ENTREVISTA: Izildinha Delgado fala sobre a missão do grupo Amor Exigente em Artur Nogueira

“As mães sempre ficam até o fim. Elas não abandonam os filhos” (Izildinha Delgado)

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Alex Bússulo

Na semana do Dia das Mães, entrevistamos uma das coordenadoras do Amor Exigente de Artur Nogueira, um grupo que já atendeu milhares de pessoas, a grande maioria sendo mães. O movimento promove reuniões todas as semanas no centro da cidade e recebe mulheres que trazem angustias e buscam no encontro uma solução e um ombro amigo.

Izildinha Aparecida Delgado dos Santos é uma das idealizadoras que se dedica em ouvir e ajudar outras mães que passam por momentos difíceis. Ela conheceu o grupo há cerca de 10 anos, em Campinas, quando viveu uma situação difícil. Depois de superado o momento, ela decidiu trazer o Amor Exigente para Artur Nogueira. Com o apoio das amigas, e também mães, Aparecida dos Reis e a Carmelina Haeck, ela deu início aos encontros no município.

Escutar – essa é a missão dessas mulheres para outras mães e familiares. Todos nós já passamos ou vamos passar por momentos onde o que mais precisamos é ter alguém ao nosso lado. Uma pessoa para ouvir e dizer que podemos contar com ela.

Na entrevista desta semana, Izildinha conta como é ser voluntária no grupo, fala sobre estrutura familiar e a importância do papel de uma mãe na sociedade. Confira:

Qual é a maior angústia relatada pelas mães que buscam o Amor Exigente de Artur Nogueira? Quando chegam ao grupo, as mães estão esgotadas pela culpa, pela raiva, pela impotência e falta de apoio seguro dos familiares e pessoas em geral. A família geralmente descobre o problema quando ele já está instalado e a solução fica mais difícil. Comportamentos e atitudes precisam ser observados antes do problema da dependência química já ter se instalado.

O que é aconselhado a essas mães? O grupo de Amor Exigente foi idealizado no início para apoio às famílias com problemas ligados a dependência química. Hoje em dia, as famílias são apoiadas em questões de busca de qualidade de vida em geral, pois em muitos lares há pessoas que são “uma droga”, embora não usem nenhuma droga. Há outros problemas ligados a compulsão: consumismo, jogos, sexo, etc. Tudo o que desagrega a família é muito prejudicial e doloroso. No grupo, as mães encontram apoio, sigilo e segurança para tratar de assuntos pessoais. O Amor Exigente não aconselha diretamente, a grande mudança acontece com partilhas e vivências.

Você acredita que os problemas com os filhos podem interferir na vida de um casal? A dependência química é uma doença grave, progressiva e fatal. Ela afeta todo o grupo familiar levando a “co-dependência”. Atualmente ela é considerada como uma doença, pois influencia emocional e fisicamente. Muitos casais são afetados, pois com o sofrimento e a culpa, há o isolamento, a busca desesperada por solução. O problema é que não há fórmulas mágicas e, então, um se frustra com o outro, impondo mutuamente a responsabilidade pela falta de solução. Se perde a intimidade e o vínculo.

Qual foi o caso, envolvendo mãe e filho, que mais lhe marcou? As mães sempre ficam até o fim. Elas não abandonam os filhos, se sentem responsáveis. Quando chegam ao grupo de apoio, os pais estão ansiosos e exauridos. Então há muito sofrimento. Os casos, em geral, são de dor, culpa e vergonha. Por causa do sigilo, não posso falar mais sobre isso, pois estamos em uma cidade pequena, e nos conhecemos desde a infância, muitas vezes. O sigilo é um compromisso. É o que garante a segurança. A vida das pessoas não deve ser tratada de forma leviana, sobretudo na dor. Só sei que se as pessoas ouvissem, elas saberiam que esse é um daqueles casos, em que é melhor prevenir.

Compreendo. Qual é o melhor caminho para reestruturar uma família? A modernidade trouxe prós e contras. A busca e valorização do ter, a busca de status, cada vez mais leva a família a se distanciar uns dos outros nos propósitos e ações. A discussão é bem ampla, mas é preciso buscar a valorização dos papéis de cada um na sociedade atual. Nesse contexto, a família é importante por ser o primeiro grupo familiar a que pertencemos e onde aprendemos inicialmente a ser cidadãos. A família ainda é onde exercitamos nossos primeiros passos e papéis.

Qual a importância do diálogo dentro do lar? Vejo o diálogo como um alicerce. Para ter diálogo é preciso se conhecer, se aceitar e aceitar o outro como ele é, e não como se fosse um ser idealizado. A partir do diálogo, os limites podem ser exercidos, e tanto o sim como o não podem ser negociados. Com respeito para que cada um se responsabilize pelos próprios atos sem julgamentos, sem intolerância.

Você acredita que ainda nos dias de hoje uma mulher suporta ser agredida pelo próprio marido para manter o sustento de um filho? Sim. As mulheres já assumiram papéis que antes só eram masculinos, mas muitas vezes elas não acreditam na própria capacidade e, por isso, aceitam a submissão por não acreditarem em si mesmas.

O que é ser mãe? Ser mãe é antes de tudo contribuir para a continuidade da vida sobre a Terra. Isso não é pouca coisa, na medida que a qualidade dos seres humanos está diretamente ligada a forma como eles aprendem a ser tratados desde o início da existência.

Uma boa mãe é aquela que dá ao filho tudo o que ele pede? Uma mãe não precisa dar ao filho tudo o que ele pede para ser boa, basta dar carinho. Carinho, atenção e respeito, não custam nada!

Quantas famílias já foram atendidas pelo Amor Exigente em Artur Nogueira? Muitas famílias já passaram pelo Amor Exigente nesses quase 8 anos. Não tem como traçar perfil, a dependência química não está mais escolhendo classe social, raça, cor ou escolaridade. É um assunto sério demais e ainda não tem solução. Há cidades que já trabalham prevenção. É mais barato e eficaz.

O que é o Amor Exigente? O Amor Exigente é um grupo de auto e mútua ajuda e atua em várias frentes na questão da dependência química: prevenção, problemas instalados, discussão de projetos e formulação de leis no Congresso. O Amor Exigente existe desde a década de 70, e sua importância vem crescendo cada vez pois aparece como alternativa viável e barata para uma questão tão séria como essa. A questão do crack e suas consequências estão no jornal todos os dias e a reinserção social dos indivíduos tem sido cara e ineficaz

Em Artur Nogueira, o que devem fazer as famílias que desejarem conhecer o grupo? O Amor exigente está no Centro Pastoral João Paulo II todas as quintas-feiras das 20h às 22h. Além de mim, também são coordenadoras a Aparecida dos Reis e a Carmelina Haeck. Todos são bem-vindos a este grupo.

Fotos: Gregory Pereira