05/07/2014

ENTREVISTA: Tatuador Eder Ramos fala sobre tatuagens e prêmios recebidos

“A tatuagem é um rito de passagem, me torna um ser humano melhor e mais forte emocionalmente” (Eder Ramos) ……………………….. Alex Bússulo Mais do que um simples tatuador, este nogueirense é um grande artista. Nascido em Poços de Caldas/MG, Eder Ramos mudou-se com a família para Artur Nogueira quando tinha apenas 6 anos de idade. […]

Eder
“A tatuagem é um rito de passagem, me torna um ser humano melhor e mais forte emocionalmente” (Eder Ramos)

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Alex Bússulo

Mais do que um simples tatuador, este nogueirense é um grande artista. Nascido em Poços de Caldas/MG, Eder Ramos mudou-se com a família para Artur Nogueira quando tinha apenas 6 anos de idade.

Há 10 anos trabalhando como tatuador, ele calcula já ter feito mais de 5 mil tatuagens em clientes. Ele já conquistou prêmios por tatuagens feitas e recentemente lançou um livro com várias ilustrações, que está sendo comercializado em todo o Brasil.

Ao lado da esposa Jad, ele possui um estúdio no centro de Artur Nogueira, o 5º Cavaleiro. Na entrevista desta semana, Eder fala sobre talento, profissão e preconceito.

Qual foi a tatuagem mais complexa que você já fez em uma pessoa? A tatuagem mais complexa que considero foi uma reprodução de uma pintura corporal indígena, da tribo Kayapó. Foram 3/4 da perna, do quadril até o meio da canela, aproximadamente 35 horas de dedicação. Esse trabalho foi realizado para um evento internacional de Tatuagens, o Tattoo Week SP em 2012. Com essa tatuagem ganhei o 1º lugar na categoria Cultura Brasileira. O trabalho foi realizado em um amigo meu, o Ramon Frade.

Dá para se fazer tatuagem em qualquer parte do corpo? Não, exatamente. Existem alguns locais que tem restrições, alguns por ética e outros por questões técnicas. A questão ética cabe a cada tatuador. No meu caso, eu não tatuo as áreas genitais, dentro da boca, as palmas das mãos e solas dos pés. Essas áreas tem particularidades e não possibilitam um bom resultado de aplicação a longo prazo. A questão técnica também se aplica as partes citadas, mas existem áreas como articulações e extremidades que não tem um bom resultado de cicatrização exigindo retoques e mais de uma aplicação, o que tecnicamente aumenta a lesão na pele, prejudicando o resultado.

Eder

Qual a idade certa para fazer uma tatuagem? Existe uma restrição de idade, para isso tem uma lei estadual criada em 1997, que proíbe a aplicação em menores de 18 anos de tatuagens, piercing e adornos corporais, exceto perfuração dos lóbulos das orelhas, por ser “culturalmente aceito”. A lei hoje faz parte do estatuto do menor e do adolescente e é aceita a nível federal. Os riscos à saúde vão desde má cicatrização podendo gerar infecções, no caso de piercings, até deformação do trabalho com o crescimento, cicatrizes hipertróficas e em alguns casos a temida queloide, no caso da tatuagem. O que eu gosto de ressaltar para os menores que querem ou já fizeram uma tatuagem, é que, se o seu tatuador não respeita as leis, o que garante que ele respeitará a sua saúde?

Ainda dói fazer uma tatuagem? Relativamente, a aplicação resume-se a perfuração da parte superficial da pele, atingindo a derme, onde ficam os pigmentos. A perfuração atinge em média cerca de 1 mm de profundidade, dependendo do local tatuado. Dito isso entende-se que a sensação não é boa, porém tolerável. Hoje existem equipamentos e materiais específicos para tatuagem, legalizados e autorizados pelos órgãos de saúde. Existe uma lei específica para produtos de tatuagem, isso ajudou muito na eficácia e eficiência da aplicação diminuindo consideravelmente a sensibilidade.

É possível utilizar anestesia? De acordo com as leis, não. Isso é classificado como prática ilegal de medicina, no Brasil e na maior parte dos países do mundo. Entende-se que existem diversos fatores a se levar em consideração para que se tenha segurança na administração dessas drogas, por isso os anestesistas estudam muitos anos e se especializam nesse procedimento. Ainda que utilizado um anestésico local, com pouca quantidade pode ocorrer um processo alérgico ou inflamatório, quando aplicados por leigos.

Eder

Quantas tatuagens você já tatuou em clientes? Eu acredito que fiz mais de 5 mil tatuagens, mas nunca contei. As tatuagens mais solicitadas hoje em nossa loja são as tatuagens personalizadas, onde o cliente vem com a ideia e nós, eu ou a tatuadora Jad, criamos o design a partir de referências de nossos trabalhos ou de outros artistas, evitando cópias.

Quais são as recomendações para aqueles que querem fazer uma tatuagem? Primeiro converse com o tatuador(a), reúna referencias visuais para passar melhor a ideia, evite copiar as tatuagens de sites, redes sociais, pois estas tatuagens podem ter sido criadas especificamente para aquela pessoa, com componentes pessoais. Veja se o trabalho do artista se enquadra na sua expectativa e evite comparativos banais, como preço, arte não é batata, que todas são relativamente iguais. Avalie as condições de higiene do estúdio e respeite a opinião de bons profissionais, evite o jeitinho brasileiro de “fazemos qualquer negócio”.

Você citou a importância da higiene de um estúdio. Como saber se o local onde se faz tatuagem é seguro? O ideal seria que todos seguissem o mesmo padrão de higiene de um hospital. Tudo tem que ser aparentemente limpo, o visual não pode ser carregado. Locais com coisas amontoadas e bagunçados facilitam a contaminação cruzada. Veja se o tatuador utiliza EPI (equipamento de proteção individual), como luvas, máscara, touca, avental. Veja se a maca possui alguma cobertura, como lençol de TNT (tecido) descartável ou lençol de papel. Peça para ver a montagem do equipamento antes do início da tatuagem, a abertura de todos os descartáveis, como agulhas e bicos (caneta que conduz a agulha), essas coisas são básicas.

Como você descobriu que tinha talento para ser tatuador? Quando eu tinha uns 12 anos, surgiu a primeira revista de tatuagem do Brasil, a Metal Head Tattoo, acredito que em 96/97. Daí eu me apaixonei instantaneamente. Mas com a família religiosa, conservadora, eu deixei de lado o interesse até eu conhecer minha esposa, Jad, que me incentivou a me tornar um profissional, isso em 2002/2003. Comprei o material e iniciei meus estudos, sem a ajuda de ninguém, sem cursos, experimentando em amigos e lendo a respeito. Hoje tenho cerca de 10 anos de experiência nesse ramo, feliz e fazendo arte.

Você tem quantas tatuagem? Tenho 14, mas tem 2 que são as mais importantes, uma caveira no peito que fiz a uns 6 anos, quando deixei de fumar, e um símbolo neutro nas costas, que fiz a uns 7 anos, quando deixei de ingerir bebida alcoólica. A tatuagem para mim é um rito de passagem, me torna um ser humano melhor e mais forte emocionalmente, não me deixando cair em contradição.

Sua empresa se chama 5ª Cavaleiro. Qual o significado? O 5º Cavaleiro refere-se ao texto das revelações do Apocalipse, que dependendo da interpretação, não foi revelado. Sempre ouvi estórias da bíblia e da marca da besta, daí achei coerente. Não tenho nada contra religião alguma, acredito que a religião é necessária para que o ser humano não se destrua de uma vez e mantém as pessoas com esperança, é bonito.

Eder

Como é o reconhecimento da profissão de tatuador no Brasil? E em Artur Nogueira? Infelizmente tatuador não é uma profissão reconhecida legalmente no Brasil, ou seja, não é uma categoria profissional, mas pagamos impostos do mesmo jeito, a nova proposta da empresa MEI (microempreendedor individual) já enquadra a profissão, por ser de caráter liberal, mas ainda tem muito a se fazer. Em Artur Nogueira podemos falar mais a título social, as pessoas ainda não entendem bem, algumas pessoas do comércio não entendem, tudo que não se entende gera uma desconfiança, um receio, mas conseguimos nos estabelecer sem muitas dificuldades. Quando se trabalha de forma correta e transparente, se obtém o êxito em qualquer área.

Você já sofreu preconceito pelas tatuagens que possui ou por ser tatuador? Sim, aqui em Artur Nogueira e em outros lugares do Brasil infelizmente é comum as pessoas nos evitarem, lançar aquele olhar de superioridade, mas hoje a aceitação da mídia ajudou muito na divulgação e desmistificação da tatuagem no Brasil. Empresas não veem tanto mais a tatuagem como um problema. Nos Estados Unidos já se fala que melhores profissionais tem tatuagem, em palestras de management (gestão) por ser algo de grande responsabilidade de escolha, logo isso chega de vez no Brasil, e depois em Artur Nogueira [risos].

Eder

Quais prêmios já ganhou como tatuador? Até agora ganhei 2 prêmios importantes, um de 1º lugar no Cultura Brasileira, no Tattooweek SP, uma convenção internacional que acontece em São Paulo. E 2º lugar em Melhor do Evento, no Tattoo Fest Limeira. Mas o maior prêmio para mim foi o reconhecimento dos profissionais da área, hoje faço parte da equipe de tatuadores de um dos maiores fabricante de materiais para tatuagem, a Electric Ink, já tive meus trabalhos em vários livros de arte coletiva no exterior, com artistas de grande importância, já estive em matérias em revistas nacionais e internacionais. Esse mês saiu mais uma na revista TattooArt ed.21 nas bancas do Brasil.

Eder

Além de tatuador, você já pintou alguns quadros. Pretende também seguir como artista plástico? Sim, pintura é uma terapia para mim, posso expor minhas ideias sem censura, totalmente com a minha visão, mas não vendo os quadros que pintei até agora, se algum dia eu for reconhecido, pelos meus quadros e eles forem de importância artística, daí quem sabe. Não quero prostituir minha arte.

Recentemente você lançou um livro ilustrativo. Como foi esse trabalho? Eu recebi um convite da editora Pixel Arte, para fazer um Sketchbook (livro de esboços) com trabalhos no meu estilo de tatuagem “trash pop art”, e eu aceitei de bom grado. Esse tipo de livro é utilizado como referência para outros tatuadores, ou como fonte de estudo. Esse é meu primeiro livro no Brasil e especialmente todo meu, isso me deixou muito feliz.

Eder


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