14/08/2016

Nova presidente da APAE fala dos desafios da entidade em Artur Nogueira

Kátia Lages conta sua história de superação com a perda do filho e de como a entidade lida com as dificuldades financeiras.

Rui do Amaral

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Artur Nogueira vive uma nova fase. Após o afastamento do ex-presidente da entidade no final de 2015, Kátia Lages, que até então assumia o cargo de vice-presidente, passou a presidir a unidade.

Com uma fala decidida e sob a postura de quem está pronta para enfrentar qualquer situação, Kátia mostra que é possível sim transmitir confiança e tranquilidade aos pais que necessitam dos serviços oferecidos pela entidade. Após passar por um período extremamente delicado com a perda do filho Gabriel, que era portador de necessidades especiais, a presidente sabe muito bem como é nutrir este amor incondicional por quem precisa de apenas isso: amor.

E amor é o que não falta nas palavras de Kátia, que se refere aos alunos como “anjos”. Com todo cuidado e tato, a presidente esclarece, em uma breve entrevista, pontos importantes sobre o funcionamento da APAE e como a entidade faz para resolver questões como falta de verbas e manutenção. Kátia também afirma que várias atividades estão nos planos e que esta nova fase está apenas começando.

Como você vê o atual momento da APAE de Artur Nogueira? Atualmente, ou seja, na minha gestão, minha preocupação é exclusivamente com a qualidade do atendimento que os alunos recebem e receberão. A APAE só existe porque existem pessoas que necessitam dela, sem os alunos, a APAE não existiria. Portanto é imprescindível que tenham um atendimento que melhorem sua qualidade de vida, principalmente no meio familiar e dentro da sociedade. Desejo ver uma APAE totalmente humanizada, onde os alunos sejam a prioridade, assim os resultados serão os melhores. Sei que pode fazer uma grande transformação na vida dos alunos, dos profissionais e de suas famílias. Sei disso porque sou voluntária da internação do Centro Infantil Boldrini. Nossa prioridade é a humanização no atendimento, com o objetivo de oferecer o melhor atendimento ao paciente, e o resultado é extraordinário.

 Qual o principal mito envolvendo pessoas com necessidades especiais? Acharem que devem tratá-las de maneira diferente. As pessoas com necessidades especiais possuem apenas algumas necessidades que atendidas, facilitarão a sua vida no meio em que vivem. Algumas precisam de uma rampa, de barras de apoio, ajuda para segurar um objeto, para se alimentar, etc. Enfim, tudo com muito amor e paciência, porém o principal é ver o outro como a si mesmo. Assim, todos só têm a ganhar, tanto quem recebe ajuda como quem tenta ajudar.

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Qual é a maior barreira que um pai que tem um filho com deficiência enfrenta nos dias de hoje? Por incrível que pareça eu não vou falar que é o preconceito. O que torna tudo muito difícil para muitos é suprir as necessidades diárias, como cadeiras de rodas adaptadas que custam quase cinco mil reais, fraldas geriátricas que a unidade custa mais de um real, alimentação especial, locomoção para levar ao médico, nas terapias, etc. São algumas entre tantas, porque tudo custa muito caro. E se tais necessidades fossem vistas da forma que realmente são, certamente tudo se tornaria mais fácil. Por ser uma realidade que me incomoda muito, o meu TCC é sobre isso, o Mínimo Existencial e a Reserva do Possível na vida das pessoas com necessidades especiais.

Sabemos que você passou por um momento difícil e delicado com a perda do Gabriel. Como esta situação influenciou a posição que você ocupa hoje na APAE? Eu vejo meu filho em cada aluno da APAE, então o que gostaria para meu filho, eu quero para cada um deles. Sei das dificuldades porque já passei por muitas. Meu filho usou fraldas por 21 anos, quando estava sem carro precisava pedir emprestado, para conseguir o LOAS é preciso estar quase na linha da miséria. Eu vivi e vi de perto diversos tipos de situações, o que me faz saber exatamente do que eles precisam. Meu filho foi e é muito amado, foi muito bem cuidado, eu ensinava muitas coisas para ele em casa, enfim fazia tudo para que fosse feliz e progredisse a cada dia.

Existe algum projeto que você gostaria que tornasse realidade na APAE de Artur Nogueira? Muitos. Gostaria de colocar a piscina em funcionamento, fazer uma quadra onde antigamente era a horta, para que tenham um lugar onde possam praticar esportes, reativar a sala da dentista, etc. Mas o principal é deixar uma APAE humanizada, com alunos que progridam e pais envolvidos totalmente com a vida dos filhos e no andamento da APAE. Mas estou colocando em prática alguns projetos que eu tinha em mente. Em agosto começam as aulas de judô com o prof. Rodolpho Lavoura, serão instaladas câmeras de segurança, estou abrindo espaço para voluntários e estagiários, vamos fazer um jardim sensorial, voltaremos a produzir sacos de lixo, teremos cursos e palestras para pais e profissionais da área e sobretudo envolvimento efetivo dos pais. Afinal, a APAE é Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.

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Respondendo como mãe e presidente, o que o trabalho da APAE representa hoje para Artur Nogueira? A APAE é a única instituição que cuida de pessoas portadoras de deficiência no município, porque para isso é necessário que seja um trabalho realizado por pessoas capacitadas na área. Apesar se se falar tanto em inclusão, na realidade, estamos longe para que aconteça, pois não temos escolas adaptadas em todos os sentidos, seja espaço físico bem como os profissionais. E a APAE oferece aos alunos atendimento para que eles se desenvolvam mediante suas dificuldades, com terapias e atividades. Então deve ser vista com muito apreço, até porque qualquer pessoa pode um dia precisar.

Qual sua avaliação entre o atual convênio entre a Prefeitura e a APAE? É muito bem-vindo, pois faz muita diferença no nosso orçamento e está em dia. Apenas gostaria que fosse transformado em salários mínimos, assim seria reajustado anualmente acompanhando nosso déficit.

Atualmente qual o principal desafio enfrentado pela APAE? Recursos financeiros, que em geral não cobrem as necessidades. Muitas pessoas não sabem, mas a APAE paga 30 funcionários, luz, internet, telefone, isento de água recentemente, seguro dos carros, etc. Os eventos não são para divulgar a APAE, são necessários para entrar dinheiro em caixa e cobrir as despesas diárias. A piscina ainda não está funcionando por falta de recursos, afinal tudo é pago e caro.

De onde vêm os recursos que mantêm a instituição? Da Prefeitura e do Estado para saúde e educação que são fixos. Eventualmente de algum projeto aprovado, dos sócios contribuintes, da arrecadação através do motoboy feita pela AMAIS, dos eventos e do cadastramento da nota fiscal paulista.

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Como funciona o processo de matrícula de uma criança com necessidades especiais na APAE? O médico do município, de acordo com o diagnóstico encaminhará o aluno para que seja atendido pela APAE, onde passará por avaliações para determinar o tipo de atendimento que ele irá precisar, seja para se tornar um aluno ou para ter apenas atendimento clínico.

Como uma pessoa pode contribuir com a APAE? Olha, toda ajuda é bem-vinda, seja como sócio contribuinte por meio do carnê, doações voluntárias em dinheiro ou algo que estejamos precisando, com material de higiene, objetos que possamos vender, roupas que podem servir para os alunos, etc. Podem também se tornar voluntários oferecendo aos alunos algo que fizer bem, qualquer coisa, afinal são 178 atendidos, então toda e qualquer contribuição será bem-vinda.


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