28/11/2015

Estudantes de Artur Nogueira falam sobre ocupação e reorganização do ensino

O Portal Nogueirense ouviu quatro estudantes que integram a linha de frente do movimento de ocupação da Escola Apparecido Munhoz, no Jardim Conservani, para saber o que pensam sobre o ensino no estado e o que os motiva a resistir.

Estudantes contrários à reforma educacional proposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) ocuparam a escola José Apparecido Munhoz na última quinta-feira (26), no Jardim Conservani, em Artur Nogueira. A ação colocou a escola em recesso por tempo indeterminado e desafiou a Diretoria de Ensino de Limeira, que afirma ter entrado com pedido de reintegração de posse da escola.

Diferente de rebeldes sem causa, esses estudantes apresentam uma demanda aparentemente legítima: a valorização do ensino. Além de pedirem o fim da medida estadual – que deve transferir os alunos do ensino médio do Munhoz para a Escola Professor João Gazzola, no Jardim Carolina, a partir de 2016 – eles querem melhorias reais na infraestrutura dos locais de ensino e ainda a valorização do professor. “O Estado insiste em adotar um sistema de ensino autoritário e engessado, onde o estudante é tratado como máquina e o processo de aprendizagem não valoriza o aluno crítico e pensante, mas constrói meros reprodutores de pensamentos prontos”.

Nesta entrevista, realizada na sexta-feira (27), os estudantes Yan Gustavo Claro de Olanda, do 1º ano, Karina Fernanda Boer do 2ª ano, Kiara de Queiros Santory, do 3ª ano e Felipe de Souza Esperança, do 2º ano, respondem sobre o que os motiva a ocuparem a escola e apontam as problemáticas identificadas com a reorganização. Além deles, participam na linha de frente da organização, os estudantes Douglas Gaic Sobrinho, 2º ano, Felipe Rosalvo da Silva, também do 2ª ano, e João Paulo Santiago, do 1ª ano.

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Por que vocês se posicionaram contra a reorganização?

Yan Gustavo Claro de Olanda – Nos posicionamos contra pois a medida de reorganização não visa beneficiar a qualidade de ensino em si mas sim o corte de gastos. A maior parte das escolas que sofrerão alterações eram as que possuíam os melhores índices, concluímos, por tanto, que a medida não apresentará os benefícios que o governo propõe.

Qual o objetivo desta ocupação?

Kiara de Queiros Santory – Nosso objetivo principal é chamar a atenção da comunidade e do Estado para a nossa causa. Queremos impedir as mudanças impostas pelo governo, uma vez que a comunidade escolar não foi consultada, descartando o poder de escolha do aluno e do professor e não respeitando a construção da nossa identidade.
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Houve apoio dos pais e professores na decisão de ocupar a escola?

Karina Fernanda Boer – Foi uma atitude principalmente tomada pelos alunos, com incentivo total da maior parte dos pais, porém alguns ainda demonstram preocupação em relação ao movimento, pois sentem que está em risco a segurança dos alunos e o fechamento do ano letivo.

Houve uma movimentação nas redes sociais pelo boicote ao Saresp. Esse movimento ocorreu aqui no Munhoz também?

Yan Gustavo Claro de Olanda – Sim, alguns alunos aderiram a atitude de boicote do Saresp, porém não decidiram coletivamente, embora os alunos tivessem consciência dessa movimentação nas redes sociais.

ESTUDANTEEEE

Vimos comentários de que a prova do Saresp este ano estava mais fácil. Vocês perceberam alguma facilitação no conteúdo da prova?

Felipe de Souza Esperança – Sim, era notável que as questões não correspondiam aos níveis de dificuldade de exercícios do ensino médio.

Entre os vários motivos apresentados pelo Estado para a reorganização está o grande número de salas de aulas ociosas? Vocês veem este tipo de problema no Munhoz?

Karina Fernanda Boer – Sim, esse tipo de problema é bem recorrente no Munhoz. Atualmente, no período noturno, há muitas salas que poderiam estar recebendo alunos quando na verdade estão ociosas, por outro lado no período diurno é evidente a superlotação nas salas de aula. Até porque para o Estado é mais vantajoso ser fechada uma sala, um período ou uma escola que acarretaria em um corte de gasto muito grande.

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Vocês pretendem seguir o modelo de ocupação implantado nas outras escolas do estado?

Yan Gustavo Claro de Olanda – Sim, seguimos o modelo das demais escolas do estado de São Paulo e também temos como referência o modelo de ocupação chileno de manifestação ocorrida em 2007, que foi uma influente referência para toda América Latina e somente agora chegou ao Brasil. Também propomos unir a comunidade  escolar com diversas atividades diferenciadas como discussões e debates políticos, sociais e culturais, construindo assim um novo modelo de educação inclusivo, diferente do arcaico modelo de educação exclusivo do estado de São Paulo aplicado até então.

Percebemos que a ocupação não apenas se posiciona contra a reorganização, mas também pede uma escola melhor. Como seria esse modelo de escola ideal?

Felipe de Souza Esperança – Incluindo, como dito anteriormente, mais discussões e debates em que todos possam expressar o seu pensamento em relação ao mundo e experimentar um modelo de educação efetivamente democrático, onde o aluno sinta prazer em permanecer na escola, valorizando como um todo o aprendizado e as relações de vivências escolares.

ESTUDANTEEEEE

Quais são as problemáticas do ensino no País?

Kiara de Queiros Santory – Em 2013 o Brasil foi o país no mundo que mais investiu em educação, mas isso não apresentou resultado significativo em sua melhora, porque o Estado ainda insiste em adotar um sistema de ensino autoritário e engessado, onde o estudante é tratado como máquina, onde o processo de aprendizagem não valoriza o aluno crítico e pensante, mas constrói meros reprodutores de pensamentos prontos.

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