04/06/2011

O desabafo de Melinho

Em conversa polêmica, ex-vereador fala sobre obras da Câmara, Expo Artur e avalia a atuação dos vereadores de Artur Nogueira

Alex Bússulo

O nome é Reinaldo Amélio Tagliari, mas todos o conhecem como Melinho. Homem conservador, técnico e político que vem marcando a história política e social de Artur Nogueira. Aos 54 anos e casado com Eva Tagliari, esse nogueirense da terra foi presidente da Câmara Municipal, presidente do Clube Recreativo Floresta, presidente da Corporação Musical 24 de Junho, secretário da Aidan, membro suplente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, vereador constituinte, membro da Acean, da Sasan e do Lar renascer. Melinho foi um dos candidatos mais votados da última eleição municipal com 711 votos. Número que não foi suficiente para elegê-lo vereador devido à coligação de seu partido. Hoje atua como diretor geral da Câmara Municipal de Holambra e é presidente do Partido Progressista de Artur Nogueira. Na entrevista desta semana, conversamos com o ex-vereador em seu escritório, no centro da cidade. Na conversa, Melinho falou sobre sua experiência, dinheiro público investido na Expo Artur, sobre a construção da nova Câmara e sobre a atuação dos vereadores. O papo de mais ou menos duas horas foi polêmico. Confira.

POR QUE ENTROU NA POLÍTICA? Foi em 1988. Sempre gostei de servir, trabalhar, discutir ideias. Eu sou filiado ao mesmo partido desde 1986. Lembro que lá no começo houve uma reunião na casa do Ademir Fávero, que era o presidente do partido, e a partir daí nunca mais me desliguei da política.

EM 1989, QUANDO ASSUMIU COMO VEREADOR, VOCÊ SABIA O QUE ERA POLÍTICA? Eu não! Minha primeira legislatura foi o cargo mais difícil que ocupei. Mas ao mesmo tempo, ela foi muito prazerosa. Porque era tudo uma novidade para mim. Os vereadores contrataram o Dr. Walter Poletini, que na época era diretor geral da Câmara de Mogi Mirim para dar uma assessoria para o pessoal daqui. Aprendi muito com essa pessoa. Posso dizer que ele é o meu anjo da guarda até hoje. Daí em diante não parei mais, não demorou muito me tornei presidente da Câmara.

ATUALMENTE, QUAL É O MAIOR PROBLEMA DE ARTUR NOGUEIRA? Saúde. Quando você está sentindo uma dor ou está acompanhando algum doente, um segundo se transforma em uma hora. Dia desses, eu estava sentindo umas dores e resolvi ir ao Pronto-Socorro de Artur Nogueira. O médico mal olhou pra mim, fez algumas perguntas e me medicou. A dor realmente desapareceu, mas acho que o atendimento deveria ser mais humanizado. Saúde deve ser prioridade junto com a Educação. Não adianta nada você fazer uma praça e não cuidar desses dois setores antes. Porque se o povo está doente ele não vai sair em praça nenhuma e se ele não tiver Educação vai quebrar tudo. Uma coisa leva a outra.

NA ÚLTIMA ELEIÇÃO MUNICIPAL, VOCÊ RECEBEU 711 VOTOS, FOI O TERCEIRO CANDIDATO MAIS VOTADO E MESMO ASSIM NÃO SE ELEGEU POR UMA QUESTÃO DE LEGENDA. COMO VOCÊ SE SENTIU? Decepcionado. Entristecido. Foi a eleição em que eu menos trabalhei e pedi votos. Até hoje vem pessoas aqui e me perguntam por que eu não entrei. É triste ter que explicar que mesmo tendo uma votação expressiva não pude entrar no legislativo.

COMO VOCÊ VÊ O DESEMPENHO DOS VEREADORES DE ARTUR NOGUEIRA? Os vereadores são dependentes. Quem de lá se destaca ou é oposição? Dois? Se o prefeito vai à Câmara eu enfrento ele. Hoje o Marcelo Capelini vai falar e cala a boca de todo mundo. A Câmara deveria ser muito mais independente em suas decisões. Ninguém discute nenhum projeto interessante. Só sabem dizer amém a tudo. Se eu tivesse lá dentro eu debulharia a Expo Artur, não ia fazer o que os vereadores fazem.

VOCÊ É CONTRA A EXPO ARTUR? Não. Sou totalmente contra o dinheiro que a prefeitura dá para realização da festa. O governo municipal investe R$200 mil em toda a estrutura, aí eu pergunto: alguém prestou conta? Usaram dinheiro público, portanto por lei é obrigado a prestar conta. Acho que a prefeitura deveria incentivar a festa oferecendo o espaço, equipamentos para terraplanagem e iluminação, assim como oferece para o Encontro de Motos, ArtTur e outros eventos. A prefeitura dá o dinheiro aí você cidadão vai lá na bilheteria da festa e paga para entrar? Aquele dinheiro não é do prefeito. É do cidadão! E a sobra fica para a Expo Artur? Onde está a prestação de contas para o povo de Artur Nogueira. Aí os dignos vereadores vão e pedem uma esmola: “Vocês tem que dar cadeira de rodas!”. E outra coisa, por que as entidades não podem montar suas barraquinhas lá? Será que eles acham que não somos capazes? Cadê o trabalho social? Se eu fosse vereador meu voto seria contrário, assim como sempre será.

VOCÊ FOI VEREADOR POR 16 ANOS, ERA REALMENTE NECESSÁRIA A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA CÂMARA? Absolutamente não! Eu acho que é um prédio faraônico, um elefante branco, uma obra desnecessária, oriunda de irresponsabilidade, um ato inconsequente. O resultado disso tudo está aí para quem quiser ver. Olha a situação que a Câmara enfrenta. Eu me pergunto: para quê um prédio daquele tamanho se ainda falta saúde, asfalto e esgoto? E a prefeitura pagando um punhado de aluguel.

MAS O ESPAÇO ANTIGO NÃO COMPORTAVA MUITOS CIDADÃOS. É cultura do povo não frequentar as sessões. Esse tipo de alegação de que não dava para atender os munícipes não é motivo. Veja bem, hoje as sessões acontece no Teatro Municipal de Artur Nogueira, um lugar com espaço para 200 pessoas, aí eu te pergunto: vai gente assistir as sessões? Não vai! Porque é uma questão de cultura. Em 2005 tentaram construir uma nova Câmara, mas eu embarguei o projeto. Eu sou contra esse tipo de construção quando falta um monte de benefícios e serviços à população. Eu falando isso vão falar que eu estou com inveja por não estar lá dentro hoje.

E NÃO ESTÁ? Eu não! Ninguém tem o que eu tenho. Eu estufo o peito para falar que fui vereador por quatro mandatos consecutivos, duas vezes sendo o mais votado e três vezes presidente da Câmara. Se você vai comprar uma calça e encontra uma peça que custa R$100 e outra do mesmo modelo que custa R$75, você não vai desconfiar? Aí você analisa bem e nota que uma perna é mais curta que a outra.

MAS OS VEREADORES AFIRMAM QUE NÃO TIVERAM CULPA, POIS TODO O PROCESSO DE CONTRATAÇÃO FOI FEITO ATRAVÉS DE LICITAÇÃO, DENTRO DA LEI. Existe uma cláusula da inexecutibilidade, em que os vereadores deveriam ter analisado e chegado à conclusão de que o valor proposto não era cabível. Alguns engenheiros daqui da cidade me informaram que uma obra custa no mínimo R$1.200 mil por metro quadrado. O terreno da Câmara tem aproximadamente mil metros quadrados, portanto, o valor deveria ser de aproximadamente um milhão e duzentos reais. Cobraram pouco mais de R$900 mil. Uma coisa é você ganhar um desconto de 25% em uma calça de R$100, outra é em uma obra de mais de um milhão. Era para se suspeitar de algo errado. Ninguém consegue um desconto de 25% em um carro de R$20 mil, como é possível isso acontecer na Câmara de Artur Nogueira? Não era para o pessoal desconfiar? Agora está lá tudo parado. Não sou eu que estou dizendo isso. Qualquer um pode ver nos jornais a atual situação.

HOJE, O QUE VOCÊ FAZ EM HOLAMBRA? Sou o diretor geral da Câmara Municipal. Minha função é administrar o processo. Eu já vinha assessorando alguns vereadores desde 2009, em dezembro me fizeram o convite para assumir o cargo lá. Eu aceitei.

DO QUE VOCÊ MAIS SE ORGULHA EM TER CONTRIBUÍDO PARA ARTUR NOGUEIRA? Eu legislei corretamente. Participei do progresso do município de uma forma ou de outra. Falar de uma ação em exclusivo não seria algo certo. Em várias situações marcantes da cidade eu estive presente. Em inaugurações de escolas, creches, empresas. Minha função era legislar, não executar. E isso eu tenho a consciência tranquila de que fiz muito bem.

A CÂMARA ESTUDA O AUMENTO DA QUANTIDADE DE VEREADORES DE NOVE PARA ONZE PARA O PRÓXIMO MANDATO. VOCÊ É A FAVOR? Vamos voltar na Lei Orgânica de 1990. Nós éramos em 15 vereadores para Artur Nogueira, Engenheiro Coelho e Holambra. O vereador da época, Márcio Anselmo fez uma proposta de que Artur Nogueira sozinha deveria ter nove vereadores, eu já era a favor de onze, mas o Anselmo acabou vencendo. Então ficou decidido que o número de vereadores de 1993 a 96 seria de nove. De 1997 a 2000 seria de onze, acrescentando duas vagas para uma fração a cada 30 mil habitantes, medidos pelo IBGE.

MAS ENTÃO POR QUE SÓ TEMOS NOVE? Porque está errado. Eu já contestei na justiça, mas acabei perdendo o processo. Pela lei, eu deveria estar lá hoje. [Neste momento, Melinho acessa o site da Câmara de Artur Nogueira e mostra a Lei Orgânica do Município]. Por este sistema, o próximo mandato deverá ter 13 vereadores, não 11 como estão discutindo. Hoje, Holambra e Engenheiro Coelho tem nove vereadores cada.


QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE A ADMINISTRAÇÃO CAPELINI? Boa, tecnicamente. O Marcelo é um prefeito técnico, nós já fomos vereadores juntos, tenho respeito por ele e ele por mim. Todas as decisões dele são tomadas com base técnica, se ele pode fazer ele faz se não, não está nem aí. Eu tenho certeza absoluta que todas as coisas lá dentro da prefeitura estão totalmente corretas. Mas é bom a gente deixar claro que, nenhum prefeito que seja eleito agradará a todos. O Marcelo é o primeiro prefeito técnico que nós temos, os outros foram muito políticos.

PRETENDE SER CANDIDATO A PREFEITO? Segundo meu finado pai eu já deveria ter me candidatado. Mas nós fazemos parte de um grupo e às vezes o cavalo não está arreado para a gente naquele momento. Eu tinha medo de ser candidato a prefeito, hoje não tenho mais, talvez por medo de perder, não sei. Eu perdi duas, então estou preparado para o que der e vier. Se eu vou ser prefeito é o grupo que vai decidir. Eu não vou fugir.





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