26/06/2014

“Estima-se que existam pelo menos 3 mil dependentes químicos em Artur Nogueira”, afirma diretor de comunidade terapêutica

No Dia Internacional de Combate às Drogas, especialistas e dependentes químicos falam sobre a realidade das internações no município

Norton Rocha / Rafaela Martins

Hoje (26), eleito o Dia Internacional de Combate às Drogas pela Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que Artur Nogueira tenha aproximadamente três mil dependentes químicos. No Brasil, segundo o Levantamento Nacional de Ácool e Drogas (LENAD), realizado em 2012 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao menos oito milhões de brasileiros são dependentes de maconha, álcool ou cocaína. Conforme a pesquisa, 28 milhões de pessoas no Brasil dizem ter algum parente com problemas relacionados a dependência química no Brasil.

Em tratamento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Artur Nogueira há pelo menos cinco anos, o ex auxiliar de produção, U.A. de 42 anos, é considerado pela equipe técnica do Centro um exemplo de luta contra as drogas. Sem pestanejar ele fala das suas experiências com as drogas e da surpreendente quantidade de entorpecentes que já usou. Além de ter passado pelo álcool, U.A, fez o uso frequente de maconha, haxixe, tíner (espécie de solvente), cola de sapateiro, cocaína e, para ele, a mais devastadora de todas, o crack. Durante toda a juventude e boa parte da fase adulta, U.A. viveu imerso nas drogas.

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“Dei muito trabalho pra minha mãe”, diz o ex usuário. “Serei para sempre agradecido pelo o que o CAPS fez por mim”, declara o homem, que já realizava tratamento em Cosmópolis antes de vir para Artur Nogueira. Segundo ele, há pelo menos 13 anos não usa crack. Livre das drogas, passa a maior parte do tempo em casa, com seu irmão. “Comecei o tratamento por iniciativa própria”, conta U.A. “Já trabalhei em grandes empresas. Mesmo tendo essa dificuldade com a droga, nunca deixei de trabalhar. Tenho até carteira assinada e tudo”, garante ele, que imediatamente pega o documento e aponta seus registros trabalhistas.

Ainda não há informações precisas sobre o número de atendimentos realizados pelo Poder Público no município relacionados ao tratamento de usuários de drogas. “Estamos com um novo sistema e ainda não conseguimos obter os dados atualizados”, diz, Jacinta Barbosa, coordenadora do CAPS de Artur Nogueira. O município não foi o único a encontrar dificuldades na disponibilização de informações a respeito das atividades de combate as drogas. Procurado pelo Portal Nogueirense, o CRATOD – Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas do Estado de São Paulo, se mostrou bastante ineficiente no armazenamento e divulgação de dados sobre suas atuações.

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A Comunidade Terapêutica Vida Melhor tem desenvolvido iniciativas para tentar reduzir o número de usuários no município. “Estima-se que existam pelo menos 3 mil dependentes químicos em Artur Nogueira”, afirma o fundador e diretor da entidade, Cristiano Bervint. Localizada na zona rural da Ponte de Tábua, a instituição já atendeu mais de 700 pessoas em seus 4 anos de existência. Oferece atualmente atividades socioeducativas, aconselhamento, orientações, confraternizações, trabalhos manuais, atividades lúdicas e apoio espiritual aos dependentes.

Para o diretor da Huxley, Miguel Dilarri Filho, as drogas podem ter poder devastador. Isto, segundo ele, se deve ao fato de 90% das drogas hoje serem impuras, contendo grande quantidade de substancias químicas, como inseticidas e medicamentos. Dos 150 pacientes rotativos que passam por mês pela clínica, 80% destes são involuntários e compulsórios. Segundo o diretor da instituição, as famílias tem buscado frequentemente o tratamento por internação não voluntária.

Atualmente cerca de 20 pacientes de Artur Nogueira são atendidos gratuitamente na clínica Huxley, que possui ambulatório e atende cerca de 30 nogueirenses por mês. Quando internado, o paciente passa por um tratamento de 180 dias, sendo 90 deles destinados a desintoxicação. Nesse período é realizado um trabalho voltado a reflexão sobre a atual situação do paciente.

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Internação compulsória

Jacinta Barbosa explica que mesmo com uma equipe de profissionais qualificados, medicamentos específicos para o tratamento e toda a infraestrutura disponível para o atendimento, se o usuário não demonstrar o interesse pela internação, ela dificilmente surtirá efeito. “Não basta todo o aparato da saúde se o usuário não se dispuser a realizar o tratamento. Tem que querer”, diz Jacinta.

Dilarri acredita que a internação compulsória e involuntária se faz necessária. “A lei que autoriza a internação compulsória e involuntária é positiva e necessária. Essa medida tem salvado vidas. A partir do momento que o usuário coloca a vida dele e de pessoas em risco, se expõe fortemente ou está impossibilitado de ter auto cuidado, é importante que ele seja tratado, mesmo achando que não tem problemas”, defende o diretor da Huxley.

Mariana Antonelli, psicóloga da clínica salienta que “é importante lembrar que a internação não vai retirar a pessoa da sociedade, como uma limpeza social. O dependente passa um período conosco onde o preparamos para que ele retorne a família, a sociedade. Através do tratamento damos condições para continuar a vida de forma digna e respeitosa”, explica Mariana.

Bervint também aposta na internação compulsória. “Há quatro anos atrás eu acreditava que esse tipo de internação não era positiva por entender que só há mudança quando se quer mudar. Hoje, devido a algumas experiências, entendo que quando o vício coloca em risco a vida de outras pessoas é preciso intervir. Nesse sentido sou a favor das internações involuntárias ou compulsórias”, afirma Bervint.

Comunidade Vida Melhor

De toda forma, projetos de acolhimento e tratamentos que visam a adesão voluntária de usuários é realizada pela comunidade terapêutica. Bervint reforça que “em dois meses de projeto Vaga-lume (iniciativa da entidade para o combate às drogas) já foram abordados cerca de 140 moradores de rua e dependentes químicos na cidade”. Sete destes moradores de rua se internaram por livre iniciativa. O projeto Vaga-lume, formado por 13 voluntários, acontece todas as sextas-feiras através de ações de conscientização com moradores de rua em Artur Nogueira.

Comunidade Vida Melhor


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