23/08/2014

ENTREVISTA: Raoni Zopolato fala sobre preconceito, desafios e projetos

Idealizador do Encontro LGBT de Artur Nogueira fala sobre preconceito, desafios e atrações do evento

Raoni“Ser gay não muda o caráter de ninguém” (Raoni Zopolato)

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Alex Bússulo

Acontece na noite de sábado (23) a terceira edição do Encontro LGBT de Artur Nogueira. O evento começa logo mais às 19 horas com várias atrações em um palco montado em frente a Réplica da Estação, no centro.

Diferente de edições anteriores, o encontro deste ano acontecerá em apenas um dia, mas promete atrair um público equivalente a 5 mil pessoas, entre homo e heterossexuais.

Com o tema “País Vencedor é País sem homolesbotransfobia”, o organizador do evento, Raoni Zopolato, conversou com a nossa equipe sobre a proposta e novidades do encontro.

Nascido na cidade de Tucuruí/Pará, Zopolato veio para Artur Nogueira em 1992, devido ao trabalho do pai. Aos 24 anos, após se abrir pela primeira vez com uma psicóloga, ele assumiu a homossexualidade. De lá para cá, vem lutando por respeito e direitos no município e na região.

Na entrevista a seguir, o idealizador do Encontro de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais de Artur Nogueira fala sobre desafios de produzir o evento, preconceito e propostas para os próximos anos.

A primeira edição do Encontro LGBT de Artur Nogueira aconteceu em quatro dias. No ano passado foram três dias de atrações. Para este ano, o evento acontecerá em apenas um dia. O que levou a organização a encurtar a programação no município? A princípio seriam dois dias, sábado e domingo, porém a Parada de Campinas foi marcada para o dia 24, domingo. Assim colocamos todas as atrações de domingo no sábado. Algumas infelizmente foram canceladas. E, há 20 dias, a Parada de Campinas foi transferida para setembro, mas nossos contratos já estavam todos fechados para sábado. Desde a primeira edição a ideia era ir diminuindo para que o evento acontecesse em apenas um dia, preferencialmente no domingo, com início por volta das 14 horas e encerramento até às 23 horas, para ser um evento familiar, e fugir do padrão balada. Até porque a intenção do evento é a conscientização dos munícipes.

Mesmo com algumas críticas, você acredita que o Encontro LGBT conquistou a aceitação da maioria dos nogueirenses? Sim. Se pegarmos como exemplo o próprio Portal Nogueirense as críticas diminuíram em cerca de 80%, o que ao meu ver significa que aumentou o respeito, não necessariamente a aceitação.

Raoni

Além de toda a programação acontecer em um dia, qual outro diferencial para o evento deste ano? Esse ano temos como carrão chefe a Léo Áquilla, além de outras atrações muito conhecidas no meio LGBT, deixando o evento com maior visibilidade.

O tema deste ano é “País Vencedor é País sem homolesbotransfobia”. Qual é a proposta e objetivo desta temática? A palavra vencedor diz respeito à ideia de que todos juntos, sem preconceitos e com respeito mútuo, o país se desenvolve melhor para todos.

São esperadas 5 mil pessoas, incluindo heterossexuais. Por qual motivo é interessante atrair para o evento o público hetero? Para esclarecimento. O preconceito existe, na maioria dos casos, pela falta de conhecimento em algum assunto. Nesse caso, queremos mostrar que apesar da condição sexual de cada um, todos somos seres humanos com direitos e deveres, igualmente.

Quais os benefícios que o encontro traz para Artur Nogueira? Maior conhecimento da vida e do dia a dia dos gays, para haver maior aceitação, ou pelo menos, o respeito, para com os gays.

Qual é o maior desafio em promover um evento como este? O maior desafio é o patrocínio, pois o preconceito já começa aí. Não são todos que querem ter seus estabelecimentos vinculados aos eventos LGBT’s.

O encontro gera lucro? Não. O evento é sem fins lucrativos. Ele é feito para a população, a minha remuneração vem da satisfação com o evento, das conquistas que temos nas questões relacionadas a preconceito e afins. E, mais importante de tudo, o prazer de saber que estou ajudando pessoas e que a partir de cada evento mais pessoas serão ajudadas. Então, o meu ganho é pessoal, emocional e espiritual.

Como você avalia o encontro daqui há alguns anos? Que o evento cresça cada vez mais e que a comunidade LGBT seja mais atuante no município, não apenas no evento.

Raoni

Você pretende promover o mesmo encontro em Cosmópolis? Por que? Essa ideia foi cogitada pelo fato de que os comerciantes de Cosmópolis terem maior aceitação com o evento e serem a grande maioria, em valor, dos patrocinadores do evento nesta edição.

O que é o movimento ‘Visibilidade Trans’? É um movimento que visa que todos os trans sejam tratados com a sua identidade de gênero, ou seja, não por seu órgão genital. No estado de São Paulo existe uma lei que todo trans pode ter sua identidade social, que deveria ser respeitada, inclusive nas questões de utilização de banheiro públicos, crachá de empresa, dentre outros. É o exemplo da Roberta Close, que é tratada como ela, e sempre foi, e é o que buscamos para todos os outros.

O Ministério da Educação tentou implantar materiais didáticos para as escolas tratarem o tema da homofobia. Na sua opinião estas iniciativas de políticas públicas sobre o assunto contribuem ou atrapalham no combate ao preconceito? Contribuem, pois o preconceito começa em casa. Se as crianças começarem a aprender e criam respeito, elas levam isso para casa. Não é por que aprendemos sobre Hitler ou outros momentos históricos, que nos transformamos em nazistas.

Alguns criticam as paradas por acreditarem que elas banalizam um debate que deveria ser levado mais a sério. Qual, na sua visão, é a importância de se organizar um evento como a Parada Gay? A parada é banalizada por falta de informação do que acontece antes da Parada nas ruas, pois a população não tem costume de acompanhar debates, congressos e toda a parte político-burocrática do movimento.

Tivemos diversos casos, em especial no Estado de São Paulo, envolvendo agressão a jovens por simplesmente se declarem gays. O que você acha que precisa ser feito para mudar realidades como estas? Educação. Como eu já disse a falta de conhecimento é que normalmente gera a intolerância. Se todos aprenderem que ser gay não muda o caráter de ninguém, esse tipo de coisa não aconteceria. E poderiam também haver uma punição mais severa em casos assim.

Você tem conhecimento de casos de agressão contra gays aqui em Artur Nogueira? Sim. Como parte do meu trabalho é manter sigilo, não cito nomes para não causar constrangimentos. Vou citar os últimos três casos que chegaram até a minha pessoa. Primeiro, um travesti que foi espancado na saída de um evento familiar. Segundo, um menor que apanhou na porta da escola e, terceiro, uma menor que foi espancada pelo próprio pai.

Raoni

Qual sua avaliação a respeito do desempenho da mídia ao explorar estas questões de gênero em novelas e outros programas? Existe um sentimento de colaboração por parte da mídia neste contexto? Depende do tipo de abordagem. Ultimamente temos maior divulgação, como o exemplo de Walcyr Carrasco, que teve grande êxito com abordagem na novela Amor a Vida, e pelo sucesso do personagem, começaram a usar mais como atrativo de audiência do que para a conscientização.


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