14/06/2014

NATÃO: “O Brasil pode até ganhar a Copa, mas vai ser difícil”

ENTREVISTA: Apaixonado por futebol, ex-treinador nogueirense relembra histórias, faz apostas para a Copa do Mundo e conta sobre o dia que conheceu o Felipão

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“O Brasil pode até ganhar a Copa, mas vai ser difícil” (Natão)

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Alex Bússulo

A Copa do Mundo começou. Trinta e duas seleções em busca da vitória. Nós, brasileiros, em busca do tão sonhado hexa. Artur Nogueira, de maneira modesta, também entrou no clima verde-amarelo. Teve comércio que pintou a fachada, outros que colocaram grandes bandeiras com as cores da seleção. Uma rua no Jardim Vista Alegre recebeu desenhos e pinturas de seus moradores.

Na última quinta-feira (12), na vitória do Brasil em cima da Croácia, cada nogueirense comemorou de um jeito. Bares aproveitaram para atrair mais clientes, famílias fizeram os tradicionais churrascos e até a Avenida Dr. Fernando Arens recebeu os torcedores após a partida.

Ninguém discorda que o futebol tem o poder de unir as pessoas. Homens, mulheres, crianças, idosos, torcidas brasileiras, todos juntos, torcendo pelos jogadores brasileiros. E se tem uma pessoa que entende de futebol em Artur Nogueira essa pessoa se chama Renato Berni Barbosa, o famoso ‘Natão’.

Popular em toda a cidade, ele carrega uma história de dedicação e amor ao futebol. Por muitos anos atuou como goleiro e trouxe importantes títulos para times nogueirenses. Mas o que torna esse nogueirense tão especial foram os tantos anos que trabalhou, muitos deles voluntariamente, como treinador e professor de futebol no município ‘Berço da Amizade’. Para Natão é difícil calcular quantos nogueirenses já treinaram com ele, mas acredita: “Foram mais de 5 mil jovens”.

Na entrevista deste sábado fomos conhecer as histórias deste nogueirense. Em mais de duas horas de conversa, Natão relembrou momentos, falou sobre as escolinhas de futebol que coordenou no município e fez seu palpite para a Copa do Mundo: “O Brasil pode até ganhar, mas vai ser difícil”.

Ele nasceu no dia 12 de março de 1946 pelas mãos da parteira Dona Laura Miranda. Filho do casal Alcides Pinto Barbosa e Palmira Berni Barbosa teve cinco irmãs. Logo na infância, Natão descobriu a paixão pelo futebol.

“Me recordo de quando eu tinha 8 ou 10 anos e jogava bola com a molecada da cidade. Nos dividíamos em dois times: o do lado de cima e o do lado debaixo da igreja matriz. Era pura diversão. Jogávamos no antigo campo do Zé Vinha, onde hoje é a Lagoa dos Pássaros”, relembra.

Natão conta que naquela época a bola era feita de bexiga de porco. “Nós pegávamos as tripas do porco, limpávamos e enchíamos. Era o que tinha naqueles anos. Tive uma infância pobre. Mas a brincadeira sempre estava garantida. Depois chegaram as bolas de capotão, que eram bem mais pesadas”.

Com 14 anos, Natão entrou no time juvenil do Floresta Futebol Clube de Artur Nogueira. “Naquela época, o time do Floresta era muito respeitado e admirado em toda a região. Treinávamos bastante e disputávamos em toda a região. Sempre joguei como goleiro e, modesta parte, sempre fui bom nisso [risos]”.

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Quando fez 15 anos tentou entrar no time da Ponte Preta, em Campinas, mas o destino não permitiu. “O Ponte Preta era referência para todos os jogadores da região. Jogar nele era um grande salto na carreira de qualquer um que gostasse de futebol. Marquei o teste, mas um dia antes da avaliação sofri um acidente bobo em casa. Ao tentar acender a luz do quarto levei um choque. Fiquei grudado no interruptor. Minha mão ficou toda machucada, preta. E não dava para um goleiro jogar com a mão daquele jeito. Perdi o teste”, relembra.

Mas isso não desanimou Natão, que passou a jogar no time principal do Floresta. “Tenho ótimas recordações daquela época, porque foi onde tudo começou. Fiz grandes amigos que mantenho até hoje. Nós treinávamos e nos divertíamos muito. Mas sempre levávamos o futebol à sério”.

Depois que completou 18 anos, decidiu se mudar de Artur Nogueira. Deixou as irmãs e os pais e foi morar em Campinas, onde trabalhava em uma empresa chamada Boris, de venda de eletrodomésticos. A mesma empresa tinha um time de futebol e Natão, claro, jogava como goleiro.

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Após 4 anos, se mudou para Limeira onde trabalhou e jogou no Refi União. Também jogou futebol de salão, mas a paixão sempre esteve nos campos gramados. Foi em Limeira que Natão conheceu a esposa Maria Rita. “Na época ela estudava Educação Física na Unimep de Piracicaba. Namoramos por 8 anos. Depois que ela se formou decidimos nos casar. Nosso casamento aconteceu no dia 8 de dezembro de 1974”, conta.

Ainda em Limeira, o casal teve três filhos: Carlos Renato (Cá), Ana Paula e o João Paulo. “Houve uma época em que eu comecei a vender consórcios de carros e a Maria Rita, como professora, dava aulas de Educação Física aqui, em Artur Nogueira. Foi quando recebi uma proposta de um amigo para abrir uma loja de venda de veículos na Avenida Dr. Fernando Arens. Achamos uma boa proposta e eu, com a minha família, voltei a morar em Artur Nogueira. Montei uma loja bonita de carros, onde hoje é a loja da Julietti Vestimentaria. Pelo que me lembro, aquela foi a primeira loja de venda de carros, motos e camionetes em Artur Nogueira”, afirma.

No retorno para Artur Nogueira, Natão precisava encontrar um novo clube para jogar. “Conversando com alguns amigos recebi o convite para entrar no time dos Veteranos, que treinava em um campo onde hoje foi construída a Escola Modelo. Com este time eu participei de muitos amistosos e campeonatos na região. Foi uma época muito boa também”, relembra.

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No final da década de 80, Natão e alguns amigos iniciaram uma escolinha de futebol. “Foi bem na época que o prefeito Ederaldo Rossetti foi eleito. Foi criado um time da Comissão Municipal de Esportes. Eu, o Ravair Marques, o Clare Chichurra, o Vaduca e o Donizeti treinávamos toda a molecada. Erámos voluntários. Nos dedicávamos porque gostávamos de futebol e das crianças. Os treinos aconteciam em um campinho que tinha no recinto do antigo Arraiá do Pé Queimado, ao lado do Cemitério. Muitas crianças passaram por lá. Calculo que já no começo tínhamos mais de 200 crianças e jovens. A molecada adorava jogar bola”, conta.

Natão relembra que naquela época já descobria talentos para a bola. “Logo no início daquela turma teve um jovem que se destacou. O Leonardo, conhecido como ‘Bel’. Ele era um menino pequeno, mas que já tinha um grande diferencial. Gostava e tinha o dom para o futebol. O Bel era habilidoso e atrevido com a bola. Fazia o time brilhar. Ele marcou o gol da vitória contra o Juvenil do Gran São João, em Limeira. Depois foi destaque no Guarani e até chegou a jogar na Seleção Brasileira Sub 15. Mesmo depois de tantos anos, ele ainda continua meu amigo. Hoje ele tem uma escolinha de futebol em Artur Nogueira”, afirma.

Depois de vários anos de trabalho voluntário no município, Natão recebeu o convite para dar aulas oficiais em Artur Nogueira. “Em 1997, quando o Nelson Stein assumiu a Prefeitura, ele me convidou para ser coordenador de Esportes de Artur Nogueira. Foi quando entrei com tudo e comecei a treinar centenas de meninos e jovens. Os treinos aconteciam durante os dias da semana. Aos sábados e domingos íamos para os campeonatos. Como treinador, ficava responsável pelo time dos jogadores infantil e juvenil. Continuei como coordenador nos mandatos dos prefeitos Luiz de Faveri e do Marcelo Capelini. Fiquei como coordenador até 2010, trabalhando por 13 anos na Prefeitura”, afirma.

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Os dois filhos homens de Natão também tiveram uma boa trajetória no futebol. “O Cá estuda atualmente Educação Física e já jogou no União São João de Araras, jogou no aspirante dos Santos, Guarani, América de Rio Preto. Também jogou em alguns times da Europa e Ásia. Meu outro filho, o João Paulo, me substituiu no gol. Ele começou a jogar no União São João de Araras, jogou no Metropolitano de Santa Catarina, Joinville, Icasa de Juazeiro do Norte, no Mogi Mirim, Oeste de Itápolis. O futebol sempre esteve no sangue da família”, afirma orgulho.

Quando o assunto é Copa do Mundo, Natão é cauteloso em arriscar uma final. “Estou com o pé atrás. Para falar a verdade, se o Brasil ganhar vai ser apertado. A Alemanha e a Argentina vão surpreender. Também admiro muito o futebol da Holanda, que é uma seleção rápida, que surpreende em cada partida. Mas como bom brasileiro estou torcendo pela minha seleção. Para ser confiante, eu apostaria em uma final entre a Alemanha e o Brasil” acredita.

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Natão admira e respeita o trabalho e a estratégia de Felipão, treinador do Brasil. “Ele é um ótimo líder e sabe cobrar e colocar ritmo na equipe. Sabe bem a hora de substituir um jogador e ter bons resultados”, afirma.

Em abril de 1999, Natão teve a honra de conhecer o Felipão. “Na época, o Felipão era treinador do Palmeiras, que veio jogar no Campeonato Paulista contra a Inter de Limeira. Como eu tinha muitos amigos no clube me deixaram a entrar na concentração do time. O Felipão sempre foi gente boa, humilde, e me recebeu com muita atenção. Até ganhei uma camisa do Palmeira autografada por ele”, relembra.

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Natão encontrou no futebol um jeito simples de fazer e manter amigos. Aprendeu e, acima de tudo, transmitiu valores. “Desde aquela época no campinho do Arraiá do Pé Queimado eu sempre conversava com a criançada. Dizia a elas para valorizarem os pais e as mães e sempre priorizarem os estudos. Longe das drogas e da violência. Dizia para eles respeitarem os colegas e as pessoas a volta, que podíamos ser adversários, nunca inimigos. E assim construíamos uma relação de respeito e amizade com quem jogássemos. Isso me orgulha muito”, afirma Natão.

Fotos: Renan Bússulo


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