15/02/2014

ENTREVISTA: Luiz Rossi fala sobre impunidade, manifestações e consumo de álcool por menores

Para sociólogo nogueirense, a violência se tornou normal e aceita em todo o país. Ele afirma que precisamos de uma revolução urgente nas leis brasileiras. Rossi também critica o consumo de álcool por adolescentes durante o Carnaval em Artur Nogueira e alerta: se a situação não for mudada, vai piorar e muito

Luiz Rossi“Sem leis não há ordem e sem ordem não há respeito” (Luiz Rossi)

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Alex Bússulo 

As recentes manifestações no Brasil trouxeram grandes resultados reais: como mortes de inocentes, ônibus depredados e lojas saqueadas. Pelo menos essa é a opinião do sociólogo nogueirense Luiz Rossi.

Para ele, um protesto tem que ser livre, pacífico e precisa ter um propósito. A violência registrada nos últimos dias, como a morte do cinegrafista Santiago Andrade, deixou claro que alguma coisa está errada, e muito, em nosso país. O sociólogo afirma que neste ano o povo precisa acordar. As eleições em outubro são um ótimo momento para refletir e exigir mudanças, entre elas a reformulação do Código Penal.

Rossi é natural de Araras e morador de Artur Nogueira há mais de 30 anos. Formado em Ciências Sociais, já presidiu o Conselho Tutelar do município, além de dar aulas em escolas estaduais.

Na entrevista desta semana, ele fala sobre violência, manifestações, “rolezinhos” e sobre o consumo de álcool por menores durante o Carnaval de Artur Nogueira.

A morte do cinegrafista Santiago Andrade sensibilizou todo o país nesta semana. Por que estamos presenciando essa constante violência nos protestos? Sem limites, não há limites. Sem leis não há ordem e sem ordem não há respeito. A morte do cinegrafista da Band mostra exatamente a situação em que o país vive. Fico muito triste em falar deste acontecimento, pois foi levado ao conhecimento até da mídia internacional, mídia esta que cobra resultados. Lembra do Tim Lopes? Globo? Então… Resultados, perante uma situação de imagem internacional e não de vida. Imagem vendida para que milhares de turistas vejam nosso país como um lugar de oportunidades e não de desordem. A polícia foi muito rápida neste caso. Parabéns! Tem que ser rápida… Os holofotes do mundo estão cobrando… A mídia está cobrando… Foi documentado. Um cidadão que estava trabalhando e sendo morto por dois moleques que nem tinham ideia do tamanho do armamento que tinham em mãos. Para eles era apenas uma bombinha. O que causa isso? Vamos para a farra. Impunidade, impunidade e impunidade. Estavam como crianças usando um estalo, achando que aquilo só ia fazer barulho, porém com o passar dos anos as bombas vão aumentando e aumentando gradativamente. Quanto maior melhor. Quanto mais estampido melhor. A polícia joga nos manifestantes aquela bomba de efeito moral, vamos jogar na polícia nossa bombinha. Faltam regras. Isso é a impunidade. As bombas que a polícia lança são preparadas para não ferir e são usadas em último caso, e as bombinhas e pedradas dos manifestantes são jogadas sem cuidado e por pura emoção e sem a preocupação com que ou quem está em sua frente.

Quando se falta o respeito a situação fica desesperadora. O que fazer? Temos que levar este caso para as autoridades, que nesta época eleitoral nos trazem asfalto, ambulâncias, terrenos, que tenham consciência que sem nosso Código Penal reformulado por uma cúpula independente e sem vínculos com o narcotráfico, baderna ou por pura vantagem política, façam leis melhores e sem brechas. Façam leis verdadeiras. Tragam a austeridade ao povo brasileiro e coloquem nossas famílias nas praças, ruas e não em cadeias marcadas por cercas elétricas e arame farpado. Quando houver leis e menos corrupção não mais veremos os “Santiagos” sendo mortos e os “Josés”, “Marias” e “Pedros” sendo assassinados, violentados e privados de liberdade por nada… Leis reais já! Esta tem que ser nossa bandeira.

Luiz Rossi

As manifestações que mobilizaram milhões de brasileiros terão algum resultado real? Sim! Muitos resultados reais! Mortes de inocentes, ônibus depredados, lojas saqueadas. Maravilhoso! O protesto tem que ser livre, pacífico e com um propósito. Temos que comunicar as autoridades locais sobre nosso trajeto. Temos que ter uma relação de participantes. Isso é protesto. Não podemos reivindicar nada no anonimato. Temos que ter identidade. Mostrar o rosto e solicitar mudanças. Não adianta um bando de dementes e despreparados saírem às ruas buscando seus direitos, arrastando um grupo de baderneiros de oportunidade ou pagos, para transformar nosso pedido em quebra-quebra ou morte. Temos que colocar regras e metas em nossas manifestações.

Você acredita que o brasileiro ficou mais crítico depois dessas manifestações? Claro! Muito mais crítico! Acordou para a realidade que os cidadãos de bem não podem mais participar. Quando acreditamos em um ideal temos que buscar os meios para que ele aconteça, temos que mostrar nossa vontade, temos que gritar para sermos ouvidos. O que vejo não são manifestações e sim formadores de quadrilha, incrustados em meio aos verdadeiros significados.

O que você diz a respeito dos vândalos que invadem e acabam estragando o protesto do cidadão de bem? Eles são pagos para isso! Está demorando para que todos percebam. São indivíduos sem metas ou devendo para alguém que tem que pagar sua conta. Conta que causa dor, agride e mata. Estão pagando para que grupos transformem as manifestações em uma baderna. Usam as manifestações para projetar o terror e mostrar poder. Grupos políticos ou facções que estão pagando para que alguém em alguma campanha diga que a posição não está correspondendo com a segurança e lançar uma candidatura baseada no sofrimento alheio. Líderes que arquitetam a promoção de alguém, infiltrando no meio das manifestações, indivíduos que inflam os demais cabeças fracas que participam, e iniciam uma batalha e depois correm, se escondem e ficam de camarote, rindo e esperando a próxima oportunidade de acender o pavio.

Qual é a melhor forma de manifestar e evitar violência nos protestos? Marcar um compromisso e determinar as regras com os participantes. Cadastrar todos os envolvidos e mostrar a real situação em que o protesto está inserido. Deixar pessoas do grupo de olho em possíveis invasores e se caso houver, cadastrar esta pessoa e se ela se negar, parar imediatamente com o processo. Tornar a manifestação verdadeira e limpa e ter muito cuidado para que não continuemos a ver cenas de guerra com flores nas mãos.

A polícia está capacitada para lidar com protestos violentos? Muito preparada, porém são seres humanos e estão sempre em minoria. Eles também tem alguém para voltar. Tem famílias os esperando. Quando a situação foge do controle eles tem que usar os meios que possuem para garantir a vida de todos e também a deles. Podem notar as cenas dos vários confrontos a forma como as forças são recebidas. O que eles não podem é fazer carinho, tem que usar de força para acabar com as barbaridades que alguns provocam. Eles estão muito bem preparados só que o momento faz o homem e aí nenhum treinamento vem à mente e sim o senso de sobrevivência.

Luiz Rossi

No final do último mês, o caso do menor suspeito de praticar roubo e que foi espancado e acorrentado nu em um poste no Rio de Janeiro também ganhou as manchetes. Fazer justiça com as próprias mãos gera resultados na diminuição da criminalidade? Estamos tão cansados de ver casos e mais casos de impunidade que achamos que se este delinquente for para as ruas, fará tudo novamente ou muito pior, daí a revolta e o resultado. Estamos enjoados de assistir nos jornais que tal bandido tem uma ficha criminal quilométrica e continua solto. Estamos cansados de ver que tal indivíduo tem 25 passagens pela polícia. A situação, se não for mudada, vai piorar e muito. Escrevam isso. Quando desarmaram os cidadãos deram mais poder aos meliantes e ajudaram em muito para que estes desempenhem seu papel com mais segurança. Segurança que deveria ser nossa e não deles. Sabedores que cidadãos de bem estão desarmados, fica mais fácil intimidar, bater, estuprar e matar por nada. Eles estão armados e com uma pedra ou pó de coragem na cabeça. Nós estamos presos em gaiolas de segurança servindo de divertimento para estes não qualificados. Isso tudo é provocado pela falta de leis verdadeiras e que realmente valorizem o cidadão e dê um basta nos que não as cumprem. Quando vamos acordar e pedir mudanças nas lideranças, mudar o modo que os poderosos olham para a ralé.

Outro assunto que ganhou a mídia nos últimos dias foram os famosos “rolezinhos”. Como explicar esse fenômeno? Mais uma forma de demonstrar poder. Mais uma forma de demonstrar força. Duvido que estes jovens tem notas boas na escola ou já fizeram algum trabalho voluntário. Duvido que sua frequência escolar é significativa. Duvido que eles tem alguma preocupação com o futuro.

Vamos trazer a discussão para Artur Nogueira. No último domingo, mais de três mil jovens lotaram a principal avenida da cidade, antecipando o Carnaval. Mesmo sem som na avenida, os jovens buscaram uma forma de divertimento entre si. Depois deste encontro, as opiniões ficaram divididas entre os nogueirenses. Alguns apoiaram a concentração dos jovens, outros já reprovaram a iniciativa. Como achar um meio termo entre a diversão dos jovens e o sossego alheio? Moramos em uma cidade que tem suas tradições e uma que é bem forte é o Carnaval. Os jovens já escolheram há muitos anos que os domingos de fevereiro que antecedem o Carnaval já estão marcados para estas reuniões e será assim. Deveriam ter acabado com isso no começo. Agora, infelizmente, só basta controlar e aguentar. Não estão fazendo nada de errado, só demonstrando alegria e um acontecimento que já existe há anos.

Você já fez parte do Conselho Tutelar de Artur Nogueira. E já teve plantão durante o Carnaval de Artur Nogueira, registrando o consumo de álcool por muitos menores de idade. O que mais lhe chocou? Bem, dentre os fatos que mais fiquei chocado foi a grande distribuição de bebidas pelos próprios blocos e o consumo exagerado de seus membros. A comissão do Carnaval deveria proibir este comportamento para que tenhamos desfiles belos e que alguns integrantes dos maravilhosos e premiados blocos de nosso Carnaval consigam, pelo menos, chegar ao final do desfile. Em 2013, o Pronto-socorro estava tão cheio de pessoas embriagadas e no meio delas muitos menores, muitos mesmo! Isso foi documentado e os pais chamados para que respondam como seus filhos estavam naquele lugar sem a supervisão deles. A resposta era sempre a mesma: “Eu não sabia que ele havia saído e vindo para o Carnaval, disse que iria dormir na casa de um amigo”. Tenha santa paciência! Acham que ouvido de conselheiro é o que? A venda de bebidas alcoólicas para menores é muito visível e quando não conseguem adquirir os próprios amigos, irmãos ou parentes maiores estão comprando bebidas para os mesmos. A responsabilidade por estes menores é sem dúvida dos pais ou tutores. Cabe a eles zelar e cumprir com seus deveres junto a seus responsáveis. É isso.

Luiz Rossi


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