08/11/2014

ENTREVISTA: Toninho Sacilotto fala sobre crise da água

Superintendente do Saean explica sobre a falta de água e racionamento em Artur Nogueira

capa2“Vivemos a pior crise hídrica dos últimos 70 anos”

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Alex Bússulo

De uma semana para cá Artur Nogueira vem enfrentando uma dura realidade com a falta de água nas torneiras. A falta de chuva dos últimos meses mudou a rotina dos nogueirenses. Os dois principais mananciais do município, o Rio Poquinha e a Represa do Cotrins, já não dão conta de atender a população.

Na última semana, o Serviço de Água e Esgoto de Artur Nogueira (Saean) implantou um sistema de rodízio no abastecimento no município, de 12 por 24 horas, mas que depende do nível dos reservatórios para ser cumprido.

Casas sem água, restaurantes utilizando pratos descartáveis, empresas comprando água em caminhões pipa, moradores fazendo filas em frente aos poços – essa tem sido a nova rotina dos nogueirenses.

Para falar sobre essa crise, o Portal Nogueirense fez uma entrevista exclusiva com o superintendente do Saean. Tecnólogo em Saneamento com especialização em Tratamento de Água e Esgoto, Toninho Sacilotto responde as principais dúvidas sobre a falta de água na cidade. Confira:

Toninho, a falta de chuva vem causando uma verdadeira crise hídrica em todo o Estado de São Paulo. Em Artur Nogueira não está sendo diferente. Qual a expectativa para que a distribuição de água volte ao normal nas casas nogueirenses? Só haverá normalidade no abastecimento após o início das chuvas. Essa é a pior crise hídrica dos últimos 70 anos. Não está chovendo em muitas cidades. Tem municípios próximos ao nosso que estão enfrentando esse problema há muito mais tempo que Artur Nogueira. O problema, volto a dizer, é que não chove. E sem chuva não tem água. O Saean tem como missão planejar e trabalhar para a captação, tratamento e distribuição de água. Houve sim planejamento. O que não esperávamos era essa estiagem. Tanto que se você acessar qualquer órgão de previsão de tempo ele vai afirmar que está chovendo em Artur Nogueira, o que de fato não ocorre há meses. Normalmente, o tempo chuvoso inicia em setembro e se prolonga até março. Mas até agora, Artur Nogueira não teve uma chuva significativa. Não temos como fabricar água.

Como está funcionando o racionamento de água na cidade? Hoje Artur Nogueira é dividida em setores. O que estamos buscando fazer é administrar a distribuição de um líquido que nós praticamente não temos. Nossa represa vive a pior baixa de todos tempos. Não tem água suficiente. O que estamos fazendo é um rodízio de 12 por 24 horas. Mas que nem pode ser garantido, uma vez que dependemos da recuperação do volume da Represa do Cotrins. Estamos divulgando os bairros que receberão água todos os dias na Rádio Cabocla e também no Portal Nogueirense.

Qual é o diagnóstico atual da Represa do Cotrins? Extremamente crítico. O pior que poderia ser. Sem chuva não tem água e sem água não tem represa. A represa está trabalhando com 10% da capacidade de reserva dela. Então, precisamos fazer paradas na captação para que ela recupere o nível de água.

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Como está o desassoreamento desta represa? O serviço de desassoreamento da represa se iniciou em 2013. Foi autorizada a retirada de 40.000 m³ de lodo e está sendo realizado em etapas. Até o momento foi retirado 70% do volume previsto. É uma obra que foi orçada em R$ 1.900.000,00 e a empresa venceu a licitação por R$ 1.200.000,00. A empresa recebeu até o momento R$ 186.000,00 e está sendo liberada a outra parcela de 186.000,00, sendo que as liberações são feitas mediante aprovação do agente técnico. O recurso é proveniente do FEHIDRO e tem como responsável técnico para acompanhamento da obra o DAEE – escritório de Piracicaba. É importante lembrar que o trabalho de desassoreamento não tem nada a ver com a falta de água na represa.

E o Poquinha? Como está a vazão deste rio? Está com a vazão bem abaixo da sua capacidade normal. Assim como vários rios da nossa região, o Poquinha está sofrendo muito com a estiagem. Ele é um importante rio para Artur Nogueira, sem ele a situação estaria bem mais crítica. Devido à baixa vazão também somos obrigados a fazer algumas interrupções na captação dele. Assim, como a represa a única forma de reverter esse cenário é com chuva.

O prefeito Celso Capato disse no ano passado que pretendia represar o Rio Poquinha. Isso ainda está nos planos? Sim e o primeiro passo foi a aquisição da área, o que já aconteceu. Agora estamos concluindo o projeto e aguardando a publicação do licenciamento para fazermos um represamento.

Em junho deste ano, o governador Geraldo Alckmin anunciou um investimento de R$ 4 milhões para a água de Artur Nogueira. Esse dinheiro já foi liberado? Ainda não. Esse dinheiro será destinado para a construção de mais uma adutora no Rio Poquinha, onde será construída a nova represa, além da reformulação da captação do próprio rio. É bom lembrar que o investimento só foi anunciado porque fizemos um bom projeto. Agora, temos que aguardar essa liberação.

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Alguns moradores reclamam sobre um aumento na conta da água. Isso aconteceu? Atualmente, o Saean, assim como qualquer outro serviço de água do Estado de São Paulo, é regulamentado por uma agência. Foi criada recentemente uma lei estadual que obriga todo serviço de água a se regulamentar através de uma agência. Em nosso caso é a Agência Reguladora do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Com essa regulamentação obrigatória, tivemos que nos enquadrar dentro das regras da agência, o que inclui a forma de cobrança. Até então, todos pagavam o mesmo tipo de tarifa. A partir de agora, de acordo com a regulamentação, a cobrança será classificada por residencial, comercial, pública, industrial e assistencial. Vale ressaltar que isso foi uma regulamentação vinda do estado. Não houve um aumento absurdo na cobrança. Houve um reenquadramento na forma da cobrança. Aquele que gastar um absurdo vai pagar um absurdo. Aquele que economizar não vai gastar nada mais. O morador que gastar o mínimo não vai sofrer reajuste. Aqueles que forem enquadrado na tarifa assistencial, a partir do ano que vem, pagarão a metade se consumir dentro do mínimo.

Qual a realidade de nossos poços artesianos? Antes de mais nada é bom dizer que Artur Nogueira não tem nenhum poço artesiano. Nem na nossa região existe. O que temos aqui são poços chamados de ‘tubulares profundos’. Para um poço ser considerado artesiano ele deve jorrar água naturalmente, sem a necessidade de bombeamento. Nosso aquífero se chama ‘tubarão’ e é um aquífero de baixa vazão. Nossos poços possuem aproximadamente 200 metros de profundidade e necessitam de bombas para a retirada da água, por isso não são artesianos. Nós temos 10 poços tubulares profundos, que abastecem vários bairros.

Esses poços podem secar? Existe a possibilidade se houver a perfuração de muitos poços e se persistir a estiagem.

Como estão as obras para o reaproveitamento de água da ETA do centro? As obras estão em andamento, na fase de impermeabilização dos tanques. Hoje é descartado por volta de 500 mil litros de água desta estação devido a lavagem de filtros, decantadores e floculadores. Com a conclusão desta obra essa água não será mais descartada e retornará para o processo. Ela será reutilizada.

Em julho deste ano foi criada uma lei que multa moradores que desperdiçam água. Na prática houve uma queda no consumo? Houve uma queda no consumo porque muitas pessoas já perceberam que precisam mudar seus hábitos, que a água é um bem finito. Quanto a lei, foi muito importante pois muitas pessoas só pararam de desperdiçar quando foram multadas.

Quero aproveitar para perguntar sobre a construção das duas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) em Artur Nogueira. Como elas estão? Essas são uma das maiores obras já realizadas em Artur Nogueira. As duas totalizam mais de R$ 17 milhões. Uma estação está sendo construída no Sítio Novo e a outra no São Bento, juntas vão tratar 100% do esgoto produzido no município –  algo que nunca aconteceu. As obras recebem investimento do PAC com contrapartida da Prefeitura e estão a todo vapor. As duas devem iniciar os testes até maio do próximo ano.

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Qual é o papel da população perante essa crise? Mais uma vez digo, o Saean não fabrica água e sim faz a captação, o tratamento e a distribuição. Houve investimentos e atualmente temos capacidade para captar, tratar e armazenar a água para a população. Um serviço com muita qualidade, mas precisamos de água. A escassez hídrica não atinge só Artur Nogueira e sim toda a região conforme temos visto nos meios de comunicação. O papel da população é economizar água, e não apenas neste período crítico. Desperdiçar, lavando calçadas, carros ou em banhos demorados deve sair da rotina de todos. Como já disse, a água é um bem finito.

Como você, não apenas como superintendente do Saean, mas como pessoa, como um morador, enfrenta essa crise? Como todos os outros moradores. Estamos todos no mesmo barco. Já ouvi muitas críticas. Algumas justas e outras até ofensivas. Tem gente que acha que na minha casa, ou na casa do prefeito, tem água em abundância. Pura inverdade. Como chefe de família também estou enfrentando esse problema. Na minha casa também falta água. Mas eu reconheço, sei que o Saean e a Prefeitura estão fazendo a parte deles. Sei que muito foi investido. Mas ninguém, volto a dizer, esperava essa estiagem.


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