várias ultramaratonas e maratonas. E não é modéstia minha, mas eu conto as ultramaratonas como maratonas no meu currículo. Passou os 42 é ultramaratona. Mas faço isso pra não me perder na contagem. Quero ter um bom índice. Essa coincidência de data 60 anos e 60 maratonas é um marco pra mim e pra cidade.

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E como funciona a ultramaratona? Aqui está escrito 24 horas. Você corre essas 24 horas seguidas, ou descansa? Seguidas, 24 horas seguidas. Aí você fica num circuito em que toda vez que passa pelo tapete, o chip que você tem no pé, registra a volta que você deu. No final das 24 horas, das voltas que você deu ele transforma em quilometragem. Claro, o ritmo de corrida é diferente de uma maratona. Na maratona eu sou obrigado a chegar em seis horas, porque depois do tempo eles abrem as ruas. Na ultramaratona não. Porque ou é dentro de um campo de futebol… nessa última foi em volta de uma lagoa. São percursos diferenciados.

Essa sua última conquista… Foi a ultramaratona de Almirante Tamandaré, no Paraná, vizinho a Curitiba. Ela aconteceu em dois dias: das 8 horas de sábado às 8 horas de domingo. No início o tempo estava nublado. Conseguimos dar algumas voltas na Lagoa, mas como havia chovido alguns dias anteriores e também um pouco no dia da prova o terreno ficou adverso. Porque você pisava no barro espesso e o tênis segurava e você fazia muita força para tirar a perna e continuar correndo Inclusive o atleta que estava em primeiro lugar fez muita força, torceu o pé e teve que abandonar a corrida. Mais de uma pessoa abandonou a corrida. Agora eu fui na manhã. Já saí no fui, dei o número de voltas e completei 65 quilômetros. Já cheguei a fazer 81 quilômetros. E você pode me perguntar: ‘Mas por que essa diferença?’. Porque uma foi de dia, um solão forte, e eu fiz 81 quilômetros. O que que aconteceu, o clima ajudou e eu estava mais focado, isso ajudou. Então o que eu coloco como superação de limites é tentar chegar aonde você faz normalmente e devagar. Sem afobação, sem nervosismo. Porque a adrenalina está com você.

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E quais são as outras dificuldades? Só esse ano eu fiz cinco corridas. Mas quatro delas depois de ter operado o joelho. Então esse ano, em maio eu fiz essa cirurgia e contra minha vontade perdi uma maratona no Rio de Janeiro. E aí passou três meses e fui fazer maratona novamente.

Mas qual era o problema? Como é um esporte em que você faz esforço repetitivo, você acaba lesionando. Então tem atleta que lesiona o quadril, o outro o tendão e eu no joelho. No ano passado sentia que quando terminava uma corrida meu joelho doía. Fui ao médico e vimos que precisava operar o menisco.

Você comentou que alguns corredores já desistiram das provas. Isso já aconteceu com você em uma ultramaratona? Olha, graças a Deus até agora eu conclui todas as provas que iniciei. Embora algumas excedi um pouco o limite, se era 6 horas, eu fiz em 6 horas e alguma coisa. Às vezes eu termino a prova andando, porque você não precisa correr, tem que terminar. Eu não desisto porque balanceio os passos, o movimento. Teve uma única maratona que eu comecei, em Valinhos, que na primeira volta tive um estiramento muscular. Mas não quis desistir. A hora que passei na marcação do cronometro, falei pro corneador que estava mal. Ele me disse: Vai devagar e depois você recupera. Eu confiei, fui, parou a dor e consegui correr. Ou seja, estar preparado psicologicamente me ajudou. Essas 60 [maratonas] eu já cumpri. Não sei quantas farei daqui pra frente. Não sei em que número quero chegar. Só não pretendo parar.

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Quais os impactos que você percebeu na sua saúde depois que começou a correr maratonas? Eu tinha 73 quilos e tava demais. Uma das motivações, que você me perguntou antes, também foi isso. Comecei a correr e me pesava na balança. No início foi difícil, foram meses pra abaixar um quilo. Mas depois foi e baixou, baixou e hoje to na faixa de 67.

E em relação ao bem-estar. Como o esporte de ajudou? Ah, a gente sente a respiração melhor, pra dormir é melhor. Você sente a energia e não sente o cansaço. Por isso faço uma prova de 24 horas. Eu não canso. Nem mentalmente, nem espiritualmente. Lógico que a musculatura cansa após a prova, mas ainda há uma reserva de energia.

Quando você começou a correr acreditava que chegaria nessa marca de 60 maratonas aos 60? Eu imaginava que correria sempre. Tenho uma meta de cinco maratonas por ano. E quando eu vi que estava chegando a minha idade e o número de corridas eu planejei para chegar a 60. Mas quando não deu certo. Porque havia uma corrida em novembro, em Valinhos, e a organização adiou para 2016. Aí fiquei desesperado. Fiquei mesmo. Falei: “Poxa vida. Não vai coincidir”. Mas graças a Deus os meus anjos que me acompanham permitiram existir essa ultramaratona do Paraná. Então eu fiz chegar a esse número.

Qual o lugar mais longe que você já correu? Por enquanto em Rio Grande, que é Rio Grande do Sul, no extremo do estado. Foi de 50 quilômetros, eu não fiz no tempo determinado, mas concluí.

Acho bacana que seu foco é concluir, independente do posto. Serve até como uma mensagem para a vida… É, de não desistir nunca. E sempre fui incentivando os jovens. As vezes, na maratona de São Paulo, como estou no fim, incentivo as pessoas, falo com elas. Uma outra forma que busco incentivar é com mensagens no corpo, com cartazes, e é um meio também de agradecer as pessoas que dão água, aos guardas, que ajudam na maratona. Uma outra forma que busco incentivar é levando gelol. Se vejo um maratonista mancando pergunto se ele quer e empresto. Eu vou nesse intuito de ajudar porque já fui muito ajudado. A maratona pra mim é uma confraternização. Você precisa do outro e o outro precisa de você. Embora pareça um esporte individual é algo que acontece no coletivo: todos querem chegar lá e completar o objetivo.

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Dessas 60 qual mais lhe marcou? A de maio de 2008, que foi meu recorde de 133 quilômetros. E o que aconteceu nessa foi que duas semanas antes eu havia perdido uma tia. Ela havia falecido. Tanto é que nem sabia se eu iria participar da maratona porque na época ela estava doente. Mas passou essas duas semanas e eu resolvi prestar essa homenagem pra ela. E corri como se estivesse voando. Tive uma energia muito grande. Essa última me marcou por ser o número 60. Achei bonito a idade e o número de provas.

Alguns jovens temem a velhice com medo da inércia. Mas você está na minha frente com um monte de medalhas me falando de 60 maratonas completadas depois dos 45 anos. O que teria a dizer para a juventude? A vida é uma maratona. Então você tem que realizar a vida passo a passo. Então não existe uma data específica para você começar a se movimentar, a se exercitar. Comece com um exercício físico indo fazer uma compra a pé, em vez de carro. Faça um esforço trazendo alguma coisa de um determinado local até sua casa. Ou vá pra academia a pé para não fazer exercícios repetitivos. Eu nunca tive medo de envelhecer. Por isso comecei com 45, mas poderia não ter nem começado. Então, jovem, não comece muito tarde. Comece o período que começar, mas comece.

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