21/09/2013

Zé e Jair falam sobre a fabricação das famosas violas Fontana

Conheça a história dos dois irmãos nogueirenses que fabricam violas que já foram vendidas para cantores famosos, como Daniel, César Menotti e Fabiano, entre outros

capa“Fazemos violas com o coração” (Zé e Jair Fontana)

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Texto: Alex Bússulo / Fotos: Gregory Pereira / Produção: Rafaela Martins e Schermen Dias

Em um sítio localizado no bairro São Bento em Artur Nogueira existe uma oficina diferenciada. Foi em um lugar tranquilo e agradável que dois irmãos transformaram o espaço num local para a produção de diversos tipos de violas e violões. A qualidade dos instrumentos musicais já foi comprovada por grandes nomes do mundo sertanejo, incluindo César Menotti e Fabiano, Daniel, Gino e Geno, entre outros famosos.

A oficina é comandada há mais de 13 anos pelos irmãos Jair e José Fontana. Nascidos e criados em Artur Nogueira, os dois nogueirenses confeccionam os instrumentos de modo totalmente artesanal.

Antes de trabalharem como luthiers (profissionais especializados na construção de instrumentos de corda), Jair e Zé trabalhavam com outro irmão, Valdir, em uma serraria que eles próprios abriram no São Bento. Sempre apaixonado por música e madeira, foi Jair quem deu o primeiro passo para começar a produção das violas. Ele foi músico e tocou em várias bandas da região, incluindo a Aphocalipsy.

“Por volta de 1999, eu e meus irmãos confeccionávamos móveis na serraria, a maioria sendo modelos rústicos. Foi quando fiquei sabendo que havia um senhor chamado Sebastião que confecciona violas praticamente no canivete. Como eu já mexia com madeiras e adorava música fiquei curioso e fui conhecer o trabalho dele. Procurei o senhor e ele me mostrou como fazia. Fiquei impressionado. Depois daquele dia comecei a pesquisar e, ao lado do José, fui aperfeiçoando e descobrindo a própria técnica. Procuramos muitas coisas e informações pela internet. Nunca fizemos nenhum curso. Quando aprendemos com os outros a gente também acaba copiando os erros deles. Foi com muita pesquisa, experiências, erros e acertos que resultaram no nascimento da viola Fontana”, afirma Jair.

violaPrimeira Viola Fontana

Depois disso, muitas violas e violões foram produzidos. A marca Fontana se transformou em sinônimo de qualidade, o que veio a despertar o interesse dos artistas famosos. Os irmãos relembram como foi que o trabalho conseguiu destaque. “Nós temos muito a agradecer a um homem que nos ajudou muito e hoje já é falecido. O nome dele era José Victor, um compositor que era muito respeitado e admirado entre os cantores. Em vida, ele chegou a ter mais de 600 canções gravadas por nomes como Teodoro e Sampaio, Milionário e José Rico, Cézar e Paulinho, João Paulo e Daniel, entre outros. Ele compôs grandes sucessos que marcaram época. Foi ele que levou as nossas violas para os artistas, quem realmente abriu as portas. A irmã dele se mudou para Artur Nogueira e minha filha começou a estudar com a filha dela, sobrinha do Zé Victor, situação que acabou nos aproximando da família e do compositor. Devemos muito a este amigo que nos deixou muitas saudades”, afirma Zé Fontana.

Os irmãos se orgulham e lembram a repercussão que as violas ganharam nos últimos anos. “O cantor Daniel já comprou de nós 22 instrumentos, entre violas e violões. Inclusive, ele utilizou uma viola Fontana na gravação do filme ‘O Menino da Porteira’. O novo trabalho do Daniel, DVD Raízes, também inclui nossas violas. Gino e Geno também compraram várias violas Fontana, uma inclusive foi fotografada e publicada na capa do CD deles, além de colocarem a mesma imagem no ônibus da dupla. Todos eles divulgaram o nosso material para todo o Brasil sem nos pedirem nada em troca”, conta Jair.

gino e geno

Os dois nogueirenses contam, com muito orgulho, que o maior destaque foi quando um violão produzido por eles foi parar nas mãos do ator e cantor norte-americano Kevin Costner, durante um show realizado por sua banda country, a Modern West, em 2010, na cidade de Bauru/SP. “O César Menotti e o Fabiano recepcionaram o Kevin antes do show. Para nossa surpresa, a dupla presenteou o ator com um violão Fontana de uso do César. Ele ficou tão feliz com o presente que tocou e ainda mostrou para todos o instrumento que havia ganhado. Ele nem sabe quem somos, mas sabe que foi um presente dado por uma dupla famosa aqui do Brasil”, afirma Jair.

O reconhecimento motiva ainda mais o trabalho dos irmãos. “Confesso que nosso negócio não é tão lucrativo quanto prazeroso. Não fazemos violas com intenção de ganhar dinheiro, talvez simplesmente para melhorar o orçamento. Fabricamos porque gostamos, fazemos violas com o coração. Nossa renda continua sendo na produção de móveis planejados. Quando vemos o nosso trabalho sendo reconhecido ficamos muito felizes e certos de que estamos no caminho correto. Em vários shows do César Menotti e Fabiano eles divulgaram nossas violas, inclusive aqui na Expo Artur quando, em determinado momento da apresentação, eles pararam o show e disseram que podiam afirmar que as melhores violas do Brasil eram feitas pelos amigos Jair e Zé Fontana. O novo DVD deles também conta com as violas Fontana. Não tem preço que pague esse reconhecimento”, revela Jair.

Os irmãos contam que um instrumento feito por eles chega a demorar dois meses para ficar pronto, pois todo o processo de fabricação é delicado e cauteloso. “A primeira coisa que buscamos é a madeira, que tem que ser especial. Ela precisa estar cerrada e ter no mínimo 50 anos. Então, você nunca vai derrubar uma árvore para fazer uma viola. A não ser que o seu bisneto vá fazer. Utilizamos madeira de demolição. O corte da tora tem que estar na posição correta, não pode ter nenhuma trinca. A primeira coisa é selecionar a madeira e os tipos que você quer para dar o som desejado. Cada madeira gera um timbre diferente. Depois dessa seleção começa a construção. Cortamos na espessura correta e começamos a montagem do instrumento. Uma viola demora uns dois meses para ficar pronta, isso se não chover e o tempo colaborar, todo detalhe faz a diferença”, afirma Jair.

Irmãos Fontana

Zé Fontana complementa o irmão e diz que toda a madeira precisa ser legalizada. “Temos que ter toda a legalização da madeira. Por exemplo, quando compramos um jacarandá imperial temos que ter a nota fiscal e a aprovação do Ibama e um laudo do Ministério do Meio Ambiente que certifique que aquela madeira é proveniente de demolição. Tem casos em que pagamos mais de mil reais em um material. Por isso todo o cuidado na hora da fabricação é importante. Se quebrarmos ou trincarmos a madeira perdemos todo o instrumento”, afirma.

Depois que a madeira é escolhida ela passa por um tratamento especial. O material tem que ser cortado na espessura e no tamanho certo. Após esse processo a madeira é fervida para ficar mole e poder ser modelada. Esse procedimento pode levar semanas. A marca Fontana produz atualmente nove modelos de violas e violões. “E tudo dá o mesmo trabalho! Demoramos e nos dedicamos igualmente quando vamos fazer um violão jumbo ou um cavaquinho. O processo de escolha da madeira, o artesanato e a construção do instrumento são igualmente trabalhosos”, afirma Zé.

Irmãos FontanaZé Fontana

Para Zé Fontana, o instrumento também tem que ter outras qualidades. “Boa viola não é apenas aquela que tem um bom som, ela também tem que ser bonita, ter conforto e ser leve. A afinação também é outro aspecto de muita importância. O som tem que ser aveludado, tem que ter qualidade tanto no grave, médio, agudo e ter equilíbrio nos tons sem que apenas um se destaque”, afirma.

Para os irmãos, a moda de viola vem ganhando mais espaço a cada dia. “Quando eu tinha 18 anos, moda de viola se cantava escondido. Era coisa pra velho e pinguço. Era considerado brega. Não aquele brega bonito como era considerado as músicas do Roberto Carlos. Tocar moda de viola era vergonhoso. Nós tocávamos só para um pessoal que curtia. A coisa começou a mudar quando o country americano ganhou espaço e começou a surgir as dupla nacionais”, relembra Jair.

Até hoje os irmãos calculam que produziram cerca de 150 instrumentos. “É um número pequeno porque, como já falamos, a gente não vive disso, fazemos como um hobby. Se for ver nem dá para viver só fazendo viola. Porque se fossemos tentar viver só fazendo os instrumentos teríamos que entrar em um processo de produção e não dá para competir com este mercado. Não dá para competir com a indústria que vende uma viola por R$ 400. Dependendo do instrumento eu pago isso só na tarraxa! Para abaixarmos o nosso preço teríamos que abaixar a nossa qualidade, que hoje é o nosso diferencial”, afirma Jair.

Irmãos FontanaJair Fontana

Falando ainda sobre o diferencial, Zé Fontana complementa: “Os artistas que são nossos clientes costumam comentar que nossos instrumentos tem tocabilidade, ou seja, o conforto que o violão e a viola proporciona”, afirma.

Os irmãos ainda garantem que não pretendem aumentar a produção dos instrumentos, mas sim aperfeiçoar e melhorar ainda mais a qualidade. “Não dá para disputarmos com o mercado da China, por exemplo, que produz milhares de violas em um único só dia. Os instrumentos Fontana continuarão sempre sendo feitos à mão, de forma artesanal. Com o preço que você compra uma viola nossa dá para comprar umas 10, 20 dessas chinesas. Então, não é todo mundo que tem condições de comprar. Quem tem ouvido apurado percebe na hora a diferença entre as violas industrializadas e as artesanais. O meu plano para o futuro é fazer um produto cada vez melhor e mais caro. Quem quer vai ter que pagar mais caro. Pretendo fazer um instrumento por ano. Eu quero melhorar a qualidade, colocar mais detalhes. Viola é igual a vinho, quanto mais velho melhor”, afirma Jair.

Irmãos Fontana

Caricatura: Tomás de Aquino

 

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