28/08/2017

Pedagogas de Artur Nogueira falam sobre importância da inclusão escolar

Termina, nesta segunda-feira (28), a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla

Da redação

Termina, nesta segunda-feira (28), a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, uma data criada pela Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) para dar espaço a debates e reflexões sobre igualdade e inclusão na sociedade e na escola. De acordo com o Censo Escolar realizado pelo MEC em 2015, aproximadamente 900 mil alunos com algum tipo de deficiência estão matriculados em todos os níveis da educação básica.

Eunice Rocha Francisco, graduada em Letras, pós graduada em psicopedagogia, direito educacional, e Irene Rocha Steiger – pedagoga e mantenedora do colégio Futura Plus falam das dificuldades de proporcionar essa inclusão no dia a dia escolar e fornecem orientações para professores e diretores com base em experiências que deram certo.

O que é educação inclusiva?

Eunice: Educação inclusiva é aquela que atende as necessidades físicas e psicológicas de todos. É quando você dá suporte para que a criança seja incluída em uma atividade mesmo que ela não tenha a mesma habilidade que o colegas.
Irene: É um ensino que alcança a todos com aulas planejadas e preparadas pensando nas diferenças cada um.

Outro termo utilizado é “integração” do portador de deficiência. Qual a diferença entre inclusão e integração?

Eunice: Não existe a integração sem inclusão. Integrar é colocar a criança em todas as atividades do dia a dia junto com outras. Já incluir é dar o suporte necessário para que, além de estar no meio, esta criança consiga participar das atividades e se desenvolva, dentro da sua necessidade, bem como acontecerá com os outros alunos. Fazer com que essa criança especial se sinta parte do grupo.
Irene: Apenas a integração pode gerar a exclusão. Por mais que a criança tenha a oportunidade de estar no meio das outras em uma brincadeira não significa que ela se sentirá apta a fazê – la. Na integração, levamos em conta o que todos devem aprender para bolar a aula. Já na inclusão, pensamos no que cada criança precisa e pode fazer para contribuir com a atividade e dessa forma, participar da aula.

O professor de Artur Nogueira está preparado para a inclusão?

Eunice: Não. Os professores raramente têm uma boa base acadêmica ou alguma especialização na área de educação especial. Muitas universidades fazem de matérias como libras, por exemplo, matérias optativas e à distância. Isso facilita a vida do aluno no sentido de nota, mas cria profissionais despreparados para lidar com essa realidade muito recorrente em escolas públicas e particulares. Isso é uma pena, pois os alunos que têm necessidades é que pagam o preço no fim das contas.

Quais as principais dificuldades para se conseguir uma inclusão efetiva em Artur Nogueira?

Irene:  Além da falta de preparo da grande parte dos professores, a maior dificuldade que vejo é a falta de suporte e material para lidar com alunos com necessidades especiais.  Rampas de acesso  e corrimões são itens facilitadores e básicos que toda a instituição deve ter. Entretanto, materiais didáticos específicos para certos tipos de dificuldade, psicólogos, fisioterapeutas e professores especializados em educação especial muitas vezes são necessários para que o aluno aprenda. Isso demanda alto custo e, em geral, não cabe no orçamento do município, Estado ou instituição privada.

O preconceito sobre o tema como uma barreira a ser derrubada?

Eunice: Sim, entretanto, o preconceito quase nunca vem da parte dos alunos. O que há é estranhamento por nunca terem visto e convivido com coleguinhas diferentes deles. Com o tempo esse estranhamento passa pois, em muitos casos, a atitude das crianças é reflexo do comportamento dos pais. Por isso aconselho aos pais a nunca olharem com cara de dó para um deficiente ou incentivarem as crianças a sentir pena . Os pais devem ensinar os filhos a tratar essas pessoas como iguais, respeitando as restrições de cada um.

O que muda no convívio entre os alunos regulares e aqueles que possuem necessidades especiais?  

Irene: A mudança no tratamento com o coleguinha é que fica mais evidente nas crianças. Lembro de uma vez em que um pai me contou que possui um sobrinho deficiente. Seu filho mais novo tinha medo do primo e nunca chegava perto. Entretanto, depois de dois meses em que o filho passou a ter um colega de sala com necessidades especiais, a convivência do garoto com o primo deficiente melhorou muito. Para este pai, o momento mais marcante foi vera criança limpar a baba do primo numa reunião de família, e essa cena foi inesquecível.

O que pode ser feito para envolver as famílias de Artur Nogueira num trabalho voltado para a inclusão?

Eunice: Há um trabalho muito grande que deve ser feito pelas escolas e professores para incluir e integrar estes alunos à turma. Muitas vezes, as aulas podem se tornar mais didáticas e inclusivas com adaptações feitas com meterias simples, como papelão ou cartolina. Um cartaz sobre conscientização pendurado na parede já é um primeiro passo. Se a escola não fornece esses materiais, ao menos os professores devem tratar de se informar e participar de treinamentos que os deixem aptos para ensinar alunos com deficiências. Hoje existem muitos cursos on line e gratuitos onde é possível se capacitar.

Irene: Uma ferramenta que dá certo é mudar a visão dos alunos sobre o que é ser um deficiente. Em muitas escolas, as crianças que com dificuldades são deixadas de lado e vistas como um empecilho. Já nas minhas turmas, logo no primeiro dia de aula apresento os alunos deficientes como heróis que vencem os desafios da vida todos os dias. As crianças passam a enxergar os coleguinhas dessa maneira, inclusive disputam para ver quem será o ajudante do herói do dia.


Impactos Positivos da Educação Inclusiva

Cristiane Braseiro é mãe de Pedro, um aluno de cinco anos que tem paralisia cerebral e estuda na escola em que as pedagogas Eunice e Irene atuam. Cristiane conta que a inclusão praticada no local foi importante para ela e para o filho, pois ambos aprenderam lições.  “Amadureci vendo que outras pessoas são capazes de cuidar do meu filho tanto quanto eu, atendendo as necessidades dele”, afirma.

A mãe relata que colocar o filho na escola fez com que ele se enturmasse pois, apesar de possuir deficiência ele é uma criança como as outras, que gosta de brincar e de estar perto de outras crianças. “Ele não consegue fazer tudo como os outros, mas gosta de participar”, ressalta a mãe. “Com inclusão e integração isso é possível”, reitera.

Cristiane finaliza dizendo que falar sobre inclusão é importante para outras crianças já que muitas não sabem como lidar com a deficiência porque não têm a oportunidade de estar próximas de um deficiente. A instituição em que Pedro estuda possui cinco alunos com deficiência, sendo que dois têm paralisia cerebral, dois são autistas e um possui problemas auditivos.

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