ENTREVISTA: Benedita relembra como construiu uma empresa após perder tudo

“Sempre dei o melhor de mim em tudo o que fiz” (Dona Benedita Tancredo Alves)

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Alex Bússulo

Hoje você vai conhecer uma história de empreendedorismo, sucesso e, principalmente, superação. A história da dona Benedita, uma nogueirense de coração que criou e patenteou um produto totalmente inovador, o Cama Pronta.

Ela é proprietária da Benevero, antiga Confebenetec, uma fábrica no segmento têxtil de cama, mesa e banho. Quem olha hoje para a empresa, com sessenta e oito funcionários trabalhando, vendendo produtos para vários lugares, não imagina o que esta mulher de 59 anos de idade passou até chegar aqui.

Benedita Tancredo Alves nasceu em uma pequena cidade do Paraná, chamada Cambará. Ainda criança, se mudou com a família para Monte Mor, passando um pequeno período em Paulínia até se mudar para Artur Nogueira. “Minha família trabalhava na roça, cuidando e plantando para um sitiante. Um dia, o patrão do meu pai comprou uma pequena propriedade aqui em Artur Nogueira, próximo ao bairro da Ponte de Tábua. Foi quando nos mudamos para cá. Na época eu tinha 12 anos de idade”, conta Benedita.

Na adolescência, ela ajudava a família no cultivo de verduras. Aos 18 anos de idade, Benedita se casou com Severo Divino Pinheiro Alves com quem teve três filhas: Filomena, Giane e Leila. Alguns anos após o casamento, ela enfrentou uma doença que quase a matou. “Em 1975, depois de dois anos de casada, passei por um momento de muita enfermidade. Nessa época cheguei a pesar 38 quilos. Sentia muitas dores no estomago, vômito. Cheguei a ficar um mês sem conseguir trabalhar, mas sempre tive o apoio e a ajuda de meu marido e de meu patrão. Depois de algum tempo as dores aumentaram. Mal conseguia me levantar da cama. Foi nessa situação que todos os dias um beija-flor começou a me visitar. Todas as manhãs o pequeno pássaro entrava pela janela do meu quarto e vinha até mim. Eu sempre pedia para ele que levasse a doença para onde não existisse vida. Passei por essa fase por cerca de 3 anos”, relembra.

Benedita conta que após esse período encontrou um médico que a ajudou. Em Limeira, após alguns exames, ela descobriu que tinha úlcera e precisou ser submetida a uma cirurgia. Depois de alguns dias ela começou a se recuperar. Após a doença, ela quis recomeçar a vida.

Mesmo sem ter estudos, Benedita conseguiu um emprego na Teka, como costureira. “Quando entrei na Teka não sabia costurar. Foi lá que eu aprendi. Embora nunca tive a oportunidade de estudar, sempre almejei um cargo melhor. Sempre dei o melhor de mim em tudo o que fiz, pois não queria ficar como costureira para sempre. Queria crescer lá dentro”, conta Benedita.

E com o passar dos anos, ela cresceu. Foi promovida a monitora da sessão. Agora, era responsável por ensinar as costureiras. O carisma e a vontade de trabalhar fez Benedita crescer ainda mais na Teka. Depois de algum tempo ela se tornou supervisora. “Para quem não tinha estudo e nem sabia costurar quando entrou na Teka, depois de alguns anos me tornei supervisora das costureiras. Era a minha maior alegria”, relembra.

Benedita trabalhou na Teka até 1996, quando a empresa começou a terceirizar os serviços. “Saí de lá com um enorme conhecimento. Minha experiência permitia que eu viajasse pela região dando cursos para costureiras. Até que um diretor da Teka me sugeriu que eu abrisse uma própria empresa e prestasse serviço à Teka. Mesmo sem dinheiro, topei na hora. Fiz um empréstimo e, na garagem da minha casa, montei minha confecção. Voltei a prestar serviços para a empresa, agora como empresária. Depois de alguns anos, tinha uma equipe com mais de 50 funcionários. Aluguei um salão, novas máquinas, caminhão, e fiz alguns investimentos. Estava no auge da minha profissão”, afirma a empresária.

Benedita estava indo muito bem, mas em 2001 o inesperado aconteceu. “A Teka parou de terceirizar e para eu cumprir os compromissos com meus funcionários tive que abrir mão de meus bens… acabei perdendo tudo. Tive que ir morar com uma de minhas filhas. Foi um momento muito difícil para mim e meu marido”, recorda Benedita.

Neste período, dona Benedita e seu Severo compraram uma perua velha e começaram a vender caldo de cana em Artur Nogueira. Levaram uma vida difícil, mas nunca perderam a esperança de um dia melhor.

Durante uma noite, Benedita acordou com um plano na cabeça. No meio de uma crise, ela teve uma ideia que mais tarde mudaria sua trajetória. Ela criou o lençol coordenado três em um, que futuramente seria chamado de Cama Pronta. “Deixei minha ideia guardada à sete chaves, não mostrei para ninguém. Disse para minha filha mais velha, que na época trabalhava em uma conceituada empresa têxtil em Americana, para que conversasse com o patrão dela e pedisse que ele me desse trabalho. Depois de alguns meses, minha filha chegou em casa e disse que a empresa iria terceirizar parte de uma produção para que nós a fizéssemos. Dei pulos de alegria. No outro dia, saí de casa cedo, aluguei um pequeno salão e comprei seis máquinas de costura de um amigo à prestações. E comecei, novamente, a prestar serviços como costureira. A partir daí as coisas começaram a prosperar. Com o passar dos anos, com muito trabalho e dedicação, recuperei parte do que tinha perdido”, conta.

Em junho de 2009, Benedita passou por uma nova perda. Desta vez, irrecuperável. Ela perdeu o marido, Severo, que morreu vítima de uma pneumonia. “Foi um momento muito difícil para mim e para minhas filhas. Justo quando tínhamos recuperado nossos bens e a empresa estava crescendo. Uma de minhas filhas teve uma queda emocional muito grande por falta do pai. Vendo a situação da minha filha eu fiz uma grande loucura. Eu tinha que fazer alguma coisa para minha filha ficar bem. Fui ao banco e fiz um empréstimo. Com esse dinheiro fui a um advogado e falei que desejava fazer uma patente. No outro dia, o advogado já estava em minha empresa. Foi feito uma pesquisa para ver se este produto já não existia em algum lugar e, depois, pude registrar a minha ideia. Totalmente nova”, afirma.

O Cama Pronta é um produto que oferece três utilidades em apenas uma peça: lençol elástico, lençol superior decorativo e encaixe para travesseiro. Uma ideia que permite deixar a cama organizada e linda em pouco tempo.

Depois de patenteado, o produto começou a fazer sucesso. “Como uma forma de divulgação reservamos um stand na primeira edição da Expo Artur, grande evento de Artur Nogueira. Eu e minha família fizemos diversos lençóis, arrumamos o espaço, montamos catálogos do Cama Pronta, trabalhamos muito para isso. Então, fomos ao stand da festa. O pessoal que passava por nós ficava admirado com a qualidade e diferencial do nosso produto. Todo o estoque que fizemos foi vendido. Me recordo que até uma repórter da EPTV veio em nosso stand e entrevistou a minha filha, que graças ao Cama Pronta voltou a trabalhar. Toda a nossa região conheceu o nosso produto”, relembra.

Depois da morte do marido de Benedita, a empresa deixou de se chamar Confebenetec. O nome Benevero surgiu da união dos nomes Benedita e Severo. “Eu e minhas filhas quisemos fazer uma homenagem ao meu falecido esposo, um homem que me ajudou e sempre esteve comigo, nos momentos bons e ruins”, conta a empresária.

A logomarca da empresa tem o símbolo de um beija-flor. Benedita diz que o pequeno pássaro foi escolhido para relembrar um momento de superação em sua vida.

Hoje, a empresa Benevero é referência na região. Trabalha em parceria com várias empresas e produz sua própria marca. Uma ideia de uma nogueirense que deu certo. Benedita sempre acreditou no potencial que tinha e acreditou em dias melhores. Um exemplo para muitos.

Fotos: Renan Bússulo