24/12/2011

ENTREVISTA DA SEMANA: Lauri Albino, grupo Maria’s

Organizadora do grupo Maria’s fala sobre a importância da solidariedade

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Alex Bússulo

Neste Natal você teria a disposição de sair vestido de Papai ou Mamãe Noel e distribuir balas e brinquedos para as crianças carentes de Artur Nogueira? Existe um grupo na cidade que está fazendo isso, mas não apenas no Natal, como em outras datas do ano, como Páscoa, Carnaval e Dia das Crianças.

Desde o ano passado, o grupo Maria’s leva carinho e atenção para aqueles que mais precisam. Com simples ações, que vão desde uma conversa até a distribuição de alimentos, os voluntários deste projeto nos dão uma bela lição de vida.

Na entrevista desta semana conversamos com a organizadora do grupo, Lauri Albino, uma paranaense sorridente que veio para Artur Nogueira com apenas três anos de idade e que está agitando a solidariedade dos nogueirenses.

Como surgiu o grupo Maria’s? Acredito que tudo o que acontece com a gente é providência de Deus. Certa manhã eu estava fazendo minha oração, quando senti que deveria fazer alguma coisa para melhorar a vida das pessoas. Era dezembro, uma época que normalmente as pessoas ficam mais solidárias, mas eu queria fazer algo que fosse além disso. Queria promover uma ação que durasse o ano todo e não apenas um mês. Naquele mesmo dia tive a ideia de montar o grupo voluntário, que pudesse visitar famílias carentes, hospitais, asilos e todo tipo de lugar que necessitasse de carinho e atenção. Depois compartilhei a ideia com minha cunhada Micheli Albino e com a minha irmã Cleomara Santa Rosa. As duas toparam e a partir daí começamos e não paramos mais.

Então o grupo é formado por vocês três. Sim. Alguns amigos e familiares também ajudam, mas são as três que sempre estão à frente. De nada adianta você ter um grupo de dez pessoas, quando na verdade apenas duas trabalham. Não fazemos nada por fama ou dinheiro. Todas as ações são para um bem maior. Ninguém do nosso grupo está preocupado em se destacar, queremos apenas contribuir e poder proporcionar momentos de alegrias para as pessoas.

E o nome Maria’s, de onde surgiu? Maria é mãe. É acolhimento. Foi uma escolha baseada na Bíblia. Seguimos o exemplo da mãe de Jesus, que é acolher aqueles que precisam. Se estivermos em um asilo ou hospital vamos acolher, nem que seja por alguns minutos, mas sabemos que estaremos fazendo a diferença. Pedimos que Maria passe na frente e esteja conosco em todos os momentos.

Qual é o objetivo do grupo? É levar um pouquinho de acolhimento até as pessoas, sejam elas crianças, idosos ou necessitados. Nossa missão é chegar, dar aquele abraço gostoso, sentar e começar uma conversa. Dar atenção. Fazemos de tudo para que uma pessoa esqueça, nem que se for por alguns minutos, os problemas da vida.

Como começou? Foi há um ano. Nossa primeira ação aconteceu em 18 de dezembro de 2010. Saímos arrecadando doces e brinquedos pela cidade. Com a ajuda de amigos e voluntários fizemos a doação para a Pastoral da Criança. Hoje, analisando o que fizemos, percebo que fomos guiados por Deus. Lembro que entrei em contato com o pessoal da pastoral e assumi que em alguns dias faria a doação. Naquele momento não sabia o que ia fazer, nem o que doaria. Só sabia que havia assumido um compromisso e que aquelas crianças estariam nos esperando. O resultado foi tão positivo que conseguimos atender não só a pastoral, como também as crianças da Instituição Evangélica Filadélfia de Artur Nogueira (Iefan – Vó Nair) e do Abrigo de Cosmópolis.

Teve alguma situação que marcou? Lidar com crianças carentes e idosos sempre emociona. Mas logo no começo, no dia 24 de dezembro de 2010, na véspera de Natal, fomos a Santa Casa de Limeira. Entramos e fomos para a área da pediatria, onde tinham casos corriqueiros como crianças com diarréia e febre. Fizemos nosso trabalho com aqueles pequenos, demos atenção, entregamos os presentes e fomos para a UTI Pediátrica. Aquilo marcou. Tivemos a sensação de entrarmos em outro mundo, outra realidade. Me deparei com um garoto lindo, sorridente, que praticamente se comunicava com os olhos. Comecei a conversar com a sua mãe e descobri que ele tinha três anos e oito meses. Para minha surpresa, a mãe revelou que o filho entrou para a UTI com apenas 15 dias de vida e não saiu mais de lá.

O garoto vivia no hospital? Ele com a mãe. Assim que ele nasceu os médicos descobriram que ele tinha uma doença grave e que precisava de cuidados especiais. Uma história dessa não apenas marca, como dá um grande exemplo de vida. Quantas pessoas não estão hoje reclamando da vida, de coisas bobas. Quando presenciamos um caso como esse, de uma mãe que abriu mão da vida aqui fora para viver com um filho dentro de um hospital, percebemos que muitas vezes reclamamos a toa. Dia das Mães, Natal, Reveillon e todas as outras datas eles passam naquele ambiente. Eu vejo muitas pessoas reclamando que não podem esperar algumas horas para serem atendidas em um consultório médico e vejo a história dessa mãe; que passa dias e noites convivendo com doentes e médicos. É um choque de realidade.

Por que as pessoas não são mais solidárias? Por causa do comodismo. As pessoas são muito cômodas. Não se importam com a situação até o dia em que precisem. Costumamos dizer que um ato de bondade mesmo que seja pequeno nunca é em vão. O bom de tudo é que todos podem ajudar. Às vezes, a simples doação de algumas balas pode transformar o dia de uma criança. Na semana passada, estávamos preparando os saquinhos surpresas para as crianças da pastoral e faltaram balas. Deus foi tão bom que abençoou um cidadão que chegou ao grupo e fez a doação do que estava faltando. Tenha certeza de uma coisa, uma simples ação como esta pode alegrar o Natal de uma família.

As pessoas que não costumam ajudar não acabam tendo um pouco de egoísmo? Não sei se a palavra certa é essa. Acho que elas vivem realmente no comodismo e acabam se esquecendo da realidade. Todo mundo é assim. Eu sou e você também é. O que as pessoas precisam entender é que tem muita gente precisando de ajuda e que não existe nada melhor do que ajudar. No Natal do ano passado nós saímos, meio que sem rumo, e fomos até um bairro carente de Artur Nogueira. Lembro como se tivesse acontecido ontem. Estávamos vestidas de mamães noéis, carregando uma caixa com três litros de leite, um saquinho de balas, uma bola e um joguinho. Balançamos os sininhos e do fundo de uma casa escura saíram duas crianças, que correram e nos abraçaram dizendo que sabiam que nós iríamos. Não tem coisa mais emocionante do que isso. A mãe dos pequenos veio até nós e disse que aquela ação havia mudado totalmente o Natal daquela família.

Falta solidariedade? Com certeza! No mundo inteiro. A começar com a comida que a gente tem dentro de nossa casa…

Como assim? As pessoas preparam aquele monte de comida e não comem tudo, jogando boa parte no lixo. O desperdício é um sério problema que ajuda a contribuir com a miséria do país. As pessoas poderiam ter em mente e buscar atitudes que ajudem a acabar com essa triste realidade. Quando existe alguma sobra procurar alimentar algum cachorro de rua, que também sente fome, ou então quando for ao supermercado se lembrar de comprar um produto a mais, independentemente do que seja, e doar para alguma entidade ou pessoa que necessita. São ações simples, mas que contam muito.

O que você acha do Natal? Do fundo do meu coração eu acho que é uma data triste. Porque enquanto em uma casa as famílias comem do bom e do melhor, vivendo aquela verdadeira fartura, em outra casa, talvez na rua debaixo, existe uma família passando fome. Quando voltei para minha casa da visita a Santa Casa no ano passado e encontrei a mesa cheia de comida, com tudo o que você pensar para comer, com o som ligado, um clima maravilhoso, me apertou o coração em saber que a maioria das casas da minha própria cidade não tinha aquele privilégio. Isso é muito triste.

O que mudou em sua vida depois que você começou a fazer esse trabalho? Eu perdi meu pai quase no dia do meu aniversário. Ele morreu devido um câncer no pulmão. Durante dois anos nós ficamos com ele, correndo de um hospital para outro. Depois que tudo acabou eu fiquei depressiva, foi um momento muito difícil para mim. Queria distância de hospital e de tudo que lembrava o sofrimento de meu pai. Mas com o passar do tempo percebi que quanto mais eu fugia mais a dor aumentava. O medo é uma coisa que você tem que enfrentar porque se não ele te derruba. E foi o que eu fiz. Quando criamos o grupo quis logo de início visitar um hospital. Hoje posso confessar que foi a melhor decisão que fiz. Não existe sentimento melhor do que você ver uma criança sorrindo.

Qual é a sua mensagem de Natal? Desejo que as pessoas se preocupem mais uma com as outras. Que sejam mais solidárias. É bom lembrar que essa vontade de ajudar não deve acontecer apenas no Natal. Temos que manter o espírito natalino em vários dias do ano.

Quem quiser ajudar o grupo Maria’s deve fazer o que? Todo mundo pode ajudar. Estamos à disposição para arrecadar tudo, desde um pacotinho de bala até uma cesta básica e faremos chegar até aqueles que mais precisam. Nosso contato pode ser feito pelos telefones (19) 8175-2348 / 9786-9233 / 9836-8513. Toda ajuda será muito bem vinda.


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