10/09/2017

Professora de balé de Artur Nogueira fala de benefícios da dança para crianças

Lívia Gasparini Francisco revela que balé não é só beleza e música instrumental, mas também trabalho duro, dor, dedicação e superação

Alysson Huf

Lívia Gasparini Francisco conheceu o balé aos 4 anos de idade. No entanto, por causa do excesso de peso, abandonou as aulas para se dedicar a outras atividades. Apesar disso, a música clássica era sua paixão, e o balé continuava chamando por ela. Alguns anos depois, no início da adolescência, decidiu mudar alguns hábitos e retornou às aulas da dança.

Hoje, 17 anos depois, Lívia ensina, a outras crianças da cidade, os delicados e difíceis movimentos de uma das artes mais tradicionais em todo o mundo. Seguindo a metodologia da Royal Academy of Dance, ela mostra, a dezenas de alunas, a beleza da dança e os benefícios do balé para a vida das aprendizes.

Contudo, o balé não é só beleza e música instrumental. Segundo Livia, é também trabalho duro, dor, dedicação e superação. E pode mudar a vida de quem desejar aprender. Saiba mais sobre isso a seguir, na entrevista que a professora concedeu ao Portal Nogueirense:

Como você se interessou pelo balé? Eu acredito que só entrei para o balé por causa da minha mãe. Balé era muito caro, e minha mãe não pôde fazer quando era criança. Daí, quando eu nasci, ela teve a oportunidade e a gente entrou. Mas eu era muito gorda, então eu não gostava de fazer balé. Hoje em dia esse estereótipo não é tão forte, mas antes era. Então eu não conseguia saltar, era diferente das minhas amigas, e parei com as aulas. Fiz quatro anos de balé e parei. Eu só voltei quando tinha 12 anos, e continuo até agora. Nesse meio tempo, eu pratiquei algumas lutas e fiz jazz, porque tinha mais a ver com meu corpo. Daí eu fiz um regime, pois meus joelhos estavam destruídos por causa da obesidade – eu venho de uma família de gente obesa. Então era hora de parar, de meu corpo reagir, e decidi voltar para o jazz e emagreci. Enquanto isso, minha irmã continuou fazendo balé. Daí eu a vi e percebi que era isso que eu queria fazer, que eu gosto de música clássica. Saí de todas as outras atividades e fiquei só no balé.

E quando você começou a dar aulas? Como professora, eu iniciei as atividades com 15 anos, como auxiliar num baby class. Hoje em dia eu nem acho mais certo isso. Nas minhas turmas de baby class quem dá aula sou apenas eu. Não deixo nenhuma estagiária cuidar disso. Porque é a idade que eu considero a principal para o aprendizado de base, de valores, de técnicas. Então não deixo nenhum estagiário cuidar disso, mas eu comecei como auxiliar de baby class com 15 anos. Daí eu fui para a faculdade, cursei Educação Física, e continuei os cursos de balé, mas não como bailarina, mas como professora, já que eu me identificava muito mais com isso. Tanto que minhas alunas me perguntam se eu não gosto de dançar. E eu não gosto, eu gosto é de dar aulas, do backstage. Não me sinto bem em um palco, dançando. Eu gosto de mandar (risos).

E como você veio para Artur Nogueira? Eu sou de Mogi Mirim (SP) e conheço a Karoline Lucke [chefe de divisão de Cultura] há um bom tempo. Ela faz aula na minha escola, a Adagio Academia de Dança, e a conheci por causa das outras professoras que tem aqui. Na verdade, eu conheço todas as outras professoras da cidade. Eu penso que o balé é unificador. Apesar de a dança ter muita briga, ele é unificador. Então acaba que eu conheço muita gente. Eu vinha com frequência para cá, é uma cidade que eu sempre gostei muito. E sempre teve esse intercâmbio forte entre as cidades. Daí a Karol foi fazer aula lá. Ela é muito amiga nossa e me convidou. Acontece que meu horário lá na escola que eu gerencio é muito maluco. Porque eu cuido de tudo, desde a parte financeira até limpar bumbum de criança. E eu não sei delegar função. Eu faço tudo mesmo. Então quando a Carol me convidou eu não tinha horário, mas eu queria muito vir dar aula aqui. Isso porque eu gosto muito de escolas sociais. E calhou de esse projeto da Prefeitura ser uma escola social. Eu também gosto de dar aulas lá na minha escola, mas aqui é diferente. Lá eles me cobram o balé, aqui eu posso ir além.

Você trabalha com o método da Royal Academy of Dance, da Inglaterra, que inclui, além das aulas práticas, as aulas teóricas. O que as crianças aprendem nessas classes de teoria? A Royal é uma metodologia muito conceituada e tem o selo da rainha Elizabeth. Hoje nós tivemos uma aula teórica, e as alunas ficaram encantadas. Elas disseram que nunca haviam visto como que se escreve pliés [um movimento da dança]. Elas não faziam a menor ideia. Tem um exercício que se chama petit battement sur le cou-de-pied. E isso não é acessível a quem faz francês, imagina para quem não faz. E elas aprenderam isso hoje. Trouxeram caderno e tudo. Nós também tivemos aula de balé de repertório, que são balés muito antigos, do século 19, e dançados até hoje, com um grau de dificuldade enorme. Elas nunca tinham visto isso, não sabiam o que era. Já haviam ouvido falar do Lago dos Cisnes, do Quebra-Nozes, mas não sabiam de onde isso veio, o que era realmente. Então vimos vídeos das apresentações, mostrei como é uma bailarina de verdade. Porque eu não minto para ninguém: eu não sei fazer o que aquelas bailarinas fazem. Nunca estudei para isso e nunca quis isso. Eu sei ensinar, mas não sei fazer igual elas fazem. E foi muito legal a aula.

O que mais você pode falar da Royal Academy of Dance? Existem três grandes fortes metodologias no Brasil. A cubana, a russa e a inglesa. Existem outras, mas não sei falar. A que eu trabalho é a inglesa. Ainda não tenho o diploma de professora da Royal, quem tem é a minha irmã. Na verdade, ela está estudando para ser. Mas a Royal disponibiliza muitos cursos, e, desde que me conheço por gente, trabalho com a Royal. Eu tenho acesso a uma examinadora – são apenas sete no país. Então eu sou professora de balé, mas, como não minto, não tenho o registro da Royal. Eu estudei muito tempo o método, e estudo até hoje. Então ele possui os seguintes estágios: o Pre-Primary, Primary e grades (que são graus) de um a oito. Depois tem Intermediate FoundationIntermediateAdvanced FoundationAdvanced 1Advanced 2Solo Seal. Eu estou completando o Advanced Foundation, que é o que eu quero no momento. Ainda não decidi se farei o Advanced 1 e 2. Porque eu gosto de aprender e de dançar, mas prefiro estudar a parte didática. Enfim, eu adoro a Royal. Como estudei ela a vida inteira, não sei falar dos outros métodos, mas sou apaixonada pela Royal. Eu acho ela muito coerente com o corpo da bailarina. Por isso que eu falo que não precisa ser magra para fazer balé, porque a Royal consegue perceber a singularidade do aluno. Assim, é claro que o balé força, exige esforço, como toda atividade atlética. Ele machuca, não é anatômico, é difícil, é pesado, tem que treinar muito, mas acho que essa é a graça do balé – treinar muito, se esforçar, chegar ao limite, se desafiar.

E quais são as principais vantagens do balé para quem o pratica? Desenvolve o raciocínio e a lógica. Contribui para o desenvolvimento socioafetivo, a liberdade de expressão, a motricidade grossa, motricidade fina, ritmo, respiração e musculatura. Musculatura de bailarina é uma coisa linda. Não hipertrofiada, como de quem faz musculação. Ela é torneada, fica natural. Eu acho o balé fantástico. Antigamente, a natação era o esporte completo. Hoje é o balé. E eu concordo. Por que você tem que pensar até mesmo no ângulo do seu olho, onde ele vai se posicionar, além de calcular o peso, o eixo, a posição da perna, do quadril… é muita coisa para pensar ao mesmo tempo.

Você acha que o balé ainda é muito romantizado, que muitas pessoas ainda pensam no balé como algo leve e fofinho apenas? Sim, acho que ainda é muito romantizado. Lá na minha escola principalmente. Aqui acho que nem tanto, mas lá na Adagio as minha ainda chegam e dizem ‘Ah, mas ela adora dançar!’. Tá, mas ela adora dançar o quê? Porque existe balé, existe jazz, existe sapateado… e eu sou meio chata mesmo, então eu explico que balé é lúdico com as crianças, mas nem sempre. Para fazer balé, tem que gostar.

E o que é preciso para ser um bom bailarino ou uma boa bailarina? Força de vontade. Só isso.

Inscrições

Segundo o secretário municipal de Cultura, Edésio Lopes, as aulas de balé oferecidas pela Prefeitura atendem 160 crianças. “A demanda era de 140, mas já passamos a meta em 20 pessoas. No entanto, ainda estamos fazendo inscrições”, comenta. Essas inscrições extras ficarão na lista de espera das classes, e serão encaixadas nas aulas quando novas vagas surgirem.

De acordo com Lopes, 99% dos alunos em aula este ano se inscreveram em 2016. Os interessados, podem efetuar os cadastros no Centro Cultural Tom Jobim, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. A idade mínima é de 5 anos.

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