07/11/2015

Morador de Artur Nogueira que superou câncer de próstata fala da doença e aconselha: “Não tenham preconceito”

Darci Ferreira foi diagnosticado no ano de 2010. Operado em fevereiro de 2011, hoje diz estar curado.

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“Essa entrevista vai ser de risos e lágrimas”, repetiu seguidas vezes Darci Ferreira, ou Ferreira Darci, como disse ser conhecido pela região. Aos 69 anos ele ainda vive na mesma casa do bairro Paineiras para a qual se mudou há 34 anos com a esposa. Já teve dois filhos. E também já passou pelo câncer de proposta. “O que nós temos que fazer é perder o preconceito, entende. Que o nosso corpo é intocável. Conscientizar que a medicina está a serviço da nossa saúde e que vão os anéis, mas que fiquem os dedos. Um pouco de humor é importante. Antes da cirurgia, seis anos atrás, eu fui ao médico e ele pediu o exame de toque. Eu fiz. Mas não pedi o retorno. Fiquei seis anos sem voltar. Deveria ter pedido.”

Darci é baixo, tem cabelos grisalhos e uma ótima dicção. Por anos foi responsável por transmitir as missas da Paróquia Nossa Senhora das Dores, aos domingos, e treinou a voz para ser um exímio locutor. Pontua bem cada frase e parece que o monólogo está decorado. Mas tudo é natural.

Muito expressivo, ri com a mesma intensidade que chora. Deixando cair lágrimas no rosto toda vez que fala sobre a importância e efemeridade da vida.

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Ter passado pelo câncer, em 2010, o deixou sensível. A descoberta surgiu de uma forma inusitada. Darci lembra que sentia-se incomodado com ele. Algo que ver com a aparência, mas não com saúde. Ao procurar o médico, passou por alguns exames e uma ultrassonografia, em que foi constato hidroceles na próstata. A alteração poderia ser corrigida com uma cirurgia, mas para critérios de análises o médico solicitou o exame que media o PSA e uma biópsia.

PSA ou Antígeno prostático específico é uma substância produzida pelas células da glândula prostática. O PSA é encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade é também encontrada no sangue. A maioria dos homens saudáveis têm níveis menores de 4 ng/ml de sangue. A chance de um homem desenvolver câncer de próstata aumenta proporcionalmente com o aumento do nível do PSA. Geralmente quando o câncer de próstata está presente o nível do PSA está acima de 4 ng/ml. O de Darci estava no nível 8.

“Fui premiado com essa doença que deixa qualquer um transtornado”, define. “A partir daquele momento nós sentimos que trocaríamos tudo da nossa vida, pela vida. Carro casa, chácaras, fazendo, dinheiro. O interessante é a vida. Esse é o momento de reflexão que a gente consegue perceber o valor da vida. E, felizmente, eu fui uma pessoa muito abençoada que através de um exame que eu fiz por questões de estética, descobri.”

Era agosto de 2010. Ao receber o resultado, Darci optou por abri-lo na igreja. Há alguns anos vinha trabalhando no serviço funerário da Prefeitura de Artur Nogueira e estava acostumado com os atestados de óbitos e suas causas com nomes difíceis. O desespero foi iminente. “Até o momento eu não sentia problemas de saúde, era um incomodo fisicamente, esteticamente. E através deste exame o urologista conseguiu detectar”, lembra.

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A cirurgia foi marcada para fevereiro do ano seguinte. Ele não soube as causas, se tinha a ver com fator genético ou outra coisa. A única coisa que teve certeza é de que com isso não iria se preocupar. Passaria a dar valor ao que importava e encarar aquilo com bom humor.

“Felizmente”, conta sorrindo, “consegui internação em um dos melhores hospitais de São Paulo, ou melhor, do Brasil! Que é o Instituto do Câncer. É um hospital do SUS. Eu sei que temos muitos problemas da saúde pública, mas existem alguns hospitais do SUS que são espetaculares”, exalta a qualidade do atendimento que diz ter recebido lá.

Neste período Darci se manteve ativo e ficou no trabalho até às 10 horas do dia da cirurgia. Sua internação aconteceu às 16 horas do dia 17 de fevereiro de 2011, uma quinta-feira. Às 16 horas do dia 18 entrou na sala de cirurgia e às 21 horas voltou para o quarto. “E no dia 19, sábado, eu estava tendo alta”, relembra feliz. “Às 18 horas eu estava em casa. A única medicação que eu tomei foram os antibióticos, durante oito dias. Depois de 19 dias voltei para retirar os pontos e fiz os últimos exame. Diferente da outra vez este apareceu com 01,1 de PSA e o médico disse: ‘Você está curado – Darci para, respira fundo e chora – Você está curado. Pode voltar para casa’.”

Darci diz que hoje está completamente bom e não sente sequelas da doença. Segue com os exames de rotina e usa o mês de novembro, o mês azul, para incentivar homens a se cuidarem também.

“O que nós temos que conscientizar é que o início da doença não incomoda”, frisa.

O preconceito sobre o exame de toque é outro ponto que Darci aponta como um mal a ser banido da sociedade. E brinca, deixando uma mensagem: “Os homens devem fazer, pelo menos uma vez ao ano, o exame de toque. É rápido, indolor e barato. Um amigo um dia disse para um médico: e doutor, Eu posso fazer mais vezes? O médico respondeu: se você me trouxer uma caixa de bombom, faço toda a semana! – e ri – A gente deve conscientizara as pessoas. Não tenham medo, não tenham preconceito. Quando passei por isso lembrei de várias personalidades que vieram a óbito por medo de enfrentar esse exame ou cirurgia de próstata. Se eles morreram, com todo o acesso a saúde que têm, imagina eu?”.

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Recentemente o Hospital do Câncer de São Paulo convidou Darci para participar de um grupo de homens que compartilham sua experiência de superação do câncer. O objetivo é testemunhar a outros homens sobre o tratamento e a cura.

“Eu me sinto inteiramente curado. Estamos aqui para completar uma obra que Jesus não completou, que não deu tempo. E isso é difícil de entender: Por que estou aqui? Mas se estou aqui é porque eu preciso fazer algo a alguém que precise. Por isso não devemos nos vangloriar de algo. Estamos aqui para cumprir um dever e alguns não conseguem descobrir se não com o sofrimento”, emociona-se, apontando que o câncer o ajudou a dar sentido a sua existência.

Depois de duas horas de conversa, Darci se despede da redação: “E foi como disse, uma entrevista de risos e lágrimas.”


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