28/06/2014

Lemão do Rodeio: “A música raiz está em meu sangue”

Cantor de Artur Nogueira se emociona ao lembrar do Arraiá do Pé Queimado, amizade com Ederaldo Rossetti e sucesso com dupla sertaneja

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“A música raiz está em meu sangue” (Lemão do Rodeio)

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Alex Bússulo

Amante da música raiz, Lemão do Rodeio já fez muito sucesso em todo o Brasil. Tocando e cantando ao lado de grandes artistas e fazendo locuções em festas de peão, este nogueirense da terra tem muitas histórias boas para contar. Formando uma dupla sertaneja chegou a gravar dois discos.

Lemão se chama Ademir Aparecido Carvalho, mas ninguém o conhece por esse nome. Hoje, aos 50 anos de idade, ele se emociona ao recordar momentos passados, histórias que ficaram na memória e principalmente no coração.

Quem mora em Artur Nogueira há mais de 15 anos se lembra de uma tradicional festa que era realizada no município. O “Arraiá do Pé Queimado” costumava atrair milhares de pessoas em uma festa de vários dias. O recinto do evento ficava ao lado do Cemitério Municipal. Tinha parque de diversões, shows com artistas da região e convidados famosos, barracas típicas e, claro, o bom e velho rodeio.

Lemão era o locutor oficial da festa. Daí a origem do apelido “do Rodeio”. Por muitos anos ele informou, animou e contagiou os corações dos nogueirenses. Com a voz forte de um bom narrador, tornava o evento inesquecível.

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Após vários anos, ele recorda como surgiu a festa. “Tudo começou com o Ederaldo Rossetti. Em uma época em que ele ainda nem pensava em ser prefeito de Artur Nogueira. Ele sempre gostou de festa e do povo. Poucas pessoas vão se lembrar, mas a Festa do Arraiá do Pé Queimado começou lá atrás, no bairro rural dos Correias. O Ederaldo realizava para aquela comunidade uma festa junina, com quermesse e reza. Sempre em junho, a festividade foi crescendo, crescendo, até chegar em um ponto em que não dava mais para continuar naquele lugar. O Ederaldo, sempre muito comunicativo e com bom relacionamento com todos, conseguia apoio do comércio nogueirense para realizar a festa. Com o passar dos anos, ele transferiu a quermesse para um terreno, dele mesmo, aqui na cidade, ao lado do Cemitério, local onde a festa permaneceu por mais de 20 anos”, relembra Lemão.

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No início da década de 80, Lemão já trabalhava como açougueiro, profissão que desempenhou por muitos anos. Paralelo a isso sempre arrumava tempo para a viola e o rodeio. “A primeira grande festividade aqui de nossa região foi a Festa do Peão de Boiadeiro de Tanquinho, em Piracicaba. Como eu gostava muito de rodeio, não perdia uma festa. Ia para assistir e também para aprender como tudo aquilo era feito. Depois de alguns anos surgiu a Festa de Tujuguaba, que também passou a fazer parte da minha agenda. Enquanto isso, aqui em Artur Nogueira, nós começamos a montar uma pequena arena de montaria no recinto do futuro Arraiá do Pé Queimado. Nos reuníamos sempre aos domingos. Muitos amigos vinham de fora para montar em touros e cavalos. Era uma alegria. Com o passar dos anos, o Ederaldo tirou a festa que ele fazia nos Correias e a transferiu para o recinto na cidade. O rodeio permaneceu e eu fui convidado para ser o locutor da festa. Me recordo como se fosse hoje. O Ederaldo chegou em mim e disse que eu deixaria de ser o ‘Lemão do Açougue’ e passaria a ser o ‘Lemão do Rodeio”, lembra emocionado.

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Depois de alguns anos, Lemão também passou a gerenciar a festa. Além de fazer a locução, ele montava a grade artística e corria atrás dos parques e barracas típicas. “Fazia tudo de maneira voluntária. Trabalhava porque amava aquela festa. Me considerava como o braço direito do Ederaldo. Em 1988, o Ederaldo decidiu entrar na política. Ele era empresário e muito conhecido na cidade. Com tamanha popularidade acabou sendo eleito prefeito de Artur Nogueira”, relembra.

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Lemão afirma que Ederaldo Rossetti foi um grande homem e administrador público. “Ele gostava de gente, do povo. Era um grande amigo, um parceiro, como se fosse um irmão. Nossa relação era muito estreita. Como prefeito ele tinha uma visão muito ampla. O governo dele era voltado para o povo. Ele administrava a Prefeitura como se fosse uma empresa. Ele queria ver Artur Nogueira em destaque no Estado”.

Em novembro de 1987, a festa do “Arraiá” foi inserida no Calendário Turístico do Estado de São Paulo pela Lei Estadual de número 5.904. Em 1992, a festa foi incluída no Calendário Folclórico do município através da lei de número 1.988. “Nossa festa atraia gente de todo o Estado. Era aberta e de graça para todo mundo. Não tinha quem não gostava. Por lá passaram grandes artistas que faziam muito sucesso na época, tais como a dupla Sandy e Junior, a Rita Cadilac, Marcelo Costa, Celita, Maurício e Mauri, entre muitos outros”, relembra.

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No dia 1º de agosto de 1993, o município de Artur Nogueira ficou mais triste. Morria aos 43 anos de idade Ederaldo Rossetti vítima de cirrose hepática. “Para mim, isso é um choque até hoje. É impossível falar o nome do Ederaldo e não se emocionar”, afirma Lemão.

Mesmo com a morte de seu idealizador a festa não deixou de ser realizada. O legado de Ederaldo, como tantas outras benfeitorias durante o Governo, não poderia parar, muito menos ser esquecido. “Continuei fazendo a locução do rodeio até 1999. Depois, quando o Luiz de Faveri assumiu a Prefeitura deixei de ser convidado. A festa durou até 2003. Depois disso nunca mais foi realizada”, afirma Lemão.

Depois disso, o locutor passou a se dedicar mais a música raiz. Criou com um amigo a dupla ‘Lemão do Rodeio e Amarildo’, que viajou o Brasil fazendo grandes shows. Juntos gravaram dois CDs e se apresentaram em mais de 70 programas famosos, tais como Esporte Espetacular (Globo), Caminhos da Roça (EPTV), Porteira do Oito (Record), Terra da Padroeira (TV Aparecida), Viola Minha Viola (TV Cultura), Brasil Caipira (TV Câmara), entre muitos outros. “Sempre amei moda de viola. A música raiz está em meu sangue. Aprendi a tocar com o eterno Acácio Capato, que era um ótimo tocador. Depois de gravarmos os CDs, eu e o Amarildo fomos contratados para nos apresentarmos todas as quartas-feiras no Rancho Fundo, uma casa famosa em Campinas da dupla Chitãozinho e Chororó. Bons tempos aqueles”, relembra.

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A dupla viajou muito, mas teve que dar uma pausa. “Em 2009 comecei a sentir fortes dores nas pernas e descobri que tinha uma artrose no quadril. Na época eu pesava 140 quilos e os médicos acharam que eu deveria fazer uma cirurgia de redução de estomago. Fiz a cirurgia e um anos após eu perdi cerca de 60 quilos. Devido ao problema de saúde, me afastei dos shows. Vendi o açougue que tinha e me aposentei. Hoje, continuo com a dupla. Fazemos alguns shows, mas de maneira mais moderada”, afirma.

Agora, Lemão do Rodeio se prepara para mais um desafio: ajudar a organizar o Festival de Música Raiz de Artur Nogueira, que acontecerá nos dias 26 e 27 de Julho. “Já ajudei na organização deste festival no ano passado e gostei muito. O objetivo do evento é resgatar a cultura raiz, não apenas de Artur Nogueira, como da região e incentivar novos talentos. Esperamos cerca de 30 duplas. Teremos premiação em dinheiro. Os interessados em participar do festival devem procurar a Secretaria Municipal de Cultura. As inscrições são gratuitas. Tenho certeza de que este festival será muito bom e a população nogueirense gostará muito”, conclui Lemão.

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