22/12/2013

O Escândalo do Natal

OPINIÃO: Padre Élcio fala sobre a essência do nascimento de Jesus

Por Pe. Élcio Roberto Medeiros

“O amor humilde é uma força formidável, a maior de todas, como não existe outra” (Dostoiévski)

Dezembro, nossas ruas e cidades ganham um rosto festivo, e o coração humano ganha um rosto menino. Os sinais são claros. Uns sinais ficam a piscar toda a noite, outros, fazem mudar a estação do ano, neve em pleno verão no hemisfério sul.  Sinais religiosos ou sinais comerciais, algo é certo: todos estes sinais apontam para o Natal.

Não desejo, com este texto, contribuir para mais uma crônica crítica, apontando a sobreposição do comércio e da venda sobre o sentido primeiro do Natal. Creio, que todos nós, já o sabemos ou intuímos que o Papai Noel, garoto propaganda do comércio, cada ano mais, se sobrepõe ao Menino Jesus, protagonista autêntico da festa.

O Natal é um convite a atualizarmos em nossas vidas, a cada ano, aquele evento primeiro, onde o céu se uniu com a terra: o mistério da encarnação de Deus na humanidade. Um Deus que se faz humano para apontar-nos o caminho da salvação. O que desejo é partilhar com o(a) leitor(a), a chocante, comovente, e para muitos, escandalosa imagem de Deus presente no nascimento de Jesus, Afinal, “onde já se viu isso?! Deus ser simples e pobre?! Jamais!”

É chocante contemplar que Deus, sendo Ele Todo-Poderoso, despoja-se de seu poder e se rebaixa a se fazer humano, como cada um de nós, exceto no pecado. É comovente perceber que Deus se faz humilde no bebê de Belém. Ele que é Onipotente, fica à mercê da maldade humana, sua defesa está unicamente na liberdade de ação de seus pais, Maria e José. Ele se despoja de todos seus atributos divinos para poder ser totalmente humano. No neném de Belém, Deus humaniza a divindade para divinizar a humanidade. Essa é uma máxima na teologia: Tudo o que precisa ser redimido tem que ser antes assumido. Para redimir o gênero humano, ele assumiu totalmente o ser humano, sendo um de nós, que nasce dependente dos cuidados de seus pais para sobreviver, cresce e tem de aprender a falar, ler, assumir valores, até o último ponto humano, a morte. Ele também assume a morte e a transforma em Ressurreição. E é justamente porque se faz pequeno, é que é grande!

Parece que Deus não é muito apegado ao poder, ou aos atributos que este lhe confere.

Muitos cristãos gostam de ressaltar somente este aspecto de Deus: seu poder, sua soberania, que Ele é Todo-Poderoso, Onisciente… Estamos acostumados a pensar Deus nos parâmetros do poder. Vou aqui contar um segredo, mas tenho que contá-lo ‘baixinho’, porque muitos “religiosos” não gostam de assumir essa verdade… Mas muitos deles adoram ressaltar a Onipotência de Deus, porque assim justificam e legitimam seu próprio ‘poder religioso’ sobre o povo. Pouco se fala de sua capacidade de humildade.

Creio que Deus de fato é “digno de louvor e o teu nome deve ser glorificado para sempre” (Dn 3,26). Contudo, na festa do Natal, percebemos que o que deve em Deus ser glorificado eternamente não é seu poder, mas sim seu amor humilde. É um paradoxo divino, mas na humildade de Deus é que reside sua força!

O Natal convida-nos a olhar para Deus e o reconhecê-lo na fragilidade de um bebê. Deus é um Deus Humilde! Deus é um Deus Ternura! Deus é um Deus Misericordioso! Deus é um Deus Amoroso! Como nos diz o Papa Francisco: “Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da Ternura”.

Rogo que a Ternura, a Humildade, a Misericórdia e o Amor de Deus, celebrado nascimento do menino do Cristo em Belém não lhe escandalize, não lhe cause espanto ou repulsa, mas sim admiração e contemplação. E que esta admiração e fé lhe lance a ser-humilde e a ser-ternura com todos os seus irmãos, não importa sua profissão de fé, sua raça, sua condição econômica. Deus nos salva, não pela igreja que colocamos nossos pés, mas sim pela quantidade de ternura, amor e partilha capazes de fazer nossas mãos. (Mt 25, 31-46)

Desejo, um Feliz e Abençoado Natal! A Festa do Deus Humildade e Amor-Ternura!

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Elcio
Padre Élcio Roberto Medeiros é o responsável pela Paróquia Santa Rita de Cássia


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