09/04/2011

ESPECIAL: A difícil arte de entrevistar

Em artigo especial ao aniversário de Artur Nogueira, o jornalista Alex Bússulo explica como são realizadas as entrevistas que estão sendo lidas todas as semanas por milhares de pessoas

Sabe o que todo mundo tem em comum? Seja pobre ou rico, magro ou gordo, homem ou mulher, nogueirense ou nascido em qualquer outra cidade? HISTÓRIAS! Todos têm histórias para contar. Não me refiro às fábulas, daquelas contadas às crianças para dormir. Estou me referindo a fatos e situações reais acontecidos com cada indivíduo. Coisas que marcaram e que ficaram gravadas na cabeça de cada um.

Não há o que discutir, por mais desinteressante que uma pessoa possa parecer, lá no fundo todos tem algo de muito interessante, emocionante e até engraçado para contar. Isso inclui eu e você também.

Algumas pessoas me perguntam como é que faço minhas as entrevistas. Como escolho meus entrevistados. Saibam que realmente existe uma escolha, ou jornalisticamente falando, uma edição. Afinal de contas, alguém tem que ‘peneirar’ o que é notícia.

Desde setembro de 2010, publico uma entrevista especial toda semana. Busco conversar com nogueirenses ou pessoas, que de certa forma estão relacionadas com Artur Nogueira.

Nunca procurei agradar ninguém. Confesso que nem pretendo. Um bom jornalista não fica bajulando pessoas, cargos e políticos. Ele apenas mostra o que está acontecendo.

Falando em agradar, toda semana acontece algo de muito engraçado, para não dizer irritante. Quando publico uma entrevista com algum político que está no poder, sou aquilo que alguns chamam de ‘chapa branca’, ou seja, já falam que sou assessor do prefeito, que estou ganhando para isso ou aquilo.

Passa apenas uma semana e publico uma entrevista com alguém que é da oposição, de outro partido, etc. Já me chamam de sensacionalista, que estou fazendo campanha contra o prefeito e por aí vai.

Tudo isso me faz lembrar uma mensagem muito bonita que fala sobre a difícil tarefa de querer agradar a todos. Conta à história que em pleno calor do dia um pai andava pelas poeirentas ruas de uma vila junto com seu filho e um jumento.

O pai estava sentado no animal, enquanto o filho o conduzia, puxando a montaria com uma corda.

“Pobre criança!”, exclamou um passante, “suas perninhas curtas precisam esforçar-se para não ficar para trás do jumento. Como pode aquele homem ficar ali sentado tão calmamente sobre a montaria, ao ver que o menino está virando um farrapo de tanto correr?”.

O pai tomou a sério esta observação, desmontou do jumento na esquina seguinte e colocou o rapaz sobre a sela. Porém, não passou muito tempo até que outro passante erguesse a voz para dizer: “Que desgraça! O pequeno fedelho vai sentado como um sultão, enquanto seu velho pai corre ao lado”. Esse comentário muito magoou o rapaz, e ele pediu ao pai que montasse também no burro, às suas costas.

“Já se viu coisa como essa?”, resmungou uma mulher usando véu. “Tamanha crueldade para com os animais! O lombo do pobre jumento está vergado, e aquele velho que para nada serve e seu filho faz do animal um divã. Pobre criatura!”.

Os dois alvos dessa amarga crítica entreolharam-se e, sem dizer nenhuma palavra, desmontaram. Entretanto, mal tinham andado alguns passos quando outro estranho fez troça deles ao dizer: “Graças a Deus que eu não sou tão bobo assim! Por que vocês dois conduzem esse jumento se ele não lhes presta serviço algum, se ele nem mesmo serve de montaria para um de vocês?”.

O pai colocou um punhado de palha na boca do jumento e pôs a mão sobre o ombro do filho. “Independente do que fazemos”, disse, sempre há alguém que discorda de nossa ação.

Essa é uma história simples, mas que carrega consigo uma enorme mensagem. Nesse pouco tempo que estou trabalhando ativamente como jornalista, percebi que infelizmente são poucos aqueles que conhecem e reconhecem o trabalho de um profissional. Isso é triste e até difícil de engolir. Existem pessoas que frequentemente confundem o trabalho de um jornalista com o de um publicitário.

Querem aparecer! Querem ser notadas. Para um jornalista isso é difícil. Em Artur Nogueira ou você está a favor do prefeito ou é contra ele. Imparcialidade e apartidarismo são conceitos totalmente desconhecidos para muitos.

Não sou da prefeitura. Não sou contra a prefeitura. Sou a favor da notícia imparcial, objetiva, como ela deve ser. Não cabe a mim, nem a nenhum outro jornalista julgar o que é certo ou errado, nossa missão é apenas mostrar os fatos e suas versões, se é bom ou ruim a população que deve julgar.

Só para exemplificar como é complicado fazer jornalismo na cidade ‘Berço da Amizade’, atualmente existem secretários e diretores de departamentos da prefeitura que mal falam comigo. Vou além, existem pessoas que ocupam cargos de confiança neste município que não querem nem me ver ‘pintado de ouro’. Que acham que sou contra o trabalho deles. Resultado: não consigo transmitir à informação a população.

Por outro lado, existem aqueles que demonstram respeito ao direito dos nogueirenses saberem o que acontece em Artur Nogueira. São secretários e chefes como o Marquinhos da Cultura, Fernando Arrivabene, Amarildo Boer, Alexandre Chichurra, Helton Filippini e até mesmo o prefeito Marcelo Capelini, que nunca me deixaram sem nenhuma resposta. Digo aqui e me sinto na obrigação de citar esses nomes porque em todas as situações que os procurei, sejam elas boas, ruins ou péssimas eles sempre responderam às minhas perguntas. Nunca fugiram. Mas sei que isso é um processo lento, sei que daqui a alguns anos essa realidade irá mudar.

Desde a primeira entrevista feita com a coordenadora da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, Edméia de Mello, até a conversa com o Zé da Nega, foram publicadas mais de trinta entrevistas. Algumas polêmicas, outras engraçadas, todas escritas de uma maneira diferente, mostrando as caras de Artur Nogueira. Pessoas simples, algumas até esquecidas, outras famosas e que ocupam cargos importantes. Conversei com muita gente. Conheci muita gente. Falei com professores, políticos, transexuais, padres, chefes de departamentos, pessoas curiosas de todas as formas. Histórias que com certeza ficarão registradas eternamente. A do Adilson Muller é uma delas. Foi à entrevista mais lida e comentada em todo esse tempo. Mas ainda tem muitas pessoas para eu conversar. Muita gente que tem histórias para relembrar e contar.

Nestes 62 anos de emancipação política da cidade, desejo que todos os nogueirenses tenham e recebam ótimas notícias, que algumas autoridades entendam a diferença de um jornalista e de um publicitário.

Ano que vem é ano das eleições e quero continuar fazendo um jornalismo sério na cidade. Um jornalismo sem bajulações. Sem receber dinheiro de partidos. No final das contas, quem sempre sai ganhando é a população.

Artur Nogueira é feita de pessoas. De caras. De pessoas que têm histórias e versões, todas a serem ouvidas. Parabéns Artur Nogueira, parabéns Nogueirenses.

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Confira todos os entrevistados do NOGUEIRENSE

Edméia Mello (Coordenadora da Igreja Nossa Senhora das Dores)

Eder Donisete Justo (Padre da Igreja Nossa Senhora das Dores)

Paulo Munhoz (Produtor de eventos)

Renato Carlini (Presidente da Expo Artur)

Jéssica Florêncio (Skatista)

Sonia Rigoli Santos (Escritora)

Elaine Queiroz (Diretora teatral do Brincantti)

Darci Ferreira (Diretor do Cemitério)

Sopro Vital (Banda musical)

Vinagrinho, Rangel Renato e Palito (Locutores da Expo Artur)

Gindançarte (Grupo de ginástica)

Ana Perugini (Deputada estadual – PT)

Fernando Arrivabene (Secretário de Obras)

Rúbia Bertini Tergulino (Diretora Pedagógica da APAE)


Zé Creme (Vereador – PSDB)

Élcio Roberto Medeiros (Padre da Igreja Santa Rita de Cássia)

Marcelo Capelini (Prefeito – PT)


Netinho (Pipoqueiro)

Dr. Bruno Barros Miranda (Especialista em aposentadoria)

Ricardo Michelino (Maestro da Corporação 24 de Junho)

Cristiano da Farmácia (Vereador – PSDB)

Amarildo Boer (Secretário de educação)

Célia Leão (Deputada estadual – PSDB)


Cissa (Transexual)

Marcos Roberto Campos (Chefe da Divisão Municipal de Cultura)

Luciene, Edvânia e Ester (Rainha e princesas do Carnaval)

Adilson Muller (Nogueirense)

Toninho Sacilotto (Presidente do SAEAN)


Eliane Carneiro (Coreógrafa)

Zé da Nega (Nogueirense)

Sugira nossos próximos entrevistados pelo e-mail: jornal@nogueirense.com.br


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