09/03/2016

Brasil: Nada a comemorar

“A desgraça que tem caído sobre nós, não é mais do que o fruto da cobiça e da luta pelo poder, características próprias de falência múltipla de governos e instituições. Exemplos em toda a parte do planeta não faltam”

Os recentes acontecimentos nos perturbam. Vimos e ouvimos milhares de pessoas comemorando prisões destes e daqueles. Desnecessárias comemorações. Não se comemora falência de valores morais, incitações ao ódio e à violência. Há de se comemorar momentos de instituições que estão na fronteira entre a moral e o amoral, entre o estabelecimento de padrões falidos de moralidade, negando o óbvio em detrimento dos fatos que se avizinham? Comemoramos vitórias e não derrotas. O que estamos vendo são fatos reais de conceitos destorcidos, caracteres corrompidos e a insistência de uma minoria em permanecer no topo do poder político e financeiro, enquanto toda uma nação caminha a passos largos para o abismo do desemprego, fome, miséria e solidão que se não cuidarmos, em pouco tempo, seremos fugitivos de nós mesmos, como um navio sem um porto seguro para atracar.

A desgraça que tem caído sobre nós, não é mais do que o fruto da cobiça e da luta pelo poder, características próprias de falência múltipla de governos e instituições. Exemplos em toda a parte do planeta não faltam.

Corrupção na Câmara dos deputados, corrupção no senado da república, e corrupção na presidência da república. Corrupção nos Estados e Municípios. Corrupção nas empresas, corrupção da raça humana. É real a ferida que se abriu no nosso país. Ferida que vai levar muito tempo para cicatrizar-se. Mas, vamos comemorar a doença? Não. Só os loucos suprimem a realidade e a traduz por algo que se deve festejar.

O Brasil de hoje é um Brasil de luto! Não se festeja luto, se chora nele. Estamos olhando para os nossos problemas como se fôssemos torcidas organizadas nos estádios, quando o eventual criminoso é atingido pela lei de forma mais rigorosa, levantamos e comemoramos como se fosse um gol do nosso time. Esquecemos que o nosso time é o Brasil com todos os brasileiros e que a minoria, pessoas, partidos políticos, ou o que seja, não podem absolutamente sublevar os valores de uma nação inteira ou impedir a felicidade geral da nação e o legado de “ordem e progresso” do nosso pavilhão nacional.

O Brasil é hoje o que já construiu com sangue, suor e lágrimas. Será que temos que retroceder e repetir a cena do nosso magnânimo imperador às margem do riacho Ipiranga e gritar “Independência ou morte?” ou ressuscitar Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, para dizer: “Liberdade ainda que tardia”? Necessitamos sim é de uma profunda reflexão sobre nós mesmos.

Estamos é constrangido, envergonhados pelos acontecimentos e a repercussão mundial, colocando o nosso país como um dos mais corruptos do mundo e as manchetes que estão estampadas em toda a mídia do planeta é como se estivessem escritas no nosso rasgado coração, com letras escritas com sangue. Não temos nada a comemorar hoje no Brasil. Estamos de luto absoluto. O mundo todos está olhando para nós, na expectativa do desenrolar dos acontecimentos e perguntando: Será que vão conseguir sair dessa?

Devemos hoje plantar lágrimas de sangue para ver se num futuro bem próximo poderemos colher esperança. O único sentimento que nos resta e que pode nos unir. Lutar pelo bem comum, sim, mas com dignidade, não com sentimento de “vai-te para lá, por que eu sou mais santo do que tu.” (Isaías 65:5)

Devemos lamentar a atitude errada do próximo, se ele praticou é por que é fraco. Passível de punição perante a lei, sim, mas necessitado de compaixão e misericórdia. Diz a bíblia: “Quem está em pé cuide que não caia.” (I Cor. 10:12)

– Certa vez trouxeram diante do General e Imperador Grego, Alexandre, o grande, (356 a.c – 323 a.c) um soldado para ser julgado. A sala de audiência estava repleta com o alto escalão do exército de Alexandre. Diante do rei, aquele jovem soldado, apavorado, pele rosada, olhos claros, arregalados, aguardando o veredicto, que implacavelmente era a morte. “- Qual é a acusação?” Perguntou o general Alexandre. “-Ele estava dormindo em serviço, ele era o sentinela, meu majestade”, disseram os oficiais. E quando todos aguardavam a sentença de morte, comum naqueles casos, a face do rei mudou-se, e a ira que lhe era comum, deu lugar a uma expressão de compaixão e misericórdia. O rei ergueu-se do seu trono e foi ao rapaz e perguntou-lhe: “- Qual é o seu nome, soldado? ‘ ” – Alexandre, meu senhor!”-respondeu o rapaz, viu, tenho o mesmo nome que o seu… Ao ouvir aquilo, a face do rei transformou-se novamente e este voltou a perguntar, já agora visivelmente perturbado: “-Qual é o seu nome”? ” O moço, que até então estava de cabeça baixa, pondo-se de pé e prestando continência disse: “-Alexandre, Senhor!”. Enfurecido, Alexandre, o Grande, olhando para aquele rapaz, gritou: “-SOLDADO, OU VOCÊ MUDA DE ATITUDE OU MUDA O SEU NOME!”

Como ordenou Alexandre, o grande, ao soldado, devemos ser estimulados a mudar de atitude diante das desgraças que vemos e ouvimos.

Se eu disser que sou cristão, mas faço uma crítica condenatória a uma pessoa, ou vou sorrir e festejar a desgraça do meu próximo, já não sou cristão, por que Cristo não fazia isso. Neste caso ou mudo de atitude ou mudo de nome.

Temos problemas gravíssimos no Brasil? Temos, é fato. Jesus Cristo não disse que seria diferente, ao contrário disse: “No mundo tereis aflições, mas tende bom animo, eu venci o mundo.” (S.João 16:33)

Vencemos o mundo se deixarmos que a esperança vença definitivamente o medo, se confiamos em um ser todo poderoso que existe em algum lugar deste vasto universo e que está atento a tudo, como um olho que tudo vê e sabe perfeitamente a hora de executar a sua justiça e o culpado pague pelo erro.

Estamos no mesmo planeta, corrompido até o último átomo pelo pecado, ninguém escapa, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23) e “não há um justo, um sequer”. (Romanos 3:10)

Brasil, hoje: nada a comemorar.

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Camilo Martins é presidente da ANL – Academia Nogueirense de Letras


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