12/10/2013

Professor João Gazolli fala sobre missão e desafios da profissão

Ele foi um dos primeiros professores da Escola Amaro, em Artur Nogueira. Há quase 40 anos trabalhando na Educação do município, hoje é tido como um conselheiro pelos colegas

Professor João“Ser professor exige dedicação e muita paciência” (João Gazolli)

………………………………..

Alex Bússulo

Experiência e sabedoria é o que torna este professor tão especial, escolhido a dedo para representar todos os educadores de Artur Nogueira, em homenagem ao Dia do Professor, comemorado na próxima terça-feira, 15 de outubro.

Hoje, aos 68 anos de idade, João Miguel Gazolli, responde como supervisor de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Artur Nogueira.

Ele nasceu em 1945, no vilarejo de Montalvão, distrito de Presidente Prudente/SP. Desde a época do curso primário já ajudava os pais no cultivo das lavouras de café, algodão e amendoim. No ano de 1960 começou a trabalhar em uma farmácia, primeiro como balconista, depois como subgerente, onde trabalhou até 1972.

Na cidade em que morava era difícil ingressar no magistério, porque haviam poucas aulas e muitos candidatos. Como queria trabalhar como professor, João se inscreveu em várias Diretorias de Ensino da região. Em uma madrugada do mês de fevereiro de 1972, dentro do Colégio Carlos Gomes, em Campinas, João escolheu dar aulas de ciências em Artur Nogueira, mais especificamente no então Colégio Estadual José Amaro Rodrigues (CEJAR).

O que aconteceu depois desta escolha você acompanha a seguir, em uma entrevista exclusiva realizada com este homem, que se dedica à educação há quase 40 anos. Confira:

Então, o senhor saiu de Presidente Prudente para dar aulas em Artur Nogueira? Sim. Com a declaração das aulas a mim atribuídas, no final do mês desembarquei de um ônibus em Artur Nogueira, de frente ao bar Antártica. Passava um garoto a quem perguntei, onde ficava o Colégio Estadual. Aquele garoto, primeiro nogueirense com quem conversei, é hoje um notável empresário, filho de pais também professores ilustres. Ao começar o ano letivo o garoto foi meu aluno, assim como seus três irmãos. Sabe quem é este empresário? O Dr. Paulo Valim!

O senhor também foi diretor? Depois de doze anos como professor, ingressei no cargo de diretor de escola, exercendo esta função por dez anos. Passei pelas E.E. “Profa. Magdalena S. Grosso”, E.E. “José Amaro Rodrigues” e E.E. “Profa. Alcídia T. W. Matteis”. Em 1994 assumi o cargo de supervisor de Ensino na Diretoria de Ensino da Região de Mogi Mirim, onde me aposentei. Em 2011 fui convidado para prestar serviços na Secretaria Municipal de Educação de Artur Nogueira, onde estou em exercício no cargo de Supervisor de Ensino, nomeado em comissão pelo Exmo. Sr. Prefeito Municipal.

Por que escolheu essa carreira? Como trabalhei vários anos em farmácia, o meu desejo era fazer um curso superior de Farmácia e Bioquímica, mas era um curso raro e de alto custo. Assim, para quem trabalhava dez horas por dia para ganhar um salário mínimo, este desejo foi apenas um sonho. Pelo mérito de ser um bom estudante, fui aprovado no concurso vestibular de uma faculdade pública, hoje campus da UNESP, onde cursei com sucesso a licenciatura em Ciências Naturais, que me conferiu o título de professor secundário, para lecionar ciências e matemática nos antigos cursos de primeiro e segundo graus, hoje ensino fundamental e médio. Em 1973, cursei e conclui na PUC Campinas a licenciatura em Ciências Biológicas. Por falar neste assunto, por onde andam meus colegas daquele ano: o Laércio, a Tânia, o Jair e a Marisa? E o Abel, que foi nosso motorista por vários meses, até o Jair comprar o seu Dodge amarelo? Em 1975, cursei a especialização em Biogeografia Terrestre e do Oceano Atlântico, na Faculdade Teresa Cristina, hoje Universidade de Guarulhos. Entre 1976 e 1980 conclui o curso de licenciatura em Pedagogia, com habilitações em administração e supervisão escolar, magistério e orientação educacional.

Quais eram suas expectativas? Já sabia que ensinar, e num sentido mais amplo ser educador, seria um trabalho árduo, pois ser professor exige dedicação e muita paciência. Minhas expectativas foram um pouco otimistas, principalmente no quesito salário, visto que mesmo no final de carreira a remuneração fica abaixo da qualificação exigida, quando comparado com a retribuição de instituições semelhantes ou particulares.

Em algum momento o senhor pensou em desistir? Em desistir da carreira, nunca, mas pensei em alcançar uma alternativa. Assim em 1981 frequentei o curso de bacharel em Ciências Biomédicas, porém o curso era caro e praticamente de tempo integral. Não foi possível conciliar trabalho com estudo. É a frustração que me acompanha.

Qual episódio da sua carreira causou mais emoção? Com certeza foi o evento de colação de grau da minha primeira licenciatura, no final de 1971. Esta conquista representou para mim a possibilidade de exercer a função docente e evoluir nos cargos do quadro do magistério da Secretaria Estadual de Educação.

As novas tecnologias já fazem parte da formação dos professores? Sim. O currículo dos cursos que formam professores já contemplam a aplicação de tecnologias educacionais, porém ainda longe das necessidades exigidas pela evolução e inovação constantes nesta área. A maior dificuldade é a disponibilidade dos recursos de multimídia nas salas de aula. Neste aspecto Artur Nogueira está de parabéns porque todas as suas salas de aula do ensino fundamental possuem projetor digital e os professores receberam, gratuitamente, um notebook e o curso de capacitação para seu uso. As unidades de ensino fundamental também possuem uma sala com equipamentos de informática permitindo aos professores e alunos a utilização de metodologias virtuais em suas atividades. Considerando a necessidade de formação continuada dos profissionais da educação, entendo que cada sistema de ensino deve organizar sua oficina pedagógica, espaço de discussão, planejamento e capacitação dos seus professores e do pessoal que atua nas escolas, contemplando o conhecimento e a utilização das novas tecnologias educacionais.

Existe alguma resistência à incorporação da tecnologia dentro das salas de aula? Certamente a resistência existe, principalmente entre os professores que militam a mais tempo na educação. É a história de que a mudança provoca insegurança. Fácil, é só capacitá-los de uma forma própria, que respeite a velocidade de aprendizagem e as limitações dos mesmos, e que sejam estimulados a superarem as dificuldades. Não nos esqueçamos que muitos destes profissionais não nasceram apertando botões, mas ao longo de suas práticas adquiriram conhecimentos e habilidades capazes de planejar e executar ações transformadoras na sociedade.

É possível determinar quando termina a responsabilidade dos pais e começa a da escola? Entendo que a responsabilidade dos pais é oferecer a seus filhos o ambiente necessário para o pleno desenvolvimento dos mesmos, o que inclui afeto, carinho, amor, transmissão e cultivo de valores, como a dignidade e o respeito por todas as pessoas. A escola cumpre o papel de ensinar conhecimentos, habilidades e competências necessárias para uma boa convivência, incluindo a tolerância, o respeito e os valores éticos da sociedade.

Professor João

Como melhorar a formação dos professores? Tanto os sistemas de ensino públicos como os privados podem planejar e executar diferentes atividades para o aperfeiçoamento dos professores, tais como: oficinas, cursos de capacitação, palestras, encontros, sessão de estudos e outras. Mas, é importante observar que estas ações devem ser planejadas com a participação de todos os docentes que atuam na escola e desenvolvidas como projeto da instituição como medida para a melhoria dos serviços educacionais prestados à população. A LDB, Lei nº 9394/96, no seu artigo 67 já prevê que os professores devem ter um tempo destinado a sua formação continuada e desenvolvida de forma participativa e integrada.

Qual a sua opinião sobre as atuais manifestações realizadas pelos professores no país? A meu ver, as manifestações dos professores é um ato normal, quando se organizam para alcançar benefícios para a categoria e quando denunciam o descaso e apontam providências para a melhoria das condições de seu trabalho e dos resultados educacionais. Vejo com tristeza e reprovo os atos de desrespeito às autoridades e a população, praticados por falsos educadores adeptos do vandalismo. A manifestação ordeira e pacífica é um caminho para o diálogo e a violência atrai mais violência.

Quais os passos para superar a formação deficitária? É necessário que haja vontade política de nossos governantes. O ministro da Educação deve ser um educador e profundo conhecedor das políticas educacionais, bem como das dimensões de nossas diversidades regionais. É preciso abrir ampla discussão com professores, gestores e líderes políticos para reorganizar o currículo dos cursos superiores de formação dos professores, para o que os mesmos possam preparar profissionais capazes de promover ações transformadoras em nosso sistema educacional.

Qual é o perfil ideal do professor do século XXI? Primeiro, tem que gostar, sentir satisfação no que faz, isto é, ter no seu caráter os princípios de educador. A sociedade moderna cria novas necessidades rapidamente, daí o professor tem que estar aberto a estas mudanças, estar disposto a aprender continuamente com seus alunos, e com a sociedade e num processo interativo, planejar suas ações com vista a melhorar o desempenho dos estudantes.

Qual conselho o senhor dá aos professores? Não diria que é conselho, mas apenas um desejo. Que enxerguem seus alunos como seres em desenvolvimento e que tenham o comprometimento de oferecer a eles conhecimentos, habilidades e competências que lhes possibilitem superar as dificuldades e usufruir das benesses da nossa sociedade pós-moderna. Na proximidade do dia dedicado aos mestres (15 de outubro), cumprimento todos os meus colegas educadores e desejo-lhes um feliz Dia do Professor, com muita saúde, paz e alegria. Em frente, pessoal.

Fotos: Schermen Dias

Professor João

João
Caricatura: Tomás de Aquino


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.