16/12/2012

ARTIGO: Palmeira solitária

ARTIGO ESCRITO POR Camilo Martins Palmeira de coco Babaçu no centro da cidade, na praça do coreto e o cacho com os frutos Já faz algum tempo, descobri, no centro da cidade de Artur Nogueira, na praça do coreto, uma palmeira diferente das que temos, normalmente por aqui, pelo sudeste do Brasil. Trata-se da Palmeira […]

ARTIGO ESCRITO POR Camilo Martins

Palmeira de coco Babaçu no centro da cidade, na praça do coreto e o cacho com os frutos

Já faz algum tempo, descobri, no centro da cidade de Artur Nogueira, na praça do coreto, uma palmeira diferente das que temos, normalmente por aqui, pelo sudeste do Brasil.

Trata-se da Palmeira de Coco BABAÇU. Típica do cerrado Brasileiro e sobrevivente apenas de clima quente e úmido, é vista mais em alguns estados do Nordeste e Norte do país.

Por isso foi para mim uma grata surpresa, pois toda a minha infância, na Capital do Piauí e na minha cidade natal, Agricolândia, distante há 87 km de Teresina, eu vivi cercado de Palmeiras de coco Babaçu. Por muitas vezes ia à casa das minhas tias e primas para ver as mulheres ali quebrando coco e eu me esbaldava de comer os coquinhos [Sementes], frutos do coco Babaçu. Elas assavam em um forno de barro e depois faziam azeite, [usado em toda a culinária local], sabão e das cascas ainda faziam carvão.

Em 2011 eu fiz esta poesia, entre tantas outras sobre esta Palmeira, com a saudade da minha terra:


Palmeira

À beira do caminho, e eu passando cansado…
Aquela palmeira linda, altaneira e frondosa!
O encostar-me nela era inevitável e o respirar…
Oh! Como esquecer aquele aroma tão peculiar!

O que seria aquele caminho sem a tua presença…[?]
Que fortalecia meu amor e toda a minha crença!
Mesmo ao longe, depois, lá em cima da serra…
Ficava a olhar o forte vento que nunca te erra!

O farfalhar das palhas, como um maestro a reger,
Uma linda e grande orquestra, a mata ao teu redor!
O som do balançar dos galhos, sinfonia em ré e dó.

Eu, fazendo parte desta história, assim, sem merecer!
Na imensidão do meu mundo, a pequenez do momento,
Que guardo até hoje… Com amor, no meu pensamento.

Poeta Camilo Martins
Aqui, hoje, 08.10.2011

Ao me deparar com a Palmeira do Babaçu, aqui, tão distante do seu “habitat natural”, eu fiz esta poesia:

 

Palmeira de Babaçu

Como viestes parar aqui, amor da minha infância,
Tu que por muito tempo me embalaste em sonhos?
Ouço, Deus, até hoje, a vovó cantando, “constância”,
A música que me encantava, e nos deixava risonhos!

Longe, o farfalhar das folhas das palmeiras de babaçu
Com seu barulho a se juntar aos cantos dos passarinhos!
No amanhecer, ia mais ligeiro, que num rio a igaraçu…
Na casa de quebrar coco, comer coco e ver os ninhos!

Hoje, me deparo, no centro de Artur Nogueira, na praça,
Com uma palmeira de babaçu… Como veio parar aqui… (?)
Veio aqui pra me fazer lembrar, chorar, ficar sem graça?

Como se não bastasse ter lembrado, da chapada, do pequi…
Ah! Meu coração que desfalece na saudade! Bela palmeira,
De coco reluzente! Reluz na minha pobre vida passageira…

Poeta Camilo Martins
Aqui, hoje, 24.11.2012 – 16:32
Estilo: Soneto

Palmeira de Babaçu no centro de Artur Nogueira

Saí em busca de informações sobre a Palmeira de Babaçu que havia descoberto no centro da cidade de Artur Nogueira. Conversei primeiramente com José Modulo, morador há 73 anos na mesma Rua, Dr.Fernando Arens, no centro de Artur Nogueira. José Modulo é comerciante de sucesso e foi vereador. Mas me disse que há bem pouco tempo havia também se deparado com a Palmeira “diferente” e que não sabia de que tipo se tratava. Deu-me a dica que, quem poderia me dizer era Pedro Guidotti, posto que foi um funcionário antigo da Prefeitura Municipal, cuidando da parte de arborização. Fui à procura do meu amigo, ex-prefeito Cláudio Alves de Meneses, mas ele não soube me precisar também quem havia plantado ali a Palmeira de Babaçu. Conversei então com Ademir Giroldi, funcionário da Prefeitura e ele me confirmou que, quem me poderia dizer sobre a vinda da Palmeira para a cidade e quem havia plantado era mesmo Pedro Guidotti. Mas, no entanto, me deu uma informação preciosa, que no sítio São Caetano, de propriedade do seu tio, Osvaldo Caetano, havia uma Palmeira “dessas” [pois Ademir Giroldi não sabia de que tipo de palmeira se tratava].

Fui encontrar-me com Pedro Guidotti. Encontrei-o em casa e depois de uma pequena prosa e dizer do que se tratava fomos até a praça para que ele se lembrasse da Palmeira. Ele me disse que aquela Palmeira [pois até então não sabia que se tratava de uma Palmeira de Babaçu] foi comprada em uma venda de mudas, em Limeira/SP. Pedro Guidotti plantou-a ali na Praça Laudo Natel em 1989, na administração do saudoso Prefeito Ederaldo Rosseti.

De posse da informação fornecida anteriormente por Ademir Giroldi, fui, acompanhado dos meus amigos Pedro Briono [Meu conterrâneo, do Piauí] e Horácio da Silva, até o sitio do Osvaldo Caetano o qual nos recebeu muito bem e nos mostrou a palmeira, a qual confirmamos que se tratava mesmo da Palmeira de Babaçu. Osvaldo Caetano nos deu a informação de que a Palmeira de Babaçu foi lhe presenteada por Aristeu Boer, do sitio vizinho ao seu, ainda só o coco e que já estava plantada ali há trinta anos. De fato a Palmeira de Babaçu tem já uns 15 metros de altura, como crescem cerca de meio metro por ano, é provável que tenha mesmo essa idade. Colhemos alguns cocos já secos pelo chão e tiramos essas fotos que aí estão na matéria.

A Palmeira de Babaçu e cocos do sitio São Caetano, de propriedade de Osvaldo Caetano, em Artur Nogueira/SP

Agora, aqui está o histórico desta árvore tão útil, e que é aproveitada inteirinha!

Babaçu

Nome popular: baguaçu = coco-de-macaco
Nome científico: Orrbignya speciosa (Mart.) Barb. Rodr.
Família botânica: Palmae
Origem: Brasil – Região amazônica e Mata Atlântica na Bahia.
Maiores produtores de Babaçu do Brasil: Piauí e Maranhão

Características da planta: Palmeira elegante que pode atingir até 20 m de altura. Estipe característico por apresentar restos das folhas velhas que já caíram em seu ápice. Folhas com até 8 m de comprimento, arqueadas. Flores creme-amareladas, aglomeradas em longos cachos. Cada palmeira pode apresentar até 6 cachos, surgindo de janeiro a abril.

Palmeiras de Babaçu no Piauí         Podem apresentar em média 6 cachos             O cacho pode ter mais de 100 cocos

Fruto: Frutos ovais alongados, de coloração castanha, que surgem de agosto a janeiro, em cachos pêndulos. A polpa é farinácea e oleosa, envolvendo de 3 a 5 sementes oleaginosas.

Frutos do Coco Babaçu

Cultivo: Cresce espontaneamente nas matas da região amazônica, com produção de aproximadamente 2.000 frutos anualmente cada palmeira, porém não suporta longos períodos.

O babaçu é uma das mais importantes representantes das palmeiras brasileiras. Sobre este gênero de plantas, afirmou Alpheu Diniz Gonsalves, em 1955, que “é difícil opinar em que consiste a sua maior exuberância: se na beleza dos seus portes altivos ou se nas suas infinitas utilidades na vida da humanidade” E esta é a mais pura verdade!

O babaçu destaca-se entre as palmeiras encontradas em território brasileiro pela peculiaridade, graça e beleza da estrutura que lhe é característica: chegando a atingir entre 10 a 20 metros de altura, suas folhas mantêm-se em posição retilínea, pouco se voltando em direção ao solo; orientando-se para o alto, o babaçu tem o céu como sentido, o que lhe dá uma aparência bastante altiva.

 Praça Gonçalves Dias – O grande poeta Maranhense cantou a palmeira do Babaçu

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.”

Antonio Gonçalves Dias [Nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá (a 14 léguas de Caxias). Aos 41 anos morreu em um naufrágio do navio Ville Bologna próximo a região de Baixos dos Atins no município de Tutóia, próximo dos Lençóis maranhenses, em 3 de novembro de 1864] escreveu estes versos quando estava no exílio, com saudades de sua terra e de sua gente. Nesta linda praça, no centro da capital maranhense, São Luiz, em sua homenagem, lá está ela, a centenária e majestosa Palmeira de Babaçu, ao lado do obelisco, com sua estátua, às margens do rio Anil.

Atualmente, no Brasil, encontram-se vastos babaçuais espalhados ao sul da bacia amazônica, onde a floresta úmida cede lugar à vegetação típica dos cerrados. São os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins que concentram as maiores extensões de matas onde predominam os babaçus, formando, muitas vezes e espontaneamente, agrupamentos homogêneos, bastante densos e escuros, tal a proximidade entre os grandes coqueiros.

Babaçuais a perder de vista no Piauí, Maranhão e no Tocantins

É muito provável que nessa mesma região, antes mesmo dos europeus aqui aportarem, já existissem babaçuais de relevante significado para as populações indígenas locais. Câmara Cascudo nos conta que, já em 1612, o frei viajante Claude d’Abbeville informava sobre a importância dos “frutos da palmeira” na alimentação dos indígenas do nordeste do Brasil, “lá nas bandas de Pernambuco e Potiú” Tal palmeira era, provavelmente, o babaçu, batizada na língua tupi de uauaçu.

No entanto, estes antigos babaçuais estavam diluídos em meio a áreas de alta complexidade e variedade biológica, de forma muito diferente do que ocorre atualmente: vastos e homogêneos babaçuais crescendo sem parar.

Como afirmam os pesquisadores Anthony Anderson multiplica-se por sementes. Prefere clima quente, em cultivo e Peter May diz que foram os desmatamentos periódicos com queimadas sucessivas os principais causadores do grande aumento dos babaçuais, especialmente na Região Nordeste do Brasil. Estas práticas, relacionadas a uma agricultura itinerante, são frequentemente utilizadas com o objetivo de eliminar os próprios babaçuais tendo, porém, um efeito contrário. Explica-se: logo após uma grande queimada, são justamente as “pindovas” de babaçu – palmeirinhas novas – as primeiras a despontar. Isto porque, sabe-se hoje, o babaçu é extremamente resistente, imune aos predadores de sementes e tem uma grande capacidade e velocidade de regeneração. Com a queima do babaçual e da vegetação ao seu redor, seus principais competidores vegetais são eliminados, abrindo maior espaço para o seu desenvolvimento subsequente.

O principal produto extraído do babaçu, e que possui valor mercantil e industrial, são as amêndoas contidas em seus frutos. As amêndoas – de 3 a 5 em cada fruto – são extraídas manualmente em um sistema caseiro tradicional e de subsistência. É praticamente o único sustento de grande parte da população interiorana sem terras das regiões onde ocorre o babaçu: apenas no Estado do Maranhão a extração de sua amêndoa envolve o trabalho de mais de 300 mil famílias. Em especial, mulheres acompanhadas de suas crianças: as “quebradeiras”, como são chamadas.

Mulheres quebradeiras de coco babaçu

Não obstante as inúmeras tentativas de se inventar e implementar a utilização de máquinas para a realização da tarefa, a quebra do fruto tem sido feita, desde sempre, da mesma e laboriosa maneira. Sendo a casca do fruto do babaçu de excepcional dureza, o procedimento tradicional utilizado é o seguinte: sobre o fio de um machado preso pelas pernas da “quebradeira”, fica equilibrado o coco do babaçu; depois de ser batido, com muita força e por inúmeras vezes, com um pedaço de pau, finalmente, o coco parte-se ao meio, deixando aparecer suas preciosas amêndoas.

De maneira geral, praticamente todas as palmeiras em especial o dendê, o buriti e o babaçu – concentram altos teores de matérias graxas, ou seja, gorduras de aplicação alimentícia ou industrial. Assim, o principal destinatário das amêndoas do babaçu são as indústrias locais de esmagamento, produtoras de óleo cru. Constituindo cerca de 65% do peso da amêndoa, esse óleo é subproduto para a fabricação de sabão, glicerina e óleo comestível, mais tarde transformado em margarina, e de uma torta utilizada na produção de ração animal.

Mas não é só isso! Apesar de demorar para atingir a maturidade e começar a frutificar, do babaçu tudo se aproveita, também como acontece com a maioria das palmeiras. Especialmente nas economias de subsistência e em regiões de pobreza.

É muito grande a variedade de artesanato produzido com derivados da Palmeira do Babaçu

Suas folhas servem de matéria-prima para a fabricação de utilitários – cestos de vários tamanhos e funções, abanos, peneiras, esteiras, cercas, janelas, portas, armadilhas, gaiolas, etc. – e como matéria-prima fundamental na armação e cobertura de casas e abrigos. Durante a seca, essas mesmas folhas servem de alimento para a criação.

Casa com cobertura e paredes da palha do babaçu e cestos feitos com a palha

O estipe do babaçu, quando apodrecido, serve de adubo; Se em boas condições, é usado em marcenaria rústica. Das palmeiras jovens, quando derrubadas, extrai-se o palmito e coleta-se uma seiva que, fermentada, produz um vinho bastante apreciado regionalmente.

As amêndoas verdes – recém-extraídas, raladas e espremidas com um pouco de água em um pano fino fornecem um leite de propriedades nutritivas semelhantes às do leite humano, segundo pesquisas do Instituto de Recursos Naturais do Maranhão. Esse leite é muito usado na culinária local como tempero para carnes de caça e peixes, substituindo o leite de coco-da-baía, e como mistura para empapar o cuscuz de milho, de arroz e de farinha de mandioca ou, até mesmo, bebido ao natural, substituindo o leite de vaca.

A casca do coco, devidamente preparada, fornece um eficiente carvão, fonte exclusiva de combustível em várias regiões do nordeste do Brasil. A população, que sabe aproveitar das riquezas que possui, realiza freqüentemente o processo de produção do carvão de babaçu durante a noite: Queimada lentamente em caieiras cobertas por folhas e terra, a casca do babaçu produz uma vasta fumaça aproveitada como repelente de insetos.

Carvão feito com a casca do Babaçu

Outros produtos de aplicação industrial podem ser derivados da casca do coco do babaçu, tais como etanol, metanol, coque, carvão reativado, gases combustíveis, ácido acético e alcatrão.

Apesar de tantas e tão variadas utilidades, por sua ocorrência não controlada do ponto de vista econômico e agrícola, o babaçu continua a ser tratado como um recurso marginal, permanecendo apenas como parte integrante dos sistemas tradicionais e de subsistência.

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Camilo Martins é escritor, jornalista e poeta residente em Artur Nogueira/SP. É presidente da Academia Nogueirense de Letras – ANL e presidente da Academia de Letras do Brasil-Região Metropolitana de Campinas-ALB/RMC. Membro da Academia Limeirense de Letras – ALLe e da Academia de Letras do Médio Parnaíba/Amarante-PI.

 

Fontes: http://www.biodieselbr.com
http://pt.wikipedia.org
http://www.ruralnews.com.br
http://www.arara.fr

Fotos: 4 primeiras ilustrativas da matéria – Lucas Camilo Martins

Fotos dos produtos feitos à partir do coco babaçu como o Óleo. Sabonete, Sabão e farinha de Babaçu: http://www.centraldocerrado.org.br

Demais fotos ilustrativas da matéria: www.google.com.br


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