04/09/2016

Psicopedagoga de Artur Nogueira fala sobre dislexia e outros transtornos

Adriana Hilário Almeida explica o que fazer quando a criança apresenta certos comportamentos sem comprometer aprendizado.

Rui do Amaral

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Atualmente, o mundo se encontra completamente imerso em tecnologia. Há 20 anos, a internet era algo novo e computadores eram bem mais difíceis de se encontrar. Com o passar dos anos, de maneira surpreendentemente rápida, os produtos eletrônicos invadiram o cotidiano das pessoas e passaram a afetar uma faixa da população de maneira mais incisiva: as crianças. Com isso, o número de crianças que apresentam alguma disfunção como hiperatividade e outros transtornos vem crescendo ano a ano, e a procura por profissionais que lidem com as dificuldades de aprendizado que tais crianças apresentam também aumentou.

O profissional neste tipo de assunto é o psicopedagogo, que atua na área voltada para relações de ensino e de aprendizagem no âmbito clínico, institucional como: escolas, hospitais e empresas. Sua função é trabalhar com o diagnóstico, prevenção e o tratamento das atividades voltadas ao aprendizado. Buscando um aprender mais prazeroso e saudável para o sujeito envolvido. O principal campo de atuação do psicopedagogo é na identificação das causas dos bloqueios que aparecem. Estes bloqueios se apresentam por meio de sintomas que podem se manifestar de diferentes maneiras como baixo rendimento escolar, agressividade, falta de concentração, agitação, etc.

No ambiente clínico, são realizados vários testes com a criança, o que leva a um diagnóstico efetivo. É como montar um quebra-cabeça: a medida que as peças se encaixam, é possível descobrir o que está por detrás dos sintomas. As peças são fornecidas pela família, escola e pelo próprio sujeito. Entretanto, a maneira de monta-las só depende do psicopedagogo. Para ajudar o leitor do Portal Nogueirense a entender melhor sobre o que fazer quando um filho apresenta um destes transtornos, nossa equipe foi conversar com Adriana Hilário Almeida, pedagoga e especialista em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, que atende na Clínica Caritas, em Artur Nogueira.

As escolas, em geral, reagem bem a intervenção de um psicopedagogo? Nem sempre. Pois o Psicopedagogo tem a função de opinar quanto as atividades desenvolvidas pela escola, geralmente, quando a ajuda chega, reagem com desconfiança. Porém o Psicopedagogo vem para formar com a equipe escolar, uma parceria para juntos solucionar os problemas que o educando vem apresentando.

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Como descobrir se o que a criança tem, é dificuldade ou transtorno? A dificuldade de aprendizagem está relacionada com crianças em fase escolar, por apresentar problemas de desordem pedagógica e/ou sócio culturais, ou seja, a causa não está centrada apenas no aluno. Entretanto, o termo transtorno de aprendizagem, está vinculado ao aluno, pois surge a existência do comprometimento neurológico em funções corticais específicas, que interferem no processo de aquisição e manutenção.

Uma criança está muito desatenta e isso tem prejudicado na escola. Como a psicopedagogia pode ajudar esta criança? Essa criança desatenta não significa que apresente distúrbios neurobiológicos, isto quer dizer que problemas apresentados tem caráter provisório e suas causas podem ser localizadas em diferentes dimensões do processo de aprendizagem do indivíduo. Consideramos que estas dimensões são: psico-cognitiva e orgânica. O psicopedagogo lança suas técnicas e conhecimentos específicos a fim de oferecer um diagnóstico preciso, para que se faça uma intervenção apropriada para cada caso. Quanto mais cedo qualquer problema apresentado for percebido, maior a chance de iniciar o tratamento e alcançar êxito satisfatório no processo cognitivo e consequentemente na aprendizagem.

Qual o problema mais comum que pode afetar o aprendizado de uma criança? Alguns problemas mais comuns que o educando apresenta são: atraso na fala, falta de concentração, gagueira em excesso, trova ou omissão de sons nas palavras, trocas de letras na escrita, dificuldade de memorização, hiperatividade, compreensão de ordem, coordenação motora e organização.

O que é TDAH? É um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.

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E a Dislexia? É importante saber que a dislexia não é uma doença, e sim um distúrbio genético e neurobiológico que independe da preguiça, falta de atenção ou má alfabetização. O que ocorre é uma desordem no caminho das informações, que inibe o processo de entendimento das letras e, por sua vez, pode comprometer a escrita. É claro que os sintomas da dislexia variam de acordo com os diferentes graus do transtorno, para decodificar as letras do alfabeto e tudo o que é relacionado a leitura. O disléxico não consegue associar o símbolo gráfico e as letras ao som que elas representam. Ter dislexia não é o fim do mundo, pode ficar tranquilo. Ele pode ser uma pessoa saudável e inteligente, porém com dificuldade acima do comum em aprender a ler. Quanto antes descobrir a dislexia, melhor será para evitar rótulos depreciativos ao portador.

Como descobrir que uma criança é hiperativa? Até que ponto isso é normal? As crianças hoje são muito ativas por natureza, mas em algumas crianças podemos observar que seu comportamento é demasiado inquieto. São crianças que não costumam prestar atenção nas aulas e inclusive causam problemas. Tratam-se de crianças excessivamente impulsivas e incapazes de prestar atenção.

O número de crianças com laudo médico atestando problemas psiquiátricos tem crescido? Sim, e muito.

O que é possível concluir com base nisso? Hoje, existe um excesso de diagnósticos de patologias sem critério, toda tristeza tem sido diagnosticada como depressão, onde leva os pais a procurarem psiquiatras sem mesmo passar pelo processo investigativo com um psicopedagogo, o qual contribui para chegar a um diagnóstico preciso. A falta do conhecimento do profissional psicopedagogo, hoje, faz com as famílias recorram a medidas precipitadas quanto ao problema supostamente apresentada pela criança. Daí a importância de uma avaliação com um psicopedagogo, para ter certeza de qual problema a criança apresenta, fazendo desnecessária a medicação sem necessidade.

Cite que ponto o contato excessivo em produtos eletrônicos e internet pode afetar a aprendizagem das crianças? O uso precoce de produtos eletrônicos como computador, a utilização do teclado antes mesmo do lápis pelas crianças, faz com que as crianças hoje escrevem pior do que as de outras gerações. Quando maiores, perto da adolescência, as trocas de mensagens instantâneas e pelo celular, fazendo abreviações, troca de gírias e termos específicos é cada vez maior, não respeitando as regras gramaticais. Com base nisto, hoje esta realidade faz com que crianças e adolescentes escrevam pior do que as de outras gerações. Além disso existe a troca de amigos reais pelos virtuais, optando dessa forma por se divertir com jogos e computadores, em vez de brincadeiras físicas. Ainda existe uma grande polêmica quanto a influência de games de violência na formação das crianças, que crescem em constante contato com esses estilos de jogos. Isso influência até mesmo na saúde das crianças, devido ao uso abusivo.

Uma pessoa que apresenta algumas destas disfunções pode ter uma vida normal? A vida social dessas crianças e adolescentes pode ser prejudicada, porque eles são mais rejeitados pelos colegas. E o tratamento se faz necessário e importante para o sujeito ter uma vida normal.

O que fazer quando constatado que a criança sofre com alguns desses transtornos como TDAH, Dislexia e Hiperatividade? É importante observar a intensidade dos problemas apresentados, desde quando estes problemas existem e fazer uma análise de antecedentes familiares. Analisar estes quesitos permite que o especialista levante hipóteses sobre hereditariedade, fatores de riscos, dificuldades da criança, níveis de exigência na escola. Mas, para se assegurar desses transtornos é preciso eliminar outras hipóteses com a ajuda de exames médicos, neurologistas, fonoaudiólogo e psicológicos.

Qual deve ser a relação entre o Psicopedagogo e a escola? O Psicopedagogo vê a escola como uma totalidade de informações, de comportamentos e atitudes com relação ao ensino aprendizagem que são recebidas e desenvolvidas para a sociedade num processo de circularidade constante, onde estas informações vão se transformando em novas informações. Quando um psicopedagogo entra em contato com a escola, sua função e avaliar o processo de ensino aprendizagem para realizar o processo investigativo, para isso é importante ressaltar a participação fundamental dos elementos que compõem esta instituição. Outro aspecto importante a ser avaliado pelo psicopedagogo é que seu diagnóstico e a avaliação é o meio para ajudar o educando a sair da dificuldade em ele se encontra.

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Estudar Psicopedagogia ajuda o educador a ensinar melhor? Contribui, porém o processo de intervenção do psicopedagogo necessita ser realizado individualmente num local adequado e adaptado, fora do ambiente escolar, para que o educando tenha o auxílio devido pelo qual necessita.

As escolas em geral reagem bem a intervenção de um Psicopedagogo? Não resta dúvida que existe uma certa resistência, pois exige mudanças, que dão trabalho, que desiquilibra, exige-se mais esforço que demanda mais tempo. O professor está acostumado coma sua prática cotidiana, não quer mudar, pois do jeito que está sempre deu certo. Porque mudar assusta e é trabalhoso. O Psicopedagogo vê o que está acontecendo com aquela escola, porque a rede não está funcionando e por essa razão as mudanças não estão ocorrendo. O desafio do Psicopedagogo é mobilizar para que haja mudança, pensando sempre no bem-estar do educando, e uma forma eficaz para contribuir em seu processo de aprendizagem.


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