05/11/2017

Jovem baleado em Artur Nogueira enfrenta dificuldades para se adaptar à paraplegia

Família busca doações para conseguir cuidar de jovem de 23 anos

Da redação

Dois colchões encapados com lençóis azuis estão sobre o estrado da cama de Rafael. Por serem muito velhos, os objetos ficaram macios demais e não dão o devido suporte ao corpo do nogueirense. Uma espécie de buraco se forma sob suas costas quando se deita. O constante desconforto lhe causa dores. Um problema que pode parecer facilmente solucionável, mas não para o jovem de 23 anos, impossibilitado até de virar de lado na cama.

Rafael Ferreira Moreno levou sete tiros de uma arma calibre 32 e ficou paraplégico. Foi alvejado pelas costas. Não morreu por pouco. Desde que saiu do Hospital das Clínicas da Unicamp, na quarta-feira (1), ele praticamente não levanta da cama. Só muda de posição quando é colocado na cadeira de rodas – o que geralmente dura apenas o tempo de um banho.

Se adaptar à nova condição não tem sido fácil. Nem para ele nem para a família. Sua mãe, Maria do Socorro, de 65 anos, busca desesperadamente por um colchão melhor. Tendo que se dedicar integralmente ao cuidado do filho, ela precisará se afastar do emprego. O marido, motorista, luta contra problemas de coluna para continuar trabalhando. E o salário dos dois não é suficiente para dar a Rafael tudo o que seu estado de saúde exige.

Apesar de ser uma prioridade para a família, um novo colchão não é tudo o que o jovem precisa. Fraldas geriátricas, gaze, luvas, roupas de cama e até frutas são uma necessidade para que Rafael receba o cuidado adequado. Sem condições de fornecer a ele tudo isso, a família pede ajuda aos nogueirenses. Doações já foram feitas por amigos à família, mas, com exceção das cadeiras de roda, o material conseguido acaba rápido. Todo ato de solidariedade é bem-vindo.

Segundo Maria do Socorro, o plano da família é, no futuro, derrubar uma parede do quarto de Rafael e construir um banheiro adaptado para ele. Isso facilitará a vida do jovem, que hoje precisa de auxílio mesmo para as coisas mais básicas. Na segunda-feira (6), sua primeira sessão de fisioterapia deve ser marcada. Atualmente, as massagens que ele recebe nas pernas são feitas pela própria mãe.

Crime passional

Deitado sobre os colchões velhos e coberto até a cintura por um lençol do Hospital das Clínicas da Unicamp, Rafael relembra a noite de 16 de outubro. Ele conta que estava na casa da cunhada, no Bairro Sacilotto, quando começou a receber mensagens de uma garota. Ela lhe contava que estava solteira e que queria se encontrar com o jovem, que tentou evita-la.

“Parece até que foi obra do coisa ruim, porque eu estava vindo para casa de bicicleta e, dali a pouco, eu desviei do caminho e fui”, conta Rafael, que trabalhava até então com instalação de condicionadores de ar. Ao mudar a rota, acabou passando do lado do Ginásio de Esportes “Denilson Amaro Rodrigues”, no Bairro Itamaraty. A rua estava completamente escura.

Na direção contrária da via se aproximava um carro com faróis de xênon. A forte luz emitida pelos dispositivos iluminou os arredores do ginásio e revelou o vulto de alguém correndo até Rafael. O jovem percebeu que a pessoas estava com luvas, máscara e apontava uma arma para ele. Percebendo que caíra em uma emboscada, tentou pedalar com mais força. A marcha da bicicleta enganchou.

“Tum-tum. Só senti os tiros”. Foram sete, ao todo. Ele caiu no chão e permaneceu imóvel. O criminoso foi embora “em um carro ou moto” – Rafael não consegue se lembrar com precisão. Ao notar que não corria mais risco de ser novamente baleado, gritou. “Socorro! Socorro! Eu vou morrer!”. Os vizinhos acudiram e chamaram a Polícia Municipal.

Rapidamente, uma ambulância também foi acionada e chegou ao local. Rafael continuava consciente, conversando com os policiais. Continuou assim até chegar ao Pronto-Socorro do Hospital Bom Samaritano, onde recebeu o atendimento de emergência. Depois, foi encaminhado à Unicamp e mantido em coma induzido. Uma das balas se alojou na coluna dele, deixando-o paraplégico.

Foram dias de terror para a família. “Foi uma coisa assustadora, eu não esperava por isso”, conta Maria do Socorro. “É uma coisa inesperada. Seu filho se despede de você, diz que vai passear, e depois a polícia entra em contato dizendo que seu filho está naquele estado. É difícil”, continua.

“Quando é uma pessoa que já está envolvida com a malandragem, você já fica esperando que que algo assim possa acontecer, mas um menino trabalhador, por coisa tão pouca ficar assim… Eu quero justiça”, assevera a mãe.

A principal suspeita da família é que o namorado da garota que enviou as mensagens para Rafael foi o autor do crime. De acordo com eles, o rapaz se chama Gabriel e pode ter armando a emboscada para o jovem. “Eu nem sabia que a menina estava namorando. Mas acho que era o namorado dela que estava me mandando as mensagens”, afirma Rafael.

De acordo com o delegado titular da Polícia Civil de Artur Nogueira, Dr. Lúcio Antônio Petrocelli, buscas ao suspeito foram feitas, porém, o rapaz não foi encontrado. “Existe o nome do suspeito apontado pela vítima e já o qualificamos. Ele foi procurado, mas não o localizamos, pois ele está fora do município. Ouvimos o genitor dele. Já a garota que, supostamente pode ser o pivô do ocorrido, também não foi localizada. Já agendamos também uma data com os familiares para ela ser ouvida”, relatou o delegado.

Petrocelli também acrescentou que existe a linha de crime passional, que está sendo seguida, mas esse direcionamento pode mudar de acordo com novas evidências que possam aparecer no decorrer da apuração policial, já que, nenhuma delas é descartada. De acordo com ele, o suspeito de atirar no jovem está fora do município

Nova vida

Mesmo com todas as dificuldades, Rafael mantém o ânimo. “Agora quero seguir o tratamento, melhorar, ficar fortão. E bola para frente, seguir a vida”, afirma. Tendo estudado apenas até o 9º ano do ensino fundamental, ele pensa agora em continuar os estudos e se formar no ensino médio. Além do lado acadêmico, um aspecto de espiritualidade também despertado no nogueirense.

Ele afirma que, nos momentos de agonia após ser baleado, enquanto era socorrido na ambulância, teve uma experiência que considerou sobrenatural. “Eu entreguei minha vida a Jesus e senti algo que parecia ser um anjo me seguindo. E as dores iam passando. Eu sentia uma queimação e, após perceber essa presença sobrenatural, ela foi passando. Daí que eu cheguei no hospital”, relata. Ele disse que voltará a frequentar a igreja em que a família congrega.

Interessados em ajudar Rafael podem entrar em contato com a família pelo telefone: (19) 99874-2395 ou (19) 99144-5913.

Leia mais

Jovem baleado em Artur Nogueira recebe alta e volta para casa

Rapaz baleado em Artur Nogueira pode ficar paraplégico

Suspeito de ter atirado em morador de Artur Nogueira continua foragido

Vítima de disparos em Artur Nogueira tem transferência para Hospital da Unicamp

Jovem é socorrido após ser baleado em Artur Nogueira

Delegado de Artur Nogueira afirma que suspeito de atirar em Rafael está fora do município

……………………………………

Tem uma sugestão de entrevista? Clique aqui e envie para o Portal Nogueirense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.