07/05/2016

Primeiro Fórum pela Diversidade de Artur Nogueira debate visibilidade de minorias

Assessor de Diversidade e Etnia do Estado de São Paulo destacou como poder público deve agir para garantir direitos a grupos minoritários.

O Primeiro Fórum pela Diversidade de Artur Nogueira discutiu na noite de sexta-feira (6) a visibilidade de minorias na cidade. No evento realizado no Auditório da Etec Monteiro Lobato, autoridades do Estado de São Paulo, do município, região e militantes de grupos feministas, LGBTs e do combate ao racismo apontaram as problemáticas enfrentadas na sociedade e como o poder público deve intervir para garantir mais visibilidade. Cerca de 50 pessoas assistiram.

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Compuseram a mesa o assessor de Diversidade e Etnia do Estado de São Paulo, Cássio Rodrigo; Coordenador do Capihv, de Limeira, Maycon Marabes; militante trans, Paula Ferreira; fundador do movimento LGBT de Artur Nogueira, Raoni Zopolato; militante do movimento de combate ao racismo e integrante do coletivo ModTrip, Cley Medeiros; estudante de Filosofia e militante feminista, Mari Pinheiro; e o guarda municipal Albino Degan. A conversa foi mediada pela jornalista Isadora Stentzler e durou duas horas.

Durante sua fala, Paula chamou atenção para como as mulheres trans são tratadas na sociedade e também por segmentos públicos. Ela lembrou o caso que aconteceu no Rio de Janeiro com a trans Verônica Bolina, que após agredir uma senhora foi espancada por policiais, teve a cabeça raspada e foi exposta pelos agentes na internet. “Ela cometeu um crime e deveria ser presa. Mas não deveria ser presa da forma como foi. Suzana Richthofen que matou os pais não foi espancada para ser levada à prisão. Os Nardoni não foram espancados para serem levados à prisão. Então Verônica também não deveria ter passado por isso”, defendeu.

Paula ainda citou a necessidade do debate de gênero chegar às escolas uma vez que existem crianças trans que desde a infância sabem sua identidade de gênero.

Assessor de Diversidade, Cássio destacou que um dos problemas sociais sobre a visibilidade LGBTT é a maneira como a mídia expõe esse grupo. De forma caricata, as novelas e filmes fazem do personagem homossexual alguém engraçado, se for homem, e se for mulher lésbica, como alguém com características extremamente masculinas. Paula acrescentou que o espaço para trans dentro desse segmento é ainda mais irrisório. Da série americana Orange is The New Black, ela citou o exemplo que uma atriz trans representa uma trans, o que é bom, mas que ainda precisa ser discutido. “Quando você assiste o filme do Batman, não é o Batman de verdade. O Superman não é uma pessoa que voa de verdade. Então por que a trans precisa ser trans?”, questionou. “Queremos que pessoas trans simplesmente tenham papeis, tenham visibilidade. E que ganhem isso não apenas para serem as trans.”

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Cássio ainda listou que cabe aos poderes terem nas suas gestões pessoas destacadas para realizar atividades para o segmento LGBTT a fim de dar visibilidade e amparo.

Em outra ponta do debate, Mari Pinheiro se solidarizou com a fala de Paula, dizendo que se hoje a mulher sofre na sociedade, há que se pensar na vivencia das mulheres trans, muitas vezes nem reconhecidas como mulheres.

A militante entrou em um assunto delicado e falou sobre o problema do machismo em uma das pontas mais extremas: o estupro.

Mari lembrou de uma situação que viveu na Unicamp em que leu no banheiro da universidade a frase “Todo homem é um estuprador em potencial. Repita: Todo homem é um estuprador em potencial”, onde abaixo dela haviam ameaças de homens dizendo que estuprariam as mulheres. “Nós mulheres precisamos andar juntas. Todo homem é sim um estuprador em potencial. E é preciso entender que isso acontece também dentro dos relacionamentos. Só é sexo consentido quando a mulher fala sim. Pois não é não e talvez também é não. Só é sim quando ela diz sim. Quando a mulher está sóbria e vai para a casa do cara sabendo o que irá fazer.”

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Raoni acrescentou que esse também é um problema dentro da comunidade LGBTT, em que o estupro acontece de forma corretiva por grupos homofóbicos que tentam transformar o gay “em homem”, e a lésbica “em mulher”.

Apesar do assunto ser delicado, ele foi mantido no debate, uma vez que é uma problemática enfrentada por todos os grupos.

Devido ao seu trabalho no Caphiv, de Limeira, Maycon Marabes que trabalha com pessoas portadoras do vírus do HIV disse que é necessário diante desses abusos e de qualquer relação sexual sem proteção buscar o posto de saúde para realizar exames rápidos. “Existe uma remédio que consegue matar o vírus em até 72 horas. Não é a cura para a Aids”, frisou. “Mas é uma forma de proteção que é oferecida gratuitamente pelo SUS”.

Um dos pontos autos do Fórum foram os debates sobre a criminalidade, protagonizados por Cley Medeiros e o guarda Degan.

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Segundo Cley as policias possuem um perfil de criminoso e que ele se enquadra na pessoa negra. Ele citou casos em que amigos foram barrados por agentes na cidade em situações corriqueiras simplesmente por serem negros. “A polícia persegue uma cor. Isso é reflexo da sociedade que ainda não vê no negro, na negra, um agente político e social.”

Degan se defendeu falando que “há agentes e agentes” e que a polícia segue um protocolo de treinamento.

Questionado pela mediadora sobre um caso de Artur Nogueira em que um rapaz negro estaria em estado vegetativo após ser perseguido pela polícia, Degan disse que o rapaz se envolveu em acidente após reagir a abordagem policial e lamentou o incidente. “Infelizmente ele está hoje em estado vegetativo.”

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Encontro

Na tarde desse sábado (7), os eventos do 5º Encontro LGBT de Artur Nogueira começam a partir das 20 horas na praça do Coreto com Companhia de Dança Eliane Carneiro, Stefani Diovanna, Washington Duarte, Gloria Groove, Renan Vanzella e DJ Tigger. Já no domingo (8) o encontro inicia a partir das 13 horas com 24 atrações, entre elas a  presença de Léo Áquila, Paula Queen e Thália Bombinha.


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