30/05/2015

ENTREVISTA: Renato Malagó

Próximo a Semana do Meio Ambiente, engenheiro ambiental de Artur Nogueira responde as principais perguntas sobre resíduos sólidos, coleta seletiva e crise hídrica

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“Tudo que fazemos, vivenciamos e presenciamos faz parte do Meio Ambiente” (Renato Malagó)

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Alex Bússulo

No próximo 5 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data visa chamar a atenção para a ação política de povos e países com o intuito de aumentar a conscientização e a preservação ambiental.

Para falar sobre as principais questões ambientais de Artur Nogueira entrevistamos nesta semana o engenheiro ambiental Renato Malagó. Nogueirense, aos 31 anos, ele é graduado em Engenharia Ambiental pela PUC Campinas, tem pós-graduação e especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e Georreferenciamento de Imóveis Rurais.

Trabalha há 10 anos nas áreas de meio ambiente e segurança do trabalho, atuando por três empresas de grande porte no Estado de São Paulo, na gerência das áreas de coleta, destinação e tratamento de resíduos sólidos, licenciamentos ambientais, construção de unidades de tratamento de resíduos e segurança do trabalho em empreendimentos de petróleo.

A seguir, Malagó comenta sobre o desempenho de Artur Nogueira no ranking ambiental, produção e coleta dos resíduos sólidos e como reverter a crise hídrica. Confira:

Estamos próximos a Semana do Meio Ambiente. Por que é importante discutir este tema? Meio Ambiente é muito mais do que a maioria imagina. Temos que parar de pensar só em “coisas” verdes, natureza… Claro que tudo isso faz parte do meio que vivemos, mas a definição é muito mais que isso. Segundo o dicionário Aurélio: “conjunto de condições e influências naturais que cercam um ser vivo ou uma comunidade, e que agem sobre eles”. Podemos concluir que tudo que fazemos, vivenciamos e presenciamos em nosso dia a dia, faz parte do Meio Ambiente, por isso deveríamos refletir e agir com mais dedicação todos os dias a respeito desse tema, não somente na semana dedicada a ele.

No ano passado, Artur Nogueira teve o pior desempenho da Região Metropolitana de Campinas no ranking ambiental do Programa Município Verde-Azul. Em sua opinião, quais motivos levaram a este resultado? Acredito que o item dos dez quesitos avaliados, o que mais pesou negativamente no quesito da nota atribuída ao nosso município foi a respeito do tratamento de efluentes, conforme mencionado em reportagens anteriores do Portal Nogueirense. Esse cenário tende a mudar com a conclusão das obras e o início da operação das estações de tratamento de efluente que estão sendo construídas. Aí o novo desafio será a operação das mesmas para atender satisfatoriamente os padrões de lançamento de saída dos efluentes.

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De acordo com o Consórcio Intermunicipal de Saneamento Ambiental (Consab), cada morador de Artur Nogueira produz 20 quilos de lixo por mês. Como avalia essa quantidade? Esse número está acima do que encontramos em municípios do estado de São Paulo e estimativas dos órgãos ambientais. Sem dúvida esse número poderia ser reduzido, por exemplo, implantando a coleta seletiva dos resíduos domiciliares, segregando melhor os resíduos de varrição, jardinagem e construção civil, que já vem sendo reutilizado com o britador do próprio Consab pela Prefeitura como forma de redução. Uma melhor reclassificação do que chamamos de grandes geradores, como o comércio e indústrias específicas, seria importante. Um escritório qualquer que seja, advocacia, engenharia, não gera a mesma quantidade de resíduos que um comércio ou indústrias.

Até alguns anos atrás, todo lixo recolhido em Artur Nogueira era descartado em um “lixão” localizado na zona rural do município. Hoje ele é destinado para Paulínia por meio do Consab. Esta é a melhor opção para o nosso descarte? Primeiramente temos que diferenciar o “lixão” do aterro sanitário, que é a destinação atual em Paulínia dos resíduos. No lixão, os resíduos são somente depositados, sem nenhum controle, resultando na contaminação das águas superficiais e subterrâneas e da atmosfera pelo gás metano, ambos gerados pela decomposição dos resíduos. Já em um aterro sanitário, têm-se um controle dos resíduos, o solo é impermeabilizado, o resíduo é compactado, coberto para evitar maior geração de chorume com as chuvas e a proliferação de vetores, canalização e tratamento do chorume e do metano. Claro que tudo isso tem um custo operacional, além do transporte até o aterro, hoje acredito que seja a alternativa mais viável devido às poucas opções de destinação corretas. Temos algumas possibilidades como incineradores, porém o custo ainda é elevado, futuramente a tendência é termos mais opções dessas tecnologias a um custo melhor.

Artur Nogueira não poderia ter seu próprio aterro sanitário? Quais as consequências e vantagens? O custo de implantação e operação de um aterro sanitário com todos os padrões exigidos pelos órgãos ambientais tem um custo elevado, com isso fica inviável para um município do tamanho do nosso ter um aterro somente para os resíduos gerados aqui. O que talvez fosse interessante seria um projeto de um aterro sanitário de porte maior para atender as cidades vizinhas, viabilizando a construção e operacionalização do mesmo.

Artur Nogueira enfrenta um sério problema de lixo e entulho que são descartados irregularmente em beiras de estradas, principalmente na zona rural. O que pode ser feito para acabar de vez com este cenário? Em minha opinião, Artur Nogueira deu um grande passo regularizando as empresas de retirada de entulho na cidade, porém, ainda encontramos muitos pontos de descarte irregulares na zona rural do município e alguns pontos mais isolados da própria cidade. Um dos problemas do lixo são as chácaras e loteamentos irregulares que não tem coleta de resíduos na porta, vejo que parte desses moradores ou usuários de finais de semana das mesmas jogam seus lixos pelas estradas ou próximo aos pontos de coleta oficiais que estão implantados. A única forma de melhorar esse cenário seria intensificar a fiscalização e a punição dos mesmos.

Quais as consequências ambientais que o lixo eletrônico, tais como pilhas, celulares e lâmpadas fluorescentes, pode causar quando descartado junto com o lixo doméstico? O lixo eletrônico contém em sua composição materiais químicos, como ácidos e outras substâncias tóxicas, além dos metais pesados como o chumbo. Descartando esses materiais com os resíduos domésticos, eles acabam nos aterros sanitários, elevando a carga desses materiais no chorume percolado, o que torna o processo de tratamento mais complexo e consequentemente mais caro. Isso sem falar que acabam indo para os descartes incorretos, contaminando o solo e a água.

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Você tem conhecimento de algum ponto aqui em Artur Nogueira que faz a coleta deste tipo de lixo? De quem é a responsabilidade de coletar o lixo eletrônico? O município realiza a coleta de eletrônicos em algumas campanhas durante o ano, esse trabalho é realizado em conjunto com o próprio Consab. De acordo com a política nacional de resíduos sólidos, o correto seria devolver ao fabricante para que ele o destinasse adequadamente, porém acontece em raras exceções devido o alto custo dessa logística reversa. Um ponto positivo que temos em nosso município são os pontos permanentes de coleta de pilhas e baterias que encontramos em alguns comércios e supermercados, são recipientes da cor laranja, onde podemos depositar esses materiais, que posteriormente são recolhidos pela própria prefeitura para a correta destinação.

Artur Nogueira não tem coleta seletiva. De que maneira a população pode fazer esta separação? A coleta seletiva é fundamental para reduzirmos a geração de resíduos sólidos e consequentemente diminuirmos a utilização de recursos naturais. Hoje, apesar de não termos implementada em nosso município, existem alguns catadores informais que recolhem esse material que gera renda para eles, cada residência separando seus resíduos podemos colaborar com esses catadores, aumentando sua produtividade e incentivando o reaproveitamento e reciclagem de materiais.

A população depende exclusivamente do poder público para aderir à prática? De forma alguma, existem entidades em outros municípios da região que obtém uma renda considerável através da venda de materiais recicláveis, que são doados por indústrias e até mesmo pessoas físicas. Podemos citar em Artur Nogueira a implantação nos últimos meses por uma ONG, a coleta de latas de alumínio que são vendidas e convertidas em benefícios para a mesma, um ótimo exemplo que o negócio pode se tornar rentável em grandes volumes, mas infelizmente somente esse material que tem um valor maior de revenda está sendo coletado, mas já é grande exemplo para início de um projeto.

Qual a dificuldade dos municípios, em especial Artur Nogueira, em se adequar a coleta seletiva? Além da falta de incentivos fiscais e aos baixos valores pagos da maioria dos materiais recicláveis, a coleta seletiva também tem seu custo de implementação e operação. Esse valor não é baixo. Fazendo um estudo de viabilidade técnica, a conta não fecha, além de todos os custos operacionais, ainda teria de ter saldo no final do mês para pagamento de seus funcionários ou cooperados. É muito importante o apoio e a participação da iniciativa privada nesse processo, não só financeiramente, mas cedendo parte de seus materiais recicláveis para melhorar a arrecadação.

No Cinturão Verde, no trecho onde acontece a Feira Livre, estão plantadas árvores Fícus Benjamina, uma espécie que tem raízes longas que acabam atingindo e perfurando tubulações, redes de água e esgoto, além de casas próximas. Algumas pessoas defendem que essas árvores deveriam ser cortadas. Qual a sua opinião sobre isso? Realmente esses fícus não deveriam ter sido plantados em áreas urbanas. Digo isso devido o estrago que fazem nos pavimentos, calçadas e tubulações. Podemos notar que em no nosso município, elas gradativamente estão sendo suprimidas, uma ótima iniciativa. Elas podem ser substituídas por inúmeras árvores de menor porte, apropriadas para áreas urbanizadas.

Como você avalia a crise hídrica que Artur Nogueira enfrentou no último ano? O que o governo, a iniciativa privada e a própria população podem fazer de concreto para evitar uma nova crise? Não só Artur Nogueira, como todo Estado sofreu e vem sofrendo com a crise hídrica, e provavelmente continuará se não forem tomadas medidas de redução de consumo e desperdício por todos nós. Todos sabem que não é só por parte do governo, que por sua vez deve reduzir o consumo de água no próprio tratamento e perdas por vazamentos na distribuição, aumento dos reservatórios para maior retenção durante as chuvas, pela iniciativa privada que pode e deve alterar seus processos industriais para um menor consumo ou maior reaproveitamento da água utilizada, mas principalmente pela conscientização do consumo de cada pessoa, temos que lembrar que a água é um recurso finito.

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