13/02/2016

Publicitário de Artur Nogueira une humor e informação em canal sobre vegetarianismo

Criado por Dhiego Damm, “Eu Não Como Mato” está há um ano no ar. Vídeos recentes registram mais de 100 mil visualizações.

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Por Isadora Stentzler

Júlio Cesar senta à esquerda do sofá. Um pouco tímido, avisa: “Mãe, eu preciso falar com você”. O assunto era delicado. Naquele dia Júlio Cesar diria à mãe que deixaria o penúltimo semestre de Medicina para se dedicar às Artes Plásticas e por isso a voz embargada, baixa. “Pode falar”, retrucou a mãe com cabelo chanel e dedos rápidos no celular. “Mas antes olha isso aqui que eles compartilharam no grupo do WhatsApp.”“Não”, impõe o jovem. “É sério. Tem a ver com meu futuro.” A mãe fita o rapaz e percebe a preocupação. Esquece o celular. Coloca a mão na boca e escuta o desabafo. “Eu sei que vocês já gastaram muito. Que eu já estou no penúltimo semestre, mas não é minha praia.” Sem entrar em choque, a mãe ouve. Conversa. Entende o filho. “Fica tranquilo. Eu vou falar com seu pai e o meu apoio você vai ter.”

O papo segue. Júlio Cesar aproveita o ímpeto de coragem para desvencilhar-se de assuntos mal resolvidos do passado e remota a um tempo longínquo. “Você lembra do Jack? Aquele schnauzer que você tinha?”, pede à mãe, que diz lembrar enquanto emaranha fios de cabelo nos dedos. “Pois é, fui que tosei metade da cabeça dele aquela vez”. A mãe emudece. Os olhos amorosos viram olhos de desprezo e há rancor em sua face. “E eu queria pedir desculpas”, emenda Júlio, quebrando a resistência da mãe com a sinceridade do pedido de perdão. A mãe ouve. Conversa. Entende o filho. “Criança faz isso mesmo”, e desculpa a peripécia.

De uma em uma as travessuras de Júlio Cesar vêm a tona, com elas os planos e desventuras. A todas, porém, a ternura da mãe entendia, perdoava.

Eis que: “Eu queria conversar com você”, exprime Julio o último desabafo. Já saturada, mas atenta, retruca a mãe: “Fala, filho”, e bebe um gole d’água do copo que tem em mãos. “É que eu andei pesquisando bastante e pensei bastante também. E eu decidi me tornar um vegetariano.” Como não acontecera antes, a mãe engasga. A água que bebia virou ardente e prendeu-se na garganta. Ela cospe. Balança o rosto. Indigna-se: “Júlio Cesar, o que que tem na sua cabeça, menino?” A mãe ouve. Conversa. Mas desta vez não entende o filho. E corta.  A gravação termina assim.

Toda esta cena se passa no vídeo “Quando a gente revela que virou vegetariano”, protagonizado pelo publicitário Dhiego Damm que vive o personagem Julio Cesar e a mãe, e já teve mais de 110 mil reproduções, 1,7 mil compartilhamentos e 1,3 mil curtidas no Facebook. Ela integra o material do canal “Eu Não Como Mato”, idealizado pelo nogueirense em janeiro de 2014, quando se tornou vegetariano, e ironiza uma situação vivida por muitas pessoas que deixam de comer carne. Mas no canal há ainda outros vídeos que abordam experiências pessoais, dicas de saúde e receitas.

QUANDO A GENTE REVELA QUE VIROU VEGETARIANO.A gente pode falar que quer ser ladrão e ninguém liga. Agora, é só falar que decidiu ser vegetariano que todo mundo se preocupa e vira nutricionista.

Posted by Eu Não Como Mato on lunes, 1 de febrero de 2016

Tudo é gravado por Damm que não abre mão de abusar dos cenários, indo do gramado à academia em assuntos diversos. Para isso ele conta com o auxílio de uma câmera portátil (mas que já foi uma webcam e um iPad) para pegar os takes. Já nas imagens em que há diálogos recebe auxílio da esposa, que nunca aparece mas não deixa de repassar com o marido as falas.

Muito simples, Damm não fez o canal com o intuito da fama, mas em nome de um ideal maior que ele: ensinar às pessoas uma forma saudável para se viver. “Talvez, mostrando esses resultados na minha vida, mais pessoas se sintam motivadas a fazer uma reforma na vida delas também”, frisa.

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Quando você decidiu criar o canal e por quê? Fazer vídeos sempre foi um hobby. Desde pequeno viajava nas minhas ideias. Mas viajava mesmo! Coisas como ir à padaria poderiam se tornar uma produção Hollywoodiana. Isso, na minha cabeça, é claro [risos].  Em 2006, durante o Ensino Médio, comecei a frequentar uma classe de Produção de Áudio/Vídeo. Nessa aula nós éramos responsáveis por criar o telejornal da escola e tínhamos 5 minutos pra elaborar qualquer outra história que tivesse a ver com o âmbito escolar. Era o formato de sketch, mas eu nem sabia o que isso significava. Só sei que a possibilidade de colocar minhas “viagens” em formato de vídeo era algo fascinante. Até 2014 fazia apenas alguns vídeos de besteirol e os mostrava para amigos. Em 2010, houve o boom no Youtube. Muita gente começou a criar por lá. Aquilo mexeu comigo e me fez ter uma vontade muito grande de criar o meu próprio canal. Mas a grande pergunta era: Sobre o que seria esse canal? Duas coisas eu já sabia: Queria que, de alguma forma, fosse útil pra quem assistisse e não queria que fosse chato. O canal não podia ficar sem uma pegada cômica. Depois de pensar bastante, me veio a ideia de falar sobre uma grande mudança que tinha feito na minha vida: Tinha me tornado um vegetariano. Senti muitos benefícios nessa escolha e queria compartilhar isso de uma forma interessante. Mostrar, através do humor, o lado bacana de ser vegetariano.  O nome do canal “Eu Não Como Mato”, surgiu por conta de um amigo que me chamou para um churrasco e disse “pode trazer seu mato”. Aquilo me deu um “click” e vi, de certa forma, uma oportunidade. Por mais que ele estivesse me zoando, pensei que poderia mostrar para as pessoas que o vegetariano não come apenas “mato”.

Então há quanto tempo você é vegetariano? A última vez que comi carne foi no dia 7 de fevereiro de 2014. A dois anos atrás.

Acha que ainda há muito tabu em cima dos estilos de vida vegetariano e vegano? Com certeza. O consumo de carne já está enraizado na nossa cultura. Por conta disso, muita gente não consegue sequer imaginar uma dieta sem carne. Quanto mais de uma em que não há nada de origem animal. Quem não conhece o assunto, estilo de vida, sempre acha que faltará algo no nosso prato. Mas se usarmos o meu caso como exemplo, hoje, o meu prato possui muito mais variedade do que antes, quando comia carne.

Uma vez li um livro que o título era ‘Por que amamos cães, comemos porcos e vestimos vacas’: uma crítica a forma como a sociedade lida com a alimentação e em consequência com os animais. Acho que o consumo da carne é também uma construção social… É… por mais que saibamos que a carne venha de um animal, acredito que não existe mais aquela associação entre o comer e o processo que levou aquela carne até o prato. Não sei se é uma questão de já estar anestesiado em relação ao assunto ou de, realmente, não querer saber o que acontece. Mas a verdade, pra mim, é a seguinte: Acho impossível alguém assistir o funcionamento da indústria de carne (do início ao fim) e falar “isso é algo bacana”.

Por conta disso muitas pessoas fazem piadas, chacotas com o estilo de vida. Além disso, algumas citam coisas que demonstram que a falta de clareza no assunto. Isso acontece com você? Quais as coisas mais comuns que precisa responder sobre ser vegetariano? “Você não se sente fraco?”, “De onde você extrai a sua proteína?”, “Mas nem frango???”, “Ah, peixe não conta como carne!”

Você começou o canal falando de receitas vegetarianas, agora já têm dicas de saúde e interpretação de situações constrangedoras que vegetarianos passam. Ou seja, você é versátil. Como define as pautas? Eu cheguei à conclusão que não sou um Chef (risos). Além disso, os vídeos de receita limitam muito os roteiros que gosto de escrever. Gosto de humor. Por isso decidi abranger mais o teor do canal. Pensei que seria legal falar de um estilo de vida saudável, em geral. Afinal de contas, não mudei apenas a alimentação. Passei a me exercitar mais, etc. Isso me possibilitou a introduzir mais humor nos vídeos.

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Um dos seus vídeos já tem mais de 1,7 mil compartilhamentos no Facebook. Achou que chegaria a isso tão rápido? Não. A maneira como este vídeo se espalhou foi realmente uma surpresa. E menos de uma semana o vídeo alcançou 100 mil visualizações. Falar que eu nunca esperei por isso é mentira. Faço os vídeos porque é algo que amo. É o tipo de trabalho que, quando faço, nem vejo a hora passar. Mas ter reconhecimento também é legal. Ver algum trabalho teu se espalhando por aí traz uma motivação tremenda.

Recentemente você também falou sobre a reforma de saúde… A série “Reforma de Saúde em Oito Semanas” surgiu da necessidade de reformar a minha saúde. Comecei a ficar meio sedentário e caí no erro que muitos vegetarianos “recém convertidos” cometem. Cortei a carne mas passei a consumir muito queijo e produtos derivados do leite. Não me envergonho de falar que sou compulsivo. Não comia a carne, mas abusava de outros alimentos. Chocolate, refrigerante, salgadinhos… no primeiro vídeo da série falo sobre isso. Tive o apoio da Priscila Menezello (nutricionista), Academia RN Sports (plano de atividades físicas), Sensei Adilson M. Brito (karatê). A minha intenção foi mostrar o quanto se pode evoluir dentro de oito semanas e fazer com que a reforma não terminasse em dois meses. A reforma foi o primeiro passo pra começar um hábito. Talvez, mostrando esses resultados na minha vida, mais pessoas se sentiriam motivadas a fazer uma reforma na vida delas também.

E quais os resultados dessa experiência? Foi uma mudança muito drástica! Saí do jeans 44 para o 40. Perdi quase 9kg; por conta dos exercícios, comecei a me sentir muito mais disposto, sem falar na rinite alérgica que diminuiu drasticamente.

Legal! E como é o feedback dos seguidores? Alguns amigos e familiares sempre me incentivam a continuar. Mas o legal mesmo é quando você ouve algo de alguém que você nunca imaginou que assistisse os vídeos. Há uns dias atrás um seguidor comentou sobre ter cortado o queijo da alimentação. Outro, de Vitória-ES, começou a se exercitar; e outros ainda comentam no perfil do Facebook com interesse em começar uma reforma, ou marcando amigos.

Tem pretensão, com isso, em ser um desses youtubers famosos? Olha, eu sempre tive um conceito formado sobre a fama. Vejo mais pontos negativos do que positivos. Como falei antes, reconhecimento é o que acho bacana. Não importa se estamos falando de cem mil pessoas, ou de dez. O importante é alguém ser impactado pelo conteúdo. Um sorriso de canto de boca já está valendo.

Já pode contar quais serão os próximos vídeos? Eu tenho planejado alguns vídeos curtos em formato de sketch pra soltar mais no Facebook e estou vendo algum outro desafio, como a “Reforma de Saúde em 8 semanas”. Vamos ver o que conseguimos colocar no papel, aí.


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