29/10/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: Zuza do Rádio

Conheça a vida do maior são-paulino de Artur Nogueira

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Alex Bússulo

A entrevista especial desta semana começou na manhã da última quarta-feira, 26 de outubro. Depois de várias sugestões vindas dos leitores, fomos atrás de José Aparecido Perin, um senhor de 63 anos de idade, conhecido por boa parte da população nogueirense como ‘Zuza do Rádio’.

Acompanhado pelo fotógrafo, saí à procura do entrevistado. Descobrimos que ele mora ao lado do Conselho Tutelar, de frente para a matriz de Nossa Senhora das Dores, no centro de Artur Nogueira. Batemos palmas e após cerca de 10 minutos uma senhora de cabelos brancos nos atende. Perguntamos sobre o homem. “Ele é o meu filho, mas agora está andando por aí”, afirma dona Rosa, mãe de Zuza.

Tudo bem, vamos à procura do sujeito. “Ele deve estar lá na praça jogando baralho ou então na papelaria aqui perto”, tentou ajudar a senhora.

Fomos à praça, falamos com os velhinhos que jogam baralho, depois fomos a tal papelaria, e para não falar que não procuramos, fomos nos bares, nos supermercados, procuramos pela avenida toda, mas nada de encontrar Zuza da TV, da Internet e muito menos do Rádio.

O jeito foi deixar para o dia seguinte. Logo pela manhã de quinta-feira (27), mais uma vez saímos atrás do entrevistado. Desta vez a coisa foi bem mais fácil. Na esquina da igreja avistamos Zuza na porta da papelaria, vestindo sua inseparável camisa e boné do São Paulo. Estacionamos o carro e entramos no estabelecimento.

Sem saber com quem estava falando e muito menos qual era a nossa real intenção, afirmei para a atendente da papelaria: “Eu quero um caderno de desenho, pode ser de qualquer time de futebol, menos do São Paulo!”, afirmei em voz alta, justamente para o nosso futuro entrevistado ouvir. Ele ouviu e começou a defender: “O melhor é o São Paulo!”. E assim começou nosso papo.

Zuza é praticamente um nogueirense da terra. Nasceu em 1948 na cidade de Araras, mas veio com a família para Artur Nogueira com apenas três anos de idade e nunca mais saiu daqui. Na infância, Zuza teve um ataque e foi levado em alguns médicos que afirmaram aos pais que ele necessitaria de cuidados especiais para o resto de sua vida. “De tonto ele não tem nada, é muito mais esperto do que eu”, afirma sua mãe.

Depois de explicar que estávamos ali para fazer uma entrevista, Zuza nos convida empolgado para irmos até sua casa. Entramos e nos acomodamos em uma sala grande, tipo sala de jantar, mas bem arejada. Ao nosso lado sentam Zuza e dona Rosa. Começa assim uma conversa de mais de duas horas.

O nogueirense mora junto com a mãe. Tem sete irmãos, que faz questão de citar todos os nomes: Josemi, João (já falecido), Ângela, Vera, Luis, Sandra e Nara. Perdeu o pai, Ângelo Perin, há apenas quatro anos.

Já que estamos falando de família, uma das primeiras coisas que descobrimos foi que Zuza é a ovelha “tricolor” entre os parentes. Toda a família é palmeirense, daquelas que tem o sangue verde correndo nas veias. “Mas eu não ligo para isso. Descobri minha paixão pelo São Paulo quando ainda era criança. De lá para cá venho acompanhando tudo o que acontece com o meu time”, afirma Zuza, que possui vários cadernos com anotações de todos, eu disse todos, os jogos do São Paulo desde 1930, tudo manuscrito.

Mesmo com um pouco de dificuldade para falar, o são-paulino consegue transmitir a paixão que sente pelo time do coração. “Admiro muito o Rogério Ceni, para mim ele é um dos melhores do mundo”, afirma.

Como já disse acima, Zuza sempre morou com a mãe. Nunca casou, nem teve filhos. “Mas eu já namorei!”, revela animado. “Namorei uma moça de Piracicaba por quase dois anos, mas não deu certo”. Pergunto o motivo do rompimento do romance e a resposta vem com tudo: “Ela era corinthiana!”, conta o entrevistado.

Em meio à conversa, Zuza nos convida a subir ao seu quarto. Vamos pela escada do sobrado onde mora e entramos em um cômodo que mais lembra uma galeria do São Paulo. Ao todo são mais de 500 revistas com informações exclusivas do time, porcelanas, quadros, pôsteres e várias camisas, algumas originais e outras compradas na feira de domingo. “Não ligo para esse negócio de marca, para mim o que vale é o escudo do time”, afirma.

O torcedor vai colocando tudo o que tem em sua cama, que fica pequena para tantas coisas. Entre as revistas, encontro uma que chama a atenção, uma edição especial das Musas do São Paulo. Aproveito para brincar e pergunto como foi que ele conseguiu o exemplar. Para minha surpresa, Zuza vira para mim e diz: “Esta aí vou dar para você!”. Fiquei feliz com o presente e prometi que iria “ler” mais tarde [risos].

Dona Rosa entra na conversa e diz que o filho é mais esperto do que muitas pessoas imaginam e revela uma das aventuras vividas por ele. Afirma que em certa ocasião Zuza estava em Piracicaba e ficou sabendo que a Marta, ex-jogadora de basquete, estava internada no hospital daquela cidade. “Eu botei na cabeça que queria conhecer a Marta e fui até o hospital. Chegando lá, disse para a moça da recepção que era primo da jogadora e que estava lá para vê-la”, conta Zuza.

A história é curiosa, mas no final o nogueirense conseguiu o que tanto queria. “Me deixaram entrar. Quando eu a vi fui logo dizendo que era o maior fã dela e queria muito conhecê-la”. Zuza continua narrando o acontecido de maneira tão clara e apaixonante que vai empolgando quem escuta a conversa. Segundo ele, a conversa com a Marta foi longa e até conheceu a família da jogadora. “O pai dela foi muito legal comigo e me convidou para almoçar com a família”, conta.

Pergunto para o nosso entrevistado por que as pessoas o chamam de ‘Zuza do Rádio’. “Desde pequeno me chamam de Zuza, ninguém me conhece pelo verdadeiro nome, nem sei como esse apelido surgiu”, conta.

Sobre o apelido de ‘Rádio’, a mãe dá a explicação mais lógica possível: “É que ele não desgruda do rádio!”. E isso é a mais pura verdade, quando a senhora afirma que o filho vive grudado com o aparelho ela não exagera. Zuza dorme com seu ‘radinho’ ligado. “Eu me cubro todo com o cobertor para não fazer barulho e fico ouvindo a noite toda”, conta o torcedor.

Mas não é apenas uma companhia para dormir que o rádio serve. Zuza tem o costume de assistir os jogos do São Paulo com a televisão sem o volume. O são-paulino prefere ver a TV e ouvir pelo rádio. “É muito melhor a narração do rádio do que a da televisão”, revela.

Enquanto saiamos do quarto do torcedor noto uma cena engraçada e que rende boas risadas. Ao lado, em um quarto de hóspedes, encontro duas camas de solteiros. Ambas com colchas personalizadas do time do… Palmeiras! Entro no cômodo acompanhado pelo entrevistado e de dona Rosa, além do fotógrafo, e convido mãe e filho para sentarem para uma fotografia. Para minha surpresa Zuza recusa. “Nessa cama eu não sento de jeito nenhum”, declara totalmente sério.

Para melhorar a situação tomo a liberdade e descubro metade da cama. “Agora eu sento!”. Sentou, abraçou a mãe e tirou a foto.

Na volta à conversa faço uma proposta ao torcedor. Digo a ele que daria mil reais se ele subisse e descesse a avenida com uma camisa do Corinthians. Proposta que é recusada logo de imediato. “Mas nem se você me der dez mil eu faço isso”, declara decidido.

Além da paixão pelo time, Zuza tem outra forte característica em Artur Nogueira, que conquistou o coração de muitos nogueirenses. Sempre quando chega a época do Natal, o nogueirense faz questão de comprar cartões de Boas Festas e distribuir entre os amigos. Ao todo são cerca de mil pessoas que recebem, todos os anos, a mensagem de Zuza. “Foi a forma que eu encontrei de aumentar meus amigos”, revela o entrevistado.

E se você acha que os cartões ficam apenas aqui na cidade se engana. Zuza encaminha, via Correio, para pessoas de toda a região. Até mesmo para desconhecidos. “Depois que comecei enviar as mensagens fiz amizade até com uma mulher de Mogi Guaçu”, conta lembrando também que prefere dar um cartão do que receber um.

Resumindo, podemos afirmar que Zuza é uma pessoa abençoada. Um homem simples, carismático e que conquista a cada vez mais o coração daqueles que o conhecem. O são-paulino gosta de conversar. E como gosta. Antes da entrevista achávamos que iríamos encontrar um sujeito quieto, de poucas palavras. Que engano! Zuza fala muito, mas fala com o coração, coisa rara nos dias de hoje. Talvez seja esse o segredo do carisma do nogueirense.

Terminamos a entrevista com uma sensação diferente. Sentindo uma gratidão a Deus por nos permitir conhecer pessoas assim. Zuza fez questão de nos levar até o portão de sua casa e com um sorriso sincero se despedir. Depois de nos abraçar nos advertiu: “Cuida da revista!”.

Pode deixar amigo, cuidaremos!


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