30/04/2017

Novo presidente do PT de Artur Nogueira analisa cenário do partido e gestão Vicensotti

Marcos Roberto Campos também falou sobre importância da greve geral e motivos para se manter fiel à sigla

Alysson Huf

Os constantes escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) nos últimos anos enfraqueceram a sigla em todo o país. A popularidade das coalizões esquerdistas caiu drasticamente, e o grupo teve resultados pouco satisfatórios nas últimas eleições municipais, em 2016. Apesar disso, o PT sobrevive.

Em Artur Nogueira, mesmo com a imagem desgastada, o partido possui um novo presidente: Marcos Roberto Campos, de 34 anos, que é atual assessor parlamentar do deputado estadual Marcos Martins (PT). Casado e pai de três filhos, Campos é formado na área de gestão pública e atuou como secretário de Educação por um ano e como diretor de Cultura por sete anos na cidade, isso durante a gestão do então petista Marcelo Capelini (2004-2011).

Ele tem pela frente o desafio de tentar reestruturar a sigla na cidade, que, apesar dos mais de 300 afiliados, vê pouco envolvimento por parte de seus membros e ainda menos aceitação diante do público. Apesar de ainda não ter assumido oficialmente a direção do partido no município, o assessor já planeja a reorganização do partido e acredita numa recuperação da força política a longo prazo.

Em conversa com o Portal Nogueirense, Campos analisou o atual cenário do PT em Artur Nogueira, teceu comentários sobre a gestão Ivan Vicensotti e ponderou a respeito da greve geral da última sexta-feira (28).

Confira na íntegra:

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Como você avalia o atual cenário do PT no município? O cenário do PT em Artur Nogueira sob dois motivos: Um é a desestruturação do partido, pelo que vem acontecendo nos últimos anos. E o outro é pelo cenário nacional, que acaba afetando o partido em Artur Nogueira. Há um esvaziamento. As pessoas acabam generalizando o que acontece na esfera nacional, e isso reflete na organização do partido aqui em Artur Nogueira.

Quem são os principais representantes do partido em Artur Nogueira? Houve um esvaziamento do partido na cidade, mas a gente preserva ainda algumas lideranças, além das lideranças das comunidades e bairros da cidade. Entre elas, o ex-vereador Marcos Capelini, que ainda faz parte do PT e é hoje uma das principais lideranças do partido. Tem também o José Chavez, que é o atual presidente do partido na cidade, temos a Alcione Coser, que já foi candidata. E há também as lideranças de bairros e comunidades, que desenvolvem o trabalho nesses locais.

E tem você também… É, tem eu também, que continuo no partido e estou assumindo agora esse compromisso de ajudar a organizar o partido.


“As pessoas acabam generalizando o que acontece na esfera nacional, e isso reflete na organização do partido aqui em Artur Nogueira.”


Como você avalia os primeiros quatro meses de governo da atual gestão em Artur Nogueira? A gente, na verdade, ainda não tem condições de fazer uma avaliação porque houve pouco tempo de mandato e também por causa das condições em que o município se encontra. Eu acho que as condições, tanto locais quanto a nível nacional, impedem que o prefeito faça um bom trabalho ou que desempenhe aquilo que ele almeja para Artur Nogueira. Acho que todo mundo quer fazer um bom trabalho, ainda mais na cidade em que nasceu e cresceu. Então, eu acho que ainda é cedo para fazermos essa avaliação. A crise econômica afeta a gestão, a falta de certidões que permitem ao município receber recursos estadual e federal atrapalham também o trabalho. Não sei se ele administra ainda um orçamento que havia sido aprovado no governo anterior, então é cedo para fazer esse tipo de avaliação.

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Os problemas que o PT tem enfrentado a nível nacional desgastaram a imagem do partido entre os moradores de Artur Nogueira? Com certeza. Acho que as pessoas costumam generalizar. “Ah, político é tudo igual”, as pessoas dizem. Ou seja, para elas, se você está hoje no partido que, segundo a mídia, é o maior envolvido em escândalos de corrupção no país, então isso acaba afetando. Então, com certeza nosso partido no município sofreu com isso. Mas, hoje nós temos cerca de 340 filiados na cidade. Uma boa parte não é atuante. Existe uma abstenção muito grande de participação.

Com o forte desgaste da imagem do partido em todo o país, todos os envolvidos com o PT acabam sendo criticados e taxados de corruptos. Você recebe muitas críticas por ser ainda atuante no partido? Com certeza! A gente recebe as críticas, muitas delas não embasadas, mas a gente tem que saber lidar com isso. O fato de o PT ter permanecido todo esse tempo no poder trouxe um certo desgaste. Especialmente porque o PT está sendo o foco de todas essas investigações. Hoje se fala em outros partidos, mas isso começou agora, é recente, sobretudo depois das delações da Odebrecht. Então, é natural que a gente receba essas críticas. Muitas vezes as pessoas dizem que, por eu estar num partido com muito corruptos, eu também sou. E eu acho que no município onde a gente vive e convive com as pessoas, acho que o que vale é a índole das pessoas. E eu, graças a Deus, não tenho nada que me desabone junto à sociedade nogueirense e quero preservar isso. Dentro do PT.


“Eu, graças a Deus, não tenho nada que me desabone junto à sociedade nogueirense e quero preservar isso. Dentro do PT.”


E por que você não muda de partido? Por que, com todo esse cenário de desgaste e descrédito, você permanece no PT? Porque eu faço parta da instituição Partido dos Trabalhadores. E os acontecimentos que mancharam o nome do partido foram causados por pessoas. E se as pessoas são responsáveis, elas têm que ser punidas pelos erros que cometeram. Elas devem ser responsabilizadas e punidas. O problema não é o PT como instituição, o problema é com algumas pessoas. Porque o Partido dos Trabalhadores mantém as mesmas bandeiras pelas quais eu me filiei ao partido, que é a distribuição de renda, geração de empego, inclusão social. Essas foram as bandeiras que me atraíram ao partido, e elas se mantém. Ainda que algumas pessoas tenham cometido seus erros, a instituição PT está acima delas.

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Você acredita que o PT consiga superar os prejuízos com a imagem causados pelos escândalos de corrupção? Quais estratégias você imagina que o partido possa adotar para buscar reverter este quadro de desgaste? A longo prazo, sim. Se fizermos uma análise crítica do cenário político-econômico, vamos ver que, apesar de tudo, o PT ainda fez seu trabalho de inclusão. E aí é o momento de fazer o dever de casa, que é reconhecer os erros e dar a volta por cima, sem cometer mais esses erros. Eu costumo dizer que o processo é longo. Como eu ouvi numa palestra, a Lava-Jato não é o fim da sujeira, é o começo da limpeza. Então isso deve servir de exemplo para todos aqueles que pensam em entrar na política no futuro. Além disso, o PT está em foco nas investigações porque era o partido que governava o país quando a operação foi deflagrada. Embora todas as articulações tenham sido feitas por partidos da base, a administração era do PT. O presidente pode dizer que não sabia de tudo, e realmente não tem condição de saber o que se passa numa esfera de 30 mil servidores comissionados dentro da administração nacional. Não tem como ver tudo isso. Isso pode ocorrer. O próprio Marcelo Odebrecht disse que não há um só político que se elegeu sem caixa 2. E o que é caixa 2? É dinheiro oriundo de propina, de corrupção. E nenhuma empresa tira dinheiro do bolso sem ter um interesse. É o que as investigações vêm provando. Os políticos recebiam vantagens para aprovar medidas provisórias que beneficiassem a empresa. Políticos recebiam vantagens porque a empresa tinha interesse em projetos em prefeituras e estados, ou na própria União. Então isso mostra que o PT está no centro das investigações porque ele estava no governo. Porque se tivéssemos uma operação dessas na época do Fenando Henrique, com certeza o PSDB seria o partido mais investigado.


“O próprio Marcelo Odebrecht disse que não há um só político que se elegeu sem caixa 2.”


Qual é o principal desafio do PT em Artur Nogueira? Em Artur Nogueira, o partido, nesse momento, se volta para dentro. Isso para a reorganização interna, formação de quadro e formação de lideranças para disputar as eleições, seja no Executivo ou no Legislativo.

Há planos por parte do partido para lançar alguma candidatura nas eleições municipais de 2020? Sim, trabalhamos para isso.

E você, que já fez parte do Executivo municipal, pretende atuar politicamente e lançar candidatura? Não. Se em algum momento eu for disputar um cargo eletivo, eu quero estar preparado. E não me acho preparado no momento. Estou focado em outras coisas por enquanto, como a minha família.

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E qual a sua opinião, como líder do PT na cidade, sobre a greve geral da última sexta-feira (28)? A paralisação e todo esse movimento sindical é muito importante para que povo se posicione contra a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. Sem essas manifestações, os dois projetos podem acabar sendo aprovados no Congresso. Elas, sobretudo a trabalhista, acabam retirando direitos dos trabalhadores, mexendo na CLT. Essa questão das 12 horas de trabalho com meia-hora de almoço é bem séria, pois coloca o trabalhador em condições sub-humanas. Também o aspecto das gestantes dependerem de um médico da própria empresa é um ponto delicado. Mas existem vários outros pontos que precisam ser revistos. E tem gente que acha que as greves têm a ver com a não mais obrigatoriedade da cota dos sindicatos. Mas não é sobre isso a greve, é sobre a retirada de direitos dos trabalhadores.

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