07/01/2018

Família de Artur Nogueira relembra dia em que filha nasceu de novo

Gilson e Lucimar Pinheiro contam experiência de fé e perseverança que viveram quando a filha passou um mês em coma

Alysson Huf

Era uma semana de festa na família. A filha mais velha, Laís Pinheiro, com então 11 anos, havia realizado sua primeira apresentação com a Corporação Musical 24 de Junho três dias antes. O feito era motivo de orgulho e foi muito comemorado pela mãe, Lucimar, e pelo pai, Gilson. Estavam os três em casa, naquela tarde de 21 de dezembro de 2010, junto com o caçula, João Victor. Conversavam na varanda quando, de súbito, Laís caiu no chão e começou a se debater.

Ela foi tomada por uma forte crise convulsiva. E depois outra. E mais outra. Várias convulsões acometeram a menina. Os pais, vendo que a situação era muito grave e sem saber o que fazer, a levaram às pressas para o hospital da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas (SP). Laís chegou andando ao local, mas logo teve mais uma convulsão. Lucimar não imaginava quão grave era o estado da filha.

Assim que deu entrada no hospital, Laís foi levada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Cada vez que era medicada, ela tinha uma nova convulsão – uma pior que a outra. Por causa da intensidade das crises, os médicos decidiram colocar a menina em coma induzido. A mãe conta que a intenção era que o quadro de Laís ficasse estável e que ela voltasse à consciência. Mas não voltou.

Os médicos informaram a família sobre a situação e disseram que esperariam mais 72 horas para ver se o organismo da garota reagiria. O medo da família e dos médicos era que o quadro evoluísse para uma morte cerebral.

Laís costumava ser uma moça extrovertida, conta a mãe. Gostava de música. Tanto que começou a estudar as primeiras notas com apenas sete anos, na Casa do Caminho. Pouco tempo depois já tocava na Corporação Musical 24 de Junho. Agora sua mãe a olhava naquele leito de hospital, inconsciente, praticamente sem vida. Não havia o que os médicos pudessem fazer.

Foi então que um segurança do hospital fez algo inusitado. Ele chamou o pai de Laís, Gilson, para um canto e conversou com ele. “Rapaz, vamos confiar em Deus. Vai para uma igreja e ore por sua filha, peça para Deus salvá-la”, disse o homem desconhecido. E foi o que ele fez. Gilson se dirigiu até uma igreja, se ajoelhou lá dentro e orou com toda fé que possuía.

Um tio de Laís fez algo parecido. Ele saiu pelas ruas da cidade e, sempre que encontrava uma igreja aberta, pedia para os membros dela que orassem pela sobrinha à beira da morte. Fez isso em diversos templos, de diferentes denominações. Formou-se uma corrente de oração pela garota naquela noite.

Às 15 horas do dia seguinte, os médicos chamaram Lucimar. “O cérebro da Laís está voltando”, disseram. Havia esperança, mas ainda era mínima. Havia um grande risco de a garota permanecer em estado vegetativo para o resto da vida. No quarto em que Laís estava havia mais duas pessoas em estado vegetativo – uma delas estava naquela situação fazia 15 anos. “Sua filha pode ficar assim”, disse a equipe para a mãe aflita.

Os dias se passaram, e os médicos precisaram operar Laís. A mãe da garota se mantinha esperançosa. Como era muito religiosa, decidiu ir até a capital paulista e se encontrar com o líder da igreja que frequenta, para quem mostrou uma foto da filha e contou a situação pela qual passava. O homem olhou para a imagem e disse: “Quando você voltar ao hospital e colocar a mão na sua filha, ela vai se curar. Tenha fé, o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem de manhã”.

Para muitas pessoas, essas palavras poderias soar como um engodo. Mas não para Lucimar. Segundo ela, sua fé foi renovada após conversar com o pastor, e voltou imediatamente para Campinas (SP), onde Laís seguia internada. A mãe conta que entrou no quarto da filha e começou a cantar e orar. Foi então que os olhos da criança se moveram.

“Fui eu que vi demais ou ela mexeu os olhos?”, indagou Lucimar. Os médicos que estavam no local confirmaram que a menina havia feito um movimento ocular. “Laís, minha filha, se você está me ouvindo, dá um sinal para a mãe, por favor”. A garota mexeu o dedão da mão. Foi uma alegra indizível para Lucimar testemunhar aquele momento.

Apesar da esperança fortalecida, os médicos alertaram Lucimar que dificilmente Laís recobraria totalmente a consciência – e, se recobrasse, provavelmente esqueceria de tudo. Seria como um bebê mais uma vez. Para a mãe, no entanto, o que mais importava era ter a filha de volta. “Se tivesse que educar ela tudo de novo, eu faria, e a amaria do mesmo jeito”, conta. Mas não foi preciso.

Às 18 horas daquele dia, Lucimar se retirou para um espaço do hospital em que pudesse ficar sozinha. Pegou sua bíblia, abriu no Salmo 91, colocou-a no chão e se ajoelhou sobre ela. E, de joelhos, permaneceu orando, pedindo a Deus pela vida da filha.

Às duas horas da manhã, o silêncio do hospital foi quebrado por uma voz de choro que chamava pela mãe. Era Laís, que recobrara a consciência e se lembrava de tudo. Uma enfermeira correu até Lucimar, que ainda estava de joelhos orando, e contou o que estava acontecendo. “Lucimar, isso é um milagre de Deus, isso não existe. É a primeira vez que vejo isso”.

Poucos dias depois, a menina já conseguia se sentar. Mais alguns dias, e voltou a andar. E cada passo da recuperação era acompanhado de perto pela família. No meio do processo, Laís teve uma infecção e precisou passar por uma cirurgia muito delicada, correndo risco de morrer.

Após várias horas na sala de operações, a menina saiu bem, lúcida. Mais uma vitória da garota de apenas 11 anos.

No total, ela passou 38 dias internada na UTI, dos quais 30 ela só respirou com ajuda de aparelhos. Após esse período, a menina teve alta e retornou algumas vezes à unidade hospitalar para fazer exames de rotina e pegar receitas para alguns medicamentos. E sempre era muito bem recebida pela equipe médica – alguns enfermeiros até tiravam foto com a menina, por considerarem-na fruto de um milagre. Afinal, segundo a própria equipe médica, Laís nasceu de novo.

Hoje, Laís tem 18 anos, é casada e se formou no ensino médio em dezembro de 2017.

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