31/08/2014

MEMÓRIA: Renê Marcos Posi: o pai do teatro nogueirense

Conheça a história de Renê Marcos Posi, homem que dá nome ao Teatro Municipal de Artur Nogueira e protagonizou o cenário cultural do município

Por Isadora Stentzler

“Vamos criar um grupo de teatro!”, disse Renê Marcos Posi em 1984. Há duas décadas ele estava em Artur Nogueira e o ócio artístico precisava morrer nele e na cidade que não tinha expressão teatral. Então, da mesma forma que homens do teatro como Nelson Rodrigues e Flávio Rangel, ele levou adiante um sonho. Caso que o tornou um dos protagonistas da cultura teatral nogueirense.

Renê veio da cidade São João da Boa Vista, município paulista onde aprendeu a tocar piano, a admirar Beethoven, a ler os clássicos e onde criou um grupo amador de teatro, o Gama. Não fez faculdade. Nem cursinhos. Mas vivia arte. Algo a ver com destino.

Mas antes de vir à cidade Berço da Amizade, morou em Mogi Morim. Lá encontrou uma companheira com quem viveu um romance musicista. “Ele era músico. Tocava piano como ninguém”, relembra a esposa, também pianista, Aparecida Alves da Silva Posi, a dona Cidinha. “Começamos a namorar e nos casamos em 1969. Ele se mudou para Artur Nogueira e foi aqui que construímos a nossa família.” União da qual nasceu um casal: Cesar Augusto Posi e Lia Raquel Posi.

Família

Renê

Foi então, na década de 80, que Renê resolveu criar o grupo de teatro. Ele tomou a frente. A ideia era criar o primeiro grupo de artes cênicas do município, só com nogueirenses. E isso se deu. A trupe chamou-se Gente: Grupo Experimental Nogueirense de Teatro. Mas não o fez sozinho. De acordo com o filho, que hoje é cirurgião dentista no município, a causa foi abraçada pelo pai junto de amigos, tão apaixonados quando Renê pelas artes. “Meu pai tinha uma experiência de teatro de quando morava em outra cidade. Mas depois que foi pra Mogi nunca mais atuou. Só que aqui em Artur ele se envolveu com pessoas que tinham tido contato com esse universo também e então resolveram criar o Gente.”

O Livro Berço da Amizade, publicado em 2000 e escrito pelos irmãos Luiz Carlos Fromberg “Mano” Ferreira e Sérgio Augusto Fromberg Ferreira, pontua essas personalidades. A liga que encabeçou a trupe era composta por Didiel Tebar Júnior – aluno do curso de Artes Cênicas da Unicamp –, Antônio César Druzian e Matheus Lenz Dutra – que participou de grupos amadores de teatro em Campinas. Além deles, outras pessoas ingressaram e deram corpo ao grupo.

Em seis meses de ensaio, o Gente conseguiu apresentar a primeira peça: “O pai do filho do Oscar” – uma adaptação a lá brasileira do texto do francês Claude Magnier – nas dependências da Escola Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira. Com aclamação do público, o espetáculo foi repetido nas cidades de Holambra, Mogi-Mirim, Cordeirópolis e Engenheiro Coelho.

Cesar, à época um adolescente de 14 anos, relembra detalhes. “Meu pai fazia Felipe, um fisioterapeuta, e era muito engraçado”, conta. “Foram três dias de apresentação e o local lotou! Lembro que tinha gente assistindo em pé. É porque naquele tempo não existia nada parecido.”

Até então a sede do Gente ficava nesta mesma escola, mas era um espaço limitado com apenas um pequeno palco em um auditório. No entanto foi ali que se viu a maior parte dos trabalhos do grupo. Foram três anos de espetáculos nas dependências da Escola – que contou com apresentação das peças “O pagador de Promessas”, “Esta noite não me mandem flores”, “A Rosa das sete sais”, “Avatar” e “Esta noite choveu prata” – até a trupe separar os primeiros tijolos para uma sede própria.

Isso ocorreu em 1988. Naquele tempo Artur Nogueira estava sob administração do prefeito Cláudio Alves de Menezes (PMDB) e o grupo enviou uma petição para a construção de um novo espaço para o Gente. A ideia era transformar o antigo prédio da Escola Francisco Cardona em uma Casa de Cultura e o pátio dela, em um teatro.

Renê

Mais uma vez, Renê tomou a frente. “Nossa, e como ele gostava daquele lugar!”, relembra a esposa. “Ele acompanhava todo o processo da construção. Era um apaixonado.” No entanto, nunca chegou a vê-lo pronto.

Teatro

Morte

No dia 28 de setembro de 1988 Renê e mais três amigos foram para Cosmópolis. Ele despediu-se da mulher com alegria e a promessa do até breve, mas não voltou assim. “Ele saiu daqui sorrindo e voltou no caixão”, lamenta Cidinha.

O Teatro ainda não estava pronto. Nenhum espetáculo havia sido realizado. Não havia cartaz em exibição. E apagaram-se os holofotes de Renê.

Era inverno, e um acidente entre o fusca que conduzia e uma Kombi, o calou.

Mas suas cortinas nunca fecharam. Embora a atriz Fernanda Montenegro tenha, um dia, dito que “teatro não nos deixa provas” e que a memória de quem o assiste “tem vida curta”, a história e influência deste amante das artes não virou cinzas em Artur Nogueira. O crepúsculo da sua morte inflamou o cenário cênico e dele, usou o nome, sobrenome e saga para emplacar o primeiro Teatro Municipal: O Teatro Municipal Renê Marcos Posi.

Ele só precisa agora, voltar a abrir as portas.

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